O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Imprensa libre, pero no mucho...; liberdade de expressao, ma non troppo - SIP e Brasil


G1, 14/10/2012 14h55 - Atualizado em 14/10/2012 16h21

Human Rights Watch critica 'silêncio do Brasil' na América Latina


Diretor diz que região vive momento crítico para liberdade de expressão.
Segundo ele, país silencia e 'dá oxigênio' para iniciativas de países vizinhos.

Amauri ArraisDo G1, em São Paulo
71 comentários
O diretor da organização de direitos humanos Human Rights Watch para as Américas, o chileno José Miguel Vivanco, criticou o Brasil neste domingo (14) por não se pronunciar sobre tentativas de outros países da América Latina de restringir a liberdade de expressão e de imprensa, durante o terceiro dia da 68ª Assembleia Geral da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP, na sigla em espanhol), que acontece em São Paulo.
Para Vivanco, que trabalhou como advogado da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA (Organização dos Estados Americanos), a política externa brasileira utiliza o argumento de não ingerência em assuntos internos dos países vizinhos para se isentar de defender a entidade.

“O sistema interamericano [de direitos humanos] é regional, onde o Brasil é um acionista, um dos mais influentes. O silêncio só faz avançar as tentativas de outros países inimigos da liberdade de expressão”, disse.
Chileno José Miguel Vivanco, direitos humanos Human Rights Watch para a América Latina (Foto: Flavio Moraes/G1)Chileno José Miguel Vivanco, direitos humanos Human Rights Watch para a América Latina (Foto: Flavio Moraes/G1)
 Em vez disso, segundo Vivanco, o Brasil “deu oxigênio aos esforços para restringir liberdades [na região]”, ao convocar de volta o embaixador brasileiro na OEA e suspender o pagamento da cota de 2012 à entidade, no ano passado.
A decisão foi uma retaliação do governo brasileiro a uma medida cautelar da OEA exigindo a suspensão imediata do processo de licenciamento e construção do complexo hidrelétrico de Belo Monte, para esclarecer sobre os possíveis impactos em comunidades indígenas na região.
'Momento crítico'
Na opinião do advogado chileno, a América Latina passa por “um momento crítico, difícil para a vigência das liberdades dos povos e dos direitos humanos”.
“É do conhecimento de todos que existem governos nessa região com claras tendências autocráticas, que não concordam com esses valores (...), que não respeitam as garantias democráticas e infelizmente estão no poder”, criticou, citando nominalmente os países que fazem parte da Alba (Aliança Bolivariana para os povos da América).
De acordo com Vivanco, encabeçados pelo presidente do Equador, Rafael Correa, estes países “exportam práticas contra a liberdade de expressão” e “encontram acolhida” não apenas em outros governos com a mesma agenda, mas também em países “que tem reclamações, que se incomodam cada vez que a entidade tenta melhorar suas práticas”, caso do Brasil.
“Dadas essas circunstancias é que os países da Alba, especialmente Equador e Venezuela, encontraram terreno fértil para se lançar contra a relatoria de Liberdade de Expressão [da OEA], disse o advogado, referindo-se a demanda destes países por uma reforma na entidade.
A programação do evento na íntegra está disponível na página da 68ª Assembleia Geral da Sociedade Interamericana de Imprensa na internet.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Gauchos nas antipodas: entre o progresso e o atraso...

Interessante esta matéria do jornalista Políbio Braga sobre dois universos à parte: um, o privado, prefere aprender novas tecnologias, em benefício do seu setor produtivo; o outro, o governamental, prefere apostar no atraso, em detrimento do primeiro, e aprofundando a improdutividade da máquina do Estado.
Bizarro, não é mesmo: o mesmo estado exibe homens sensatos, racionais, e seres estranhos, reacionários, irracionais.
Paulo Roberto de Almeida 


Missões adversas
Políbio Braga, 15/10/2012

Não se tem notícias sobre a presença de autoridades do governo gaúcho na missão que 24 empresários do setor de laticínios do RS começou nesta segunda na Alemanha e concluirá na sexta na Holanda.
. A visita técnica inclui centros de melhoramento genético, laboratórios, universidades e centros profissionais de excelência.
. O governo estadual deu preferência à missão de 40 membros que levará dia 1º para a atrasadíssima Cuba, onde ninguém terá o que aprender -  além de endeusar os ditadores Castro e nadar nas tépidas águas de Varadero.

