O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

domingo, 11 de setembro de 2016

Bilionarios brasileiros (gracas ao Estado corrupto) - debate no Cato Institute (Washington)

Brazillionaires: Wealth, Power, Decadence, and Hope in an American Country
Book Forum
Tuesday, September 13, 2016
12:00PM - 1:30PM

Featuring the author Alex Cuadros, Former São Paulo reporter, Bloomberg News; with comments by João Augusto de Castro Neves, Director of Latin America, Eurasia Group. Moderated by Juan Carlos Hidalgo, Policy Analyst on Latin America, Center for Global Liberty and Prosperity, Cato Institute.

Brazil is a country where spectacular displays of wealth coexist with barefaced poverty, making it one of the most unequal nations in the Americas. In 2010 Alex Cuadros was hired by Bloomberg News to report on the rise of Brazilian billionaires, an elite group whose growing riches mirrored the ascendancy of their country as a global economic powerhouse. Cuadros will explain how many of these fortunes were made thanks to influence peddling and whether the recent well-publicized corruption scandals that rocked the country could be a signal of strengthening institutions. João Augusto de Castro Neves will offer his insights about the political and economic crisis engulfing Brazil.

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A Quarta Revolucao Industrial: ao alcance da vista - Udo Gollub

A 4ª. REVOLUÇÃO INDUSTRIAL ESTÁ EM CURSO
Udo Gollub
 Messe Berlin
(Conferência da Universidade da Singularidade)

Em 1998, a Kodak tinha 170.000 funcionários e vendeu 85% de todo o papel fotográfico vendido no  mundo. No curso de poucos anos, o modelo de negócios dela desapareceu e eles abriram falência. O que aconteceu com a Kodak vai acontecer com um monte de indústrias nos próximos 10 anos – e a maioria das pessoas não enxerga isso chegando. Você poderia imaginar em 1998 que 3 anos mais tarde você nunca mais iria registrar fotos em filme de papel?

No entanto, as câmeras digitais foram inventadas em 1975. As primeiras só tinham 10.000 pixels, mas seguiram a Lei de Moore. Assim como acontece com todas as tecnologias exponenciais, elas foram decepcionantes durante um longo tempo, até se tornarem imensamente superiores e dominantes em uns poucos anos. O mesmo acontecerá agora com a inteligência artificial, saúde, veículos autônomos e elétricos, com a educação, impressão em 3D,  agricultura e empregos.

Bem-vindo à quarta Revolução Industrial!

O software irá destroçar a maioria das atividades tradicionais nos próximos 5-10 anos.

O UBER é apenas uma ferramenta de software, eles não são proprietários de carros e são agora a maior companhia de táxis do mundo. A AIRBNB é a maior companhia hoteleira do mundo, embora eles não sejam proprietários.

Inteligência Artificial: Computadores estão se tornando exponencialmente melhores no entendimento do mundo. Neste ano, um computador derrotou o melhor jogador de GO do mundo, 10 anos antes do previsto.  Nos Estados Unidos, advogados jovens já não conseguem empregos.  Com o WATSON, da IBM, V. pode conseguir aconselhamento legal (por enquanto em assuntos mais ou menos básicos) dentro de segundos, com 90% de exatidão se comparado com os 70% de exatidão quando feito por humanos. Por isso, se V. está estudando Direito, PARE imediatamente. Haverá 90% menos advogados no futuro, apenas especialistas permanecerão.

O WATSON já está ajudando enfermeiras a diagnosticar câncer, quatro vezes mais exatamente do que enfermeiras humanas.  O FACEBOOK incorpora agora um software de reconhecimento de padrões que pode reconhecer faces melhor que os humanos.  Em 2030, os computadores se tornarão mais inteligentes que os humanos.

Veículos autônomos: em 2018 os primeiros veículos dirigidos automaticamente aparecerão ao público. Ao redor de 2020, a indústria automobilística completa começará a ser demolida.  Você não desejará mais possuir um automóvel.  Nossos filhos jamais necessitarão de uma carteira de habilitação ou serão donos de um carro.  Isso mudará as cidades, pois necessitaremos 90-95 % menos carros para isso.  Poderemos transformar áreas de estacionamento em parques.  Cerca de 1.200.000 pessoas morrem a cada ano em acidentes automobilísticos em todo o mundo. Temos agora um acidente a cada 100.000 km, mas com veículos auto-dirigidos isto cairá para um acidente a cada 10.000.000 de km. Isso salvará mais de 1.000.000 de vidas a cada ano.

A maioria das empresas de carros poderão falir. Companhias tradicionais de carros adotam a tática evolucionária e constroem carros melhores, enquanto as companhias tecnológicas (Tesla, Apple, Google) adotarão a tática revolucionária e construirão um computador sobre rodas.  Eu falei com um monte de engenheiros da Volkswagen e da Audi: eles estão completamente aterrorizados com a TESLA.

Companhias seguradores terão problemas enormes porque, sem acidentes, o seguro se tornará 100 vezes mais barato. O modelo dos negócios de seguros de automóveis deles desaparecerá.

Os negócios imobiliários mudarão. Pelo fato de poderem trabalhar enquanto se deslocam, as pessoas vão se mudar para mais longe para viver em uma vizinhança mais bonita.

Carros elétricos se tornarão dominantes até 2020. As cidades serão menos ruidosas porque todos os carros rodarão eletricamente. A eletricidade se tornará incrivelmente barata e limpa: a energia solar tem estado em uma curva exponencial por 30 anos, mas somente agora V. pode sentir o impacto. No ano passado, foram montadas mais instalações solares que fósseis. O preço da energia solar vai cair de tal forma que todas as mineradoras de carvão cessarão atividades ao redor de 2025.

Com eletricidade barata teremos água abundante e barata. A dessalinização agora consome apenas 2 quilowatts/hora por metro cúbico. Não temos escassez de água na maioria dos locais, temos apenas escassez de água potável. Imagine o que será possível se cada um tiver tanta água limpa quanto desejar, quase sem custo.

Saúde: O preço do Tricorder X será anunciado este ano.  Teremos companhias que irão construir um aparelho médico (chamado Tricorder na série Star Trek) que trabalha com o seu telefone, fazendo o escaneamento da sua retina, testa a sua amostra de sangue e analisa a sua respiração (bafômetro). Ele então analisa 54 bio-marcadores que identificarão praticamente qualquer doença. Vai ser barato, de tal forma que em poucos anos cada pessoa deste planeta terá acesso a medicina de padrão mundial praticamente de graça.

Impressão 3D: o preço da impressora 3D mais barata caiu de US$ 18.000 para US$ 400 em 10 anos. Neste mesmo intervalo, tornou-se 100 vezes mais rápida. Todas as maiores fábricas de sapatos começaram a imprimir sapatos 3D. Peças de reposição para aviões já são impressas em 3D em aeroportos remotos. A Estação Espacial tem agora uma impressora 3D que elimina a necessidade de se ter um monte de peças de reposição como era necessário anteriormente. No final deste ano, os novos smartphones terão capacidade de escanear em 3D. Você poderá então escanear o seu pé e imprimir sapatos perfeitos em sua casa. Na China, já imprimiram em 3D todo um edifício completo de escritórios de 6 andares. Lá por 2027, 10% de tudo que for produzido será impresso em 3D.

