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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
Campanha petista pretende reatar relações com Venezuela
Ideia é reverter a tentativa de isolamento que o governo Jair Bolsonaro tentou impor a Nicolás Maduro
CNN, 30/08/2022 às 21:34 | Atualizado 30/08/2022 às 23:03
Os planos da campanha petista com a América do Sul envolvem a retomada de relações com a Venezuela. A ideia é reverter a tentativa de isolamento que o governo Jair Bolsonaro tentou impor ao ditador Nicolás Maduro ao determinar a retirada do embaixador brasileiro do país em 2020 e o reconhecimento do opositor Juan Guaidó como presidente da Venezuela.
Embora formalmente as relações não tenham sido rompidas, na prática elas não existem porque sequer há um serviço consular no país vizinho.
Nesse sentido, o debate na campanha é retomar na prática as relações com a Venezuela enviando nas primeiras semanas um corpo diplomático e deixando de reconhecer Guaidó como presidente do país.
A avaliação é de que a tentativa de isolamento da Venezuela se mostrou frustrada porque abriu espaço para que países asiáticos, em especial a China e a Rússia, se aproximassem da Venezuela.
O QG petista inclusive avalia que estados que fazem fronteira com o país, Amazonas e Roraima, querem reatar relações tanto por questões humanitárias –conter os refugiados — quanto por questões comerciais.
Os petistas também avaliam a criação de um novo colegiado na região para debater a relação. Seria um modelo parecido ao da Unasul, criada em 2008 no governo Lula, mas que em 2017, já no governo Michel Temer, acatou uma cláusula democrática que obrigava os países da região a terem regimes democráticos, o que acabou por levar à saída da Venezuela do grupo.
Sobre clima, há um plano por exemplo para que a América do Sul, principalmente os oito países da região amazônica (Brasil, Guiana, Peru, Bolívia, Colômbia, Equador, Suriname e Venezuela) possam liderar em conjunto na região temas climáticos perante fóruns mundiais, aproveitando-se para tanto do contexto atual de uma maioria de países com dirigentes à esquerda na região. Fala-se até mesmo em resgatar a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), um documento de 1978.
Os petistas também pretendem abordar assuntos comuns com o vizinho com o continente africano. A vice-presidente da Colômbia, Francia Márquez, já mandou sinais ao QG petista de que há interesse em aproximação com a África e que se Lula vencer pretende que seja uma agenda comum com o Brasil.
“A política Sul-Sul voltaria forte, mas isso não se faria em detrimento de relações com a Europa, Estados Unidos e China”, disse o diplomata Audo Faleiros, que assessorou Marco Aurelio Garcia, consultor de assuntos internacionais nos governos Lula e Dilma Rousseff, e tem acompanhado parte dos debates no PT.
Campanha de Lula quer priorizar União Europeia e desacelerar OCDE
América do Sul e África também são prioridades
Caio Junqueira, da CNN 30/08/2022 às 21:33 | Atualizado 30/08/2022 às 23:03
Os formuladores da política externa de um eventual novo governo Lula preveem, se o petista vencer, rever os termos do acordo entre União Europeia e o Mercosul e também o ingresso do Brasil na OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico.
“A relação com a União Europeia é estratégica para o Brasil. Somos a favor do acordo, mas ele foi feito às pressas para beneficiar o [ex-presidente argentino) Maurício Macri. Então precisa de algumas revisões e ajustes. E a informação que tenho é de que os europeus também querem mudanças e ajustes. Vamos pensar então num acordo de cooperação que obviamente terá uma direção comercial para não acabar de desindustrializar o Brasil”, afirmou à CNN Celso Amorim, chanceler brasileiro na era Lula e que está à frente dos debates na campanha sobre o que seria uma eventual política externa em um novo governo petista.
O foco no acordo reflete uma percepção comum nas conversas internas no PT sobre esta área: a União Europeia como grande parceira do Brasil se o petista vencer. Isso porque há receio de que o trumpismo ou algo semelhante a ele possa retornar nos Estados Unidos e que a relação com a China, embora seja positiva comercialmente, há muitos problemas de valores como democracia, direitos humanos e inclusão social.
