sexta-feira, 25 de abril de 2025

Rodes: do florescimento aos vagões que não retornam - João Pedro Levy

 Uma reconstrução histórica de uma pequena parte da milenar civilização judaica que os bárbaros do século XX tentaram eliminar pela via genocida do Holocausto, mas que resistiu e que reaparece aqui na reconstrução histórica de um dos seus descendentes, cujos antenati conseguiram emigrar para o Brasil, um deles meu amigo e aluno João Pedro Levy: 

Rodes: do florescimento aos vagões que não retornam

João Pedro Levy

(Recebido em 24/04/2025)


A Ilha de Rodes iniciou o século XX pertencendo ao decadente Império Otomano.  

O século XIX trouxe importantes inovações tecnológicas para a vida do continente europeu: a Revolução Industrial abriu trilhos de trem que conectaram distâncias em tempo recorde. Esse ritmo não poupou a ilha otomana: no fim do século, Rodes começou a receber a influência do continente de maneira progressiva. A comunidade judia da ilha, que a dividia com populações gregas, árabes e outros povos – como era comum no Império Otomano - não passou ilesa desta tendência. 
Durante as duas primeiras décadas do século XX, a comunidade viu seus filhos e filhas saírem em busca de aproveitar as benesses do desenvolvimento de forma mais intensa noutros espaços. Brasil, Argentina, Estados Unidos, Congo Belga (atual Zaire), África do Sul, Egito e Canadá foram espaços muito procurados por esses judeus sefarditas. Tradição e modernidade testavam os limites para a inserção desses imigrantes nas novas sociedades das quais passavam a fazer parte. Levaram consigo a religião - em torno da qual tinham aprendido a viver em Rodes, pois o judaísmo ditava como as pessoas acordavam até a hora de a pessoa se deitar, e tudo o que havia durante estes dois marcos -, as roupas do corpo, as receitas de comidas típicas e o Ladino, a língua que era falada pela comunidade no seu dia a dia.  

Os anos 1900, 1910 e 1920 modificaram profundamente a ilhota: ruas, carros, máquinas, navios a vapor. Franceses aproveitavam a influência estendida sobre os territórios do Império Otomano e levaram a Rodes uma Alliance Française: os judeus da ilha, então, tinham a possibilidade de estudar no modelo laico criado na época de Napoleão, o chamado lycée, e entendiam um pouco melhor o que ocorria naquele mundo em transformação 

Depois deste contexto prévio, nossa história começa seu rumo até o fim: em 1923, depois de 4 anos terminada a Primeira Guerra Mundial, o Tratado de Lausanne, imposto ao Império Otomano – que ficou no lado perdedor daquele conflito -, cede a soberania da Ilha de Rodes ao Reino da Itália.  

A Itália vivia um regime monárquico com um Parlamento que passou, em pouco tempo, a ser controlado por Benito Mussolini. O regime fascista estava no poder desde 1923. Na Alemanha, Hitler ainda engatinhava neste momento. 

O Reino da Itália construiu um objetivo: os territórios, no mar Mediterrâneo, que passaram à soberania italiana, mas estavam longe da península itálica original, deveriam passar por um processo de “italianização”.  
Esse processo aumentou ainda mais a chegada da “modernidade” à ilha: rádios com músicas italianas, dança, revistas, livros dos grandes autores italianos. Abre-se uma “Scuola”, regida por mulheres pertencentes à hierarquia da Igreja Católica, e a vida da comunidade judaica da ilha se torna ainda mais influenciada pelo modelo de educação do continente. Muitos pensam em concluir estudos nas faculdades da Itália.  
Algumas pessoas da administração do Estado italiano mudam-se para Rodes, tornando-se mais um ponto de encontro da população local com influências de fora. Italianos ricos se instalam na ilha e se encontram com a população da comunidade judaica, geralmente jovens, em pontos fora da cidade murada, onde a juderia se encontrava. São restaurantes, praias, bares. Alguns se apaixonam. Parecia que a ilha vivia realmente um momento de florescimento.  

Porém, a década de 1930 mudará totalmente este cenário. 

Em 1933, Hitler ascende ao poder na Alemanha e faz avançar, no país, a ideologia nazista. Parte importante deste movimento se concentrava em designar ao povo judeu um estereótipo de sub-humanidade e de o identificar como causador dos males maiores daquele momento. A fome vinda da depressão econômica que arrasava o mundo desde 1929, o desemprego, a derrota na Primeira Guerra, “retrocessos” entendidos na cultura que se instaurou na Alemanha depois da queda do Segundo Reich, o Império Alemão. Essas culpas e muitas outras foram cuidadosamente pensadas para criar, na concepção de todo um povo, um horror a um povo. O caminho para a sua posterior eliminação não começou nos campos de concentração e, sim, com a normalização quotidiana da violência verbal, física e da marginalização do povo judeu, às quais muitas pessoas se acostumaram e ignoravam seu acontecimento. 

Nas vésperas da Segunda Guerra, em 1938, o Reino da Itália e a Alemanha nazista já tinham iniciado o processo de aproximação e de formação de uma aliança contra inimigos em comum. 

A Alemanha nazista, contudo, tinha muito mais capacidade econômica e militar do que seu aliado italiano, e a influência do regime nazista na Itália foi inevitável. 