FMI: Colombia troca Grupo do Brasil pelo do Mexico

Consequência inevitável dos desacordos entre o Brasil e a Colômbia, inclusive por causa do humor mal-humorado -- se me permitem a contradição -- do representante brasileiro, a Colômbia prefere escapar dessa vizinhança que não lhe tem sido muito favorável, e ficar com quem pensa mais ou menos como ela.
O grupo Brasil vai ter sua participação diminuída nas organizações de Bretton Woods, o que sempre é uma pena. Mas, a culpa é do próprio Ministro Mantega: quem mandou votar para uma europeia para a direção do FMI? Por que não escolheu o mexicano, que poderia, com os EUA, realizar essas mudanças desejadas pelo Brasil, diminuindo o poder excessivo da Europa?
Paulo Roberto de Almeida 

Colombia to Leave Brazil IMF Group for Mexico’s, Uribe Says
Bloomberg, October 15, 2012

Colombia will leave Brazil’s group at the International Monetary Fund and join one headed by Mexico as part of a reshuffle at the lender’s board of directors, central bank chief Jose Dario Uribe said. 
“It’s a group where there’s a receptivity towards a country like Colombia, where there are great historical and commercial ties,” Uribe said in an interview in Tokyo today, where he is attending the IMF’s annual meetings. “It’s a group, without doubt, of interest.” Nicaragua, Cape Verde and East Timor will be added to Brazil’s constituency, according to an IMF document obtained byBloomberg News. 

Brazil has been one of the most vocal of the IMF’s 188 member countries, pushing policy makers to grant emerging marketsmore say at the institution and criticizing guidelines on capital controls. Brazil’s increasing clout on the global stage probably makes it challenging for a nation like Colombia to be heard, said Bessma Momani, a political science professor at the University of Waterloo in Canada. 
“It can be difficult to be in a group with a rising economic power like Brazil” that “can be self-centered in its pursuit of its agenda,” Momani said in an interview in Tokyo. “Without Colombia, Brazilians are freer to act as they will, but losing a Spanish-speaking country doesn’t help its legitimacy as a regional power.” 

Spain, Venezuela 
Colombia’s new group is currently represented on a rotational basis by Mexico, Spain and Venezuela, which takes over the leadership on Nov. 1. The chair’s voting power will rise as a result of Colombia joining, and cement the group’s position as the largest of three Latin American constituencies on the board. 
Uribe said details about Colombia’s role will be announced later. 
The movements on the 24-seat IMF board, which approves loans and economic assessments of member countries, aren’t limited to emerging economies. Europe is making changes in its constituencies to meet a 2010 pledge to reduce representation by two chairs in favor of developing economies. 

European Shifts 
Belgium, Luxembourg and the Netherlands are forming their own group, along with countries currently represented by the Netherlands, Belgian Finance Minister Steven Vanackere told the IMF’s steering committee today. Turkey, Austria, the Czech Republic and Hungary are now in a group as well, and will rotate as executive directors, he said. 
The chair of Nordic countries will extend its rotation to Baltic members of the group, Swedish Finance Minister Anders Borg said. 
The European moves were criticized by Brazil and South Africa. Brazilian Finance MinisterGuido Mantega called them “cosmetic” and said they will upgrade the status of emerging markets from the European Union. 
“This of course fails to correct the overrepresentation of Europe in the board, sending yet another negative signal to the outside world,” Mantega said in his speech in Tokyo. 

A Petrobras dos companheiros, a Petrobras dos acionistas...