Oportunidades de negócios: Se V. pensa em um nicho no qual gostaria de entrar, pergunte a si mesmo:

“SERÁ QUE TEREMOS ISSO NO FUTURO?” e, se a resposta for SIM, como V. poderá fazer isso acontecer mais cedo? Se não funcionar com o seu telefone, ESQUEÇA a idéia. E qualquer idéia projetada para o sucesso no século 20 estará fadada a falhar no século 21.

Trabalho: 70-80% dos empregos desaparecerão nos próximos 20 anos.  Haverá uma porção de novos empregos, mas não está claro se haverá suficientes empregos novos em tempo tão exíguo.

Agricultura: haverá um robô agricultor de US$ 100,00 no futuro. Agricultores do 3º mundo poderão tornar-se gerentes das suas terras ao invés de trabalhar nelas todos os dias. A AEROPONIA necessitará de bem menos água. A primeira vitela produzida “in vitro” já está disponível e vai se tornar mais barata que a vitela natural da vaca ao redor de 2018.  Atualmente, cerca de 30% de todos as superfícies agriculturáveis são ocupados por vacas. Imagine se tais espaços deixarem se ser usados desta forma. Há muitas iniciativas atuais de trazer proteína de insetos em breve para o mercado. Eles fornecem mais proteína que a carne. Deverá ser rotulada de FONTE ALTERNATIVA DE PROTEÍNA. (porque muitas pessoas ainda rejeitam ideias de comer insetos).

Existe um aplicativo chamado “moodies” (estados de humor) que já é capaz de dizer em que estado de humor V. está. Até 2020 haverá aplicativos que podem saber se V. está mentindo pelas suas expressões faciais. Imagine um debate político onde estiverem mostrando quando as pessoas estão dizendo a verdade e quando não estão.

O BITCOIN (dinheiro virtual) pode se tornar dominante este ano e poderá até mesmo tornar-se em moeda-reserva padrão.

Longevidade: atualmente, a expectativa de vida aumenta uns 3 meses por ano.  Há quatro anos, a expectativa de vida costumava ser de 79 anos e agora é de 80 anos. O aumento em si também está aumentando e ao redor de 2036, haverá um aumento de mais de um ano por ano. Assim possamos todos viver vidas longas, longas, possivelmente bem mais que 100 anos.

Educação: os smartphones mais baratos já estão custando US$ 10,00 na África e na Ásia.  Até 2020, 70% de todos os humanos terão um smartphone.  Isso significa que cada um tem o mesmo acesso a educação de classe mundial.

Memoria de Antonio Houaiss, diplomata, lexicografico, academico, intelectual socialista - blog em formacao

O pesquisador  Gustavo Saboia me informa o seguinte, o que, creio, deve merecer a atenção de todos aqueles que conheceram a pessoa humana, ou leram a obra, ou que simplesmente se interessam por história diplomática e intelectual do Brasil.
Paulo Roberto de Almeida

O Blog em construção Memorial Antonio Houaiss está disponível no link:

https://ahmemo.wordpress.com/memorial-digital-antonio-houaiss/

Eventualmente ficará fora de acesso para manutenção.
O Blog será transformado em um site educativo. O material exposto está sob curadoria do CEBELA com apoio da Faperj.

Gustavo Saboia
Bolsista Faperj - TCT 5

Os refugiados e o refugio no Brasil: debate na USP, 29/09/2016


                                                                                                                                             


Os refugiados e o refúgio no Brasil: a lei, as situações e os desafios.
                         29 de setembro de 2016
Das 9h30 às 12h30 – Prédio das Ciências Sociais, SALA 8 - 
Av. Prof. Luciano Gualberto, 315– Cidade Universitária – SP



PROGRAMAÇÃO

MARIA QUINTEIRO mediadora - Socióloga. Núcleo de Políticas Públicas, NUPPs-USP.
FLÁVIO ANTAS CORRÊA“Plano Estadual de Migração e Refúgio” (relação com educação, saúde, justiça e defesa da cidadania, trabalho, família, desenvolvimento social, cultura e pessoas com deficiência).Advogado, especialista em Direito do Trabalho, Coordenador do Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas - NETP, da Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania do Estado de São Paulo.
BERENICE YOUNG“Leituras possíveis no entendimento psicossocial de refugiados em São Paulo- reflexões e experiências” (características do solicitante de refúgio, vivências, problemas e demandas no contexto do serviço de atendimento psicossocial). Doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano, USP; psicóloga fundadora do Serviço Psicossocial, no Centro Pastoral da Missão Paz.
ALEX ANDRÉ VARGEM - "Desafios nas garantias de direitos e a proteção dos refugiados no Brasil" (Aplicação do Estatuto dos Refugiados, Políticas Públicas estabelecidas e as ausências- Direito à participação política). Sociólogo, com formação sobre o Direito Internacional dos Refugiados pelo International Institute of Humanitarian Law,Itália.
 MARCELO HAYDU - “A Integração Local de Refugiados na Cidade de São Paulo” (integração, desafios nesse processo, lei e políticas públicas). Especialista em Relações Internacionais, professor de sociologia. Diretor Executivo da ADUS- Instituto de Reintegração dos Refugiados no Brasil.
DEBATE APÓS AS APRESENTAÇÕES



Informações e inscrições:
Vera Cecília da Silva, Analista Acadêmica, NUPPs-USP – nupps@usp.br - (11) 3091.3272 / 3815.4134

11 de Setembro: um dia que ficou na Historia: reportagens do dia 12/09/2001 (FSP)

FOLHA DE S.PAULO
12 de setembro de 2001

HORROR EM NOVA YORK
Corpos e destroços compõem o cenário

Além de ar sufocante, calor e fogo, há um desagradável cheiro doce de queimado, que embrulha o estômago

SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

A ponte que ligava as duas torres do World Trade Center está a 10 metros, caída no chão sobre dois carros da polícia e quatro caminhões dos bombeiros. Cedeu quando a primeira torre veio ao chão. Dois enfermeiros carregam uma maca com o corpo de um bombeiro. Ele está decapitado.
Protegido por uma máscara que consegui com um dos bombeiros, pude ultrapassar três bloqueios policiais e estou a poucos passos dos fundos do que sobrou das estruturas das duas torres. O ar está tomado por uma mistura de pó branco com fumaça preta. É meio-dia, o sol brilha alto, mas ao lado do World Trade Center está escuro como noite.
Além do ar sufocante e do calor que emana das duas construções em fogo, há um desagradável cheiro doce de queimado, que embrulha o estômago.
O barulho dos alarmes de incêndio dos prédios vizinhos, todos disparados, se junta aos alarmes dos carros que não foram completamente queimados e às sirenes das ambulâncias e das viaturas que conseguiram escapar do segundo desabamento.

