O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

sábado, 5 de setembro de 2020

Dia da Amazônia - revista Gama

De seus povos, de sua água, dos animais, daquela imensidão toda. Como transformar esse patrimônio em motivo de orgulho e preservação? Líderes indígenas, cientistas e fotojornalistas indicam caminhos possíveis para evitar que ela seja devastada.
Neste dia 5 de setembro celebramos a Amazônia, um dos maiores patrimônios naturais da humanidade.
A seguir, conteúdos de Semana da Gama e indicações de leitura do Nexo Jornal que falam sobre preservação, desmatamento, os povos tradicionais que ali habitam, passado, presente e futuro da maior floresta tropical do planeta.
 
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Grandes filmes de temática conservadora, segundo a Gazeta do Povo

Gazeta do Povo é um jornal declaradamente conservador, e até pode ser acusado de direita e reacionário. Os filmes que o jornal considera como sendo conservadores, não precisam ter essa vertente política ou filosófica para serem grandes filmes, basta serem grandes obras de arte para que se possa apreciá-los.
Paulo Roberto de Almeida


 

“Onde Está Segunda?”

Com ares de superprodução, este título da Netflix traz um futuro distópico muito parecido com o período da política do filho único da China . Ninguém pode ter mais que um filho e o Estado totalitário controla todos de forma rígida para que isso seja cumprido. Um bom exemplo de um filme cheio de ação e com grandes atores que pode funcionar como um alerta para algo que pode ocorrer no futuro. Duvida? Pergunte aos chineses que conviveram com esse regime entre 1980 e 2016.
 

“A Morte de Stalin”

Como retratar um dos piores tiranos da história da humanidade? Como fazer um filme sobre alguém que matou milhões de pessoas? Assim como Charles Chaplin fez o retrato definitivo de Hitler como caricatura, “A Morte de Stalin” usa o humor da mesma forma com o regime soviético, ao revelar sua mesquinhez e a maneira sórdida como seus líderes agiam. Funcionou tão bem que o governo Putin proibiu seu lançamento nos cinemas russos.
 

“Estrada Sem Lei”

À primeira vista, “Estrada Sem Lei” é apenas mais uma obra sobre o casal de ladrões e assassinos Bonnie e Clyde, que aterrorizaram os EUA nos anos 1930 . Ao contrário de outros filmes que pintaram um retrato simpático ao casal, esta obra não faz nenhum tipo de relativismo moral: define bem os heróis e vilões da história. O diretor John Lee Hancock mostra como Bonnie e Clyde, apesar de bonitos e bem-vestidos, não passam de assassinos cruéis, dispostos a matar por sadismo e preocupados apenas com o próprio bem-estar.
 

“Uma Vida Oculta”

A história do heroísmo na Segunda Guerra Mundial não se conta apenas com os milhares de soldados que lutaram para enfrentar o nazismo. Há histórias de pessoas que não precisaram pegar em armas para desafiar Hitler. Este é o caso do austríaco Franz Jägerstätter, que, convocado a lutar pelo exército nazista, se recusou a ir para o campo de batalha. Obedecer à própria consciência custou a Franz um preço que poucas pessoas se disporiam a pagar. Por isso seu exemplo, retratado neste belíssimo filme, vale tanto.
 

“O Destino de Uma Nação”

Como as coisas mudam em três anos. Em 2017, quando estreou, “O Destino de Uma Nação” fez justiça com a história de Winston Churchill , um homem que, apesar de todos os seus defeitos, guiou a Inglaterra, praticamente sozinho por um bom tempo, contra o domínio alemão na Europa. Foram tempos difíceis, que o filme mostra com precisão. Por isso, em tempos nos quais autoproclamados antifascistas atentam contra a estátua de Churchill em Londres, “O Destino de Uma Nação” tenha seu valor renovado justamente por enaltecer o maior antifascista de todos os tempos.
 

“A Promessa”

O Holocausto promovido pelos nazistas é lembrado, com razão, como uma atrocidade imperdoável e inapagável. Mas poucas pessoas sabem que, duas décadas antes, os armênios foram vítimas de uma barbárie semelhante perpetrada pelo Império Otomano, no território da atual Turquia. “A Promessa” mostra, de forma comovente e até chocante, como 1,5 milhão de armênios foram exterminados, no episódio que motivou a criação do termo “genocídio”. Bom como entretenimento, o filme é ainda mais valioso como peça de educação.
 

