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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quarta-feira, 28 de julho de 2021

Ingresso e fuga de capitais do Brasil, de 1995 a junho de 2021 - Ricardo Bergamini

 De 1995 até 2002 (FHC) o Brasil gerou uma saída líquida (fuga) de US$ 22,2 bilhões; de 2003 até 2010 (Lula) o Brasil gerou uma entrada líquida (captação) de US$ 210,5 bilhões; de 2011 até 2018 (Dilma/Temer) o Brasil gerou uma entrada líquida (captação) de US$ 65,7 bilhões; de 2019 até junho de 2021 (Bolsonaro) o Brasil gerou uma saída líquida (fuga) de US$ 51,3 bilhões. 

 

 

Movimentações Financeiras das Contas Externas do Brasil

 

Ricardo Bergamini

 

Posição de Câmbio Contratado – Fonte BCB

 

Base: US$ Bilhões

Ano

Exportações (+)

Importações (-)

Financeiro

Saldo

1995

53,1

41,5

4,2

15,8

1996

50,2

41,5

2,1

10,8

1997

55,9

58,6

-4,1

-6,8

1998

47,7

43,9

-18,3

-14,5

1999

41,6

32,9

-24,9

-16,2

2000

51,7

46,1

-0,9

4,7

2001

58,0

47,2

-13,8

-3,0

2002

60,1

39,7

-33,4

-13,0

Total

418,3

351,4

-89,1

-22,2

2003

73,2

44,8

-26,0

2,4

2004

93,5

56,8

-24,7

12,0

2005

123,0

71,2

-32,5

19.3

2006

144,4

86,8

-20,3

37,3

2007

184, 8

108,0

10,7

87,5

2008

188,0

140,1

- 48,9

- 1,0

2009

144,7

134,7

18,8

28,8

2010

176,6

178,4

26,0

24,2

Total

1.128,2

820,8

-96,9

210,5

2011

251,2

207,2

21,3

65,3

2012

224, 6

216,2

8,3

16,7

2013

232,9

221,8

- 23,4

- 12,3

2014

222,3

218,1

- 13,4

- 9,2

2015

181,7

156,1

- 16,0

9,6

2016

173,6

126,2

- 51,5

- 4,1

2017

195,6

142,6

- 52,4

0,6

2018

226,8

179,0

- 48,7

- 0,9

Total

1.708,7

1.467,2

-175,8

65,7

2019

196,4

178,9

- 62,2

- 44,7

2020

192,4

169,1

- 51,2

- 27,9

Até Jun/21

116,6

103,2

1,9

15,3

Total

505,4

451,2

-111,5

-51,3

 

 

De 1995 até 2002 (FHC) o Brasil gerou uma saída líquida (fuga) de US$ 22,2 bilhões; de 2003 até 2010 (Lula) o Brasil gerou uma entrada líquida (captação) de US$ 210,5 bilhões; de 2011 até 2018 (Dilma/Temer) o Brasil gerou uma entrada líquida (captação) de US$ 65,7 bilhões; de 2019 até junho de 2021 (Bolsonaro) o Brasil gerou uma saída líquida (fuga) de US$ 51,3 bilhões. 

 

Os brasileiros terão que aprender, de uma vez por todas, que os discursos internos que empolgam os seus súditos (não são eleitores), não servem para o público externo, por isso o mundo está assustado com o Brasil. 

 

Cabe lembrar que essas informações macroeconômicas divulgadas pelo governo são destinadas ao público externo, não para o público interno, que não tem nenhum interesse no assunto.

 

Em 2019, sem pandemia, já havia ocorrido uma fuga de US$ 44,7 bilhões. 

 

Alunos do Rio Branco escolhem embaixador morto pela ditadura militar como homenageado - Monica Bergamo (FSP)

 Os alunos do Rio Branco têm a coragem e a dignidade de escolher uma das muitas vítimas da ditadura militar como patrono da turma: parabéns a eles.

