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quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Petralhabras: so' US$ 200 milhoes? Nao e' possivel! Deve ser muitomais...

Esta matéria abaixo é para registro histórico, e para um sentido de dimensão. Ninguém aqui é ingênuo a ponto de acreditar que os mafiosos totalitários só estavam roubando na Petralhabras. Ou seja, multpliquem essa soma por "n" vezes pois eles são ratazanas famintas.
Paulo Roberto de Almeida

Justiça

PT recebeu até US$ 200 mi em propina, diz delator

Pagamento envolveu 90 contratos de obras de grande porte entre a Petrobras, empresas coligadas e consórcios de empreiteiras, segundo Pedro Barusco

Laryssa Borges, de Brasília, e Daniel Haidar
Pedro Barusco, ex-gerente da Petrobras
Pedro Barusco, ex-gerente da Petrobras (Divulgação)
O ex-gerente de Serviços da Petrobras, Pedro Barusco, afirmou à Justiça, em acordo de delação premiada, que o tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto, recebeu de 150 milhões a 200 milhões de dólares em propina de 2003 a 2013, por meio de desvios e fraudes em contratos com a Petrobras. As revelações de Barusco, ex-braço-direito de Renato Duque, que comandava a Diretoria de Serviços por indicação do ex-ministro da Casa Civil e mensaleiro condenado José Dirceu, colocam mais uma vez o caixa do PT no centro do escândalo do petrolão e devem respingar diretamente nas campanhas políticas do partido, incluindo a da própria presidente Dilma Rousseff. Vaccari foi levado na manhã desta quinta-feira para a Superintendência da Polícia Federal em São Paulo onde prestou esclarecimentos sobre a arrecadação de recursos para a legenda e foi liberado em seguida.

No depoimento, Barusco fez questão de destacar a relação de proximidade entre Duque e Vaccari, nas palavras dele “um contato muito forte”. Segundo o ex-gerente, Duque e o tesoureiro petista costumavam se encontrar no Hotel Windsor, no Rio, e no Meliá, em São Paulo. Os encontros tinham finalidade clara: trocar informações sobre o andamento de contratos, projetos e licitações da Petrobras.
Ainda que tenha negado irregularidade no sistema de arrecadação de campanhas do PT, Vaccari agora é confrontado pela primeira vez com as informações do delator Pedro Barusco, que concordou em colaborar com a Justiça em troca de reduções de pena. Após firmar o acordo de delação, o ex-gerente confirmou, por exemplo, que iria devolver aos cofres públicos impressionantes 97 milhões de dólares recolhidos a partir do megaesquema de cobrança de propina na Petrobras.
“Durante o período no qual foi gerente executivo de Engenharia da Petrobras, subordinado ao diretor de Serviços, Renato de Souza Duque, de fevereiro de 2003 a março de 2011, houve pagamento de propinas em favor do declarante [Barusco] e de Renato Duque, bem como em favor de João Vaccari Neto”, diz trecho do depoimento de Barusco. “João Vaccari Neto representava o PT na divisão de propinas pagas no âmbito da diretoria de Serviços, nos contratos que ela executava para as diretorias de Abastecimento, Gás e Energia, Exploração e Produção e na própria diretoria de Serviços”, relatou.
Em seu depoimento, o ex-gerente não soube detalhar se o tesoureiro petista recebia a propina em dinheiro ou em transferências no exterior, mas deu revelações que complicam diretamente outro ex-diretor da Petrobras, Jorge Zelada (Área Internacional). Segundo o delator, Zelada também recolhia propina dentro da Petrobras e “negociava propinas diretamente junto a algumas empresas em contratos menores na Área de Exploração e Produção”. Para receber dinheiro do esquema de corrupção dentro da estatal, o ex-diretor Jorge Zelada fazia uma espécie de “encontro de contas” com os demais integrantes da companhia. Em alguns casos, a propina a Zelada foi entregue diretamente em sua casa, na rua Getúlio das Neves, no Rio de Janeiro.
O pagamento de propina no esquema envolveu noventa contratos de obras de grande porte entre a Petrobras, empresas coligadas e consórcios de empreiteiras. Os contratos estavam vinculados às diretorias de Abastecimento, Gás e Energia e Exploração e Produção. No rateio da propina, normalmente eram cobrados 2% do valor do contrato, sendo que 1% era administrado pelo ex-diretor Paulo Roberto Costa, e o outro 1%, repartido entre o PT e diretores da Petrobras, incluindo Renato Duque e Jorge Zelada, da Área Internacional da petroleira.
Enquanto as projeções de Barusco apontam que o tesoureiro do PT embolsou até 200 milhões de dólares em nome do partido, no mesmo período o delator recebeu 50 milhões de dólares em dinheiro sujo. Em apenas um contrato de sondas de perfuração de águas profundas para exploração do pré-sal, Vaccari, em nome do PT, recebeu 4,5 milhões de dólares em propina.
Ao relatar em detalhes o esquema de pagamentos na Petrobras, Barusco deu um panorama da divisão do dinheiro recolhido do esquema criminoso e relatou que ele próprio era habitué da movimentação de propina na estatal. Segundo o próprio delator, ele começou a receber propina em 1997 ou 1998 da empresa holandesa SBM Offshore enquanto ainda ocupava o cargo de gerente de Tecnologia de Instalações da Petrobras. A propina entre a SBM e a Petrobras se tornou “sistemática” a partir do ano 2000, com uma espécie de parceria fixa entre Barusco e o executivo Julio Faerman, da empresa holandesa. Os pagamentos eram mensais, variando de 25.000 dólares a 50.000 dólares. Em um dos casos, quando já ocupava a gerência-executiva de Engenharia, recebeu 1% de propina de Faerman em um contrato entre a empresa Progress e a Transpetro.
Faerman é apontado como homem-chave para desvendar o escândalo de corrupção que envolve a Petrobras. Em uma denúncia feita por um ex-funcionário da companhia holandesa SBM Offshore, ele é citado como o lobista responsável por intermediar pagamentos de propina a funcionários da empresa. 
Graça Foster – Em seu depoimento aos investigadores da Operação Lava Jato, Barusco não apontou a presidente demissionária da Petrobras Graça Foster como beneficiária direta de propina na estatal, mas afirma que parte dos contratos onde o rateio de dinheiro era feito estavam vinculados à diretoria de Gás e Energia, que já foi ocupada por Graça. Barusco indicou que Graça Foster não sabia do esquema de propina e ponderou que se ela e Ildo Sauer, ex-diretor de Gás e Energia, sabiam, “conservavam isso para si”.
O ex-gerente, porém, fez revelações que complicam diretamente outro ex-diretor da Petrobras, Jorge Zelada (Área Internacional). Segundo o delator, Zelada também recolhia propina dentro da Petrobras e “negociava propinas diretamente junto a algumas empresas em contratos menores na Área de Exploração e Produção”. Para receber dinheiro do esquema de corrupção dentro da estatal, o ex-diretor Jorge Zelada fazia uma espécie de “encontro de contas” com os demais integrantes da companhia. Em alguns casos, a propina a Zelada foi entregue diretamente em sua casa, na rua Getúlio das Neves, no Rio de Janeiro.