“Missão de Honra”

A História da Segunda Guerra Mundial costuma ser contada pela perspectiva dos americanos e dos britânicos – com razão, já que, ao lado dos soviéticos, eles deram a maior contribuição para a vitória dos aliados. “Missão de Honra” apresenta uma perspectiva diferente: a dos pilotos poloneses que, com sua terra-natal já dominada pelos alemães, foram incorporados à Força Aérea Britânica . O filme mostra como, sob desconfiança, eles obtiveram o respeito dos ingleses e se tornaram peças importantes na estratégia militar dos aliados. É uma história de perseverança, lealdade e coragem em meio à destruição da guerra.
 

“O Anjo do Mossad”

Parece pura ficção, mas é baseado em uma história real: “O Anjo do Mossad” conta a história de Ashraf Marwan, que era genro do presidente do Egito e se transformou em um espião a serviço do Mossad, o serviço secreto de Israel . Os dois países haviam entrado em guerra anos antes, com uma derrota humilhante para o Egito. Marwan queria evitar um novo conflito do tipo. Apesar de mostrar o esforço de Israel por sua sobrevivência rodeado por vizinhos pouco amigáveis, o filme tem o mérito de não adotar um tom simplista diante de um assunto tão complexo quanto a geopolítica do Oriente Médio.
  

“Fire on the Hill”

Um bairro negro na periferia de Los Angeles provavelmente não é o primeiro lugar que vêm à mente das pessoas quando alguém fala em caubóis americanos. Mas, como mostra o documentário “Fire on the Hill”, o bairro de Compton, um dos mais violentos do país, é um celeiro de peões de rodeio . O filme conta a história do estábulo conhecido como “The Hill”, formado para dar uma alternativa de vida aos jovens da comunidade. Além de mostrar que a força moral do indivíduo é capaz de superar a influência negativa do meio, o documentário desmonta alguns mitos da esquerda americana sobre o chamado racismo sistêmico. Vale a audiência.
 

“Nada é Para Sempre”

Conhecido como o filme que alçou Brad Pitt à fama, “Nada é Para Sempre” é muito mais do que isto: a obra lançada em 1992 consta da lista dos clássicos do diretor Robert Redford . O filme conta a história dos irmãos Norman e Paul MacLead, criados em meio às belas paisagens do estado de Montana. “Nada é Para Sempre” não traz reviravoltas imprevisíveis: em vez disso, flui suavemente, permitindo ao telespectador contemplar a beleza da existência e a inevitabilidade da passagem do tempo enquanto os protagonistas tomam rumos diferentes em suas vidas. As duas horas de filme valem a pena.
 

“A Geração da Riqueza”

Quanto dinheiro é dinheiro demais? O documentário “A Geração da Riqueza” mergulha no universo dos super-ricos – ou dos super-fúteis – para explorar essa pergunta. A diretora Lauren Greenfield, reuniu 25 anos de material neste filme, o que permite acompanhar a evolução de algumas das pessoas retratadas. Spoiler: a obsessão pelo dinheiro, pela fama e pela aparência não costuma levar a grandes resultados. E, embora essa crítica seja feita mais pela esquerda do que pela direita, é bom lembrar que existe uma longa tradição conservadora contra o materialismo exacerbado. Como dizia Aristóteles, a felicidade não depende do acúmulo de dinheiro, mas do cultivo das virtudes.
 

“Mr Jones”

Dos muitos crimes cometidos por Stalin no comando da União Soviética, o mais terrível talvez tenha sido o Holodomor, a “Grande Fome” que ceifou a vida de aproximadamente 4 milhões de ucranianos nos anos 30. O filme “Mr Jones”, baseado numa história real, faz justiça ao jornalista Gareth Jones, que enfrentou não apenas a ditadura comunista quanto o ceticismo dos próprios colegas para denunciar o genocídio ao mundo. Ilustrado por cenas aterradoras, o filme é recomendado a todos, sobretudo, aos que ainda enxergam algo de positivo no comunismo soviético.
 