Desordem
Não há uma ordem aparente. Policiais chegam, sozinhos ou em duplas, e gritam ordens, que são modificadas pelo chefe dos bombeiros, que se sobrepõe aos agentes do FBI. No meio da confusão, enfermeiros, paramédicos e voluntários não sabem o que fazer.
Eles são os que sobraram, a terceira leva do resgate. A primeira foi quase toda soterrada pelo primeiro desabamento. Parte da segunda, que foi enviada para tentar resgatar a primeira, está sob os escombros do segundo desabamento. A terceira é de bombeiros que estavam de folga, enfermeiros aposentados, policiais de outros bairros da cidade, agentes mais acostumados ao trabalho atrás das mesas, estudantes de medicina e de enfermagem.
De vez em quando, todos se entreolham assustados: um dos canos de gás que ainda resiste na estrutura dos prédios explode, fazendo um barulho desagradavelmente parecido com o das bombas de minutos atrás. Cães farejadores começam a latir e a vasculhar pedras, atrás de corpos.

Primeiro desabamento

O escritório da Folha em Nova York fica a cerca de 15 quadras do local da explosão, ambos no sul da ilha de Manhattan, em Nova York. Desde que ouvi as primeiras sirenes e barulhos de helicópteros, fui para as ruas tentar chegar ao World Trade Center.
Em questão de minutos, o serviço do metrô foi interrompido. Logo as ruas foram invadidas por pessoas, que tomaram os táxis e os ônibus, já parados pelo tráfego. A solução foi caminhar. Descendo a Terceira Avenida, o primeiro susto: uma das duas torres que até então estavam lá, à vista, desaba numa nuvem de poeira.
Nenhum barulho, nenhuma alteração. As lojas ainda estão funcionando, a bilheteria do cinema ainda vende ingressos. Até que as primeiras notícias começam a chegar pelo boca-a-boca. Realmente, a torre desabou. Começam a se formar filas nos poucos telefones públicos que ainda funcionam. Os primeiros gritos.
Todos tentam em vão falar nos celulares, que estão fora do ar. Um casal atravessa a rua correndo e chorando. Dois amigos se abraçam com lágrimas nos olhos. Uma senhora leva as mãos à cabeça e pergunta: "Por quê? Por quê?" Grupinhos assustados vão se formando nas esquinas.
Já na altura da Quinta Avenida, com uma visão mais completa da torre que sobrou, tomo o segundo susto. É como uma batida de carro. Um ruído surdo e seco, alguns berros. Um silêncio. E então a correria nas ruas, o desespero, o pânico. A segunda torre acaba de desabar, ali, aos olhos de todos, em nova nuvem de poeira.
Consigo chegar à parte de trás do que ontem de manhã era o prédio mais alto da cidade. O cenário é de guerra. Todos os edifícios num raio de três quarteirões sofreram pelo menos algum abalo. Alguns ainda correm risco de desabamento.
A poucos passos de uma das entradas da segunda torre do prédio, um telefone público teve o gancho arrancado. Sobre o aparelho, um saquinho com um resto de maconha. No chão, perto de um dos carros queimados, um chapéu de policial pisado faz companhia para duas botas destruídas numa poça de sangue.
Perto das 13h, com o fogo aparentemente controlado e sem perspectivas de novos desabamentos, uma nova leva de salvamento, a quarta do dia, começa a chegar. São dezenas de homens, que andam juntos arrancando mais poeira do chão, numa imagem que remete ao Velho Oeste.
Batalhões de voluntários, bombeiros, médicos e policiais passam a se aproximar em blocos do prédio para verificar se há sobreviventes. Mas não há. Em minutos, macas começam a ser tiradas. São corpos esmagados, na maioria policiais e bombeiros, cobertos de pó branco e sangue.
Nesse momento, sou expulso do lugar.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft1209200143.htm

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GUERRA NA AMÉRICA
Na torre, "o chão parecia uma geléia", conta paulista
Multidão se espreme em escadas cheias de fumaça; saídas estavam bloqueadas
Elevadores caíram; ordem era correr, com mãos ao alto, sem olhar para trás

SÍLVIA CORRÊA
PALOMA COTES
DA REPORTAGEM LOCAL

"O prédio tremeu. O chão parecia uma geléia. Levantou um metro para lá, um para cá. As pessoas caíam. As coisas caíam. Foram uns dez segundos eternos."
Foi essa a sensação do paulista Guilherme Castro, 27, operador de uma corretora do mercado financeiro que trabalhava no 25º andar da torre 1 do World Trade Center ontem de manhã. O tremor que ele narra foi consequência do impacto causado pela batida do primeiro avião.
O andar era aberto, sem divisórias. Havia mais de 1.500 pessoas nele. De repente, a explosão.
"Foi muito forte. As pessoas se agarravam às coisas e se olhavam, desesperadas. Eu tinha certeza de que era uma bomba, mas não sabia se vinha de cima ou de baixo. O prédio balançou, inacreditavelmente. Vum... Vum... Tive certeza de que ia morrer", relatou ele.
O desespero aumentou quando o tremor passou. As janelas do prédio não abriam. "Tentei quebrar uma delas. Queria olhar para fora e ver o que estava havendo. Outras pessoas tiveram a mesma reação, mas não conseguíamos romper os vidros", continuou Raul Paulo Costa, 33, também operador da Garban Intercapital, que estava no mesmo 25º andar.
"Sem abrir o vidro, olhei pela janela e vi coisas caindo. Pareciam pedaços do prédio, pessoas, sei lá. Saí correndo, procurando a escada. Deixei tudo para trás", completou Castro. Na mesa ficaram documentos da empresa e de clientes, chave de casa, telefone.
Na fuga, outro capítulo do pânico. Segundo Costa, havia algumas saídas fechadas, o que causou tumulto nos andares. Mas as pessoas acharam outras rotas e, em segundos, as escadas lotaram.
"As pessoas pediam calma. Choravam. Havia muita fumaça e era difícil respirar", narrou Castro, que envolveu a cabeça na camisa como a maioria dos que tentavam escapar pelas escadas.
Para ele, foram 20 minutos até o térreo. Para o colega Costa, foi uma hora. "Foram os minutos mais longos da minha vida. Depois de um certo tempo, não acreditava mais que fosse sair vivo daquele horror", descreveu Costa.
No térreo, os brasileiros viram, em pedaços, as mais claras imagens da tragédia. "Estava tudo destruído. Os elevadores despencaram. Estavam com as portas em pedaços, amassados. No chão, tinha água, fios, vidro. Partes do teto estavam caídas e havia muita, muita poeira", contou Castro, nervoso, seis horas depois.
As pessoas foram orientadas a deixar o prédio pelo hotel Marriot, que ficava no térreo do WTC. Já havia feridos no saguão. Os policiais gritavam. "Todo mundo correndo. Mãos nas cabeças e sem olhar para trás", narraram os brasileiros, reproduzindo as ordens.
Castro e uma multidão deixaram o WTC em direção a Battery Park. "De repente, um míssil. Eu tinha certeza de que era um míssil e que ia cair na minha cabeça. Aí, outra explosão." Era o segundo avião. Atingia a segunda torre. Em minutos, ela desabaria.
Costa, o outro brasileiro, ainda estava preso em uma das escadarias de incêndio. "No 13º andar, as portas também estavam travadas. As pessoas começaram a subir, descer, subir. Ficaram desesperadas. Elas se amassavam naquele corredor. Algumas desistiam no meio do caminho, tamanha a dificuldade para respirar", disse ele.
O brasileiro foi achando outras escadas, outras rotas de fuga. No 3º andar, a água já tomava conta do chão e estava na altura de seus joelhos. Foi escorregando, agarrado a um corrimão. Foi caindo, resvalando, tentando. Saiu.
Ambos os brasileiros foram a pé para casa. Correram. Não esperaram assistência médica.
Castro soube no caminho que as torres haviam caído. Costa correu 40 quadras até chegar em casa e se sentir seguro.
Às residências, ambos chegaram em pânico. Ligaram para o Brasil, mas mal puderam falar. Ficaram imóveis, "na frente da TV, revendo tudo desabar".
No final do dia, ainda não tinham notícia de alguns amigos. Acham que muitos não conseguiram escapar. Ao trabalho, não sabem quando voltam. Os escritórios não existem mais.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft1209200146.htm