Quando Renato Duque deixou a Diretoria de Serviços, em 2012, ele fez uma espécie de acerto de contas com Barusco para receber parte da propina que havia sido direcionada inicialmente ao auxiliar. No acordo, Barusco destinou valores de futuras propinas para o ex-chefe – pelo acordo do Clube do Bilhão, as empresas precisavam confirmar o pagamento de dinheiro na trama criminosa. Apenas a Camargo Corrêa, por exemplo, devia 58 milhões de reais em propina na época.

Depoimentos – No fim de novembro, Barusco prestou diversos depoimentos reservados ao Ministério Público Federal e à Polícia Federal após acordo de delação premiada. Nas palavras de um dos investigadores, foram "demolidores" no detalhamento da atuação de Renato Duque. 
As revelações de Barusco foram a principal motivação da nova fase da Operação Lava Jato, na qual Vaccari e outros dez operadores da Diretoria de Serviços foram alvos. Com o cumprimento dos mandados, as informações não tinham mais necessidade de sigilo, na avaliação da Justiça, e os depoimentos foram disponibilizados em um dos processos contra executivos de empreiteiras. 
Leia também:
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Piratas ou corsarios? Livro mistura as duas designacoes, num desservico 'a historia; pessimo exemplo

Os autores devem saber a diferença entre piratas e corsários. O fato de que tenham preservado o nome de Piratas no título do livro pode ser apenas má-fé, talvez orientados pela Editora para vender mais, mas não deixa de ser uma desonestidade intelectual, pois quem pesquisa e conhece história sabe muito bem a diferença.
Nenhum dos casos descritos abaixo na matéria -- e pode ser que o jornalista também ignore a distincão -- se refere a casos de pirataria, muito menos o do Nordeste pelos ingleses. Todos eles eram invasões chanceladas pelos reis, com patentes de corso ou não, mas nunca de pirataria.
Um desserviço à História e à reputação desses "historiadores".
Paulo Roberto de Almeida

Além do butim

Reinos europeus apoiavam os ataques de corsários à costa brasileira como forma de contestar a divisão do Novo Mundo por Portugal e Espanha
CARLOS FIORAVANTI | 
Pesquisa Fapesp, Edição 227 | Janeiro de 2015