“Milada”

Pouco conhecida fora da República Checa, Milada Horakova foi uma heroína cuja história ainda impressiona: perseguida por nazistas e por comunistas, ela não se dobrou - e pagou caro por isso. “Milada”, que conta esta história, também funciona como uma alegoria da então Checoslováquia, que foi violada tanto pelo exército de Hitler quanto pelos soviéticos (embora estes, em tese, se apresentassem como libertadores). Poucas pessoas enfrentaram tão abertamente os dois regimes mais assassinos que a Europa já conheceu. “Milada” é, por isso, uma ode ao valor da convicção individual e do amor à pátria diante do totalitarismo.
 

“Uma Viagem Extraordinária”

São poucos os filmes que conseguem retratar a riqueza do universo infantil sem, entretanto, serem filmes infantis. “Uma Viagem Extraordinária” está nesta lista. A obra gira em torno de T.S. Spivet, um garoto de inteligência rara que vive em uma fazenda em Montana. Ao ganhar um prêmio científico, ele decide atravessar o país sozinho para receber a comenda. Com uma fotografia belíssima e atuações cativantes, “Uma Viagem Extraordinária” mostra que as luzes da cidade grande não são capazes de substituir o afeto da família.
 

“O Contador de Auschwitz”

Um dos grandes debates morais provocados pelo terror do Holocausto envolveu os limites da responsabilidade individual. Se uma engrenagem oficial foi montada para exterminar judeus, cada indivíduo é apenas uma peça nesse sistema. O mal se torna banal, como descreveu a filósofa Hannah Arendt. O documentário “O Contador de Auschwitz” acompanha o julgamento de Oskar Gröning, que aos 93 anos de idade finalmente foi levado ao tribunal por ter atuado no campo de concentração . A pergunta-chave do filme vem de um dos entrevistados: “Se você pune um homem de 93 anos por algo que ele fez quando tinha 23, você ainda está punindo a mesma pessoa que cometeu o crime?” O documentário responde a pergunta mostrando o depoimento de vítimas do nazismo.
  

“Partida Fria”

Em plena Crise dos Mísseis (o momento mais tenso da Guerra Fria), o melhor enxadrista americano viaja à Polônia para enfrentar o campeão soviético. Esta é a trama de “Partida Fria”, que é menos sobre o jogo de xadrez e mais sobre os subterfúgios das duas potências para descobrir segredos de Estado do inimigo. Embora a história seja fictícia, o filme dirigido pelo polonês Lukasz Kosmicki retrata com realismo a brutalidade e falta de princípios do regime comunista. Além disso, tomando a partida de xadrez como uma metáfora da Guerra Fria, a obra também destaca o papel da Polônia no jogo de interesses da geopolítica do pós-guerra.
 

“Dezessete”

O filme “Dezessete”, é uma espécie de Dom Quixote da Espanha pós-recessão econômica . Nele, dois irmãos desajustados, acompanhados pela avó moribunda, viajam pelo território espanhol em busca de um cachorro desaparecido. Na jornada, eles acabam estreitando os laços e se deparando com os próprios defeitos. O filme retrata, com um certo ar de desolação, uma geração sem vínculos com o lugar de origem e sem grandes propósitos na vida. Ao seu modo, “Dezessete” reforça o argumento conservador em favor de famílias fortes e comunidades fortes - e demonstra que é possível aprimorar as virtudes mesmo em situações pouco propícias.
 

“18 presentes”

Inspirado em uma história real, mas com uma boa dose de ficção, o filme italiano “18 presentes” conta a história de uma mãe que, ao ser diagnosticada com câncer, decide comprar um presente para ser dado à sua filha até que ela atinja 18 anos . Centrada na vida familiar e na ternura materna, a obra dá testemunho da permanência do amor materno, que ultrapassa até mesmo a própria vida. A interpretação comovente de Vittoria Puccini, uma das musas do cinema italiano, é outro ponto positivo do filme, que tem potencial para arrancar lágrimas dos espectadores mais sensíveis. 