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HORROR EM WASHINGTON
Governo fecha Casa Branca, Congresso e prédios públicos
Vice-presidente e integrantes do Conselho de Segurança Nacional se refugiam em prédio subterrâneo secreto
MARCIO AITH
DE WASHINGTON

Uma sensação inédita de vulnerabilidade atingiu ontem o centro político e militar dos EUA, nação mais poderosa do mundo.
Minutos depois do ataque terrorista que destruiu parte do Pentágono, o governo decidiu fechar a Casa Branca, o Capitólio e todos os outros prédios públicos da capital do país. O vice-presidente, Dick Cheney, líderes no Congresso e integrantes do Conselho de Segurança Nacional foram removidos para um prédio subterrâneo secreto.
Jatos F-16, da Força Aérea norte-americana, sobrevoaram o centro da cidade. Como todos os vôos comerciais no país foram suspensos e não havia certeza com relação ao número de aviões sequestrados, os pilotos militares receberam a missão de derrubar qualquer aeronave que se aproximasse da cidade.
Ofegante, depois de descer cinco lances de escadas do prédio que abriga a sede do Federal Deposit Insurance Corporation, a quatro quarteirões da Casa Branca, a fiscal de contabilidade Debby Carlson, 42 anos, juntou-se na rua a uma multidão de funcionários públicos que, calados, olhavam para o céu. Quarenta minutos antes, o Pentágono fora atacado. Quase duas horas antes, dois outros aviões atingiram as torres do World Trade Center, em Nova York, derrubando-as mais tarde.
"Disseram que tem outro avião vindo", gritou. "Agora eles querem a Casa Branca", alertou. "Eles", na visão de Carlson, são os terroristas. "No dia em que eles destruírem Washington, será o fim do mundo livre."
Pessoas andavam, a esmo, com crachás pendurados. Outros tentavam, sem sucesso, usar celulares. No início, acreditava-se que uma bomba teria explodido no Congresso e que o Departamento de Estado estaria em fogo. As informações, mais tarde desmentidas, ajudaram a elevar o pânico.
As autoridades decretaram estado de emergência na cidade. Operações do Metrô foram interrompidas durante um período. O trânsito, restrito por dezenas de bloqueios de segurança, ficou caótico. Ninguém podia chegar a uma distância inferior a três quarteirões da Casa Branca.
Os museus ao longo da longa área verde conhecida como "Mall" não funcionaram, assim como a maioria das embaixadas. Turistas, atônitos, pediam ajuda a policiais com metralhadoras.
A fumaça vinda do Pentágono, do outro lado do Rio Potomac, que separa Washington do Estado da Virgínia, misturava-se à imagem do Monumento de Washington, obelisco da cidade. "A cidade está mais tensa do que durante a crise dos mísseis com Cuba, em 1962", disse o senador Chuck Grassley, republicano de Iowa que misturou-se à multidão. "Só que, agora, fomos atingidos."
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft1209200155.htm

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No Pentágono, mesa é usada como escudo
GABRIELA ATHIAS
ESTELA CAPARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Assim como em todas as manhãs, o engenheiro americano Gregory Stotmayer, 52, estava em sua mesa começando mais um dia de trabalho no Prédio Federal número 2, mais conhecido como "Navy Annex", quando ouviu um estrondo.
Sua primeira impressão foi que "algo muito grande" havia se chocado contra alguma construção do bairro, já que do escritório dele não era possível ver a queda do avião sobre o prédio que até então simbolizava a força da América. "Nunca imaginei que pudesse acontecer algo com o Pentágono", disse ele da sua casa, em um subúrbio de Washington, à Folha, por telefone.
"Eu nunca tinha estado em uma explosão antes. Para mim, a impressão foi de um barulho seco e alto de algo se chocando contra uma parede", disse Stotmayer.
"Fomos retirados do prédio em menos de um minuto e só na saída é que eu percebi que o Pentágono havia sofrido um atentado", relatou o engenheiro.
"Enquanto estávamos no prédio, nenhum de nós havia imaginado que a explosão pudesse ter algo a ver com o Pentágono. De lá só foi possível ouvir a explosão", completou Stotmayer.
Ele disse não ter "entrado em pânico", mas reconheceu ter sido surpreendido com o alcance dos atentados terroristas contra civis. "Pela primeira vez pensei no que pode acontecer contra nós [americanos]."
"Nós não sabíamos se deveríamos sair ou ficar no prédio. O problema é que, em uma situação como essa, você não sabe o que vai ocorrer no próximo minuto", completou John Damoose, um funcionário do Pentágono que estava em reunião quando ocorreu o atentado.
Para Damoose, o pior momento foi quando ele deixou o prédio e andou pela ciclovia Fort Meyer Drive: "Você podia ver pedaços de avião".
Ainda no Pentágono, a reação do engenheiro Rick Watson, 30, para quem o estrondo se assemelhou a um terremoto, foi correr para debaixo da mesa. Tom Seibert, 33, também engenheiro, disse que agiu por impulso: "Nos jogamos no chão por instinto".
Apesar da tensão e do clima de terror, a retirada dos funcionários do Pentágono foi feita de forma calma, organizada e durou poucos minutos.
"Quando pediram para deixarmos o prédio, já sabíamos o que havia acontecido no World Trade Center, em Nova York. Em três minutos estávamos todos na rua", disse uma funcionária que não quis se identificar.
Já na rua, as pessoas perceberam que teriam dificuldades de voltar para casa. A maioria das linhas de ônibus dessa região de Washington tem seu ponto inicial no Pentágono. Como a região foi interditada pela polícia, os ônibus não puderam trafegar, e as pessoas não souberam para onde se dirigir para pegá-los.
Com agências internacionais.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft1209200156.htm

sábado, 10 de setembro de 2016

Populismo economico e ‘destruicao destrutiva’ na America Latina - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente artigo publicado, e ele deve servir de base para  palestra na Primeira Semana Pela Liberdade, promovida pelo capítulo de Brasília dos Estudantes pela Liberdade (Auditório de Ciência Política, UnB; 16/09/2016, 15:10hs; EPL-Brasília.
Paulo Roberto de Almeida  



Populismo econômico e ‘destruição destrutiva’ na América Latina

Paulo Roberto de Almeida
  
Destruction is always creation.
John Muir, letter to Ralph Waldo Emerson, March 26, 1872.
In: Andrea Wulf, The Invention of Nature: the adventures of Alexander von Humboldt, the lost hero of Science (London: John Murray Publishers, 2015). 