Parece que uma e outra são completamente indiferentes, estranhas, distantes, intocáveis, duas paralelas que não se encontram, a não ser no infinito.
Lamento pelos acionistas, mas vocês têm de reclamar com os companheiros, que fizeram da Petrobras um feudo privado e uma vaca leiteira, que só tira leite para eles...
Paulo Roberto de Almeida 

12/10/2012 18:33
Descobertas da Petrobras ainda não geram impacto financeiro e acionista se queixa de valor no mercado


Acionista da Petrobras escreveu para a redação doPortogente se queixando da falta de valorização das ações da empresa no mercado, mesmo após anúncio atrás de anúncio em relação à ocorrência e petróleo e gás em várias partes do Brasil.
Leia também
Valor da Petrobras cai R$ 65 bilhões em dois anos
Resultado da Petrobras no 3º trimestre está dentro do esperado, diz Graça Foster

É claro que esta relação não é tão simples assim. O lucro líquido informado pela Petrobras no primeiro semestre deste ano foi de R$ 7 bilhões 868 milhões, valor 64% inferior ao apurado no mesmo período de 2011. A companhia indica que o lucro abaixo do esperado ocorreu devido ao impacto da depreciação cambial sobre o endividamento e os custos.
A produção de petróleo no Brasil diminuiu 1% também no primeiro semestre e 5% em relação ao primeiro trimestre de 2012, especialmente na Bacia de Campos.
Portanto, os anúncios de novas descobertas não geram resultados financeiros imediatos, especialmente para os acionistas. Além das entradas financeiras, a Petrobras foca na diminuição dos custos, o que faz parte de um longo processo que também acontece na indústria petrolífera de qualquer parte do planeta. No entanto, antes de a sociedade se lambuzar com as riquezas do petróleo é preciso atenção para saber quais serão os reais resultados dessas descobertas

"Pessoal: vamos precisar de mais algum dinheiro público..."

Pois é, não contávamos com todas essas condenações, e também com essas tarifas extorsivas, caríssimas, de todos esses "adevogados" incompetentes. Tudo o que eles fizeram, a gente já tinha antecipado e pensávamos que os juízes indicados por nós seriam lenientes: caixa dois, enfim, fizemos o que todo mundo faz, como já disse o nosso chefe supremo, não togado, claro.
Esses "adevogados", além de não nos defender direito, ainda estão cobrando os olhos da cara, e de outros lugares também: milhões e milhões, para essas defesas vagabundas, chinfrins, que foram desmontadas facilmente pelos tiranetes togados.
Como é que vamos pagar tudo isso agora?
Nosso partido já não tem crédito no sistema bancário, os militantes relutam em dar dinheiro extra para defender os companheiros.
E, depois, tem aquela coisa: nosso partido havia prometido expulsar todo e qualquer companheiro pego com a boca na botija, roubando, extorquindo, enfim, cometendo esses crimes que todo mundo comete...
Pessoal, não tem jeito: vamos ter de descobrir maneiras criativas de conseguir alguma grana.
Sugestões são bem vindas; podem enviar diretamente para o nosso comitê central...
Observador imparcial...

