A ilha se aproxima do final do regime comunista, mas o processo da derrocada provavelmente será diferente do final dos demais regimes comunistas na Europa.
Paulo Roberto de Almeida
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Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
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China investe somente metade do que diz
Dos projetos do país asiático no Brasil, 25% não saíram do papel e 29% são financiados por grupos de outra nacionalidade
Montadora da JAC Motors na Bahia terá investimento de R$ 900 milhões, 80% bancados pelo sócio brasileiro
PATRÍCIA CAMPOS MELLO
GUSTAVO HENNEMANN
FOLHA DE SÃO PAULO, Domingo, 27 de Novembro de 2011
A China investe no Brasil só metade do que anuncia. Segundo levantamento da Folha, dos principais projetos de investimento chineses no país, anunciados em 2009 e 2010, 25% não saíram do papel e 29% são, na realidade, investimentos brasileiros ou de empresários de outras nacionalidades.
Tal como a taiwanesa Foxconn, que teve investimentos de US$ 12 bilhões anunciados e recentemente indicou que quer contribuir apenas com a tecnologia, muitos projetos tidos como chineses serão financiados por brasileiros.
Um exemplo é a fábrica da montadora chinesa JAC na Bahia. Do investimento anunciado de R$ 900 milhões, 80% virão do sócio local.
A XCMG-Êxito é outro caso: a brasileira Êxito e a chinesa XCMG assinaram acordo de joint venture em 2010 para construir uma fábrica de retroescavadeiras e escavadeiras hidráulicas em Suape (PE). O projeto está no prazo e a produção deve começar no segundo semestre de 2012.
Mas os US$ 25 milhões de investimentos sairão totalmente do bolso dos sócios brasileiros. "Os chineses por enquanto estão apenas repassando tecnologia", diz José Lacy de Freitas, diretor-presidente da Êxito.
"Apesar do grande alarde, o investimento chinês observado no país efetivamente é muito baixo", afirma Luís Afonso Lima, da Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização).
"É uma grande promessa que não se concretizou ainda", diz Lima.
Dos investimentos anunciados e mapeados pela Folha, seis não saíram do papel. A East China Mineral Exploration and Development Bureau assinou uma carta de intenções em março de 2010 para comprar a Itaminas Mineração, do empresário Bernardo Paz, por US$ 1,2 bilhão.
Os chineses vieram ao Brasil fazer o processo de checagem, mas depois foram sumindo aos poucos. "O processo chinês de compra é muito moroso, talvez por passar por estatais", diz Sebastião Ricardo Maciel, assessor de comunicação da Itaminas. "Hoje estamos avaliando outras opções de compradores."
No caso da Guangdong Yuandong, a Prefeitura de Santa Maria (RS) diz que a empresa assinou um protocolo de intenções em 2009 para construção de fábrica de equipamentos de envase e embalagens, um investimento de US$ 10 milhões.
BANHO-MARIA
"Nada foi concretizado, está tudo em banho-maria", diz o secretário de Desenvolvimento Econômico de Santa Maria, Cezar Augusto Gehm.
Outro negócio anunciado que não saiu do papel foi a compra da Passagem Mineração pela Wisco, negócio de US$ 5 bilhões anunciado em maio de 2010. Dessa vez, não foram os chineses que deram para trás -a família dona da mineradora não chegou a um acordo sobre a venda.
Segundo Alexandre Comin, diretor do departamento de competitividade industrial do Ministério do Desenvolvimento, os asiáticos têm um ritmo mais lento que os ocidentais, são bem mais cautelosos que investidores americanos e europeus.
"Nós já vimos esse filme antes. Quando os japoneses vieram investir aqui, nos anos 80, eles também começavam se associando a brasileiros e resistiam a investir. Depois ficaram mais confortáveis."
A Folha analisou 24 investimentos chineses anunciados e compilados nos levantamentos do Conselho Empresarial Brasil-China, do Ministério do Desenvolvimento, do Banco Bradesco, da Sobeet e da Heritage Foundation para checar os projetos em andamento. Há ainda outros cinco projetos relatados, mas que não foram localizados pela reportagem.
Está numa situação ambígua o investimento estimado em US$ 3,5 bilhões da chinesa Wisco na EBX, para construir uma siderúrgica no porto de Açu. As duas empresas assinaram um acordo em abril de 2010.
De acordo com a EBX, o acordo é para "a realização de estudos de viabilidade". A empresa não confirma o valor de investimento.
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