Dia da Amazônia: maior floresta tropical do mundo não tem o que comemorar

Dia da Amazônia: maior floresta tropical do mundo não tem o que comemorar
Levantamento do Inpe indica que desmatamento acumulado na Amazônia entre agosto de 2019 e julho de 2020 cresceu 34,49%. Dia da Amazônia é comemorado neste 5 de setembro

Por Tiemi Osato - iG Último Segundo  Atualizada às 


Nos últimos anos,a Amazônia tem enfrentado um cenário crítico.
Divulgação/Imazon
Nos últimos anos,a Amazônia tem enfrentado um cenário crítico.
Maior floresta tropical do mundo, a Amazônia possui grande relevância devido à enorme biodiversidade e aos povos tradicionais que abriga. Importante também para a estabilidade climática, ela influencia e impacta regiões que ultrapassam as suas fronteiras. Apesar de toda importância, nos últimos anos a floresta vem enfrentando um cenário preocupante  e, neste 5 de setembro, Dia da Amazônia , não tem tanto a comemorar.
Dados do DETER (Detecção de Desmatamento em Tempo Real), levantamento feito pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), indicam que o desmatamento acumulado na Amazônia entre agosto de 2019 e julho de 2020 cresceu 34,49% em comparação ao período anterior — de agosto de 2018 a julho de 2019. Em relação à média dos últimos quatro anos, o aumento foi de 71,80%.

Esforços para conter o desmatamento

Com taxas cada vez mais alarmantes, não há dúvidas de que a Amazônia tem sofrido um aumento considerável no aumento de queimadas e desmatamento. A professora Mariana Vale, chefe do departamento de Ecologia da UFRJ, aponta para o fato de que essa tendência não é exclusiva do governo Bolsonaro e vem desde 2013, durante o governo Dilma Rousseff.
Vale lembra que, no período de 2005 a 2012, o Brasil teve uma redução expressiva, em torno de 70%, do desmatamento na Amazônia . “É um caso de sucesso e reconhecimento internacional no controle de desmatamento de uma floresta tropical”, observa. Claudia Azevedo-Ramos, professora associada do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da UFPA, atribui essa conquista a “pressões internacionais e estratégias federais de combate que envolveram ações de comando e controle, regularização fundiária e promoção de atividades econômicas sustentáveis ”.
Referente a esse período, Vale destaca que a implementação do Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia (PPCDAm), em 2004, durante o governo Lula, “reduziu substancialmente as taxas de desmatamento”. O controle foi realizado com auxílio de diversos elementos, como o monitoramento por satélites pelo Inpe, a fiscalização pelo Ibama e incentivos às boas práticas de pequenos produtores através da Bolsa Verde. “Com esse plano, a gente criou toda uma estrutura institucional”, pontua.
Em 2012, porém, o plano perdeu força e o cenário começou a mudar. “Houve a reforma do Código Florestal Brasileiro e muito do que se considerava antes como desmatamento ilegal passou a ser legalizado”. E, desde 2013, o desmatamento vem aumentando.
Apesar de não ser o pior momento da floresta em termos de devastação  — posto atribuído ao ano de 1995, durante o governo FHC —, Vale pontua que a tendência de alta segue, em grande parte, “em função da postura do governo e do Ministério do Meio Ambiente em relação a questões ambientais”.
Na análise de Vale, a perspectiva governamental considera as questões ambientais como “problema e entrave para o desenvolvimento ao invés de entendê-las como uma grande riqueza e diferencial do Brasil, que pode dar protagonismo ao país em termos de conservação ambiental e explorada de maneira sustentável”.


"Passar a boiada"

Um dos momentos em que mais ficou claro o projeto do governo Bolsonaro para o meio ambiente foi durante a reunião ministerial de 22 de abril. Na ocasião, o ministro do Meio Ambiente,  Ricardo Salles, defendeu utilizar a pandemia de Covid-19 como oportunidade para “passar a boiada” e realizar mudanças infralegais na legislação ambiental brasileira.
“Se o ministro não caiu depois desta fala, só pode sinalizar que ele está fazendo o que foi demandado”, afirma Azevedo-Ramos. Ela também diz que grileiros , desmatadores e garimpeiros ilegais se sentem “confiantes para agir” quando há um discurso nas esferas federal e estadual que estimula a impunidade.