Filho de uma família nobre da Inglaterra, Thomas Cavendish teve sorte ao chegar com sua esquadra à vila de Santos, em 1591, e encontrar todos os moradores reunidos para a missa de Natal. Já conhecido como “franco ladrão dos mares”, Cavendish prendeu todos, instalou-se na sacristia do colégio dos jesuítas e durante dois meses saqueou a vila com seus homens e queimou arquivos públicos e engenhos de cana-de-açúcar. Era mais um ataque de piratas à costa brasileira. Mais do que uma simples aventura, esse tipo de invasão representava uma contestação do governo inglês à divisão das terras do Novo Mundo entre Espanha e Portugal, formalizada por meio do Tratado de Tordesilhas em 1494. Depois dos ingleses, os franceses, que já haviam atacado o Rio de Janeiro, invadiram o Maranhão e, mais tarde, os holandeses, depois de uma tentativa fracassada na Bahia, ocuparam Pernambuco por quase 30 anos.
“Não respeitar os limites territoriais era uma forma efetiva de questionar a divisão do Novo Mundo imposta por Espanha e Portugal”, diz o historiador Jean Marcel Carvalho França, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Franca. “Outra forma de contestação era a diplomacia. As invasões criavam um problema, pondo o bode na sala, como se diz, e forçavam a revisão dos limites territoriais por meio da negociação diplomática.” Segundo ele, a pirataria ganhou força e a estratégia de invadir as colônias ibéricas, de certa forma, deu certo porque Espanha e Portual não tinham capacidade militar para defender seus domínios nas Américas. Pelo mesmo motivo, suas frotas eram atacadas com frequência, resultando em perdas imensas de ouro, pau-brasil e marfim da África com destino à Europa. Mesmo que não tenham conseguido se fixar no Brasil, franceses e ingleses formaram colônias nas Américas Central e do Norte.
Os ataques às colônias não eram uma justificativa forte o bastante para os governos das terras invadidas romperem relações diplomáticas com os invasores. Espanha e Portugal – nessa época amalgamados por meio da União Ibérica, implantada em 1580 e desfeita em 1640 – sabiam que o domínio sobre as terras da América era frágil, ressalta o historiador. “Era um exercício de ponderação, não se podia levar as incursões a ferro e fogo porque, muitas vezes, havia interesses comerciais maiores em jogo”, diz ele. Por esse motivo, Portugal preferia aceitar pacificamente o papel de vítima em vez de guerrear em desvantagem com outros reinos. Para evitar problemas maiores, valia até mesmo pagar indenizações, como fez com Nicolas Villegagnon, em compensação pelos prejuízos causados pela expulsão dos franceses do Rio de Janeiro em 1567. Outra indicação do interesse em manter a paz e os negócios é que os comerciantes portugueses continuaram vendendo suas mercadorias para os holandeses que ocuparam Recife de 1630 a 1654. “O limite não era moral”, França comenta, “era comercial”.
França e sua colega Sheila Hue, pesquisadora do Real Gabinete Português de Leitura, do Rio, depois de 20 anos analisando e traduzindo narrativas de viajantes europeus que visitaram o Brasil, com apoio da FAPESP e outras agências de financiamento, escreveram Piratas no Brasil – As incríveis histórias dos ladrões dos mares que pilharam nosso país, publicado no final de 2014 (Ed. Globo). O livro descreve dois ataques ingleses – de Thomas Cavendish a Santos, em 1591, e de James Lancaster a Pernambuco, em 1595 – e dois franceses – de Jean-François Duclerc, em 1710, e de René Duguay-Trouin no ano seguinte, ambos ao Rio.
Cavendish, Lancaster, Duclerc e Trouin, os líderes de quatro grandes ataques à costa brasileira, “faziam o mesmo que Vasco da Gama, Cabral e outros exploradores, eram até mais profissionais”, afirma França. A única diferença é que os navegadores portugueses estavam dentro de uma suposta legalidade, descobrindo terras ainda sem dono ou explorando os domínios ibérios definidos pelo Tratado de Tordesilhas, enquanto os piratas – ou, com mais exatidão, corsários – agiam fora da lei imposta por outros países, embora com apoio de suas Coroas. Segundo França, o famoso pirata inglês James Cook, que visitou o Rio em 1768, “não tinha nada de pirata, era um burocrata, poderia trabalhar no Banco Central”. A má fama da categoria resulta em boa parte dos piratas independentes que se concentravam no mar do Caribe, atacando quem pudessem, de preferência galeões espanhóis carregados de ouro extraído das minas americanas. Aos olhos dos padres católicos, ingleses e franceses também eram uma encarnação do mal, por serem “hereges e luteranos, ministros das trevas licenciosos”, observam França e Sheila em Piratas.
O corso, diferentemente da pirataria e da ação dos flibusteiros, era um empreendimento legal e muitas vezes oficial, praticado pelas potências europeias nos momentos de guerra”, registrou Maria Fernanda Bicalho em A cidade e o império – O Rio de Janeiro no século XVIII (Civilização Brasileira, 2003), escrito com base em sua pesquisa de doutorado, realizado na Universidade de São Paulo (USP). “Os capitães dos navios corsários recebiam uma carta de marca, concedida pelo rei, que os autorizava a atacar, a tomar os navios e a saquear os domínios das nações inimigas. Seu objetivo não era a destruição do comércio e das riquezas do adversário, mas a sua apropriação por meio do apresamento de embarcações mercantis, do confisco de suas mercadorias, do assédio e do saque às vilas e cidades pertencentes aos estados beligerantes.”
Nem sempre os mais fortes venciam. Como relatado por França e Sheila, Cavendish se apossou do ouro e do açúcar saqueado dos armazéns e dos navios ancorados no porto (um poeta e soldado da tripulação roubou um manuscrito jesuítico, usado na alfabetização dos nativos, e o doou a uma universidade de Oxford), incendiou a vila vizinha de São Vicente e partiu rumo ao sul. Seu plano era atravessar o estreito de Magalhães e prosseguir no seu ataque ao monopólio ibérico das riquezas da América, mas fortes tempestades atrapalharam os planos e dispersaram sua frota. A tripulação, faminta e exausta, se revoltou e Cavendish voltou a Santos. Os moradores, dessa vez, haviam se organizado e conseguiram repudiar os ingleses. Dos 75 homens embarcados um ano antes, somente 16 voltaram à Inglaterra.
Quatro anos depois, Lancaster atacou o porto de Recife com três navios e 275 tripulantes. A defesa foi pífia. “Os soldados pernambucanos, ainda maus artilheiros, erram os tiros, cedendo à disciplina inimiga e ainda mais à falta de munições”, relatam França e Sheila. “Os defensores se retiraram, acovardados.” Um mês depois, Lancaster voltou com os navios abarrotados de açúcar, pau-brasil, algodão e mercadorias de alto preço saqueadas de um navio português, como pimenta, cravo, canela, maçã, noz-moscada, tecidos e minerais preciosos. “Foi o mais rico butim da história da navegação de corso da Inglaterra elisabetana”, concluem os autores de Piratas.