Poucos anos depois que Karl Marx, no primeiro volume de Das Kapital – em 1867, o único que ele publicaria em vida –, tivesse formalizado sua concepção acerca dos poderes destrutivos do capital, como condição para a criação de novas forças produtivas e novas relações de produção, o conservacionista pioneiro e promotor do movimento ambientalista nos Estados Unidos John Muir, discípulo intelectual de Alexander von Humboldt, expunha, em carta ao amigo transcendentalista e poeta Waldo Emerson, sua crença em que mesmo fenômenos naturais aparentemente destrutivos serviam para criar novas formas de vida. Em outro sentido, Lavoisier tinha expresso a mesma ideia algum tempo antes, quando disse que na natureza nada se criava ou se perdia, mas que tudo se transformava. Talvez, nenhum dos três tivesse refletido sobre essa bizarra, ou até mesmo essa inacreditável capacidade que possuem certos seres humanos, ou certos grupos sociais, de destruir instituições criadas pela própria sociedade, sem nada colocar no lugar. Em nenhuma outra região do mundo essa notável bizarrice humana exibiu-se de forma tão exuberante quanto na América Latina, aliás de forma recorrente, o que pode ser um vício, mas também um “pecado original”.
O título deste ensaio expõe conceitos cujo sentido caberia explicitar antes de penetrar no âmago do argumento aqui desenvolvido em relação a um continente que insiste em desmentir Marx e os demais. Os termos casados de “populismo econômico” e de “destruição destrutiva” nem sempre se apresentam combinados dessa forma, embora o processo em questão, o populismo, geralmente de caráter político, parece se casar perfeitamente com o itinerário frustrante da América Latina ao longo dos dois séculos desde sua independência. Vamos tentar ver como e porque.
O conceito de populismo aparece usualmente associado a práticas políticas bastante conhecidas na América Latina, misturado a condutas obviamente popularescas, isto é, demagógicas e caracterizadas por muita enganação do povo mais humilde. O populismo de tipo econômico seria uma simples derivação desse primeiro tipo, feito de políticas econômicas irresponsáveis, sobrevalorização cambial, controles de preços, emissionismo desenfreado (para justamente sustentar o nível de gastos públicos necessários para assegurar uma boa e fiel clientela eleitoral), embromação deliberada em direção dos mais pobres, enquanto se continua a beneficiar os estratos privilegiados da sociedade. Em síntese, o populismo econômico significa um conjunto de medidas de caráter redistributivo e de incitação artificial ao consumo e ao crescimento, mas que se revela insustentável no médio prazo, que sempre redunda no esgotamento dos recursos colocados à disposição do governante e que termina, ao fim e ao cabo, por precipitar uma crise e a consequente derrocada do modelo adotado.
O termo de “destruição destrutiva”, por sua vez, remete ao conceito formulado concebido pelo economista austríaco – mas não da escola austríaca de economia – Joseph Schumpeter, de “destruição criadora”, destinado a designar o fluxo contínuo de transformações tecnológicas no seio de um processo produtivo, que anula procedimentos anteriormente usados, destrói velhos métodos de produção, em favor de técnicas inovadoras que alteram significativamente o caráter de um determinado ramo ou de todo um setor da atividade econômica. Nada mais ilustrativo desse conceito do que as carruagens puxadas a cavalos sendo substituídas por veículos a motores de combustão interna, do que computadores tomando o lugar das máquinas de escrever, ou a internet aposentando a correspondência postal e os milhões de quilômetros de fios e cabos que no passado levavam mensagens telegráficas e comunicações telefônicas. Schumpeter considerava esse processo como o “fato essencial do capitalismo”, mas a verdade é que ele ocorreu e ocorre em qualquer “modo de produção”.
Todos esses exemplos são representativos da “destruição criadora”, no sentido dado ao termo por Schumpeter, baseando-se, aliás, na ideia já exposta por Marx no Capital. O que todavia pretendemos ilustrar aqui é um processo original de destruição puramente destruidora acarretado pelo populismo econômico, tal como praticado em diversos países da América Latina. De fato, poucas regiões do mundo, ou poucos outros países tomados individualmente, foram tão completamente dominados, e arrasados, pelo populismo econômico quanto países da América Latina, em quaisquer etapas de seu desenvolvimento desde a independência. Poucos se salvaram do desastre acarretado por práticas muito pouco schumpeterianas, em fases específicas de suas trajetórias respectivas, embora a extensão e a profundidade desse desastre tenham variado de um lado a outro: alguns incidiram poucas vezes no “mal do século”, enquanto outros (como a Argentina, por exemplo) se especializaram em repetir várias vezes a mesma história. O Brasil, aliás, não ficou muito atrás, parecendo seguir, segundo alguns economistas, as bobagens perpetradas pelo país platino pouco tempo depois, ou cometendo os seus próprios equívocos em total independência. De certa forma, o Brasil merece mesmo uma espécie de Prêmio Ignóbil da história monetária mundial: afinal de contas, qual outro país consegue igualar a proeza pouco recomendável de exibir OITO moedas em sua trajetória econômica, sendo seis padrões monetários numa única geração, pior, num espaço de tempo inferior a dez anos?
A esse propósito, é preciso ainda fazer uma qualificação importante: geralmente se associa o populismo econômico a políticas de esquerda, à demagogia econômica de tipo redistributivo, ao inflacionismo irresponsável ou a manipulações cambiais de diversos tipos. Nem sempre é assim, pois também se pode ter um populismo econômico de direita, feito de nacionalismo exacerbado, de protecionismo comercial canhestro, de excesso de intervencionismo estatal, no que, aliás, ele estaria tão ultrapassado quanto o dirigismo arrogante praticado por governos de esquerda. O Brasil do período militar – que não pode ser exatamente tido como um regime de esquerda, embora esta aprove inteiramente, e até queira imitar, várias das políticas praticadas naquela época – foi justamente um representante típico de governos de direita que também praticaram populismo econômico, tanto no capítulo monetário, quanto em diversas políticas setoriais conduzidas ao longo daquele período. Pergunta: qual outro país conseguia ter não apenas um, mas TRÊS orçamentos, como aqui registrado: o fiscal – ou seja, aquele normalmente conhecido em outros países, feito de um simples registro contábil de receitas e despesas correntes –, o monetário – aqui já expressando as virtudes criadoras de nossos tecnocratas, uma conta movimento entre o Banco Central e o Banco do Brasil destinada a financiar os projetos considerados estratégicos pelos dirigentes – e, por fim, durante muitos anos, um orçamento dedicado exclusivamente às estatais, um setor gigantesco na economia brasileira (perto de um terço do PIB) e que servia não apenas à finalidades setoriais, mas também para captar recursos financeiros no exterior.
O populismo de direita tem se manifestado atualmente na Europa, onde os temores de uma imigração desenfreada, a ameaça de desemprego trazido pelo livre comércio e as próprias pressões sobre o Estado de bem estar social criadas por décadas de fiscalidade temerária vis-à-vis as realidades inexoráveis de uma demografia declinante incitaram largos estratos da população, em geral camadas mais frágeis em face dos processos combinados de globalização e de automatização – com os fenômenos consequentes do out-sourcing e de off-shoring – a aderir a plataformas defensivas de rejeição ao estrangeiro e das próprias estruturas comunitárias de liberação dirigida, mas percebido como muito centralizada em Bruxelas e, portanto, antidemocrática ou tecnocrática.
Populações interioranas, comunidades carentes, pouco instruídas, tendem a aderir a esse tipo de discurso, como revelado agora na Europa ocidental e, com ainda maior acuidade, nos próprios Estados Unidos, um dos países certamente mais abertos à globalização e ao acolhimento de imigrantes. O temor do estrangeiro foi, por certo, exacerbado pelos atos brutais do terrorismo islâmico, não só no Oriente Médio, mas nos próprios países do Ocidente. Todos esses fatores vêm reforçando o poder de “sedução”, se por acaso existe algum, dos partidos ou de candidatos de direita, tomando o conceito no sentido mais amplo da expressão, desde os xenófobos aproximados ao fascismo, até conservadores preocupados com a soberania nacional e o emprego dos concidadãos. Em diversos escrutínios eleitorais, esses partidos e candidatos já atingiram um patamar de representação popular compatível, em certos casos, com a formação de um governo, ainda que minoritário (mas capaz, portanto, de influir em coalizões de governo).