Em 1936, Mario de Vecchio é apontado como governador do Dodecaneso, região admnistrativa onde Rodes se encontrava. Germanófilo, o governador começa a atacar direitos da comunidade judaica de Rodes: ordenou que as lojas dos judeus ficassem abertas no shabbat, nas festas do calendário e fechou a escola judaica (Yeshivá). Proibiu o abate de animais segundo os rituais judaicos e transformou locais importantes para a vida judaica em instituições públicas. Chegou a exigir a mudança do cemitério judaico antigo e usou lápides judaicas para construir sua nova casa. Stella Levi comenta que foi um momento de muita dor aquele de exumarem os corpos da comunidade, pois, no judaísmo, o repouso do falecido é visto como extremamente sagrado e sua profanação, algo impensável. 

Em 1938, leis raciais são passadas na Itália e os judeus, que antes gozavam de direitos de cidadania como quaisquer cidadãos italianos, passam a ser identificados como cidadãos de segunda classe. Sua educação, seu lazer, sua religião e muitos aspectos ligados à manutenção de sua dignidade são repentinamente retirados de suas vidas. Não viram, porém, que esse processo era o início de uma aproximação da tendência que se desenhava no continente para os judeus que lá se encontravam. Essas leis proibiram que os judeus tivessem propriedade, contratassem não judeus, e a população não judaica não podia recorrer a farmacêuticos ou médicos judeus.  

Uma lei estipulou que judeus chegados à ilha depois de 1919 deveriam deixá-la e isso afetaria mais de 500 judeus naquele momento. Uma comitiva judaica vinda do atual Estado de Israel se reuniu com De Vecchi para evitar esse deslocamento. 

E os judeus não entenderam o que ocorria? Achavam-se muito distantes, afinal, Rodes é uma ilha mais próxima da Turquia e do Oriente Médio do que da maioria dos países europeus, e pertencente à soberania italiana, o que parecia garantir uma certa imunidade às políticas nazistas, embora houvesse a aliança entre os países.  Além disso, a comunidade era pequena: devido às imigrações contínuas antes citadas, em 1944, pouco mais de 1600 judeus permaneciam na ilha. Para quem estava lá dentro, embora a vida parecesse estar mais difícil devido aos tempos de guerra, as notícias que chegavam do continente sobre o tratamento dos judeus pareciam exageradas e pouco prováveis de atingir de maneira contundente os habitantes da ilha. No seu livro, “Cem sábados”, Stella Levi comenta que ninguém se preparou realmente, porque não havia a perspectiva de que a deportação ocorresse e que, durante muito tempo, esse pensamento assombrou os sobreviventes, como se eles pudessem ter feito mais, salvado mais gente, saído enquanto era tempo. Não tinha como eles saberem disso. Fizeram o que puderam. 

Nos anos seguintes, conforme a Segunda Guerra avançou para o momento em que a derrota de Hitler já era iminente, alguns eventos perturbaram a vida da ilha: a abertura de frentes de combate contra tropas nazistas e fascistas se tornou prioridade depois de 1943, quando apenas a frente contra a União Soviética, no Leste Europeu, estava conseguindo avanços dentro dos territórios dominados pela Alemanha nazista. Bombardeios começam a atingir a ilha de Rodes devido a esses conflitos entre tropas do Eixo (Itália e Alemanha) e Aliados (principalmente Império Britânico e Império Francês). Casas são atingidas e a principal sinagoga da juderia é avariada por estes bombardeios. A guerra se torna mais palpável para a vida dos judeus.  

Começa também neste momento o aumento da presença de nazistas na Ilha: quando Benito Mussolini cai, em 1943, a apreensão da Alemanha nazista em relação à posse de pontos estratégicos no Mediterrâneo aumenta e, então, eles tomam a Ilha de Rodes, numa batalha chamada “Batalha de Rodes”, feita contra tropas italianas que tinham escolhido se manter fiel ao rei italiano e passaram a identificar os alemães como inimigos. 

O general alemão Ulrich Kleemann é enviado a Rodes, em 1943, e monta uma guarnição com mais de 8 mil homens. Rodes vê se aproximar a guerra e a presença nazista. 

Neste momento, o destino da comunidade já estava mais do que escrito, embora sua população o desconhecesse. 
Anteriormente entendidos como amigos da comunidade judaica, os italianos, que conviviam com a comunidade antes das leis antijudaicas, fizeram a recolha de dados demográficos da comunidade judaica e compartilharam com os alemães, que dispunham de todas as informações necessárias para conceber a deportação. 

Em 1944, na iminência da derrota, Adolf Eichmann, responsável pela execução da “Solução Final”, pede que as comunidades judaicas do Mediterrâneo sejam deportadas para o continente. Rodes estava incluída. 

Em julho de 1944, um comunicado chega à comunidade judaica de Rodes pedindo que todos recolhessem seus pertences e se apresentassem, no dia seguinte, no estádio da Ilha.  

A comunidade assim o fez, ignorando que isso se tratava da preparação para sua saída, sem retorno, da ilha. 

Durante o deslocamento da comunidade, os nazistas tocaram sirenes de guerra para garantir que as outras comunidades da ilha não vissem a movimentação que ocorria.  