Olinda, a rica cidade vizinha de Recife,
alvo de Lancaster: para os ingleses, expedição bem-sucedida
Um governador dissimulado
As invasões exibiam o despreparo militar e administrativo tanto dos moradores das principais cidades da colônia quanto dos invasores. Em 1710, Duclerc chegou com seis navios e cerca de 1.200 homens, mas demorou para entrar na baía de Guanabara e os moradores locais dispararam os canhões dos fortes, afugentando os franceses. Duclerc não desistiu. Seguiu para o sul, desembarcou em outra baía e marchou com seus homens por terra para a cidade do Rio. Os moradores resistiram mais uma vez e, após intensos combates, os franceses foram derrotados. Duclerc foi capturado e preso. Depois, misteriosamente, terminou assassinado na prisão.
No ano seguinte chegou outra expedição, maior e mais bem armada, com quase 6 mil homens, chefiada por Trouin. Este já havia tentado, sem sucesso, por três vezes, entre 1706 a 1709, se apossar da frota portuguesa que regressava do Brasil carregada de mercadorias. “A 12 de setembro de 1711, num lance cinematográfico, a esquadra francesa composta de 18 navios fez a entrada mais espetacular na barra do Rio de Janeiro de que se tivera notícia”, relatou Maria Fernanda Bicalho em A cidade e o império. “Nunca, nem mesmo experientes pilotos portugueses, haviam-na alcançado com tanta facilidade e mostraram tanta perícia em romper a estreita e fortificada barra daquela importante praça colonial. Encobertas por denso nevoeiro matinal, em poucas horas todas as embarcações que compunham a esquadra de Duguay-Trouin encontravam-se dentro da baía, diante dos olhares incrédulos e perplexos das autoridades, soldados e moradores da desafortunada cidade.”
O governador da capitania do Rio, Francisco de Castro Morais, tinha sido avisado da chegada dos franceses, mas descuidou das defesas por achar que a notícia era falsa. Diante dos invasores, desautorizou qualquer contra-ataque e, por fim, ordenou o abandono das trincheiras e a evacuação da cidade. Os moradores fugiram em uma noite de muita confusão, sob chuva intensa, descrita com vivacidade em Piratas. Os franceses encontraram a cidade praticamente deserta e só a devolveram mediante o pagamento de um resgate elevado, de 610 mil cruzados em moeda, 100 caixas de açúcar e 200 bois. O pagamento corroeu a economia da cidade e gerou uma onda de protestos contra Castro Morais, acusado de gerar o caos, de deixar a cidade desprotegida e de negociar com os franceses em proveito próprio – seu apelido, “o Vaca”, refletia sua fama de dissimulado. A situação só piorava sua fama. “O governador era acusado de ter matado ou permitido o assassinato de Duclerc, que os franceses chamavam de assassinato sórdido”, diz França.
Segundo ele, Castro Morais e o sobrinho dele ganharam muito dinheiro negociando com os franceses. “Os franceses, já que não podiam levar tudo, vendiam as mercadorias de que haviam se apossado para seus antigos donos, e o governador fez a intermediação”, comenta. “O sobrinho dele trata Chancel Lagrange, um dos oficiais da esquadra de Trouin, de ‘meu querido’ ao lamentar não ter conseguido um macaco que lhe oferecia como cortesia.” Julgado e condenado por má condução dos negócios públicos, o governador foi enviado para a Índia e, tempos depois, perdoado.
Grande público
França e Sheila traduziram cerca de 100 relatos de viajantes sobre o Brasil, publicados em vários livros desde 1995. Ao prepararem o Piratas, valorizaram documentos originais, como a carta do sobrinho do governador a Lagrange, e priorizaram a narrativa, centrada nos personagens, sobre as análises conceituais. O resultado é um livro agradável, escrito por historiadores acadêmicos. “Os franceses fazem isso há muito tempo”, diz França. Um exemplo é Guilherme marechal ou o melhor cavaleiro do mundo, do historiador Georges Duby, dirigido para o grande público (editado no Brasil pela Edições do Graal em 1988).
“Preparar livros que cheguem a públicos não acadêmicos é uma forma de reforçar a função social do historiador, que é construir e fixar perspectivas do passado de modo a entender e mudar o presente”, diz França. “Escrever para públicos mais amplos que o dos artigos das revistas científicas pode também ajudar os historiadores e outros intelectuais das universidades a retomar a voz na sociedade brasileira e a serem mais ouvidos para além de seus espaços habituais.”