Feitas estas considerações puramente conceituais, ou de constatação de algumas situações de fato, parece mais ou menos evidente aos observadores que o que aqui foi chamado de “destruição destrutiva” se identifica bem mais com governos de esquerda, ou “progressistas”, do que com a chamada direita, quase inexistente no continente; os primeiros são genuinamente populistas, ao passo que os segundos ocasionalmente o são. Ainda assim, não foram poucos os governos conservadores, ou claramente de direita, que produziram os mesmos efeitos desastrosos no plano econômico e social, a exemplo da Argentina e suas fases de regime militar (com retrocessos similares, quando não idênticos, aos de governos populistas supostamente de esquerda). O primeiro populista legítimo da América Latina não era, aliás, de esquerda, e sim um líder de corte liberal que decidiu enfrentar os interesses estrangeiros aplicando um calote na dívida contraída com as principais potências europeias da época: o coronel Cipriano Castro, um Chávez avant la lettre, fez da Venezuela um pouco do que o coronel bolivariano faria cem anos depois, um feudo econômico quase tão completamente dominado por seu poder pessoal quanto um outro Castro também faria com sua ilha, seis décadas à frente. Os líderes militares, caudilhos políticos eventuais, costumam ser bem mais fascistas do que de esquerda, mas talvez não existam tantas diferenças entre essas orientações, pois ambas costumam produzir regimes populistas de tipo corporativo.
Caberia, a propósito, estabelecer uma tipologia dos governos populistas e suas correspondentes políticas econômicas que podem estar – e que, no entendimento deste ensaísta, estão – na origem da destruição destruidora advinda do populismo econômico. Quais são, portanto, os elementos centrais do populismo econômico, tal como vistos e praticados por governos de diversas orientações, mas que são suscetíveis de serem encontrados mais frequentemente nos regimes de esquerda ou assim identificados?
Independentemente do tipo de governo no quadro do qual é praticado, a primeira e principal característica do populismo econômico é a incitação ao consumo, mediante medidas redistributivas ou estímulos ao crédito, além e acima da capacidade de geração de renda na economia real. O objetivo de quem pratica esse tipo de política não é exatamente estimular a economia, e sim carrear apoio político – eleitoral, geralmente – ao responsável por esse tipo de orientação econômica, uma vez que é evidente que o distributivismo estatal não é conducente a uma maior taxa de investimento, podendo ser, ao contrário, um fator de redução nessa taxa (dadas as incertezas criadas).
Produzir inflação, valorizar o câmbio, reduzir a competitividade externa da oferta industrial, afugentar os investimentos diretos estrangeiros tampouco constituem objetivos explícitos do populismo econômico, ao contrário, todos eles afirmam desejar o contrário. Mas esses são os resultados que ele provoca na economia assim “atingida” (e o termo parecer ser este). O principal objetivo do populismo econômico – nunca reconhecido como tal – é o de estimular o crescimento, manter a demanda agregada, colocar a economia num ritmo mais elevado de expansão, o que ele talvez consiga no curto prazo (um ano ou dois, apenas). Mas ele acaba, inexoravelmente, produzindo o efeito inverso: menor crescimento, mais inflação, oportunamente uma crise, fiscal ou de balanço de pagamentos, eventualmente as duas, combinadas ou sucessivas.
Como a intenção de um governo populista é a de reter e ampliar os apoios eleitorais de que naturalmente desfruta desde o início da propaganda enganosa, ele acaba prolongando as políticas deformadoras da dinâmica econômica mesmo quando elas já esgotaram suas possíveis virtudes sociais – ou seja, o estímulo ao consumo, o desfrute de fluxos de renda temporariamente canalizados para os grupos visados, a impressão de riqueza, por força de um câmbio manipulado – e passam então a produzir efeitos adversos. Os primeiros sinais de descontrole começam a se manifestar e são geralmente objeto de alertas por parte de economistas cautelosos, que sofrem reações destemperadas dos donos do poder, qualificando-os depreciativamente de “profetas do apocalipse”, ou “arautos do pessimismo”, como muitas vezes se ouviu nesses casos.
Os promotores do populismo econômico acabam reincidindo nos mesmos equívocos, até mais de uma vez, essencialmente por teimosia: eles desprezam os riscos de inflação, afastam a possibilidade de déficits insustentáveis, negam o perigo de um acúmulo na dívida pública ou a eventualidade de um estrangulamento externo, por desequilíbrios cambiais, ausência de financiamento sustentável ou penúria cambial. O descompromisso com a responsabilidade fiscal, o emissionismo irresponsável e o menosprezo pelos interesses dos empresários nacionais e os dos investidores estrangeiros são outros traços predominantes nos casos agudos de populismo econômico. Mas o que distingue mesmo essa esquizofrenia econômica é a vontade pessoal do dirigente político de comandar ao processo econômico, como se o dirigismo exacerbado fosse indicativo da boa qualidade de suas políticas econômicas.
Essa última característica do fenômeno estudado traduz uma realidade muito frequente na América Latina: a do líder personalista, eventualmente carismático, que possui força política suficiente para justamente impulsionar políticas populistas no plano econômico, a despeito da possível resistência da tecnocracia estatal, dos alertas de líderes parlamentares (aliados ou de oposição), assim como de empresários sensatos. A capacidade de dobrar a resistência do sistema político e a dos meios empresariais está fortemente ligada à trajetória de vários líderes populistas da região, como evidenciado na experiência de personalidades como Juan Domingo Perón, Getúlio Vargas, João Goulart e, mais recentemente, Nestor Kirchner e Lula. Todos eles, invariavelmente, praticaram populismo político e econômico, e acabaram provocando crises econômicas nos seus países respectivos, ainda que no último caso, o populismo iniciado por Lula, em bases relativamente moderadas, tenha sido, de fato, exacerbado por sua sucessora, que retrocedeu a políticas econômicas aposentadas ainda na era militar.
O exemplo mais eloquente desse fenômeno  na América Latina foi, obviamente, representado pelo peronismo, predominante a partir do final da Segunda Guerra na Argentina, efetivo uma primeira vez até meados da década seguinte, durante quase dez anos, mas retornando por mais um breve período no início dos anos 1970, brutalmente interrompido pouco depois, mas persistindo, sob várias formas, nas décadas que se seguiram ao desaparecimento do caudilho iniciador da concepção doutrinal associada ao peronismo, qual seja, o justicialismo. Nesses vários períodos, ou em suas modalidades posteriores mais “liberais” (sob Menem) ou mais à esquerda (sob os Kirchner), entre o final do século XX e o início do novo milênio (com breves intervalos a cargo do Partido Radical, na fase de redemocratização pós-regime militar ou mais adiante), o peronismo demonstrou sua resiliência doutrinal e sua capacidade de arregimentação prática de amplas franjas do eleitorado argentino.
Em todos os casos, o peronismo acabou em crises econômicas de maior ou menor amplitude, mas sempre com inflação crescente, crises cambiais e alto endividamento público (doméstico ou externo). A experiência de Salvador Allende, no Chile (1970-73), foi ainda mais terrível e devastadora, não tanto pelo populismo econômico deliberadamente praticado pelo presidente socialista, mas pela sua absoluta incapacidade econômica em debelar um dos mais virulentos processos inflacionários, desvalorização cambial e alheamento completo do setor empresarial jamais vistos na América Latina, o que redundou num dos golpes mais selvagens praticados na região (junto com o golpe anti-peronista na Argentina, em 1976, que mergulhou o país numa repressão raramente igualada em número de vítimas).
Os casos de populismo econômico observados na experiência brasileira foram de certa forma mais benignos, ainda que o processo inflacionário tenha sido igualmente grave, só contornado, ou parcialmente neutralizado, por uma indexação generalizada de preços, contratos, alugueis, cambio e dívidas. O populismo econômico varguista, no seu segundo mandato (1951-54), confundiu-se com a crise política derivada da oposição radical entre varguistas e anti-varguistas (herdada da fase ditatorial anterior), mas foi, sob outro aspecto, triunfante, pois que identificado à ideologia nacionalista que sempre esteve presente nos corações e mentes dos brasileiros desde o nascimento da República. Mais importante, ainda, esse nacionalismo esteve entranhado nas políticas de cunho desenvolvimentista, praticadas por Vargas, continuadas por Juscelino Kubitschek e ainda mais agitadas durante os turbulentos anos da presidência João Goulart. Esse mesmo conjunto de bandeiras, junto com a alegada Política Externa Independente e o dirigismo estatizante da era militar, foi recuperado na era lulopetista, um período inegavelmente populista, ainda que temperado por políticas econômicas prudentes, numa primeira fase, dada a experiência de luta contra a hiperinflação dos anos imediatamente anteriores e a adesão da sociedade aos valores básicos da estabilidade.