Imagem do Brasil no exterior

Paulo Roberto de Almeida, diplomata e ex-diretor do Instituto Brasileiro de Relações Internacionais (IBRI), explica que, principalmente a partir da Conferência Rio-92, formou-se uma grande consciência ecológica mundial. Almeida ressalta também que o evento marcou o início de um período “bastante positivo” para o Brasil quanto à liderança no cenário ambiental. Ao longo dos anos 90 e 2000, o país mudou consideravelmente sua política de meio ambiente, deixando para trás a perspectiva da ditadura militar.
Até 2018, o Brasil possuía posições avançadas. Almeida aponta que a nação “fez um esforço de cooperação internacional na pesquisa e nos projetos de sustentação”. O resultado das eleições, porém, mudaram o cenário. “A chegada de Bolsonaro e suas concepções primitivas ao poder foi um choque para todos, para os ambientalistas no Brasil e no mundo, para a opinião pública internacional e para o próprio agronegócio”, diz o diplomata.
Ele observa que houve uma deterioração da imagem brasileira durante o governo Bolsonaro. “O Brasil virou um pária internacional, um país marginalizado e desprezado. É uma coisa muito triste para nós”, diz. Almeida coloca Ernesto Araújo e Ricardo Salles, respectivamente ministro das Relações Exteriores e ministro do Meio Ambiente, como “os dois protagonistas dos grandes problemas nas relações internacionais do Brasil”.
Almeida diz que “ainda que de vez em quando se faça um anúncio de que está preservando, isso é muito retórica”. Ele explica que a comunidade internacional “sabe exatamente o que está se passando no Brasil”, pois os dados do Inpe são universais e diferentes países têm satélites através dos quais é possível coletar informações sobre o desmatamento.
O posicionamento do Brasil quanto ao meio ambiente sinaliza, inclusive, possíveis impactos econômicos . No dia 21 de agosto, a chanceler alemã Angela Merkel declarou ter “sérias dúvidas” quanto à implementação do acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul devido ao aumento do desmatamento na Amazônia.
“Há uma chance sim de que esse acordo não entre em vigor e de que novas sanções sejam aprovadas”, analisa o diplomata Paulo Almeida. “E não precisam ser sanções oficiais, porque não são os governos que fazem exportação e importação”, acrescenta. Para ele, a pressão da opinião pública tem um papel relevante nesse âmbito.
“A opinião pública pode pressionar empresas e varejistas inteiros”, afirma Almeida. “Cadeias de importação podem simplesmente boicotar a compra de produtos brasileiros, como grãos, carnes ou qualquer outra coisa que lhes pareça suficientemente ofensivo. Grandes campanhas internacionais podem ocorrer. A opinião pública vai determinar grande parte de movimentos políticos, acordos de cooperação e, sobretudo, fluxos de comércio e de investimento”.
“A nossa imagem atual é muito negativa no mundo do meio ambiente e acredito que, enquanto o governo não mudar a sua postura, não haverá muita condescendência do mundo para com o Brasil”, conclui Almeida.

Luz no fim do túnel?

A professora Claudia Azevedo-Ramos observa que “em um mundo globalizado, as opções políticas internas têm repercussão externa”. Esse fator, aliado às preocupações crescentes com cadeias produtivas sustentáveis e com mudanças climáticas, faz com que a reação internacional pela Amazônia seja “esperada”.
“Quando mega investidores dizem que vão retirar seus investimentos do Brasil ou países compradores de nossos produtos dizem que não comprarão mais, cria-se uma pressão interna para mudanças”, constata Claudia. “É o que se viu em agosto com a carta de 60 assinaturas de organizações brasileiras endereçada a lideranças políticas e investidores pedindo pela moratória do desmatamento e fortalecimento dos órgãos ambientais. Ou com a recente decisão de bancos privados de se unirem para encontrar soluções sustentáveis a seus financiamentos”.
Para além da pressão de questões externas e econômicas, as especialistas afirmam que o Brasil possui capacidade para conter o desmatamento na Amazônia. “Temos sistemas integrados, pessoal qualificado, monitoramento por satélites e ferramentas econômicas para coibir o mal feito e incentivar o bem feito”, diz Claudia.
“A gente foi capaz de controlar o desmatamento de forma exemplar entre 2005 e 2012, a gente tem a capacidade institucional e científica para isso”, destaca Mariana. “Eu acredito que as coisas podem ser revertidas, eu acredito que o eleitorado brasileiro pode ter consciência e votar de maneira adequada nas próximas eleições pensando no país como um todo, com todos os seus problemas econômicos, sociais e também ambientais”, finaliza.