Petralhabras: para quem aceitou devolver US$ 97 milhoes, US$ 1 milhao nao representa nada...

Podem multiplicar "n" vezes o dinheiro que o PT roubou de todos nós.
O pessoal já tinha ultrapassado essa coisa de pobre, na faixa dos milhões.
Ele só tratavam de US$ 1 bilhão para cima...
Paulo Roberto de Almeida

Lava Jato

Odebrecht pagou quase US$1 mi em propina, diz delator  

Valor foi transferido de maio a setembro de 2009, segundo depoimento do ex-gerente de Serviços Pedro Barusco

Marcela Mattos, de Brasília
Pedro Barusco, ex-gerente da Petrobras
Pedro Barusco, ex-gerente da Petrobras (Divulgação)
Em depoimento à Justiça, o ex-gerente de Serviços da Petrobras Pedro Barusco afirmou que recebeu 916.697 dólares da Odebrecht referentes a pagamento de propina. Segundo o executivo, que firmou acordo de delação premiada, o valor foi transferido de maio a setembro de 2009. Barusco era braço-direito de Renato Duque, que comandava a Diretoria de Serviços por indicação do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, e é apontado como operador do PT no esquema de corrupção. 
Barusco detalhou a engenharia do processo: o dinheiro era transferido para uma conta localizada do Panamá, de propriedade da offshore Constructora Internacional Del Sur SA. Em seguida, o dinheiro era repassado para outra conta dele também localizada no Panamá. Essa estratégia servia para dificultar o rastreamento do dinheiro.
Apesar de a Odebrecht já ter sido citada por outros delatores como uma das empreiteiras integrantes do Clube do Bilhão, o cartel de construtoras que fraudava contratos da Petrobras, nenhum diretor da empresa foi preso até o momento. 
Conforme o delator, o diretor da Odebrecht Rogério Araújo atuava como operador nos pagamentos das propinas. Barusco afirmou que “mantinha contato direto com Rogério, pois o recebia com frequência por encontros de trabalhos e às vezes almoçava com ele”. Em depoimento à Justiça, o executivo disse ainda que a Odebrecht era “jogo duro”, porque não concordava com o pagamento de propinas em determinados contratos. 
Barusco anexou à Justiça documentos que mostram que a empreiteira firmou nove contratos com a Petrobras, sendo cinco na área de Gás e Energia, um na Área de Exploração e Produção e três na área de Abastecimento. O valor total dos contratos era de 8,6 bilhões de reais em um "período de 2004 a 2010 ou 2011".
Em nota, a empreiteira negou as acusações do delator: “A Odebrecht nega veementemente as alegações caluniosas feitas pelo réu confesso. Nega em especial ter feito qualquer pagamento a qualquer executivo ou ex-executivo da Petrobras. A empresa não participa e nunca participou de nenhum tipo de cartel e reafirma que todos os contratos que mantém, há décadas, com a estatal, foram obtidos por meio de processos de seleção e concorrência que seguiram a legislação vigente”, diz o texto.  

Petralhabras: a corrupcao na pratica - O Antagonista

Lula e a propina repartida ao meio

O Antagonista, 5/02/2015

Um fato velho e um fato novo.

O fato velho:

Lula, onze dias antes das eleições de 2010, inaugurou uma refinaria da Petrobras, em São José dos Campos, e disse: "Essa empresa que muita gente tentou vender, essa empresa que muita gente tentou mudar o nome dela, essa empresa chega em 2010 transformando-se na segunda maior empresa de petróleo do mundo, motivo de orgulho".

O fato novo:

Ontem, um dos delatores da Lava Jato, Júlio Camargo, em depoimento à Justiça, disse que teve de pagar R$ 15 milhões de propina para poder realizar as obras daquela mesma refinaria inaugurada por Lula, em São José dos Campos. A propina foi repartida entre Paulo Roberto Costa, arrecadador do PP, e Renato Duque, arrecadador do PT. Motivo de orgulho.

O fato velho foi muito comentado à época, porque Lula atropelou a lei e se aproveitou de um evento público para fazer um discurso eleitoral. O fato novo mostra que, durante aquele seu discurso, a lei estava sendo atropelada de maneira muito pior e mais infame do que se supunha.