Nesse sentido, há uma aposta crescente nos bastidores da campanha em ampliar vínculos com a Europa e especialmente com quatro grandes forças do grupo: Alemanha, Espanha, França e Portugal. A avaliação é de que o continente poderá ajudar o Brasil a transitar em um mundo diferente do que de 2003, quando o PT assumiu o Itamaraty pela primeira vez.
Hoje, ele é mais multipolar e o Brasil precisa se posicionar em equilíbrio aos diferentes players, em especial aos Estados Unidos, China e Rússia. Além disso, a agenda que o petismo pretende encampar é mais bem identificada com a agenda da União Europeia do que das outras forças mundiais, principalmente sobre clima, direitos humanos e imigração.
Sobre a OCDE, umas das prioridades da política externa do governo Jair Bolsonaro, a ideia é desacelerar o processo de ingresso.
“Antigamente se dizia que a OCDE era um selo de qualidade, mas vejo países que entraram e não se beneficiaram. Brasil já recebeu muito mais investimentos do que países que ingressaram na OCDE. Não tenho preconceito com a OCDE, mas não vejo como grande prioridade”, disse Amorim.
A leitura dentro do PT é que muitos pontos que a OCDE exige para que um país seja seu integrante são desfavoráveis ao Brasil. Por exemplo, que países em geral possam realizar compras governamentais. O petismo acredita que isso prejudica a indústria nacional. Outro ponto é sobre a rigidez com regras de propriedade intelectual, algo que prejudica países pobres e em desenvolvimento. “OCDE é para países ricos. O Brasil não precisa disso”, completou Amorim.
O PT tem considerado nos debates internos o contexto nacional para elaborar a sua política externa. A expectativa de que o bolsonarismo permanecerá e mais forte ainda mesmo em caso de derrota faz os formuladores da política externa preverem muita disputa em torno desta área e consequentemente o partido a já eleger como um dos temas para esta disputa. Por isso, a questão dos valores –democráticos, ambientais e de direitos humanos– deverão estar presentes, assim como temas ligados a pandemia — justamente um dos pontos fracos da gestão Bolsonaro.
Um personagem relevante do fim da Guerra Fria, mas que terminou odiado em seu próprio império...
Morre Gorbachev: como foram as últimas horas antes da dissolução da poderosa União Soviética
Norberto Paredes - @norbertparedes
BBC News Mundo
Esta reportagem foi publicada originalmente em 26 de dezembro de 2021 e atualizada em 30 de agosto de 2022.
Foi durante décadas a única potência que poderia rivalizar com os Estados Unidos, até que na noite de 25 de dezembro de 1991, deixou de existir. "Com isso interrompo minhas atividades como presidente da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS)", anunciou Mikhail Gorbachev, no Kremlin, em discurso que rodou o mundo.
Símbolo da derrocada do bloco, Gorbachev era o líder do Partido Comunista e presidente da URSS naquela data. Nesta terça-feira (30/8) foi anunciada sua morte, causada por uma prolongada doença, segundo o Hospital Clínico Central de Moscou. Ele tinha 91 anos.
Para muitos, aquele momento marcou o fim do poder comunista e da Guerra Fria, mas para outros a União Soviética já havia morrido semanas antes com o Tratado de Belavezha.
No entanto, a grande maioria concorda que, após o golpe de agosto daquele ano, a União estava com os dias contados.
Desde a primavera, Gorbachev e seus aliados no governo federal vinham negociando o Novo Tratado da União, que buscava manter a maioria das repúblicas dentro de uma federação muito mais flexível. Eles consideraram que era a única maneira de salvar a URSS.
"Eles queriam manter algum tipo de união, mas com o tempo essa ideia se tornou cada vez menos atraente para os líderes das repúblicas, especialmente para Boris Yeltsin (então líder da República Federativa Soviética Russa)", diz o jornalista e escritor Conor O'Clery, autor de Moscou, 25 de dezembro de 1991: O Último Dia da União Soviética, à BBC News Mundo, o serviço de notícias em espanhol da BBC.
A proposta também foi rejeitada pelos comunistas conservadores, o Exército e a KGB (a agência de inteligência soviética) e então Gorbachev foi colocado em prisão domiciliar em sua casa de férias na Crimeia.