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The World Trump Made - Foreign Affairs


A capa da Foreign Affairs é bastante eloquente: Trump criou um mundo fragmentado, dividido, esfacelado. Essa é a sua herança. Se ele continuar mais quatro anos, o mundo estará irremediavelmente pior do que antes. 
O mesmo ocorre no Brasil: se tivermos continuidade do atual desgoverno, o Brasil se atrasará por um delegando período de retrocessos.
Paulo Roberto de Almeida

What’s Inside
After nearly four years of turbulence, the United States is increasingly isolated and prostrate—but there’s no going back.
Foreign Affairs, September/October 2020

How will historians judge President Donald Trump’s handling of American foreign policy? Not kindly, writes Margaret MacMillan in this issue’s lead package. After nearly four years of turbulence, the country’s enemies are stronger, its friends are weaker, and the United States itself is increasingly isolated and prostrate.
Richard Haass notes that “Trump inherited an imperfect but valuable system and tried to repeal it without offering a substitute.” The result, he claims, “is a United States and a world that are considerably worse off.” Dragging his party and the executive branch along, the president has reshaped national policy in his own image: focused on short-term advantage, obsessed with money, and uninterested in everything else.
His opponent has pledged to repudiate Trump’s approach if elected, embracing international cooperation and restoring American global leadership. But is that even possible now? Most of the world looks at Washington with horror and pity rather than admiration or respect, and the one thing many of Trump’s domestic supporters and critics agree on is there’s no going back. 
“Washington cannot simply return to the comfortable assumptions of the past,” argues Nadia Schadlow, a former deputy national security adviser in the Trump administration. Great-power competition is inevitable, and multilateral cooperation is for suckers. Ben Rhodes, who also served as a deputy national security adviser, but in the Obama administration, agrees that the liberal international order is defunct. Rather than try to revive it, he wants Washington to shape a new and better one by checking its privilege, avoiding hypocrisy, and attacking global inequality. 
From that perspective, the mass protests against racism that erupted this past spring after the police killings of George Floyd and other Black Americans represent not just a national reckoning but also a call to arms, as the issue’s second package explains. Keisha Blain shows that the struggle for civil rights in the United States has always been part of a global struggle for human dignity. Suzanne Mettler and Robert Lieberman observe that tense debates over national identity grow even more dangerous when played out against a backdrop of political polarization, economic inequality, and concentrated executive power. Fortunately, Laurence Ralph points out, at least in the case of police reform, there are good international models to follow—although little evidence yet that Americans are prepared to adopt them.
“America is not a lie; it is a disappointment,” the political scientist Samuel Huntington once wrote. “But it can be a disappointment only because it is also a hope.” The challenge now is to keep that hope alive.
—Gideon Rose, Editor





Martin Luther King (1963): I Have a Dream: transcrição da primeira parte, menos citada

De fato, estamos acostumados a ler transcrições da segunda parte deste famoso discurso de Martin Luther, que começa justamente pelas famosas palavras, que já são cópia da Declaração de Independência:
I have a dream that one day this nation will rise up and live out the true meaning of its creed: “We hold these truths to be self-evident, that all men are created equal.”
Mas a primeira parte do discurso contém outras passagens igualmente memoráveis, que foram aqui transcritas por The Globalist, e que se referem às promessas não cumpridas dos Founding Fathers.
No caso do Brasil, as promessas não cumpridas foram as da Abolição, que ficaram sem escolas, sem reforma agrária, sem vida digna para os negros, que se refugiaram nos quilombos criados depois, ou nas favelas suburbanas e urbanas.
Mas o discurso também contém outras advertências aos negros, notadamente a de que eles se abstenham de violência, contra a violência da polícia, até hoje visível e evidente: 
We must forever conduct our struggle on the high plane of dignity and discipline. We must not allow our creative protest to degenerate into physical violence.
Sábias palavras, que precisam ser sempre relembradas.
Paulo Roberto de Almeida 

MLK’s “I Have a Dream” Speech: The Forgotten Half

The passage of time has only heightened the urgency of Martin Luther King’s sobering message. We present the parts almost never quoted.