Escola de diplomatas do Itamaraty escolhe embaixador morto pela ditadura militar como homenageado

Atual turma do Instituto Rio Branco decidiu honrar o diplomata José Jobim (1909-1979)

27.jul.2021 às 23h14

A atual turma do Instituto Rio Branco, a escola de formação de diplomatas do Itamaraty, escolheu honrar o embaixador José Jobim (1909-1979) como homenageado do grupo.

Em 2018, o Estado brasileiro reconheceu que Jobim foi morto pela ditadura militar após ter afirmado que denunciaria casos de superfaturamento na construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu.

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/painel/2021/07/escola-de-diplomatas-do-itamaraty-escolhe-embaixador-morto-pela-ditadura-militar-como-homenageado.shtml

terça-feira, 27 de julho de 2021

Francisco Félix de Sousa: o maior traficante do Brasil colonial e imperial - Wikipedia

 Almas cândidas podem não gostar, mas o fato é que o maior item de exportação dos reinos africanos da Costa dos Escravos na África era... escravos...

Francisco Félix de Sousa

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre. (acesso: 27/07/2021)

Francisco Félix de Sousa
Nascimento4 de outubro de 1754
Salvador
Morte8 de maio de 1849
Uidá
CidadaniaBrasil
Ocupaçãomercador, traficante de escravos

Francisco Félix de Sousa[1] (Salvador, 4 de outubro de 1754 — UidáBenim, 4/8 de maio de 1849) foi o maior traficante de escravos brasileiro e Chachá da atual cidade de Uidá no Benim. É uma figura histórica controversa, tanto pelo poder e riqueza que obteve, quanto pelas suas origens, pois era, provavelmente, um mulato ou mestiço indefinido.[2][3][4]

Biografia

Seus descendentes registraram em seu túmulo que ele nasceu em 4 de outubro de 1754.[5] Entretanto, outros dizem que ele nasceu em 1771.[2] Certa somente é a data de sua morte: 8 de maio de 1849.[4]

Era filho de um português traficante de escravos e de uma índia.[6] Aos 17 anos foi alforriado.[2] Entretanto, seus descendentes o retratam atualmente como se fosse muito branco e louro.[5] O mais provável é que tenha sido um mestiçoindefinido.[4]

Conforme contado pela sua família, Francisco Félix estabeleceu-se em 1788 no atual Benim.[7] Entretanto, é mais provável que Francisco Félix tenha se estabelecido definitivamente na África em 1800, depois de várias viagens, a primeira entre 1792 e 1795.[8]

O litoral da baía de Benim e seus arredores era, nesta época, uma das regiões mais densamente povoadas da África e conhecida internacionalmente como "Costa dos Escravos", devido ser este o seu principal produto de exportação. O rei da cidade de Abomei, também chamada de Abomé, localizada no interior, dominava a região da baía de Benim, embora lá houvesse vários fortes de feitorias europeias, entre os quais a já antiga fortaleza portuguesa de São João Baptista de Ajudá, localizada na atual cidade de Uidá

Pela estrutura econômica do Reino de Daomé, o rei era dono de toda a terra e detinha o monopólio de todo o comércio podendo conceder concessões aos comerciantes. Nesta época, praticamente os únicos produtos exportados era escravos, o que também acontecia nos reinos vizinhos.

Francisco Félix começou a negociar na região atuando como traficante de escravos, a mesma profissão que tinha sido exercida por seu pai. Entretanto, como chegou na África praticamente em estado de miséria, alguns relatos dizem que entrou no negócio de tráfico de escravos levado pelo seu sogro Comalangã, régulo da ilha de Gliji, na localidade de Popó, e pai de sua primeira esposa, Jijibu ou Djidgiabu.[4]

Tudo indica que não teve inicialmente sucesso nos negócios, pois em 1803 empregou-se na Fortaleza de São João Baptista de Ajudá como escrivão e contador. Em 1804, seu irmão Jacinto José de Sousa partiu do Brasil para assumir o cargo de Comandante desta mesma fortaleza em que trabalhava, mas isto foi apenas coincidência.[8]