Lula na inauguração da refinaria em São José dos Campos: metade para Renato Duque, metade para Paulo Roberto Costa

Petralhabras: a verdadeira situacao da Petrobras sob Graça Foster

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Dona Foster e seus 10 Crimes

O que era fatídico finalmente aconteceu: Graça Foster caiu. Era certo que uma hora isso teria de ocorrer, tendo em vista a posição insustentável da gestora na Companhia. Era, no entanto, só uma questão de tempo.
Foster era a última muralha política que protegia Dilma dentro da Petrobras. Em 2006, a atual Presidente da República era ministra da Casa Civil e presidente do Conselho de Administração da estatal, que autorizou a compra – superfaturada – de 50% de uma refinaria localizada na cidade petroleira de Pasadena, nos EUA.
Pois bem: agora, mais do que nunca, Dilma está vulnerável e totalmente exposta a ataques de todos os lugares. Eu acredito piamente que é o começo do fim: o prelúdio da ruína de um castelo de areia, já um tanto abalado pelo bater das ondas.
Quem assumirá esse navio – ou seria plataforma? – prestes a naufragar que é a Petrobras? A cartada será dada por Joaquim Levy  e não será muito fácil agradar à nossa querida ex-guerrilheira: ninguém que colocar o próprio nome na reta após o relatório suspeitíssimo da PETR4, que ocultou um rombo de mais de 80 bilhões de reais. 
De qualquer forma, listamos aqui um Top 10 de enxaquecas com as quais o novo gestor terá de perder o sono.
  • ESTADO MALVADÃO – uma das principais causas dos problemas econômicos da Petrobras é o controle no preço da gasolina e no diesel, exercido pelo governo para evitar um aumento da inflação – e, por conseguinte, segurar sua (parca) popularidade. Dilma quer manter a tempestade longe de Brasília e a empurra as nuvens para as plataformas da nossa pobre estatal. Até quando aguentarão num mar tormentoso? Alguém se lembra das propagandas do governo dizendo que o Brasil já era autossuficiente em petróleo? Pura balela. A Petrobras importa muito porque consome mais do que produz. Sem sinal verde para reajustar o preço dos combustíveis, a Petrobras paga pelo petróleo e não pode repassá-lo, gerando desajuste fiscal. 
  • ZONA DE REBAIXAMENTO – A agência de classificação de risco Moody’sanunciou a revisão do nível de risco (rating) da dívida em moeda estrangeira da Petrobras de Baa2 para Baa3 . A estatal brasileira é a mais endividada e a que menos lucra entre as grandes empresas de petróleo e gás. O índice Baa3 é uma classificação de crédito para títulos de longo prazo e alguns outros investimentos, estando apenas um grau acima dos “junk bonds” (títulos que prometem alto rendimento e são classificados como de alto risco) e, portanto, não recomendado a investidores avessos ao risco especialmente se a classificação foi recentemente rebaixada, como é o caso da Petrobras.
  • MAMÃE EU QUERO: os credores da Petrobras – em especial os bancos – que lhe emprestaram dinheiro podem estar em apuros, em especial os estatais (BB, Caixa e BNDES). Agora o jeito é correr atrás do dinheiro. Os ativos, aos olhos dos investidores internacionais, podem estar podres, portanto a reação do setor vai ser esperar para ver. E, por esperar, me refiro aos próximos episódios da Lava Jato. Por exemplo, Leonardo Kestelman, gestor da Dinosaur Securities, investidora de ativos, deu o recado: “Nós não compraremos até entendermos completamente o que está acontecendo” . Será que a fonte vai secar?
  • TIO SAM: A capital do Estado de Rhode Island, com o oportuno nome de Providence, tratou de ingressar com ação contra a nossa estatal querida. Na verdade, já é o quarto processo, sendo que o prazo segue até sexta-feira (6 de fevereiro) para novas ações.  O motivo do ajuizamento é que os investidores teriam sido lesados com títulos superfaturados para encobrir as propinas recebidas de empreiteiras e outras prestadoras de serviços. Graça Foster é ré na ação.
  • BALANÇA MAS NÃO CAI: O buraco é tão fundo que sua profundidade é incalculável, diz a Petrobras a respeito de seu rombo fiscal. Com isso, fica impossível dar a devida baixa contábil desses prejuízos, pois, segundo a Companhia, é necessários apurá-los um a um. Obviamente se trata de tarefa impossível. Depois de enrolar, enrolar e adiar duas vezes a divulgação dos dados, a solução da empresa parece uma piada de mau gosto: já que não sabemos os prejuízos, vamos deixá-los de lado no próximo balanço . O efeito avestruz gerou muita desconfiança e o mercado não foi gentil com as ações da Petrobras, que baixaram em mais de 10%. Difícil vai ser convencer alguém a voltar a colocar dinheiro na empresa com um relatório tão “João-sem-braço” desses. 
  • VEM PRO CAIXA VOCÊ TAMBÉM: O mesmo relatório apontou que, se der tudo certo, a Petrobras paga suas contas neste ano. E só neste ano, pois, quando metade de 2016 chegar, vai acabar o dinheiro. Sem caixa, existe um caminho: pedir dinheiro emprestado para quem tenha. Daí emerge uma bifurcação: ou pede para os bancos, ou pede ao Governo – e isso implica em injetar alguns bilhões de verba pública na Companhia. Além disso, como mencionado nos itens anteriores, é bom manter a boa reputação na praça, pois o rebaixamento de seus papéis pode afugentar investidores – e, com isso, muito dinheiro que a petrolífera precisa mais do que nunca. 
  • PAGUE O ALUGUEL: se vai mal das pernas financeiramente, é natural que os fornecedores da estatal se vejam em apuros por causa da crise que a atinge. Muitos têm reclamado de pagamentos atrasados, gerando um efeito dominó no setor. Algumas empresas, como a Tenace Engenharia, estão quebrando. Isso contribui para o clima de insegurança e incertezas quanto ao cumprimento de obrigações e manutenções de contratos essenciais – e, mais uma vez, pode afugentar investimentos . 
  • AMIGOS, AMIGOS, NEGÓCIOS À PARTE: Cargos de responsabilidade da Petrobras eram colocados nas mãos de partidos políticos, ou seja, não era a qualidade técnica, mas a influência política que dirigiam as decisões sobre nomeações para cargos. É o tal do “cabide de emprego”, só que precisa ser um cabide bastante proativo em favor do Governo. Eram chamados pelo ex-diretor de Gás e Energia da estatal, Ildo Sauer, de “despachantes de interesses”. O ex-diretor é investigado pelo Tribunal de Contas da União no caso dos prejuízos causados pela compra da refinaria de Pasadena. E a eleição de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para presidir a Câmara dos Deputados só promete piorar as coisas para o governo Dilma, que ainda tem quatro anos de mandato pela frente – que, na atual conjectura é tempo suficiente para se afundar de vez. Isso porque a referida eleição demonstra que o governo foi derrotado por nada menos que sua própria base aliada. Em tempos de uma CPI em curso em cima da Petrobrás, é sinal de tempo ruim que há por vir.
Fato é que a Petrobras foi usada e virada do avesso de todas as maneiras possíveis, seja por meio de loteamento de cargos, seja como uma espécie de panaceia econômica para evitar desgastes do governo no tocante à inflação e aos reajustes, que, como sabemos, são bastante impopulares. Para a Moody’s, a desaceleração econômica do País levou o governo a “depender mais pesadamente da Petrobras para controlar a política econômica” )
  