This Globalist Document is adapted from Dr. Martin Luther King, Jr.’s 1963 speech at the steps of the Abraham Lincoln Memorial in Washington, D.C. It was later dubbed the “I Have a Dream” speech. The less-quoted first part of his speech, even 57 years later, is a powerful condemnation of the status quo, and bears revisiting.
In a sense we’ve come to our nation’s capital to cash a check. When the architects of our republic wrote the magnificent words of the Constitution and the Declaration of Independence, they were signing a promissory note to which every American was to fall heir.
This note was a promise that all men, yes, black men as well as white men, would be guaranteed the “unalienable Rights” of “Life, Liberty and the pursuit of Happiness.”
It is obvious today that America has defaulted on this promissory note, insofar as her citizens of color are concerned.
Instead of honoring this sacred obligation, America has given the Negro people a bad check, a check which has come back marked “insufficient funds.”
But we refuse to believe that the bank of justice is bankrupt. We refuse to believe that there are insufficient funds in the great vaults of opportunity of this nation.
And so, we’ve come to cash this check, a check that will give us upon demand the riches of freedom and the security of justice.
We have also come to this hallowed spot to remind America of the fierce urgency of Now. This is no time to engage in the luxury of cooling off or to take the tranquilizing drug of gradualism.
Now is the time to make real the promises of democracy. Now is the time to rise from the dark and desolate valley of segregation to the sunlit path of racial justice.
Now is the time to lift our nation from the quicksands of racial injustice to the solid rock of brotherhood. Now is the time to make justice a reality for all of God’s children.
It would be fatal for the nation to overlook the urgency of the moment. This sweltering summer of the Negro’s legitimate discontent will not pass until there is an invigorating autumn of freedom and equality.
1963 is not an end, but a beginning. And those who hope that the Negro needed to blow off steam and will now be content will have a rude awakening if the nation returns to business as usual.
And there will be neither rest nor tranquility in America until the Negro is granted his citizenship rights. The whirlwinds of revolt will continue to shake the foundations of our nation until the bright day of justice emerges.
But there is something that I must say to my people, who stand on the warm threshold which leads into the palace of justice: In the process of gaining our rightful place, we must not be guilty of wrongful deeds.
Let us not seek to satisfy our thirst for freedom by drinking from the cup of bitterness and hatred.
We must forever conduct our struggle on the high plane of dignity and discipline. We must not allow our creative protest to degenerate into physical violence.
Again and again, we must rise to the majestic heights of meeting physical force with soul force.
I am not unmindful that some of you have come here out of great trials and tribulations. Some of you have come fresh from narrow jail cells.
And some of you have come from areas where your quest — quest for freedom left you battered by the storms of persecution and staggered by the winds of police brutality.
You have been the veterans of creative suffering. Continue to work with the faith that unearned suffering is redemptive.
Go back to Mississippi, go back to Alabama, go back to South Carolina, go back to Georgia, go back to Louisiana, go back to the slums and ghettos of our northern cities, knowing that somehow this situation can and will be changed.
Let us not wallow in the valley of despair, I say to you today, my friends.
And so even though we face the difficulties of today and tomorrow, I still have a dream. It is a dream deeply rooted in the American dream.
I have a dream that one day this nation will rise up and live out the true meaning of its creed: “We hold these truths to be self-evident, that all men are created equal.”
https://www.theglobalist.com/dream-forgotten-half/

Políticas racialistas são políticas racistas, ponto! - Demétrio Magnoli, Paulo Roberto de Almeida

Sempre me insurgi contra políticas racialistas, e isto desde FHC, ou seja, antes de Lula, e antes do STF. Concordo apenas em parte em que é preciso promover algumas chances de vida e a autoestima dos negros brasileiros, dando a eles as chances que não tiveram pela persistência do racismo, da desigualdade no acesso à escola, pela má qualidade da educação de que sempre sofreram ao longo de décadas.
Mas sempre julguei que isso deveria ser limitado, temporário, e de preferência ampliado a todos os carentes de chances, como os pobres em geral, com o que se atenderia a um número proporcionalmente maior de negros e pardos. 
Eu sempre clamei contra a criação de um novo Apartheid, que essas políticas racialistas poderiam criar, que é a reação de brancos (que se tornam mais racistas, por se acharem prejudicados) e pela criação de uma cultura negra, artificial, separada da cultura mainstream, que deve ser a de um Brasil único em suas qualidades e deformações, mas sem separação racial.
Paulo Roberto de Almeida