Apenas 39 judeus da comunidade conseguiram ser salvos, porque tinham cidadania turca e o embaixador turco conseguiu intervir em favor da sua não deportação. Mais de 1600 judeus, contudo, não tiveram o mesmo destino, e embarcaram em navios abarrotados de pessoas em direção, primeiro, a Atenas. 

O cruzamento até a cidade durou uma semana. Durante este período, todas as necessidades físicas dos judeus começaram a ser negligenciadas, com sede, fome, frio e violência física sendo empregada contra todos. 

Ao chegarem ao continente, foram embarcados em comboios com direção a Auschwitz. Para eles, contudo, foi dito apenas que, em Atenas, sua cidadania turca seria contestada. Não era verdade. 

Durante o traslado até Auschwitz, muitos judeus morreram devido às condições insalubres dos comboios. Não havia água, todos tinham de fazer suas necessidades dentro do espaço do trem, sem qualquer privacidade. Não havia comida.  

Os corpos daqueles que morreram eram apenas jogados para fora do trem, quando esse parava em alguma estação, geralmente por motivos administrativos ou para reabastecimento dos soldados nazistas que acompanhavam os comboios. 

Chegam a Auschwitz em agosto de 1944.  

Mais de 2/3 daqueles que chegaram estarão mortos nas câmaras de gás em menos de duas horas depois da chegada ao campo de concentração, depois de passarem por um processo de escolha que distinguia pessoas capazes de serem usadas como mão de obra escrava. Idosos e crianças eram sumariamente enviados à morte. Passavam aqueles que eram adolescentes ou nos seus vinte anos.  

Nunca mais a comunidade judaica de Rodes se reergueu depois. Seus descendentes, contudo, mantêm viva a memória de um lugar onde muita alegria sempre teve espaço e um modo de vida muito particular embalou sonhos e vidas por gerações. 

Nunca mais! 

Dedico este texto ao meu trisavô, Benzion Levi, e à memória de sua mãe, Bulisa Turiel, sua irmã, Estrea Turiel, seu cunhado, Moshe Hugnu, seu tio, Joseph Turiel e sua tia, Ricca Turiel.

Tenho esta foto de minha tataravó, Bulisa Turiel, que foi uma das deportadas da comunidade a perecer em Auschwitz


Esta é a filha da Bulisa, Estrea Turiel, também morta em Auschwitz.

João Pedro Levy

Niteroi, 24/04/3025

(Postado, com extrema afeição e afinidade intelectual, por Paulo Roberto de Almeida, neste espaco de inteligência histórica, que é o blog Diplomatizzando).

PRA: 

Mensagem final de João Pedro Levy a seu amigo e outrora professor, que agora aprende com ele, uma pequena parte dessa história trágica e emotiva: 

"Muito obrigado pelo interesse nesta história que minha família e eu começamos a tomar conhecimento e a escrever.

Será a primeira vez que alguns bisnetos da Bulisa, ainda vivos, saberão o que ocorreu com ela. Estamos reintegrando a memória da família a essa memória coletiva maior. Minha pesquisa se iniciou há apenas 5 anos. 

Há um museu dedicado à história da comunidade judaica de Rodes na Califórnia. Já mandei para eles fotos da minha família que veio para o Brasil. Temos chance de aparecer em algum calendário enviado à comunidade anualmente para marcar a virada do ano judaico.

Quero muito visitar as instalações do Yad Vashem algum dia para ver os arquivos de minha família." JPL a PRA (24/04/2025)

Superhomens do super morticínio - Paulo Roberto de Almeida

Superhomens do super morticínio

Paulo Roberto de Almeida

        Existem personagens, dos mais sórdidos que a humanidade ocorreu de gerar, por esses acidentes de percurso que por acaso ocorrem nos últimos mil anos de irregular evolução civilizatória, que nos surpreendem a cada duas ou três gerações: esse espaço sombrio no cenário mundial já foi ocupado, nos anos 1930-40, por Hitler, por Mussolini e por Stalin, super crápulas que assassinaram, mandaram assassinar, gazear, fuzilar, esquartejar (e nisso cabe incluir os militaristas-fascistas japoneses na China em 1937-45), ou mataram os próprios comunistas, como Stalin. 

        No século XXI, eles têm legítimos sucessores, tão sórdidos quanto esses antecessores: Putin, em primeiro e distinguido lugar, o Hitler do século XXI, o homem que mais matou supostos “inimigos nazistas” e seus próprios soldados “carne de canhão”, desde que Stalin mandava avançar contra as metralhadoras nazistas em Stalingrado; depois Bolsonaro, o elogiador de torturadores, que, além de lamentar que a ditadura tinha “matado de menos”, mais matou seus próprios concidadãos brasileiros (aliás, em grande parte bolsonaristas), durante a pandemia, comparativamente ou proporcionalmente, mais que a própria China, foco da Covid, com novas “metralhadoras” do brutal negacionismo vacinal e da oposição a medidas profiláticas ao longo do seu horrendo mandato, durante o qual também destruiu a credibilidade diplomática do Brasil; em terceiro, mas não menos importante lugar, o idiota consumado e boçal delirante mandatário do  (ainda) Hegemon mundial, que não hesita em enviar inocentes emigrantes para seus dois Gulags, em Cuba e em El Salvador, onde podem ser esquecidos durante anos, como o foram os do Gulag stalinista. 