 

Dez dicas para fazer de 2015 um ano mais feliz - Fabio Osterman (IL)

Um programa para ler, refletir e aplicar.
Paulo Roberto de Almeida

Dez dicas simples para fazer de 2015 um ano de mais liberdade







Petrolao petista: a estrategia de comer pelas bordas

Pode ser que dê certo. A menos que o juiz esse seja "argentinizado", se é que vocês me compreendem.

Paulo Roberto de Almeida


Por que confiamos no juiz Sergio Moro

Alguns leitores pedem a nossa opinião sobre a condução das investigações sobre a participação dos políticos no escândalo de corrupção da Petrobras. 
Pois bem, temos total confiança no juiz Sergio Moro. Não fosse por ele, auxiliado pelos bravos procuradores federais do Paraná e pela PF, provavelmente jamais saberíamos sobre a maior lambança da História do Brasil e as suas vísceras. 
O juiz Sergio Moro não pode abrir inquéritos ou processos sobre os desvios e roubos perpetrados por políticos. Essa é uma atribuição do Supremo Tribunal Federal, visto que essa gente tem direito a foro privilegiado. Mas o juiz Sergio Moro está sendo muito hábil no recolhimento de nomes de políticos citados por ex-diretores da Petrobras, empreiteiros e operadores. Tanto que Rodrigo Janot, agora em fevereiro, trará a público quase uma centena desses nomes. O juiz Sergio Moro não pode falar em projeto de poder do PT, mas está fornecendo provas concretas disso. O depoimento de Augusto Mendonça, da Toyo Setal, cujos vídeos foram divulgados ontem, são contundentes nesse sentido, por exemplo. Augusto Mendonça confirma que Renato Duque, então um dos diretores da Petrobras, pediu que ele depositasse dinheiro de propina diretamente no caixa de campanha do partido.
Além disso, por meio dos acordos de delação premiada, o juiz Sergio Moro vem conseguindo quebrar a estratégia conjunta de defesa das empreiteiras. Nesse momento, os advogados delas competem entre si para ver quem entrega antes os figurões políticos que estavam no comando da cadeia de corrupção.
O fato -- confessado e documentado -- de as empreiteiras terem formado cartel para participar de concorrências não elimina a responsabilidade dos diretores da Petrobras e dos políticos que os teleguiavam. Pelo contrário, até aumenta, dado o grau de intimidade entre empreiteiras, diretores da empresa e políticos. 
O juiz Sergio Moro não acredita que as empreiteiras foram simplesmente "extorquidas", porque seria um imbecil. Mas, evidentemente, não pode impedir que os advogados delas sigam este ou aquele caminho de defesa. O que está claro é que, se houve comportamento que possa ser configurado como "extorsão",  ele contou com o beneplácito de quem foi "extorquido". A prova disso é que não houve denúncia a respeito ou tentativa de dar flagrante nos operadores e beneficiários do propinoduto -- e, atenção, bastava apenas uma minicâmera para entregar todo o mundo, tal como no caso do mensalão, que começou com uma simples gravação em vídeo de um funcionário dos Correios, ligado ao PTB, levando bola. O que está certo é que os "extorquidos" mancomunaram-se com os diretores da Petrobras e os seus chefões no Legislativo e Executivo, para anularem a "extorsão" e auferirem lucro imenso por meio do superfaturamento dos custos dos serviços para os quais foram contratados.
Se os políticos do PT, PMDB e PP escaparem ou tiverem penas mínimas ao final do processo, não será por culpa da condução dos trabalhos do juiz Sergio Moro, mas da falta de vergonha dos ministros do Supremo Tribunal Federal.
O juiz Sergio Moro trabalha ativa e altivamente em prol do Brasil, em que pesem as pressões que recebe do governo, dos ataques dos blogs sujos e da incompreensão de que por vezes é vítima.