Em 1805, seu irmão morreu e ele assumiu, sem autorização do governo português, o cargo de 16.º Director da Fortaleza de São João Baptista de Ajudá, em exercício até 1818 e em definitivo até 1844, e desde 7 de Setembro de 1822 até esse ano sob a soberania do Império do Brasil.[7][8] Depois de algum tempo abandonou a função, pois obteve autorização real para comerciar, incluindo traficar escravos que eram comprados diretamente do rei de Daomé, Adanuzam. Os escravos eram pagos com búzios (uma forma de moeda local) ou, como ficou comum depois de certa época, com mercadorias importadas da Europa (tecidos de algodão, veludos, damascos, lãs e sedas, armas de fogo, pólvora, contaria, facas, catanas, manilhas, vasilhame de cobre e latão) ou das Américas (tabaco baiano, cachaça, rum).[4] Mesmo depois da Independência do Brasil, os produtos manufaturados europeus eram contrabandeados do Brasil, uma vez que a Coroa portuguesa não permitia que tais itens fossem transportados em navios brasileiros.

Quando já estava muito rico, Francisco Félix afrontou Adanuzam por não ter recebido os escravos pelos quais pagara adiantadamente com mercadorias. Caiu em desgraça perante o rei e foi preso quando visitava a cidade de Abomei, capital de Daomé. O poder do rei de Daomé sobre os súditos era total: era comum a morte em sacrifícios humanos, a execução de centenas de prisioneiros de guerra ou a venda de milhares como escravos para as Américas. Entretanto, a tradição de sua família conta que o branco era a cor da morte e matar um branco, mesmo um mulato, era tabu. Adanuzam ordenou então que Francisco Félix fosse imergido em tonéis de índigo para que ficasse azul-escuro e nunca mais usasse a cor da pele para afrontar o rei.[4]

Nesta época, conheceu Guapê, um meio-irmão de Adanuzam, tornou-se seu amigo e, com sua influência, conseguiu ser libertado ou fugiu de Abomei para Popó Pequeno,[8] terra de seu primeiro sogro, Comalangã. Francisco Félix e Guapê fizeram um pacto vodum de sangue[4] e começaram a conspirar para depor o Adanuzam. Francisco Félix contrabandeou armas e munições para Guapê que, em 1820,[7] derrubou Adanuzam do poder e tornou-se rei de Daomé, assumindo o nome de Guezô.

Guezô concedeu-lhe, em 1821, o cargo de primeiro conselheiro[9] e o título de Chachá.[10] A origem do nome do título é desconhecida. Possivelmente era seu apelido,[8] originado do modo com que Francisco Félix costumava apressar os negócios dizendo "já, já".[4] Não é correto que o título de Chachá conferisse poderes de vice-rei e "chefe dos brancos". Estes poderes eram conferidos com o título de Iovogã que esteve com um daomeano chamado Daba durante a maior parte da vida de Francisco Félix em Uidá. Um estrangeiro que chegasse na cidade tinha que falar com o Iovogã antes de se encontrar com o Chachá.[8] Francisco Félix, como todo traficante rico do reino, tinha o título de "cabeceira" do reino e a obrigação de fornecer soldados armados para o rei. Portanto, suas atividades eram mais comerciais do que políticas.[8]

A fortaleza de São João Baptista de Ajudá tinha sido abandonada pelos portugueses. Francisco Félix continuou a comandá-la e, por extensão, governava a cidade de Uidá que se desenvolveu nos seus arredores. A cidade transformou-se em um dos mais ativos entrepostos de embarque de escravos de toda a África para as Américas, principalmente para o Brasil e Cuba.