        Putin é uma mistura de Stalin e Hitler, sem o carisma de ambos, apenas a brutalidade. Trump é um bufão, como Mussolini ou Berlusconi, um idiota que está esfacelando tudo os próprios EUA construíram ao longo dos últimos 80 anos, entregando tudo, a própria Ucrânia, a Putin, de quem é um joguete e um serviçal obsequioso. Bozo é apenas um palhaço, dos mais patéticos na história do Brasil, um crápula boçal, que não deve ter sucessores na democracia de baixíssima qualidade que caracteriza atualmente o parlamentarismo fake do Brasil. 

        Esses personagens tenebrosos compõem um triste capítulo na história da humanidade, mas ainda não encerraram suas trajetórias respectivas neste passo sombrio do cenário mundial, que nos remete a tristes episódios dos anos 1930-40.

        Continuarei atento, neste meu quilombo de resistência intelectual, aos desdobramentos das ações dos super homens do morticínio.

Paulo Roberto Almeida

Brasília, 25/04/2025


quinta-feira, 24 de abril de 2025

Simpósio Stefan Zweig na Biblioteca Nacional, 25/04/2025 - Programação

 Simpósio Stefan Zweig na Biblioteca Nacional

25/04/2025 - Programação:


Minha saudação aos participantes: 

Mensagem ao Simpósio Stefan Zweig na Biblioteca Nacional

  

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Nota de saudação aos participantes do Simpósio Stefan Zweig, na Biblioteca Nacional, em 25/04/2025/, via Kristina Michahelles.

  

Saudação a todos os participantes e assistentes ao Simpósio Stefan Zweig na Biblioteca:

 

        Leitor de Stefan Zweig desde a juventude, apreciador de suas muitas biografias, com destaque especial de imenso deleite intelectual para o seu Erasmo, de prazer nômade com o périplo de Fernão de Magalhães, e de um olhar crítico para a política sombria com Fouché (que considero sua melhor biografia, a despeito do personagem execrável), gostaria de saudar todos os organizadores, palestrantes e assistentes deste simpósio, ao qual teria apreciado imensamente participar, como autor de um dos capítulos do livro sobre o Caleidoscópio de Zweig – mas retido em Brasília por outros afazeres –, tenho pelo menos o prazer de enviar minhas saudações a todos, assumindo, ao mesmo tempo um compromisso que pretendo cumprir tão pronto possível: 

        Mantenho, há muitos anos, o hábito de “abusar” de grandes autores do passado, usando suas obras seminais numa série de “clássicos revisitados”, ou seja, retomar essas obras marcantes da aventura humana, reter suas estruturas e estilo, mas reescrever o texto com base nas surpresas da contemporaneidade, refazendo sempre que possível com nossos problemas da atualidade, em especial a brasileira. Tomei essas liberdades com Marx, com Maquiavel, com Tocqueville, com Sun Tzu e, mais recentemente, com Milton Friedman.

        Pois assumo o compromisso de entregar, a curiosos leitores, dentro de alguns meses, minha releitura do “Brasil país de futuro”, que vai rever a visão e as promessas generosas feitas por Stefan Zweig a nosso respeito em 1941. Promessa feita, já está inscrita na minha lista de “trabalhos futuros”. Até lá, saudações a todos e feliz simpósio.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4905, 24 abril 2025, 1 p.

 


A inaceitável viagem de Lula a Moscou, a convite de Putin - Paulo Roberto de Almeida

A inaceitável viagem de Lula a Moscou, a convite de Putin  

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Nota sobre a projetada viagem de Lula a Moscou em 9 de maio de 2025

  

        O Presidente Lula aceitou, desde o primeiro minuto, o convite do presidente russo Vladimir Putin para participar em Moscou, no próximo dia 9 de maio das comemorações pelos 80 anos da vitória da antiga União Soviética na chamada “Grande Guerra Patriótica” – nome dado por Stalin – contra as forças da Alemanha nazista, no dia seguinte à assinatura da rendição da Wehrmacht em Berlim (as forças ocidentais o fizeram na cidade francesa de Reims, no mesmo dia 8 de maio). 

           Tanto a comemoração quanto a sinalização desse dia como marcando o final da Segunda Guerra Mundial no teatro europeu passam por cima de um outro fato histórico muito significativo. A guerra deslanchada por Hitler em setembro de 1939, ao invadir a Polônia, não teria sido possível sem a assinatura prévia, em Moscou, no dia 26 de agosto daquele ano, do Pacto Ribbentrop-Molotov, de não agressão entre a Alemanha nazista e a União Soviética stalinista, sem o qual Hitler não teria iniciado a sua guerra de agressão. Relembre-se ainda que, um protocolo secreto anexo ao Pacto, dividia a Polônia entre os dois poderes totalitários, tendo a URSS invadido a Polônia pela sua fronteira oriental poucas semanas depois. 