Saiba quem já foi condenado no processo do mensalão

Abaixo, a relação dos condenados e absolvidos e os crimes a eles relacionados
Elza Fiúza/ABr
José Dirceu foi condenado por corrupção ativa e ainda será julgado por formação de quadrilha
CORRUPÇÃO ATIVAAto de oferecer vantagem, qualquer tipo de benefício ou satisfação de vontade, que venha a afetar a moralidade da Administração Pública. Pena: reclusão de dois a doze anos, mais multa
CondenadosJosé Dirceu
José Genoino
Delúbio Soares
Marcos Valério
Ramon Hollerbach
Cristiano Paz
Rogério Tolentino
Simone Vasconcelos
AbsolvidosGeiza Dias
Anderson Adauto
CORRUPÇÃO PASSIVASolicitar ou receber, para si ou para outros, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem. Pena: reclusão de dois a oito anos, mais multa
CondenadosJoão Paulo Cunha
Henrique Pizzolato
Pedro Corrêa
Pedro Henry
João Cláudio Genu
Valdemar Costa Neto
Jacinto Lamas
Bispo Rodrigues
Roberto Jefferson
Emerson Palmieri
Romeu Queiroz
José Borba
FORMAÇÃO DE QUADRILHAAssociarem-se mais de três pessoas para o fim de cometer crimes. Pena: reclusão de um a três anos
CondenadosPedro Corrêa
João Cláudio Genu
Enivaldo Quadrado
Valdemar Costa Neto
Jacinto Lamas
AbsolvidosPedro Henry
Breno Fischberg
Antonio Lamas
GESTÃO FRAUDULENTAGerir fraudulentamente instituição financeira. Pena: reclusão de três a doze anos, mais multa
CondenadosKátia Rabello
José Roberto Salgado
Vinicius Samarane
AbsolvidaAyanna Tenório
LAVAGEM DE DINHEIROOcultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos, valores provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal. Pena: reclusão de três a dez anos, mais multa
CondenadosMarcos Valério
Ramon Hollerbach
Cristiano Paz
Rogério Tolentino
Simone Reis
Kátia Rabello
José Roberto Salgado
Vinícius Samarane
João Paulo Cunha
Henrique Pizzolato
Pedro Corrêa
Pedro Henry
João Cláudio Genu
Enivaldo Quadrado
Breno Fischberg
Valdemar Costa Neto
Jacinto Lamas
Bispo Rodrigues
Roberto Jefferson
Emerson Palmieri
Romeu Queiroz
AbsolvidosGeiza Dias
Ayanna Tenório
Antonio Lamas
Anita Leocádia
Professor Luizinho
José Luiz Alves
EmpateJosé Borba
PECULATOCrime de apropriação por parte de funcionário público, de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou privado de que tenha posse em razão do cargo, ou desviá-lo em proveito próprio ou alheio. Pena: reclusão de dois a doze anos, mais multa(s)
CondenadosMarcos Valério
Ramon Hollerbach
Cristiano Paz
João Paulo Cunha
Henrique Pizzolato
AbsolvidoLuiz Gushiken
Ainda falta decisão:
Acusados porEVASÃO DE DIVISASEnviar dinheiro para o exterior sem declará-lo nem pagar os devidos impostos. Pena: reclusão de dois a seis anos, mais multaMarcos Valério
Ramon Hollerbach
Cristiano Paz
Simone Vasconcelos
Geiza Dias
Kátia Rabello
José Roberto Salgado
Vinícius Samarane
Duda Mendonca
Zilmar Fernandes
Acusados por formação de quadrilha:José Dirceu
José Genoino
Delúbio Soares
Marcos Valério
Ramon Hollerbach
Cristiano Paz
Rogério Tolentino
Simone Vasconcelos
Geiza Dias
Kátia Rabello
José Roberto Salgado
Vinícius Samarane

Eficiencia eficiente da infraestrutura brasileira: Viracopos

Sobre isto: 

Viracopos segue fechado após acidente com cargueiro e não há prazo para reabertura

Equipes da empresa Centurion Cargo e da Infraero trabalham na remoção do avião; 338 voos foram cancelados até as 8h

15 de outubro de 2012 | 3h 00


Não é surpreendente que ocorram acidentes com aviões, em qualquer tempo, em qualquer lugar.
O que é surpreendente é que um aeroporto plenamente funcional, inclusive com voos internacionais, funcione apenas e tão somente com uma única pista. Fechou, acabou...
Onde estamos para que tal disparate ocorra?
Numa republiqueta vagabunda?
Assim é, se lhe parece...
Paulo Roberto de Almeida 

A dificil competitividade brasileira - OESP

Você está em Economia
Início do conteúdo

O Brasil avança, mas ainda está no meio do caminho

Problemas de infraestrutura, impostos e educação deixam o País em situação ruim em rankings internacionais de competitividade

14 de outubro de 2012 | 21h 00
Renato Cruz, especial para O Estado de S. Paulo
 
 
 