Mas os conspiradores do golpe foram mal organizados e fracassaram depois de uma campanha de resistência civil liderada em Moscou por Boris Yeltsin, que era aliado de Gorbachev.
O golpe falhou, mas como resultado disso Gorbachev perdeu sua influência, enquanto Yeltsin emergiu como o líder preferido dos russos.
"Gorbachev havia planejado a assinatura do Novo Tratado de União para 20 de agosto. Mas o Exército e a KGB consideraram que esse pacto destruiria a URSS como um Estado, e eu concordo", diz à BBC News Mundo Vladislav Zubok, professor de História na London School of Economics (LSE) e especialista em União Soviética.
"O golpe foi uma surpresa, porque aconteceu quando todos estavam de férias. As pessoas esperavam que algo assim acontecesse, mas não em agosto", acrescenta Zubok, autor do livro Um império falido: a União Soviética na Guerra Fria de Stalin a Gorbachev.
'Show televisionado'
Zubok, que nasceu e morou em Moscou durante a era soviética, lembra que muitas vezes as pessoas acreditam na narrativa de que 25 de dezembro foi uma data muito importante, mas em sua opinião não era.
"Quando Gorbachev anunciou sua renúncia, ele não tinha mais nenhum tipo de poder. O que aconteceu foi uma exibição para televisão", diz ele.
Os conspiradores do golpe impediram que o Novo Tratado da União fosse assinado em agosto, mas não puderam evitar a iminente dissolução da União Soviética, que vinha fermentando há anos.
Na verdade, eles lhe deram um impulso.
Depois do golpe, muitos entenderam que a União Soviética havia chegado ao fim, mas outros, incluindo Gorbachev, acreditavam que ela ainda poderia ser salva sob outro tipo de união de Estados soberanos.
"A ideia da União permaneceu atraente para milhões de pessoas que estavam acostumadas a viver em um grande país. Eles esperavam preservá-la talvez sob outro nome ou regime", diz Zubok.
Mas Yeltsin tinha outro plano.
O golpe final
Em 8 de dezembro de 1991, o presidente russo se reuniu com três outros líderes das 15 Repúblicas Soviéticas, o presidente ucraniano Leonid M. Kravchuk e o líder bielorrusso Stanislav Shushkevich, e juntos eles emitiram uma declaração conhecida como Tratado de Belavezha.
Este pacto estipulou que a União Soviética seria dissolvida e substituída pela Comunidade de Estados Independentes (CIS), uma confederação de antigos Estados soviéticos.
Para o jornalista Conor O'Clery, o evento marcou o fim da União Soviética: "Não havia como voltar atrás".
Podcast
Fim do Podcast
"Gorbachev não podia aceitar e por duas ou três semanas continuou insistindo que tinham que manter alguma forma de União da qual ele seria presidente", acrescenta.
Mas em 21 de dezembro, oito das 12 Repúblicas Soviéticas restantes aderiram à CEI com a assinatura do Protocolo de Alma-Ata, desferindo assim o golpe final na URSS.
O'Clery diz que foi quando Gorbachev finalmente percebeu o fim de uma era e decidiu que renunciaria em 25 de dezembro com um discurso.
"Yeltsin permitiu que ele ficasse no Kremlin por mais alguns dias e concordou que a remoção da bandeira vermelha do Kremlin seria feita em 31 de dezembro", disse O'Clery.
O historiador Vladislav Zubok destaca que o Protocolo de Alma-Ata foi assinado de forma "extraconstitucional".
"Eles não tinham nenhum poder constitucional para dissolver a União Soviética, mas escaparam impunes. Não os prenderam nem nada", insiste.
"A verdade é que a essa altura já estava claro que o governo central estava completamente disfuncional e o Exército já havia tirado sua lealdade de Gorbachev para dá-la a Yeltsin."
O último dia da URSS
Os dias se passaram sem muitas novidades, até que chegou o dia em que era esperada a renúncia do homem responsável pela perestroika.
Em 25 de dezembro, a maioria dos salões do Kremlin estava calma, exceto por alguns, pois Yeltsin já controlava o complexo presidencial.
Ele nomeou seu próprio comando do Regimento do Kremlin, uma unidade especial que garante a segurança do local, de modo que todos os guardas nas entradas e ao redor dele fossem leais.