        Durante dois anos, de setembro de 1939 a junho de 1941, a União Soviética forneceu à Alemanha nazista alimentos, minerais, combustíveis e equipamentos, os quais foram usados por Hitler para subjugar as democracias da Europa ocidental, em novas guerras de agressão devastadoras. A União Soviética já abastecia amplamente a Alemanha da República de Weimar desde os anos 1920, dois países à margem dos sistemas de segurança da Liga das Nações, e continuou o fazendo sob a Alemanha dominada por Hitler, mesmo quando a doutrina oficial da nação comunista era a luta antifascista. A cooperação mútua, bem mais proveitosa à Alemanha nazista do que à URSS, teria continuado, se Hitler não tivesse traído o Pacto de Não Agressão e lançasse a Operação Barbarossa, em junho de 1941. 

        A “pátria do socialismo” não teria sobrevivido aos terríveis ataques da Wehrmacht se não fosse pela maciça ajuda das duas grandes democracias unidas nas Nações Aliadas, Estados Unidos e Reino Unido, que vieram em socorro da URSS nos momentos de maior perigo e durante toda a contraofensiva a partir de 1943. Em outros termos, não se pode esquecer que foram as democracias ocidentais que permitiram à União Soviética fazer frente ao poderio da Alemanha nazista em sua “Grande Guerra Patriótica”.

        Registre-se que a doutrina jurídica da diplomacia brasileira, mesmo durante a vigência do Estado Novo, de notórias simpatias pelos fascismos europeus (até pelo menos 1942), repudiou a invasão armada da Alemanha nazista contra a Polônia em 1939, e instruiu seu ministro (embaixador) na legação em Varsóvia a seguir o governo polonês no exílio. Da mesma forma, o Estado Novo, e depois a República de 1946, nunca aceitou a usurpação territorial soviética contra os três estados bálticos, Estônia, Lituânia e Letônia (com os quais mantínhamos relações diplomáticas desde 1921), e continuou não aceitando a usurpação de suas soberanias até 1961, quando o Presidente Jânio Quadros restabelece relações diplomáticas com a URSS. 

        O Brasil votou na ONU contra a usurpação territorial do Kuwait, invadido pelo ditador Saddam Hussein em 1990, e sua diplomacia sempre acatou os princípios fundamentais do Direito Internacional durante toda a vigência do sistema da ONU desde 1945. O primeiro distanciamento dessa doutrina jurídica da diplomacia brasileira ocorreu sob o governo Dilma Rousseff, quando forças não identificadas, mas distintamente russas, invadiram e anexaram ilegalmente a península ucraniana da Crimeia, em fevereiro de 2014; vários países membros, de acordo a dispositivos da Carta da ONU, condenaram a usurpação russa do território de um país soberano, mas o governo Dilma Rousseff mostrou-se totalmente indiferente ao assunto. Até o governo Donald Trump, no seu primeiro mandato, repudiou a invasão e confirmou, pela voz do seu Secretário de Estado, que os Estados Unidos não reconheciam a Crimeia como sendo pertencente à Federação Russa.

        Em 2022, pouco antes da invasão da Ucrânia por tropas das Forças Armadas da Rússia, o Presidente Jair Bolsonaro, contra as recomendações do Itamaraty, efetuou uma visita a Putin, durante a qual se declarou “solidário” ao país, tendo ao mesmo tempo mantido e aumentado as importações brasileiras de fertilizantes e de combustíveis russos, a despeito de depois condenar, mas apenas formalmente, a guerra de agressão iniciada em 24 de fevereiro daquele ano, por meio do acatamento a uma resolução da Assembleia Geral, na qual não discriminava o país agressor e apenas recomendava uma solução pacífico ao conflito “entre as partes”, como se elas fossem equivalentes. O governo Lula agravou o desrespeito pelo Brasil das normas mais elementares do Direito Internacional, e da própria Carta da ONU, e não vir em socorro a parte agredida, tendo, ao contrário, elevado extraordinariamente as importações brasileiras de fornecimentos russos, demonstrando objetivamente o seu apoio ao agressor. 

        Durante os três anos de guerra, o governo Lula não demonstrou qualquer solidariedade à parte agredida, tendo acatado diversas das teses russas sobre as origens do conflito e possíveis soluções propostas a um cessar fogo, todas elas contrariando disposições da Carta da ONU e diferentes instrumentos do direito internacional humanitário. Ao contrário, tendo já sido expedido mandado de busca e apreensão contra o presidente Vladimir Putin, pelo Tribunal Penal Internacional, do qual o Brasil é membro fundador, o presidente Lula manifestou abertamente sua contrariedade pelo fato de não poder acolher o presidente russo na reunião de cúpula do G20 realizada no Brasil em novembro de 2024, tendo mesmo efetuado tentativas de acolhê-lo no Brasil sem ter de acatar as obrigações estabelecidas no Estatuto de Roma.

        Uma eventual viagem do presidente a Lula a Moscou, num dos momentos mais cruéis da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, confirmaria, para vergonha da doutrina jurídica da diplomacia brasileira, um apoio confirmadamente objetivo à potência agressora, contrariando até mesmo as cláusulas de relações internacionais constantes do artigo 4º da Constituição brasileira de 1988.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4904, 24 abril 2025, 3 p.

