A
despeito do teu extenso currículo, o qual demonstra que és uma pessoa
inteligente, tua análise do Chang é pobre e eivada de maus juízos de
valores. Desculpe-me, serei direto e franco, sem misericórdia. Nesse
quesito, farei uso de uma lógica quase Calvinista e Malthusiana. Por
outro lado, já seguindo uma lógica dialética, considero que até uma
pessoa inteligente pode se deixar cegar por ideologias defendidas com
arraigada paixão. Parece ser esse o teu caso.
No
início, utilizas uma pobreza de juízo de valores ao “acusar” (e antes
que reclames que é “fato”m a tua colocação tem “cheiro” de acusação)
Bresser Pereira de ser o ministro do congelamento da era Sarney. Ora,
Senhor Paulo Roberto, tu mesmo sabes que o Bresser Pereira é muito mais
do que isso. Seja inteligente na tua crítica. Não diminua o argumento
contrário, para engrandecer o teu. E, sempre, lembre-se do seguinte
ditado, dito por Vitor Hugo: “palavras amargas indicam causa fraca”. Essa é minha contribuição inicial à tua análise. Aproveite as próximas.
Primeiro
Vou
começar por List (Friedrich List) e não por Chang. Tu enxergas List
apenas como mercantilista e reduz a importância dele a esse fato
(bastante discutível, por sinal). Em poucas palavras, List nunca foi um
teórico da economia como Smith, Marthus, Ricardo, Marx, Mill e outros
tantos. Talvez esteja mais próximo de Schumpeter no estilo “mais
focado”. List nunca quis fazer teoria econômica. O que ele estudava era o
seguinte: POR QUE ALGUMAS NAÇÕES SE DESENVOLVEM E OUTRAS NÃO? Respondido isso (ou encontrada uma ideia sobre isso), dedicou-se à próxima questão: O QUE A ALEMANHA TEM QUE FAZER PARA RECUPERAR SEU ATRASO?
Ou
seja, List nunca quis fazer nenhuma teoria e buscar algumas verdades
universais (de maneiras a contribuir com a ciência) sobre a Economia.
Ele buscou a realidade da Alemanha e a ela se dedicou. Assim, defendeu o
protecionismo (que os Ingleses fizeram muito, que a Europa faz muito e
que os EUA, disfarçadamente, também faz); defendeu o mercantilismo ou a
exploração das colônias ou outros países menos avançados (ou seja, tudo
que os países centrais fazem) e uma política voltada ao crescimento da
indústria em detrimento dos atrasos de um país agrário e sem classe
média (os milicos alemães criaram uma classe média “a porrete” e
induziram a Aelmanha à modernidade)
E,
adivinha o que aconteceu: A ALEMANHA SE TORNOU A POTÊNCIA EUROPÉIA QUE
FOI DESTRUÍDA DUAS VEZES E CONTINUA NADANDO DE BRAÇADA NA ECONOMIA
MUNDIAL.
Entende,
agora, porque o Chang “segue” o List? Com esse entendimento, tens
ideia, ainda, de continuar fazendo essa crítica mesquinha e infantil ao
List e ao Chang? Entenda um pouco mais de história econômica e do
pensamento econômico e extrairás melhores resultados das tuas leituras.
Essa é a segunda contribuição. Enjoy it.
Segundo
Chang (ou List) nunca diz que “a
privatização, a redução da burocracia, um Banco Central menos
politizado, a meta de inflação, a abertura comercial e o equilíbrio
orçamentário do governo seriam medidas prejudiciais aos países pobres”.
Primeiramente,
há que se avaliar cada um desses itens. Avalie cada variável
individualmente, à moda Ricardiana (ou cartesiana, de Renè Descartes).
Vá ao individual e, depois, volte ao todo (à moda Marxista).
Privatizações
podem ser interessantes, desde que se tenha um horizonte bem claro da
economia, tanto ao nível de maturidade de investimento como em
prioridade e foco desenvolvimento. Possível isso em países com pouca
cultura e em baixo estágio de desenvolvimento (econômico, cultural,
social, intitucional)?
Redução da burocracia, Banco Central menos politizado e uma certa dose de controle na meta de inflação
é de interesse de todos. Mas, dialeticamente falando, depende do
contexto de cada economia. Como sair-se com uma receita (de bolo?)
preparada para cada sociedade, independente do seu estágio de
desenvolvimento? Oooops... não vais dizer que o que é bom pros EUA é bom
pro Brasil, não é?
Abertura comercial deve vir na esteira de uma análise da maturidade da economia doméstica. Equilíbrio orçamentário tem que ser precedido por uma avaliação das condições de investimento e da demanda, à moda Keynesiana, da economia doméstica.
Por
favor, leia mais sobre isso. E, principalmente, não empobreça tua
análise ao jogar variáveis e dados sem se dar ao trabalho de avaliar.
Terceiro
Veja essa passagem de tua análise, corroborando minha pecha de que tua análise é pobre e infantil:
O
desenvolvimentismo de Chang é muito similar ao nacionalismo de
List,economista que representava o oposto daquilo que Adam Smith
defendia. Contra a “mão invisível” do mercado, seria necessária a “mão
benevolente” do governo. O protecionismo de Chang é o mercantilismo com
um véu novo. Retirando o eufemismo, resta o velho dirigismo estatal, a
crença de que o Estado deve assumir a locomotiva do desenvolvimento
econômico.
Friedrich
List já dizia que somente onde o interesse dos indivíduos estivesse
subordinado ao da nação, haveria desenvolvimento decente. A nação era
vista como um ente concreto, com desejos e interesses, que justificavam
inclusive o sacrifício dos indivíduos. Quem saberia dizer quais os
verdadeiros interesses da nação? Com certeza, os “sábios”, entre eles
List. A glória futura da nação valeria mais que tudo. Nesse aspecto ao
menos, Hitler não foi
muito criativo.
Em
primeiro lugar, acrescentar Hitler à tua análise (mesmo que queiras
aproveitar o mote dos “interesses da nação”) é infantil e tendencioso.
Muito pobre para uma pessoa inteligente (que é diplomata, por sinal)
como tu. Certo?
Na continuação, a defesa neoliberal e a mão-invisível do Adam Smith
só existem nos contos da carochinha (ou no Instituto Von Mises) e na
tua cabeça. Acorde, pois tua dose de Rohypnol foi forte. Observe que os interesses da nação sempre foram fortes nos países mais liberais (que tu mesmo conheces), como EUA e UK. Onde está o mérito de tua análise?
Bom,
o resto da tua análise está pior ainda, com passagens acusativas ao
marxismo e outros pontos de vista pobres. Porém, não farei a crítica
hoje. Se responderes a esse e-mail, voltarei a ensinar a esse “Doutor em
Ciências Sociais” e “Mestre em Planejamento Econômico” a fazer uma
melhor análise da História Econômica e uma melhor avaliação do
Pensamento Econômico. Assim, clareando um pouco mais sua ideologia
neoliberal, distorcida e tendenciosa. Não creio.....
Hasta
Ricardo Piccoli