Gorbachev mal controlava seu escritório e algumas salas ao redor, usadas por equipes das emissoras americanas CNN e ABC, que se preparavam para transmitir a renúncia.
O'Clery diz que, pouco antes do discurso, Gorbachev teve uma conversa por telefone com o primeiro-ministro do Reino Unido, John Major, que o deixou chateado, então ele mais tarde se retirou para descansar sozinho em um quarto do Kremlin.
"Ele estava muito emocionado e havia bebido alguns drinques quando seu assistente, Alexander Yakovlev, o encontrou chorando na sala", disse ele.
"Foi o momento mais triste de Gorbachev, um momento de angústia. Mas ele se recuperou rapidamente desse episódio e se preparou para fazer um discurso com grande dignidade."
Conforme o planejado, o último líder da União Soviética iniciou às 19h locais um pronunciamento que duraria 10 minutos.
Gorbachev renunciou a seu cargo em um país que não existia mais.
"Agora vivemos em um novo mundo", disse Gorbachev justificando sua decisão.
Zubok insiste que se tratou de um "show televisionado". A CNN traduziu e transmitiu o discurso para todo o mundo via satélite.
De acordo com especialistas, as palavras de Gorbachev tiveram mais ressonância no exterior (onde ele ainda gozava de grande popularidade) do que em casa.
"Na televisão soviética, o discurso foi visto muito pouco. Gorbachev já era extremamente impopular na União e quase ninguém estava interessado. A essa altura todos sabiam que a União Soviética havia morrido", diz Zubok.
O historiador concorda que foi um pronunciamento "digno", mas ressalta que ele causou descontentamento até dentro das fileiras do Partido Comunista.
"Ele defendeu seu mandato, nunca reconhecendo nenhum erro. Até algumas pessoas ao seu redor ficaram surpresas. Esperavam que ele dissesse algo sobre por que a perestroika deu tão errado, por que não havia nada nas lojas ou por que a economia estava despencando. Mas não", acrescenta Zubok.
"Ele continuou a ver a perestroika como sempre, como uma missão global. E encerrou sua presidência com a moral elevada. Ele não queria mostrar fraqueza a Yeltsin e é por isso que Yeltsin ficou extremamente chateado depois daquele discurso e se recusou a se encontrar com Gorbachev."
O'Clery diz que Gorbachev poderia ter mostrado mais generosidade e apreço por Yeltsin em seu discurso.
"Yeltsin o salvou após o golpe. Se não fosse por ele, Gorbachev teria acabado na prisão ou pior", diz.
A ira de Yeltsin
O'Clery observa que Yeltsin ficou tão zangado com Gorbachev que ordenou que a bandeira vermelha fosse removida imediatamente, embora tivesse planejado retirá-la no final do ano.
Yeltsin também redigiu um decreto na mesma noite ordenando que todos os pertences pessoais de Gorbachev e de sua esposa fossem removidos do complexo presidencial, apesar de ele já ter dito que o casal poderia permanecer no local por mais alguns dias.
Às 19h32, a bandeira soviética foi substituída pela da Federação Russa.
"Gorbachev voltou para casa e encontrou sua esposa em meio a livros e fotos que os subordinados de Yeltsin haviam jogado no chão", conta O'Clery.
Yeltsin e Gorbachev não se viram novamente depois daquele discurso.
Um sinal da baixa popularidade de Gorbachev na Rússia pôde ser visto no momento em que a bandeira da URSS foi retirada do Kremlin: a Praça Vermelha de Moscou estava praticamente deserta.
Às 19h32 daquela noite histórica, a bandeira soviética foi substituída pela da Federação Russa, sob o comando do que por acaso foi seu primeiro presidente, Boris Yeltsin.
E naquele exato momento, o que havia sido por décadas o maior Estado comunista da história foi oficialmente dividido em 15 Repúblicas independentes: Armênia, Azerbaijão, Bielorrússia, Estônia, Geórgia, Cazaquistão, Quirguistão, Letônia, Lituânia, Moldávia, Rússia, Tadjiquistão, Turcomenistão, Ucrânia e Uzbequistão.
Ao mesmo tempo, do outro lado do mundo, os Estados Unidos acabaram se consolidando como a única superpotência global naquele momento.