 



Simpósio Stefan Zweig no caleidoscópio do tempo: Biblioteca Nacional

Simpósio Stefan Zweig no caleidoscópio do tempo

Biblioteca Nacional, 25/04/2025
Stefan Zweig é mais atual do que nunca e sua universalidade é comprovada pelas reedições e adaptações das suas obras para telas e palcos ao redor do globo.
O simpósio Stefan Zweig no caleidoscópio do tempo, realizado pela Casa Stefan Zweig de Petrópolis, pela embaixada da Áustria em Brasília e pela Fundação Biblioteca Nacional, joga luz sobre o escritor austríaco que se exilou no Brasil em duas mesas redondas e com a exibição do episódio sobre Zweig da série Canto dos Exilados.
O evento é gratuito, ocorre sexta-feira, 25 de abril, das 10h às 17h no Auditório Machado de Assis, da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, e contará com transmissão ao vivo pelos canais do YouTube do Casa Stefan Zweig (@casastefanzweigdigital) e da FBN (@FundacaoBibliotecaNacional). Estudantes universitários podem solicitar certificado de presença pelo e-mail casastefanzweig@gmail.com
Até hoje, Stefan Zweig (1881-1942) é um dos autores de língua alemã mais publicados e lidos no mundo. Mais de 25 mil pessoas viram a exposição Stefan Zweig, autor universal no saguão da Biblioteca Nacional de meados de dezembro de 2024 a meados de fevereiro deste ano. O simpósio será aberto às 10h30 pelo presidente da Fundação Biblioteca Nacional, Marco Lucchesi, pelo embaixador austríaco Stefan Scholz e pelo presidente da Casa Stefan Zweig de Petrópolis, Israel Beloch e explora os motivos do sucesso e da força da obra e das ideias humanistas de Zweig.
As duas mesas-redondas reúnem alguns dos autores da primeira coletânea de textos de autores brasileiros sobre o escritor que escolheu Petrópolis para passar seus últimos meses de vida.
“Stefan Zweig no caleidoscópio do tempo” é o título do livro lançado em junho de 2024 pela Casa Stefan Zweig de Petrópolis em parceria com o Laboratório de Estudos Judaicos da Universidade de Uberlândia em Minas Gerais.
Na primeira mesa-redonda, das 11h às 12h30, os historiadores Israel Beloch e Fábio Koifman falarão respectivamente sobre Zweig e seu “fígado negro” e “Brasil, país do futuro” antes de Stefan Zweig.
O tema do editor José Luiz Alquéres, conselheiro da Casa Stefan Zweig e membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, é Stefan Zweig e a visão da realidade.
Tradutora de 12 títulos do autor austríaco, a jornalista e diretora executiva da Casa Stefan Zweig, Kristina Michahelles, tem como tema Luminoso e trágico, atual e universal.
A mesa-redonda da tarde será composta pelos professores Maria das Graças Salgado, da UFRRJ (Problemas no paraíso: língua, gênero e emoção no país do futuro), Geovane Souza Melo, da Universidade Federal de Uberlândia (A unidade espiritual do mundo, ou do legado intempestivo de Stefan Zweig) e Rainer Guggenberger, da UFRJ (O drama da voz oprimida e do bom conselho ignorado: o Tersites alternativo de Stefan Zweig no fim do império austro-húngaro).
Depois do coffee-break, exibiremos o episódio Stefan Zweig (Telenews, 2016, 15’38’’), da série Canto dos Exilados, dirigido por Leonardo Dourado.
O evento se encerra às 17h.

terça-feira, 22 de abril de 2025

O processo de reconhecimento da independência da ótica do Brasil - Paulo Roberto de Almeida

 Este trabalho aqui, sobre a bibliografia do reconhecimento da independência do Brasil foi feito para um seminário na USP:

4319. “O processo de reconhecimento da independência da ótica do Brasil”, Brasília, 12 fevereiro 2023, 37 slides. Apresentação feita para participação em seminário USP-Fapesp, no quadro da Escola São Paulo de Ciência Avançada Bicentenário da Independência do Brasil, no dia 13/02/2023, no auditório da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da USP (Avenida Professor Luciano Gualberto, 315). Divulgado na plataforma Academia.edu (22/04/2025; link: https://www.academia.edu/128953191/4319_O_processo_de_reconhecimento_da_independ%C3%AAncia_do_Brasil_203_

President Donald Trump has violated his constitutional oath - USA Threads

President Donald Trump has violated his constitutional oath 

USA Threads, April 21, 2025

Today, U.S. President Donald Trump violated his constitutional oath by publicly declaring on Truth Social: "We cannot give everyone a trial, because to do so would take, without exaggeration, 200 years." This statement explicitly rejects the constitutional right to due process, guaranteed to every individual within U.S. jurisdiction by both the Fifth and Fourteenth Amendments. 

By openly dismissing a foundational constitutional protection, President Trump has directly betrayed his oath of office, outlined clearly in Article II, Section 1 of the Constitution: to "preserve, protect, and defend the Constitution of the United States." The President’s role explicitly requires upholding constitutional principles, not disregarding or circumventing them for expediency or political convenience. 