Mas o lulopetismo também praticou populismo econômico, mesmo em suas modalidades mais moderadas, ao implementar um gigantesco programa de subsídios às camadas mais pobres (com quase um terço da população inscrita no Bolsa Família), de valorização política do salário mínimo (que contribuiu para a perda de competitividade da indústria nacional, interna e externamente) e de diversas outras medidas de caráter redistributivo que reduziram, muito modestamente, o coeficiente de Gini do Brasil (já trazido para baixo pela estabilização macroeconômica administrado pela administração anterior). Se na Argentina o populismo peronista se fez sobretudo em detrimento do setor agropastoril, em benefício de uma indústria fortemente protegida, no caso do Brasil o populismo lulopetismo beneficiou, contraditoriamente, os setores mais privilegiados da população, uma vez que suas políticas foram redistributivas sobretudo em favor de industriais protegidos por políticas de subsídios estatais e de políticas comerciais protecionistas e de banqueiros sempre privilegiados pela manutenção de altos níveis de endividamento público e dos juros elevados daí decorrentes.
Mesmo episódios de abertura relativa acabaram redundando, nos casos da Argentina e do Brasil (ainda que em períodos diversos), em populismo econômico, já que se traduziram em fortes valorizações cambiais, favorecendo a classe média (e suas viagens ao exterior) e prejudicando fortemente os exportadores nacionais. O populismo cambial dá uma impressão temporária de riqueza, e se traduz em forte apoio político, até que a realidade consiga novamente se impor sobre políticas que buscavam paliar eventuais pressões inflacionárias ou facilitar a tomada de empréstimos externos. Em suas múltiplas formas, o populismo econômico sempre termina, mais cedo ou mais tarde, em um desastre econômico e social, pois que sua consequência mais evidente é, justamente, a destruição destrutiva, uma terra arrasada na qual todos se descobrem mais pobres, empresários e trabalhadores, classe média e camadas mais pobres. Poucas, ou praticamente nenhuma experiência de populismo econômico, sobretudo na América Latina, conheceu outro resultado senão o fracasso completo da experiência, e suas razões são obviamente conhecidas (ainda que estupidamente repetidas).
O populismo econômico provoca invariavelmente pressão inflacionária, em face da qual o populista-chefe deixa o câmbio se valorizar, aumentam as importações, as reservas se esvaem, os empresários começam a trabalhar com maior capacidade ociosa (em face da concorrência externa), as contas públicas se deterioram e as emissões avultam quase automaticamente. O governo empurra a crise para o setor privado, fazendo do imposto inflacionário sua principal fonte de financiamento e de evasão à dura realidade do equilíbrio fiscal. O resultado é sempre uma crise geral, seguida de forte desvalorização e de empobrecimento geral da população, com o que desaparece também o primeiro objetivo buscado: a redistribuição de renda e o aumento do bem estar das camadas mais humildes.
A América Latina é pródiga, não é preciso dizer, nesse tipo de experimentos, mas o mais surpreendente é que o fenômeno seja recorrente, confirmando um velho slogan que pretende que a geração seguinte sempre esquece o que desgraçou a geração precedente. Países europeus também conheceram episódios de populismo econômico, ou de descontrole inflacionário, até experimentos virulentos nesse capítulo. Mas isso ocorreu uma, ou no máximo duas vezes, no espaço de três ou mais gerações. No caso da América Latina foram bem mais frequentes as acelerações inflacionarias e a troca de moedas, mas certamente nenhum país do mundo chegou a igualar o recorde brasileiro, como já referido, de troca de oito moedas no espaço de três gerações, sendo seis padrões monetários num espaço de menos de uma década apenas. Decididamente, a América Latina é o continente da letargia, dos atrasos, das promessas inconclusas, quando não do retrocesso, do recuo para etapas anteriores do pensamento econômico e das práticas em políticas econômicas.
Como explicar, por exemplo, o retorno a políticas já testadas, e fracassadas, de décadas anteriores? O que dizer desse fascínio por experiências passadas, que deixaram apenas um rastro de insucesso, quando não de desastres incomensuráveis no registro histórico ainda bem recente? Brasil e Argentina são, mais uma vez, exemplos trágicos dessa adesão incompreensível a modelos equivocados de desenvolvimento, mas que possuem um poder de atração incompreensível sobre certos atores políticos, uma vez que os impasses criados anteriormente estão documentados nos registros históricos. Esses modelos, ditos “desenvolvimentistas”, foram, e são, baseados no protecionismo comercial, no apoio financeiro a supostos “campeões da indústria nacional”, em subvenções setoriais, em controles de preços, nas transferências de renda para grupos selecionados de potenciais eleitores, no nacionalismo mais estreito contra o capital estrangeiro (que tende a preferir o endividamento puramente financeiro do que o investimento direto), mas sobretudo nos gastos públicos excessivos, em relação aos recursos disponíveis, que sempre representam uma esquizofrenia orçamentária (e uma receita para o inflacionismo), mas também um custo oportunidade nunca muito bem mensurado pelos analistas econômicos mais sensatos.
Se percorrermos o itinerário dos planos econômicos aplicados na Argentina e no Brasil nas últimas duas gerações – e seguirmos as séries históricas de estatísticas contendo os principais indicadores econômicos: inflação, câmbio, crescimento, emprego e renda per capita – o que se observa, em primeiro lugar, é a sucessão altamente errática de fases de euforia alternando-se com mergulhos para o desastre, complementada, em segundo lugar, por uma linha de tendência de longo prazo que aponta inequivocamente para a perda de dinamismo econômico, quando confrontados aqueles indicadores às médias anuais regionais ou mundiais registradas, moderadamente mais favoráveis, ou aos resultados de outros países emergentes, sobretudo asiáticos, que expressam índices compatíveis com a sua ascensão na economia mundial. De fato, o que se observou, no último meio século, é uma inversão quase que perfeitamente simétrica das posições ocupadas respectivamente pelos países da América Latina e pelos da região da Ásia Pacífico nos principais quesitos da economia mundial: crescimento econômico, comércio internacional, atração de investimentos diretos, competitividade externa e ganhos de produtividade.
Análises superficiais podem até enfatizar que países asiáticos de desempenho satisfatório também praticaram, como muitos da América Latina, dirigismo estatal e intervencionismo econômico, protecionismo comercial, subsídios a indústrias e políticas de apoio à capacitação tecnológica de grandes empresas nacionais, ademais do financiamento público a setores considerados estratégicos e outras medidas constantes do menu desenvolvimentista habitual. Os partidários desse tipo de interpretação têm o costume de apelar inclusive a analistas asiáticos pertencentes a universidades ocidentais – como é caso do economista Ha Joon-Chang, um êmulo de List e de Prebisch e um crítico feroz de um fantasma dos desenvolvimentistas, o Consenso de Washington – para justificar um aprofundamento ainda maior das políticas desenvolvimentistas. O que não se registra, no entanto, nesse tipo de interpretação parcial de processos muito diferentes de desenvolvimento econômico e social é o caráter justamente diferenciado da maior parte das políticas macroeconômicas (fiscal, cambial, monetária), a abertura para o comércio e os investimentos internacionais e, sobretudo, a maior atenção dada aos setores de infraestrutura e, essencialmente, à educação de massa de boa qualidade.
Numa síntese, se os países asiáticos cometeram tantos pecados quanto os latino-americanos em termos de políticas desenvolvimentistas, eles talvez tenham praticado menos populismo econômico, ou seja: menos desequilíbrios fiscais, menores impulsos inflacionários, menos intervenções cambiais (e quase nenhuma troca de moedas, em confronto com a profusão dos padrões monetários na América Latina), uma maior interação daqueles países com a economia global e uma preocupação mais focada no ambiente geral de negócios internamente, na formação de capital humano sobretudo. O populismo político, e suas indesejadas derivações para o terreno econômico, parecem ter sido uma maldição recorrente no cenário geral da América Latina.