O transporte de uma tonelada de soja produzida no norte de Mato Grosso para Xangai, na China, passando pelo Porto de Santos, pode chegar a US$ 180, segundo dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Em comparação, levar uma tonelada de soja de Davenport, nos Estados Unidos, para a mesma cidade chinesa custa US$ 108. Na fazenda, o produto brasileiro é mais barato, mas acaba se tornando mais caro por causa da deficiência logística. O custo do transporte representa 19% do valor final do produto americano, comparado a 30% do brasileiro.
O gargalo da infraestrutura, no entanto, é apenas um dos problemas que afetam a competitividade do Brasil. "A questão da competitividade está razoavelmente bem diagnosticada", afirma o economista José Roberto Mendonça de Barros, sócio da consultoria MB Associados.
"Não era tão clara há dois ou três anos, mas, ao longo do tempo, nos levou a uma grande convergência." Além da infraestrutura, ele aponta a complexidade do sistema tributário e a alta carga de impostos, a capacitação inadequada da mão de obra e a baixa qualidade da educação como pontos fundamentais que precisam ser melhorados para que o Brasil possa competir com mais sucesso no mercado global.
Os rankings globais de competitividade mostram um país no meio do caminho. No relatório mais recente do Fórum Econômico Mundial, o Brasil ficou em 48.º lugar, entre 144 países analisados. Outro estudo, feito pela Economist Intelligence Unit (EIU), mostrou o Brasil na 37.ª posição entre 82 países. Existe um contraste grande entre o posicionamento do País nesses rankings e o tamanho de sua economia, a sexta maior do mundo.
Num evento da Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação, em São Paulo, Justine Thody, diretora para as Américas da EIU, mostrou uma nova versão da famosa capa de uma edição de 2009 da Economist, em que o Cristo Redentor decolava como um foguete. A afirmação da capa original – "Brazil takes off" (Brasil decola) – ganhou um ponto de interrogação.
Segundo Justine, o Brasil foi o país que teve o crescimento mais prejudicado pela crise mundial entre os Brics (sigla que também inclui Rússia, Índia e China). "Também é o que tem a economia mais fechada", destacou. Ela mostrou o desempenho de um segundo grupo de países em desenvolvimento, chamado Civets (sigla em inglês de Colômbia, Indonésia, Vietnã, Egito, Turquia e África do Sul), que vem registrando um crescimento maior que o brasileiro.
Na lista do Fórum Econômico Mundial, o Brasil ganhou cinco posições no último ano, ficando pela primeira vez entre os 50 primeiros. O avanço se deu principalmente por melhoras na condição macroeconômica e na ampliação do uso de tecnologias da informação e comunicação. Entre os pontos positivos, o relatório destacou a sofisticação da comunidade de negócios do País (33.º lugar), em um dos maiores mercados internos do mundo (7.º). Entre os pontos negativos, estão a confiança nos políticos (121.º), a excessiva regulação do governo (144.º) e o desperdício de gastos públicos (135.º). A qualidade da infraestrutura de transportes ficou em 79.º lugar e a da educação em 116.º.