This violation is not merely a policy disagreement or partisan conflict; it is an intentional breach of the fundamental constitutional obligations entrusted to the Presidency. Trump's statement represents an unprecedented threat to the rule of law and undermines the very structure of American democracy. Allowing a President to openly reject constitutional rights sets a dangerous precedent that weakens the foundation of American constitutional governance. 

Given the gravity and clarity of this breach, the Constitution itself provides a remedy: removal from office through impeachment. President Trump's explicit rejection of due process rights demonstrates unequivocally that he is unwilling or unable to uphold the Constitution. For the preservation of constitutional integrity, the rule of law, and the fundamental principles upon which the United States is founded, President Trump must be removed from office. 

Como seria uma crise do dólar? - The Economist

 Como seria uma crise do dólar?

Se os investidores continuarem vendendo ativos americanos, um destino sombrio aguarda a economia mundial
The Economist, 19/04/2025

O dólar deveria ser uma fonte de segurança. Mas, ultimamente, tem sido motivo de medo. Desde seu pico em meados de janeiro, o dólar americano caiu mais de 9% em relação a uma cesta de moedas importantes. Dois quintos dessa queda ocorreram desde 1º de abril, mesmo com o rendimento dos títulos de dez anos do Tesouro americano subindo 0,2 ponto porcentual. Essa combinação de rendimentos em alta e moeda em queda é um sinal de alerta: se os investidores estão fugindo mesmo com os retornos em alta, deve ser porque acham que os Estados Unidos ficaram mais arriscados. Há rumores de que grandes gestores de ativos estrangeiros estão se desfazendo de dólares.
Ao longo de décadas, os investidores contaram com a estabilidade dos ativos americanos, transformando-os em pilares das finanças globais. A profundidade de um mercado de US$ 27 trilhões ajuda a fazer com que os títulos do Tesouro americano sejam um refúgio; o dólar domina o comércio em tudo, desde bens e commodities até derivativos. O sistema é sustentado pelo Federal Reserve (Fed), que promete inflação baixa, e pela robusta governança dos Estados Unidos, sob a qual estrangeiros e seu dinheiro sempre se sentiram seguros e bem-vindos. Em poucas semanas, o presidente Donald Trump trocou essas premissas inabaláveis por dúvidas de revirar o estômago.
Esta crise foi criada pela Casa Branca. A imprudente guerra comercial de Trump elevou as tarifas em quase dez vezes e gerou incerteza econômica. Antes invejada pelo mundo, a economia americana agora está à beira da recessão, com as tarifas quebrando as cadeias de suprimentos, impulsionando a inflação e prejudicando os consumidores.
Isso ocorre no momento em que a posição fiscal historicamente ruim dos Estados Unidos está se agravando ainda mais. As dívidas líquidas estão em cerca de 100% do PIB; o déficit orçamentário do último ano (7%) foi surpreendentemente alto para uma economia saudável. Mesmo assim, em sua busca para renovar e estender os cortes de impostos do primeiro mandato de Trump, o Congresso quer tomar ainda mais empréstimos: em 10 de abril, aprovou um projeto orçamentário que pode adicionar US$ 5,8 trilhões em déficits na próxima década, de acordo com o “think tank” Committee for a Responsible Federal Budget. Isso aumentaria o déficit em mais 2 pontos porcentuais e excederia o valor total combinado dos cortes de impostos do primeiro mandato de Trump, os gastos extras da pandemia de covid-19 e os projetos de estímulo e infraestrutura de Joe Biden. E poderia dobrar o ritmo de aumento da relação dívida/PIB nos próximos anos.
O que faz com que esta crise econômica e a perda de disciplina fiscal sejam tão explosivas é o fato de que os mercados estão começando a duvidar da capacidade de Trump de governar os Estados Unidos com competência e coerência. A maneira caótica e desconexa como as tarifas foram calculadas, divulgadas e adiadas pareceu uma paródia do que deveria ser a formulação de políticas. Isenções intermitentes e tarifas setoriais promovem o lobby. Durante décadas, os Estados Unidos sinalizaram cuidadosamente sua dedicação a um dólar forte. Hoje, alguns assessores da Casa Branca falam sobre a moeda de reserva como se fosse um fardo a ser compartilhado – sob coerção, se necessário.
Inevitavelmente, isso deixa o Federal Reserve em dificuldade. Trump está pressionando o banco central a reduzir as taxas de juros. É provável que os tribunais o impeçam de demitir os diretores do Fed como bem quiser, mas ele poderá nomear um novo presidente mais complacente em 2026. Enquanto isso, as outras políticas de Trump – como o envio de migrantes para El Salvador sem audiência ou a perseguição a escritórios de advocacia que o desagradam – fazem pensar que os direitos dos credores estrangeiros podem ser prejudicados.
Tudo isso criou um prêmio de risco para os ativos americanos. O mais chocante é que também está fácil imaginar uma crise total no mercado de títulos. Os estrangeiros possuem US$ 8,5 trilhões da dívida pública, um pouco menos de um terço do total; mais da metade desse valor está nas mãos de investidores privados, que não podem ser persuadidos pela diplomacia ou ameaçados com tarifas. Os Estados Unidos precisam refinanciar US$ 9 trilhões de dívidas no ano que vem. Se a demanda por títulos do Tesouro enfraquecer, o impacto será rapidamente transmitido ao Orçamento, que, devido à dívida alta e aos vencimentos curtos, é sensível às taxas de juros.
O que o Congresso faria, então? Quando os mercados entraram em colapso durante a crise financeira global e a pandemia, a Casa agiu com firmeza. Mas essas crises exigiam que gastasse, não que impusesse cortes. Desta vez, o Congresso precisaria cortar os direitos previdenciários e aumentar os impostos rapidamente. Basta conferir a composição do Congresso e da Casa Branca para perceber que os mercados talvez precisassem fazer muita pressão para que enfim o governo chegasse a um consenso sobre o que fazer. Durante esse momento de hesitação, o choque poderia se espalhar dos títulos do Tesouro americano para o restante do sistema financeiro, provocando calotes e estouros de fundos de hedge. É o tipo de comportamento que se esperaria de um mercado emergente.
O Fed, por sua vez, enfrentaria um dilema doloroso. Poderia comprar ativos para estabilizar o navio. Mas evitaria dar a impressão de estar monetizando a dívida de um governo sem credibilidade – medida especialmente arriscada quando a inflação está alta. Conseguiria encontrar o equilíbrio entre empréstimos emergenciais e financiamento monetário? E se o Fed não estivesse socorrendo Trump, o presidente aprovaria que o banco central emprestasse dólares a bancos centrais estrangeiros sem liquidez, como costuma fazer em momentos de crise?
Uma moeda é tão boa quanto o governo que a respalda. Quanto mais tempo o sistema político americano passasse fracassando no enfrentamento de seus déficits ou flertando com regras caóticas ou discriminatórias, maior a probabilidade de uma reviravolta sem precedentes empurrando o sistema financeiro global para território desconhecido. Mesmo que as coisas se acalmassem, a redução do papel do dólar seria uma tragédia para os Estados Unidos. É verdade que alguns exportadores se beneficiariam de uma moeda mais fraca. Mas a primazia do dólar reduz o custo de capital para todos, desde famílias que querem comprar seu primeiro imóvel até empresas de ponta.
Mordendo a mão que financia
O mundo sofreria porque não existe nada igual ao dólar – apenas imitações baratas. O euro é lastreado por uma vasta economia, mas a Zona do Euro não produz ativos seguros o suficiente. A Suíça é segura, mas pequena. O Japão é grande, mas tem dívidas gigantescas. Ouro e criptomoedas carecem de respaldo estatal. À medida que os investidores experimentassem um ativo e depois outro, a busca por segurança poderia gerar altos e baixos desestabilizadores.
O sistema dólar não é perfeito, mas fornece a base estável sobre a qual se ergue a economia globalizada de hoje. Quando os investidores duvidam da credibilidade dos Estados Unidos, essas fundações correm o risco de ruir.