Avanço da doutrina racialista para a representação política golpeia a soberania popular

Benedita da Silva e Luís Roberto Barroso tratam o acesso a cargos parlamentares como uma carreira

"Estaremos do lado dos que querem escrever a história do Brasil com tintas de todas as cores." O ministro Luís Roberto Barroso anunciou, por essa frase capciosa, a pretensão dos altos tribunais de tutelar os partidos políticos e os eleitores, determinando uma distribuição racial dos fundos públicos eleitorais.
O inevitável avanço da doutrina racialista para a esfera da representação política golpeia o conceito de soberania popular, pilar da democracia.
Mas, como é de seu feitio, prontificou-se a legislar de outro jeito, no mesmo rumo racialista, gerenciando o caixa dos partidos com vistas a um "equilíbrio racial".
As leis de cotas raciais para ingresso nas universidades apoiam-se na justificativa da promoção social de grupos excluídos. As cotas raciais dividem os estudantes de escolas públicas segundo a cor da pele, alavancando ressentimentos que nutrem o racismo. O consenso partidário formado em torno delas destina-se a mascarar a ruína do ensino público, raiz da desigualdade de oportunidades no umbral das universidades. Quando a raça chega ao terreno do voto, o racialismo retira sua máscara, exibindo a face que precisava ocultar.
Benedita e Barroso tratam o acesso a cargos parlamentares como o ingresso na universidade —ou seja, como uma carreira. A política é definida, aí, como profissão: meio de ganhar a vida e produzir patrimônio.
"Escrever a história do Brasil com tintas de todas as cores" significa, para eles, alçar "negros" a empregos bem remunerados. O problema do raciocínio é que, no fim, a seleção desses "profissionais" depende dos eleitores. Que tal, então, dirigir a mão que digita o voto para o lugar "certo"?
Os programas pioneiros de cotas raciais nas universidades foram introduzidos em 2003. Seus defensores alegavam, à época, que o expediente seria provisório, esgotando-se no horizonte de dez ou, no máximo 20 anos. Hoje, quase duas décadas depois, não só esqueceram-se do prazo limítrofe como engajaram-se na introdução de cotas raciais na pós-graduação e na administração pública.
A fraude da vontade popular na esfera eleitoral também caminhará por etapas. A primeira, em curso, define a distribuição de fundos de campanha. Numa segunda, cotas "raciais" dentro dos partidos. A conclusiva, pelo estabelecimento de cotas raciais nos próprios órgãos legislativos. No Líbano, a representação parlamentar é repartida segundo linhas sectárias, com a divisão de cadeiras entre cristãos, sunitas e xiitas. No Brasil, a lógica racialista aponta para uma divisão entre as "raças oficiais" —isto é, basicamente, entre "brancos" e "negros", pois os autodeclarados "pardos" já foram administrativamente suprimidos do universo legal.
A "voz dos negros" deve ser ouvida —eis a tradução conceitual da frase de Barroso. Os "negros", porém, participam de diferentes partidos, exprimindo ideologias diversas. Quem é a "voz dos negros"? Benedita, que é uma "voz de Lula", ou Sérgio Camargo, uma "voz de Bolsonaro"
A racialização dos órgãos legislativos nada tem a ver com a "voz dos negros". Expressa a voz das elites brasileiras que recobrem, com uma mão de tinta fresca, o racismo institucional praticado pelas polícias e a exclusão social de pobres de todas as cores.
A política é o campo dos valores, das visões de mundo —não das raças. A "voz dos negros" exigiria a constituição de um Partido Negro. Os arautos do racialismo não vão criá-lo, pois sabem que seriam rejeitados inclusive pelo eleitorado não branco. A estratégia deles é tutelar o voto por meio de leis restritivas da soberania popular.