O último grande exemplo da reincidência nos erros do passado é dado pelo próprio Brasil, onde a gestão particularmente inepta dos últimos governos lulopetistas levou o país à sua pior crise econômica de todos os tempos, acoplada a um gigantesco esquema de corrupção sem precedentes na história política da nação. Ambos processos, a inépcia e a mega-corrupção, combinaram precisamente os aspectos mais deletérios e nefastos de velhos “ismos” da tradição política nacional: o patrimonialismo sempre presente em todas as etapas de construção da governança – ainda que ele tenha evoluído justamente de sua moldura oligárquica usual para um esquema montado pela junção do sindicalismo mafioso com o aparelhamento partidário de feição criminosa, com tinturas gramscianas e neobolcheviques –, o fisiologismo característico do corpo parlamentar, o nepotismo (presente em todos os poderes), o prebendalismo (que faz a ponte entre os agentes políticos com o empreendedorismo promíscuo que só sobrevive nos negócios estatais), e, finalmente, o populismo, o produto mais acabado de todas essas perversões da governança política na América Latina. Três linhas de tendência conjuntural ilustram a extensão da queda que pode ser chamada de A Grande Destruição lulopetista.

Todas as análises sobre as políticas econômicas conduzidas desde 2003 – com uma maior incidência no período recente – indicam a persistência de velho fantasma da política brasileira: o populismo econômico, ou seja, a tentativa de angariar apoio dos eleitores com base em expedientes distributivistas de curto-prazo (aumento do crédito, concessão de subsídios aos muito ricos e aos muito pobres, expansão exacerbada dos gastos públicos, intervencionismo econômico estatal, introversão dos mecanismos de mercado) e uma gestão particularmente inepta das principais políticas macroeconômicas (entre elas a cambial e a fiscal, em especial). O Brasil, tanto quanto a Argentina, ambos em períodos coincidentes, ou seja, os últimos treze anos, foram vítimas da reaparição de um fantasma que se esperava enterrado, ou pelo menos rejeitado, desde os grandes desastres em que incorreram os dois países no último quinto do século passado, quais sejam, o endividamento externo excessivo, crises inflacionárias exacerbadas por um emissionismo estatal irresponsável, seguidas de mudança de padrões monetários, enfim, o ressurgimento de enfermidades econômicas que deveriam ter sido banidas da história da América Latina.
Desmentindo Laplace, Karl Marx, John Muir e Joseph Schumpeter, a América Latina, costuma destruir instituições duramente criadas ao longo de décadas, senão séculos, de equívocos econômicos, como resultado desses impulsos de populismo econômico tão frequentes em suas elites dirigentes, que deixam atrás de si muita terra arrasada e imenso sofrimento humano. Existiria uma maldição econômica e política especificamente latino-americana? Depois de dois séculos de independência, ao contemplar os retrocessos acumulados na frente do desenvolvimento econômico e social, ademais do quadro persistente de pobreza extensiva, delinquência generalizada e educação de baixa qualidade, teremos de concluir pelo fracasso histórico das elites latino-americanas em construir nações minimamente integradas socialmente e capazes de se integrar de forma exitosa nas grandes correntes da interdependência global?
As apostas ainda estão abertas a esse respeito. Uma resposta positiva a todos esses desafios da região, do Brasil particularmente, depende, em primeiro lugar, de que se tenha uma consciência precisa da natureza dos problemas, de maneira a se ter um diagnóstico realista sobre a situação presente e uma prescrição adequada quanto aos mecanismos para superar tal condição. Este ensaio evidenciou alguns desses problemas, alertando, portanto, para as raízes persistentes de males crônicos. Espera-se que se possa, a partir daí, enveredar por caminhos diferentes dos que foram trilhados até aqui.
Vale!
Paulo Roberto de Almeida
Brasília-Gramado, 3030, 10 agosto, 3 setembro 2016.