Privatizacao da Petrobras: muito atrasada - Fabio Osterman

Roberto Campos dizia que o Brasil é um país que não perde a oportunidade de perder oportunidades. Tenho absoluta certeza de que vai perder mais esta também. E não foi por falta de aviso. 
Ah, sim, claro: agora não dá: tem muitos crimes espalhados pelos arquivos. A empresa precisa afundar ainda mais uns cinco ou dez anos. Isso se pararem de roubar agora. 
Paulo Roberto de Almeida

Precisamos falar sobre a privatização da Petrobras

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“O petróleo é nosso!” foi o lema de uma campanha que culminou com a criação da Petrobras, em 1953. Como toda empresa estatal, a Petrobras foi criada para servir ao “bem comum”, ao povo, às demandas sociais e às necessidades de investimento de um país ainda arcaico.

Costuma-se dizer que o melhor negócio do mundo é uma empresa de petróleo bem administrada, e o segundo melhor, uma empresa de petróleo mal administrada. Apesar da ineficiência crônica e da corrupção endêmica, a Petrobras ainda é uma das maiores empresas do mundo (a 28.ª, segundo o ranking anual da revista Forbes) e suas operações envolvem quantias vultosas. E esse dinheiro alimenta uma verdadeira cadeia alimentar de grupos de pressão que se opõem intransigentemente a qualquer tentativa de eliminação ou redução de seus privilégios.

Esse cenário não foi, obviamente, construído somente ao longo dos últimos 12 anos, mas o fato é que a última década colocou o nível de corrupção na estatal em um novo patamar. O mais recente capítulo é o petrolão, espécie de mensalão sustentado por um cartel de empresas com interesse parasitário nas operações da Petrobras. Apesar do recente desenvolvimento das investigações, já está claro que se trata de um escândalo de grandes proporções. Para se ter uma ideia, um mero gerente firmou um acordo com a Justiça por meio do qual se compromete a devolver aos cofres públicos US$ 97 milhões. Imagine o leitor qual não terá sido a quantia amealhada por integrantes mais “estrelados” da quadrilha (com o perdão do trocadilho)?

A situação da maior empresa do Brasil também se explica pelo fato de que ela vem sendo utilizada pelo atual governo para funções totalmente alheias ao seu objeto social: fazer política monetária (o governo controla o preço da gasolina para que a pressão inflacionária não se alastre pela economia), fiscal (por meio de manobras envolvendo a capitalização da empresa), industrial (ela é obrigada por lei a cumprir cotas de compra de produtos nacionais), externa (o governo permite a expropriação de refinarias em países “amigos” e firma parcerias com a mais corrupta e ineficiente petroleira do ocidente, a venezuelana PDVSA) e até cultural (o patrocínio da Petrobras é onipresente em teatros, exposições e filmes brasileiros).

Essa excessiva interferência política resulta em casos grotescos de corrupção, ineficiência, crowding out de investimentos privados e, é claro, uma das gasolinas mais caras do mundo (a mais cara dentre os países produtores de petróleo). E a queda do preço do barril no mercado internacional só vem a tornar ainda mais dramática a situação da empresa, por ameaçar seriamente a viabilidade dos investimentos no pré-sal.

Diante desse cenário, faz-se urgente trazer à mesa de debates um assunto tratado como tabu na política brasileira: a privatização da Petrobras. O Estado brasileiro não dispõe das instituições e nem da capacidade gerencial para administrar uma empresa desse porte. Prova clara disso é o fato de Graça Foster ainda estar na presidência da estatal após quase três anos de desastrosa gestão. Quanto tempo ela duraria no cargo fosse a Petrobras uma empresa privada, atuando sob as regras do mercado e não da política?

A Petrobras privada poderia seguir o caminho da Embraer ou da Vale, que passaram de estatais deficitárias e ineficientes para exemplos de produtividade e inovação (além de grandes pagadores de impostos). No modelo atual, temos a questionável vantagem de o petróleo ser “nosso” (sic) – e a conta também.

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