Guezô concedeu-lhe também o total controle do comércio exterior do Reino de Daomé.[5] Atuava como agente do rei, gozando do privilégio real da primeira opção: "os outros comerciantes só podiam transacionar com aquilo que ele não desejava".[8] Devido ao grande crescimento do tráfico de escravos para o Brasil que ocorria na época, Francisco Félix acumulou uma fortuna gigantesca. Além do virtual monopólio do comércio de escravos sediado em Uidá, também exportava azeite de dendê, noz-cola e outros produtos do reino. Importava tecidos, tabaco, aguardente, armas de fogo, pólvora e utensílios de metal, produtos utilizados no escambo para aquisição de escravos.[4] Teve vários sócios no Brasil como o banqueiro Joaquim Pereira Marinho, que recebeu os seus filhos que viajaram para estudar. Francisco, príncipe de Joinville considerava-o um dos três homens mais ricos de seu tempo.[7]

Depois da Independência do Brasil, ofereceu, em nome de Guezô, o protetorado do Reino de Daomé e a posse da fortaleza de São João Baptista de Ajudá ao imperador Pedro I do Brasil[11] O acordo não prosperou e, a partir de então, Francisco Félix vai passar a dizer-se cidadão português, talvez porque isto lhe conferia vantagens jurídicas, oriundas de acordos internacionais, quando seus navios eram apresados pela frota britânica.[8]

Quando os ex-escravos alforriados no Brasil ou seus descendentes voltavam para o Benim, encontravam em Francisco Félix um ponto de referência da cultura afro-brasileira na região. Ao mesmo tempo, Francisco Félix agia como um protetor local daqueles que, contraditoriamente, poderiam ter sido enviados por ele como escravos para o Brasil. Assim, em torno da rica residência do traficante de escravos formou-se um bairro de Agudás (descendentes de escravos do Brasil que retornaram para África), atualmente chamado Brasil (em francêsBrésil; em fomBlezin).[4]

Por volta de 1845, Francisco Félix estava arruinado e devendo dinheiro ao rei. A causa mais provável do seu declínio foram os enormes prejuízos que a frota britânica causava ao passar a apreender seus navios negreiros. Com seu empobrecimento, Guezô deixou de considerá-lo como o único agente real para o comércio exterior, mas ainda o manteve como um funcionário coletor de taxas por escravo exportado e emprestava dinheiro para ele.[8] Nesse mesmo ano foi o 2.º Governador da Fortaleza de São João Baptista de Ajudá até à sua morte a 4/8 de Maio de 1849.

Seus descendentes contam que morreu com 94 anos.[7] Deixou viúvas 53 mulheres, mais de 80 filhos homens e 2 mil escravos. Guezô concedeu-lhe um funeral de grande chefe daomeano, no qual, apesar dos protestos de seus filhos, houve até a oferenda de sacrifícios humanos, honra conferida somente aos enterros reais.[8] Foi enterrado no mesmo quarto onde dormia e seu túmulo é até hoje reverenciado pelos seus descendentes e pelos Agudás.[7]

Alguns de seus filhos homens mais velhos estudaram no Brasil, alguns dos mais novos em Portugal.[4] Depois de uma disputa feroz entre os três filhos mais ricos, um deles, Isidoro Félix de Sousa, foi escolhido por Guezô para sucedê-lo com o título de Chachá II,[8] que então passou a ser hereditário, o qual em 1851 foi o 26.º Governador Subalterno da Fortaleza de São João Baptista de Ajudá, cargo que ocupou até 8 de maio de 1858 tendo, nesse mesmo ano, seu filho Francisco Félix de Sousa, Chachá III, sido nomeado 29.º Governador. Os seus descendentes, a família Souza, têm até hoje uma grande importância política e social em Benim, sendo líderes da comunidade de Agudás. Também podem ser encontrados descendentes em toda a região do centro-oeste africano, especialmente no país vizinho Togo.[12] Um descendente direto, Honoré Feliciano Julião Francisco de Souza, é o oitavo Chachá, um título de nobreza sem poder político, mas que confere grande prestígio social. Nos dias de festas da comunidade dos Agudás, Chachá VIII comparece paramentado com vestes reais e acompanhado de nobres e rainhas locais. Cada novo Chachá assume o título com uma visita obrigatória ao rei de Daomé, hoje sem poder político, mas ainda reverenciado como líder religioso. Nesta visita são reforçados os antigos laços de união entre a família Souza e a família real daomeana.[13]