A pesquisa mostrou as regulações tributárias como o fator mais problemático para fazer negócios no Brasil, sendo apontado em 18,7% das respostas. Em segundo lugar, veio a oferta inadequada de infraestrutura (17,5%), seguida da carga tributária (17,2%), da burocracia governamental ineficiente (11,1%) e das regulações trabalhistas restritivas (10,1%).
Gargalos. Os impostos brasileiros não são somente altos. Também é complicado pagá-los. Segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), a carga tributária brasileira, que está próxima de 36% do Produto Interno Bruto (PIB), é a quarta maior do mundo, ficando atrás somente de Suécia, Noruega e Dinamarca. O excesso de regulação exige que as empresas cumpram 97 obrigações contábeis, o que representou, em 2011, um custo médio de 1,5% de seu faturamento.
"As empresas gastam muito nas chamadas informações parafiscais, que as empresas são obrigadas a enviar para a Receita", disse o economista Mendonça de Barros. Ele destacou que, se o Fisco simplificasse e tornasse mais claros os regulamentos, se reduzisse a quantidade de relatórios que as empresas precisam fornecer, já haveria um aumento de competitividade, mesmo sem mexer na carga tributária.
Recentemente, o governo anunciou um pacote de concessões que prevê o investimento de R$ 133 bilhões em ferrovias e rodovias federais. Para o professor Carlos Arruda, da Fundação Dom Cabral, tudo vai depender da execução. "Nos últimos anos, houve projetos fantásticos de infraestrutura, que não foram implementados", disse. A Fundação Dom Cabral é parceira do Fórum Econômico Mundial na elaboração do estudo sobre competitividade.
Boa parte dos projetos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) está atrasada por problemas como falta de licenciamento ambiental e indícios de irregularidades. Em 2011, o investimento brasileiro em infraestrutura cresceu apenas 2%, chegando a R$ 173 bilhões, de acordo com a Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib).
Na área da educação, existe um problema emergencial, que é a falta de engenheiros e de profissionais com formação em ciências no Brasil. O grande desafio, no entanto, é aumentar a qualidade do ensino, principalmente do ensino fundamental.
O resultado mais recente do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), mostrou que o Brasil está abaixo da média dos países avaliados em leitura, ciências e matemática e que, nas três áreas, mais da metade dos estudantes não consegue passar do nível mais básico de compreensão.
O programa avalia jovens com 15 anos completos. "Países como Coreia do Sul e China cresceram com investimento na educação", destacou o professor Carlos Arruda. "Mas o avanço nessa área demora uma geração."
O transporte de uma tonelada de soja produzida no norte de Mato Grosso para Xangai, na China, passando pelo Porto de Santos, pode chegar a US$ 180, segundo dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Em comparação, levar uma tonelada de soja de Davenport, nos Estados Unidos, para a mesma cidade chinesa custa US$ 108. Na fazenda, o produto brasileiro é mais barato, mas acaba se tornando mais caro por causa da deficiência logística. O custo do transporte representa 19% do valor final do produto americano, comparado a 30% do brasileiro.