Putin e Lula conversam por telefone e reforçam aproximação entre Brasil e Rússia (Diário da Guanabara)

 Lula não vê nenhum problema em que Putin seja um criminoso de guerra; se pudesse o traria ao Brasil (já quis fazê-lo no G20 de 2024). A diplomacia de Lula possui algum sentido moral? Aparentemente nenhum:

Putin e Lula conversam por telefone e reforçam aproximação entre Brasil e Rússia

Diário da Guanabara, 16/04/2025

Neste cenário, o Brasil busca manter uma política externa multilateral, voltada ao diálogo com diferentes blocos.


Ou seja, para Lula não há nenhum problema em “estreitar relações” com um procurado pelo TPI.  PRA


Continuidade da matéria:

“O presidente da Rússia, Vladimir Putin, informou nesta segunda-feira (15) que conversou por telefone com o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva. A declaração foi feita durante uma reunião com chefes municipais russos, na qual Putin destacou a importância de expandir os laços diplomáticos com diferentes parceiros ao redor do mundo.

“Acabei de falar com o presidente do Brasil. Temos contatos muito próximos, e nossos amigos e parceiros são sempre a favor de expandir esses contatos”, afirmou o líder russo, demonstrando disposição para intensificar a cooperação bilateral com o Brasil.

A conversa ocorre em um momento de reforço nas relações diplomáticas entre os dois países. No fim de março, o assessor especial da Presidência da República, Celso Amorim, confirmou que Lula deve visitar a Rússia em maio para se reunir pessoalmente com Vladimir Putin. A visita é aguardada com expectativa, especialmente diante do cenário geopolítico atual e do papel do Brasil como articulador em fóruns internacionais como os BRICS.

Além da pauta diplomática, a viagem poderá envolver discussões sobre comércio, segurança alimentar, energia e parcerias estratégicas, temas de interesse mútuo que vêm ganhando destaque nas trocas entre Brasília e Moscou.

A aproximação entre Brasil e Rússia ocorre num contexto global marcado por tensões entre potências ocidentais e o Kremlin. Neste cenário, o Brasil busca manter uma política externa multilateral, voltada ao diálogo com diferentes blocos.

A Presidência brasileira ainda não divulgou detalhes oficiais da agenda da viagem de Lula à Rússia, mas a expectativa é de que o encontro reforce os laços estratégicos entre os dois países e fortaleça a atuação conjunta no cenário internacional.”

Pope Francis was a globalist in an age of nationalists - Ishaan Tharoor (WP)

 

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