Ver também

Bibliografia

Referências

  • Tiago Carrasco, Até Lá Abaixo
  • OLTRAMANI, Alexandre (10 de dezembro de 2003). «Veja, edição 1832»Veja. Consultado em 30 de agosto de 2008
  • Dolores Cantus. Fernando Poo (1778-1900). «Una Aventura Colonial Española en el África Occidental» (PDF). Tesisenxarxa.net. p. 195. Consultado em 30 de agosto de 2008. Arquivado do original (PDF) em 24 de julho de 2011
  • SILVA, Alberto da Costa e. Francisco Félix de Souza, mercador de escravos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira/EdUERJ, 2004
  • «Os Retornados - O Brasil na África». Osretornados.globolog.com.br. Consultado em 20 de agosto de 2008
  • O Poderoso Chefão - Guia do Estudante
  • «De Souza - Benim». Cartasdafrica.com. Consultado em 20 de agosto de 2008
  • LAW, Robin (1800-1849)). «A carreira de Francisco Félix de Souza na África Ocidental» (PDF). Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Consultado em 30 de agosto de 2008 Verifique data em: |ano= (ajuda)[ligação inativa]
  • VIALLARD, Monique. «La communauté afro-brésilienne du Golfe du Bénin» (PDF). Revues-plurielles.org. Consultado em 30 de agosto de 2008
  • «Gana». Cartasdafrica.com. Consultado em 20 de agosto de 2008. Arquivado do original em 10 de março de 2008
  • SILVA, Alberto da Costa e (Junho de 1995). «Brasil, Africa y el Atlántico en el Siglo XIX» (PDF). America Negra, Bogotá: Pontifícia Universidad Javeariana. Javeriana.edu.co. p. 151. Consultado em 30 de agosto de 2008
  • SCHAUMLOEFFEL, Marco Aurélio. «Informações sobre os Tabom e o Durbar por eles organizado» (PDF). Schaumloeffel.net. Consultado em 30 de agosto de 2008
    1. «Agudás — de africanos no Brasil a 'brasileiros' na África». Scielo.br. Consultado em 20 de agosto de 2008

    Ligações externas

    • Os Retornados - O Brasil na África (visitado em 20 de agosto de 2008) - Fotos do túmulo e dos descendentes de Francisco Félix de Sousa com suas reminiscências e tradições.

    O BRASIL, A OCDE E O MEIO AMBIENTE - Rubens Barbosa

     O BRASIL, A OCDE E O MEIO AMBIENTE

    Rubens Barbosa

    O Estado de S. Paulo, 27/07/201

                  Desde quando, em 2017, o Brasil pediu para ingressar na OCDE, o cenário internacional transformou-se de forma acentuada. A mudança climática passou a ser vista como um elemento importante para a política macroeconômica. Bancos Centrais, reguladores e ministérios de finanças discutem estabilidade macroeconômica, regulação financeira e sustentabilidade fiscal relacionadas aos riscos climáticos. Organizações políticas multilaterais, como o G 7 e o G20 passaram a incluir meio ambiente e mudança de clima entre suas prioridades e a União Europeia e os EUA colocam esses temas no centro de reformas econômicas voltadas ao crescimento e à recuperação dos prejuízos causados pela pandemia.