Populismo cambial? - Entrevista com Gustavo Franco (OESP)


"O câmbio hoje é tão fixo quanto na minha época"

Raquel Landim
O Estado de S. Paulo - 14/10/2012

Para economista, tripé da política econômica (superávit primário, câmbio flutuante e meta de inflação) está "machucado", mas "é preciso ter tolerância, porque o mundo mudou"
O economista Gustavo Franco está convic­to de que o Brasil abandonou o câm­bio flutuante e ado­tou limites para a va­riação da moeda - um regime igual ao do seu período no governo. "E tal qual o que praticávamos na mi­nha época. Gom a vantagem de que, se der tudo errado, as autoridades não vão se sentir falhando em seus compromissos."
A avaliação de Franco tem peso. Ele é o pai da "âncora cambial", que ajudou a garantir a vitória do Bra$il contra a hiperinflação, mas não re­sistiu a um ataque especulativo agu­do no fim do primeiro mandato de Fernando Henrique. Franco coman­dou o Banco Central (BC) de agos­to de 1997 a janeiro de 1999.
O Estado começa a publicar uma série de entrevistas com ex-presi­dentes do BC sobre a condução da política monetária, que define os ju­ros do País. Comandado por Alexan­dre Tombini, o BC enfrenta hoje um de seus maiores testes de credi­bilidade, com os investidores des­confiando da interferência da presi­dente Dilma Rousseff e do ministro da Fazenda, Guido Mantega, em suas decisões.
Franco afirma que o tripé da polí­tica econômica - superávit primá­rio, câmbio flutuante e meta de in­flação - está "machucado", mas "é preciso ter tolerância, porque o mundo mudou". Ele diz ainda que os juros altos não são "produto da ganância dos bancos", como a infla­ção não era culpa da "ganância dos supermercados".
A seguir, trechos da entrevista.
O tripé da política econômica se mantém no governo Dilma?
É preciso nunca esquecer que o tri­pé reflete coisas mais profundas, que são responsabilidade fiscal, abertura da economia e moeda sã. Ou seja, existem princípios estraté­gicos da boa política econômica, que podem assumir um aspecto táti­co conforme a circunstância. É pre­ciso ter um pouco de tolerância. As noções de disciplina monetária e au­tonomia do BC foram desarruma­das com a crise de 2008. Há uma perplexidade sobre qual é o novo mandato dos BCs. É claro que isso teve repercussão no Brasil. A infla­ção está bem comportada, após as agressões que o tripé sofreu. Mas o momento é muito perigoso.
Por quê?
É aquela história: você tira um tijoli- nho da parede e nada acontece, en­tão tira mais um, e quando tirar o décimo e a parede desabar, vai reclamar que houve reação exagerada. Só que você está destruindo a cons­trução faz tempo. Parece que pode­mos fazer uma política fiscal expansionista, com forte crescimento do BNDES, sem ter conseqüências. É surpreendente que a inflação não te­nha reagido a tantos desafios. A ve­lha senhora apanhou à beça nesses anos de estabilização, mas sabemos que é complicado se ela acordar.
O mandato do BC é controlar a infla­ção, mas os críticos dizem que agora também tem meta de crescimento e de câmbio. Qual é a sua opinião?
Mudaram bastante os entendimen­tos canônicos sobre o que é o man­dato do BC. Qualquer BC hoje tem cinco mandatos. É fácil atirar pedra dizer que obedecem a vários manda­tos ao mesmo tempo, mas é o que a conjuntura exige. Até certo ponto, ok. Mas fomos um pouco longe demais. A manutenção do tripé como uma dou­trina ensejou a busca de brechas, co­mo as medidas macroprudenciais e a emissão de dívida pública para empres­tar ao BNDES. Com essas brechas, o tripé fica descaracterizado. As pessoas vão achar que jogaram fora o tripé e não colocaram nada no lugar. Então di­gam que o tripé agora tem quatro per­nas e é uma cadeira. O mercado se acostuma com a ideia. Se não explicar, fica parecendo que são gambiarras.
Dilma quer entrar para a história co­mo a presidente que baixou os juros. Vai conseguir?
E muito bom que tenha esse objetivo. É o problema número um da econo­mia brasileira, como foi a inflação. E re­duzir os juros a níveis normais pode ter impacto comparável ao da estabili­zação. O objetivo está ok, mas não se pode errar no diagnóstico. No comba­te à inflação, erramos várias vezes. O exemplo mais canhestro foram as cha­madas causas inerciais, que davam a sensação de que o congelamento de preços acabaria com a inflação. Tive­mos a repetição desse remédio algu­mas vezes. Por que é tão complexo re­duzir os juros? Seguramente não é um ato de vontade. Os juros são um preço de mercado, que refletem sobretudo a decisão das pessoas de comprar títu­los públicos. Não são produto da ga­nância. Lembre-se do tempo em que achavam que a inflação era alta no Bra­sil por ganância dos supermercados e dos oligopólios. Agora vejo elementos desse tipo de campanha para cima dos bancos. É perda de tempo. Significa uma politização indevida do tema, sem mexer no que é importante.
O diagnóstico do governo Dilma sobre os juros está equivocado?
Reduzir os juros deveria começar pelo aumento do superávit primário. Quan­to mais o Tesouro se endivida, mais pu­xa os juros para cima. Isso é o princi­pal, mas o governo só enxerga a políti­ca fiscal como instrumento para au­mentar a demanda. Se continuarmos querendo resolver o problema dos ju­ros no braço, vamos repetir o insuces­so das políticas de estabilização.
Claro. Hoje temos uma situação sin­gular, que é uma combinação de ple­no emprego com demanda fraca. Se setor privado acordar, a economia sobreaquece. Por isso, a maior parte dos especialistas projeta que, se o impulso fiscal continuar e o setor privado se animar, a inflação vai bei­rar o limite de tolerância do sistema de metas em seis meses. Se isso ocorrer, vai ter de subir os juros.
O Brasil tem hoje pouco espaço para choques externos de alta de preços?
A situação de pleno emprego torna o País sensível a qualquer choque de oferta. Mas a inflação não é o nos­so principal problema. O governo acerta no entendimento de que é preciso trabalhar para o crescimen­to. De novo, o problema é o diagnós­tico. Já temos todos trabalhando. O que gostaríamos é que o Brasil pro­duzisse mais. Este é um problema de produtividade. E como elevar a produtividade? Com mais escolari­dade, mais competição. Seguramen­te não é o gasto público. O desafio hoje é mudar o mix: aumentar o gas­to privado com investimento e redu­zir o gasto público corrente. O go­verno é ruim para fazer investimen­to. Gasta-se um dinheiro insano pa­ra fazer ponte, estrada, estádio de futebol. Custa cinco vezes p preço e dá tudo quanto é problema no TCU (Tribunal de Contas da União).
Em meio à crise global, é justificá­vel um câmbio mais controlado para defender a indústria?
É preciso pragmatismo nesse assun­to. Filosoficamente todos somos favoráveis ao câmbio flutuante. Mas existem circunstâncias e circunstân­cias. Fui presidente do BC numa época em que a manutenção do câm­bio era muito importante para asse­gurar uma conquista da sociedade, que é a vitória sobre a hiperinflação. A âncora cambial não é uma coisa para se fazer em circunstâncias nor­mais, mas foi fundamental para ga­nhar essa batalha. Hoje as circuns­tâncias são outras. Na opinião das autoridades, a manutenção de uma taxa de câmbio muito apreciada é danoso demais para a indústria. Não sei se compartilho, mas o Brasil não é o único país que pratica inter­venções no mercado de câmbio. Na­da disso é ilegítimo. Do jeito que es­tá sendo feito agora é uma banda cambial - tal qual a que praticáva­mos na minha época -, porém, não proclamada, com números não espe­cificados, sem ferramentas claras. E com a vantagem de que, se der tudo errado e o câmbio começar a se apre­ciar, as autoridades não vão se sen­tir falhando em seus compromissos.
A meta de inflação de 4,5% é alta?
A diferença é muito pequena, espe­cialmente para alguém como eu que estava no BC quando a inflação atin­giu 40% ao mês ou 6.000% ao ano (ele foi diretor de assuntos internacio­nais do BC no fim do governo Itamar). 3,5% ou 4,5% é muito bom. Se man­ter a meta em 4,5% for o preço para ajustar as finanças públicas e ter ju­ros de primeiro mundo, é justificável. Mas acima de 4,5% seria ruim para a credibilidade do sistema.
Ainda há muita indexação no Brasil?
Não. Esse assunto de indexação é um falso problema. As economias li­vres de inflação não impõem restri­ção à indexação. No Brasil, é assim. Só é proibido fazer contrato indexa­do a um índice de preço com prazo menor que um ano. Hoje o sistema anual funciona. Todos assinam con­tratos de aluguel. As empresas que fornecem energia em contratos de 30 anos estão satisfeitas com o reajuste anual. A indexação é um segu­ro que beneficia as duas partes de uma relação contratual. Deixa a in­dexação, não vamos mexer nisso.
O Plano Real completou 18 anos e quem nasceu na década de 90 nem sabe o que é hiperinflação. Ainda há risco de inflação descontrolada?
É sempre bom guardar a memória da tragédia. Não existem bem essas fronteiras, mas sabemos que, quan­do os contratos deixam de ter rea­juste anual e passam a semestral, a inflação pula de 25% para 40%. Se fo­rem para três meses, vai a 100%. En­tre o governo Figueiredo e o fim do governo Sarney, o Brasil passou de 100% ao ano para 83% ao mês. Cla­ro que essas tragédias requerem muitas coisas dando errado e não creio que vamos viver isso de novo. Mas não quer dizer que todos os problemas estejam resolvidos.