                    No seu relatório anual, a OCDE faz uma avaliação ampla de reformas para promover o crescimento a longo prazo nos 37 países membros e alguns emergentes, inclusive o Brasil. No tocante ao meio ambiente, a estimativa é de que mais de ¾ da população brasileira está exposta a níveis nocivos de poluição do ar, semelhante ao risco de boa parte dos países examinados. A constatação é de que as emissões de gás carbono ficaram estáveis em anos recentes antes da crise sanitária. Ao lado do exame da política econômica e social, o relatório inclui a “nova prioridade”, envolvendo a política ambiental para o Brasil preservar os recursos naturais e acabar com o desmatamento, reforçando o apelo global. No documento, a OCDE mostra a necessidade de reforçar a proteção efetiva dos recursos naturais, incluindo os da floresta tropical amazônica. Defende que leis atuais e proteções, capazes de reduzir o desmatamento no passado, devem ser mantidas combinadas com mais fiscalização para combater o desmatamento ilegal, o que exigirá recursos adicionais. A OCDE recomenda ao governo brasileiro ‘’evitar um enfraquecimento do atual quadro de proteção legal, incluindo as áreas protegidas, o Código Florestal e concentrar-se no uso sustentável do potencial econômico da Amazônia”. Em outro levantamento comparativo, a OCDE indica que medidas adotadas pelo governo brasileiro para ajudar a economia a passar pela crise da Covid 19, subiram a US$105 bilhões, mas apenas uma fração desse montante, US$351 milhões ou 0,3% teve efeito claramente positivo para o meio ambiente. Por outro lado, o governo brasileiro ainda não respondeu ao convite da OCDE para participar do Programa Internacional de ação sobre o Clima visando a acelerar a ação dos países na descarbonização de suas economias.

    Como explica Vera Thorstensen, coordenadora do Centro de Estudos sobre comércio global e investimento, “a maioria de suas regras são negociadas pelos seus membros como recomendações e orientações não-obrigatórias. A OCDE exerce sua função por meio de exames contínuos das práticas de seus membros, realizados pelo seu Secretariado, e um sofisticado processo de comparação entre os participantes, por meio de instrumentos de análise e uma métrica de avaliação sofisticada. O resultado é a apresentação dos mais diversos pontos das atividades econômicas dos membros, comparando-os e estimulando-os a cumprirem com as regras, sob pressão política de seus pares”. No processo de acessão d­o Brasil à OCDE, o País passará pelo crivo de seus membros, com base nos indicadores verdes da Organização, quais sejam: os de sustentabilidade, os de crescimento verde e os de meio ambiente”

                    É importante entender como funciona o mecanismo de trabalho da OCDE. Como reiteradamente afirmado pelo governo atual, “a entrada do Brasil na OCDE é uma prioridade da política externa e da estratégia de aprimoramento das políticas públicas nacionais e de maior integração do país à economia mundial”. Para alcançar esse objetivo será necessário não só participar ativamente de seus trabalhos técnicos na área econômica, financeira e comercial, mas também levar em conta outras áreas importantes para os países membros, inclusive na área ambiental e de mudança de clima. Os indicadores verdes e as recomendações feitas pela organização devem ser acompanhados pelo governo e pela sociedade civil para que o Brasil esteja em conformidade com as regras e possa ser aceito por todos os países membros.

    Não basta participar dos 246 instrumentos legais existentes no âmbito da OCDE. Correções e ajustes na política ambiental serão necessários para preencher os requisitos exigidos pela organização de Paris e ser avaliados positivamente pelos demais países. O combate aos ilícitos na Amazônia (queimadas, destruição da floresta e garimpo) são medidas que só dependem da vontade política do governo.

    Se o desafio da mudança de clima não fosse suficiente, em dezembro passado, a OECD passou a monitorar também a corrupção no Brasil. Pela primeira vez, em 27 anos de atividades, o Grupo Anti-Corrupção da OCDE criou um grupo especifico, integrado pelos EUA, Itália e Noruega, para acompanhar o que ocorre no Brasil nesse campo. A criação desse grupo coincide sintomaticamente com o esvaziamento da Lava Jato, o que deverá ser objeto de questionamento por parte dos países membros na próxima reunião do grupo.

     

    Rubens Barbosa, presidente do IRICE