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segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Populismo cambial? - Entrevista com Gustavo Franco (OESP)


"O câmbio hoje é tão fixo quanto na minha época"

Raquel Landim
O Estado de S. Paulo - 14/10/2012

Para economista, tripé da política econômica (superávit primário, câmbio flutuante e meta de inflação) está "machucado", mas "é preciso ter tolerância, porque o mundo mudou"
O economista Gustavo Franco está convic­to de que o Brasil abandonou o câm­bio flutuante e ado­tou limites para a va­riação da moeda - um regime igual ao do seu período no governo. "E tal qual o que praticávamos na mi­nha época. Gom a vantagem de que, se der tudo errado, as autoridades não vão se sentir falhando em seus compromissos."
A avaliação de Franco tem peso. Ele é o pai da "âncora cambial", que ajudou a garantir a vitória do Bra$il contra a hiperinflação, mas não re­sistiu a um ataque especulativo agu­do no fim do primeiro mandato de Fernando Henrique. Franco coman­dou o Banco Central (BC) de agos­to de 1997 a janeiro de 1999.
O Estado começa a publicar uma série de entrevistas com ex-presi­dentes do BC sobre a condução da política monetária, que define os ju­ros do País. Comandado por Alexan­dre Tombini, o BC enfrenta hoje um de seus maiores testes de credi­bilidade, com os investidores des­confiando da interferência da presi­dente Dilma Rousseff e do ministro da Fazenda, Guido Mantega, em suas decisões.
Franco afirma que o tripé da polí­tica econômica - superávit primá­rio, câmbio flutuante e meta de in­flação - está "machucado", mas "é preciso ter tolerância, porque o mundo mudou". Ele diz ainda que os juros altos não são "produto da ganância dos bancos", como a infla­ção não era culpa da "ganância dos supermercados".
A seguir, trechos da entrevista.
O tripé da política econômica se mantém no governo Dilma?
É preciso nunca esquecer que o tri­pé reflete coisas mais profundas, que são responsabilidade fiscal, abertura da economia e moeda sã. Ou seja, existem princípios estraté­gicos da boa política econômica, que podem assumir um aspecto táti­co conforme a circunstância. É pre­ciso ter um pouco de tolerância. As noções de disciplina monetária e au­tonomia do BC foram desarruma­das com a crise de 2008. Há uma perplexidade sobre qual é o novo mandato dos BCs. É claro que isso teve repercussão no Brasil. A infla­ção está bem comportada, após as agressões que o tripé sofreu. Mas o momento é muito perigoso.
Por quê?
É aquela história: você tira um tijoli- nho da parede e nada acontece, en­tão tira mais um, e quando tirar o décimo e a parede desabar, vai reclamar que houve reação exagerada. Só que você está destruindo a cons­trução faz tempo. Parece que pode­mos fazer uma política fiscal expansionista, com forte crescimento do BNDES, sem ter conseqüências. É surpreendente que a inflação não te­nha reagido a tantos desafios. A ve­lha senhora apanhou à beça nesses anos de estabilização, mas sabemos que é complicado se ela acordar.
O mandato do BC é controlar a infla­ção, mas os críticos dizem que agora também tem meta de crescimento e de câmbio. Qual é a sua opinião?
Mudaram bastante os entendimen­tos canônicos sobre o que é o man­dato do BC. Qualquer BC hoje tem cinco mandatos. É fácil atirar pedra dizer que obedecem a vários manda­tos ao mesmo tempo, mas é o que a conjuntura exige. Até certo ponto, ok. Mas fomos um pouco longe demais. A manutenção do tripé como uma dou­trina ensejou a busca de brechas, co­mo as medidas macroprudenciais e a emissão de dívida pública para empres­tar ao BNDES. Com essas brechas, o tripé fica descaracterizado. As pessoas vão achar que jogaram fora o tripé e não colocaram nada no lugar. Então di­gam que o tripé agora tem quatro per­nas e é uma cadeira. O mercado se acostuma com a ideia. Se não explicar, fica parecendo que são gambiarras.
Dilma quer entrar para a história co­mo a presidente que baixou os juros. Vai conseguir?
E muito bom que tenha esse objetivo. É o problema número um da econo­mia brasileira, como foi a inflação. E re­duzir os juros a níveis normais pode ter impacto comparável ao da estabili­zação. O objetivo está ok, mas não se pode errar no diagnóstico. No comba­te à inflação, erramos várias vezes. O exemplo mais canhestro foram as cha­madas causas inerciais, que davam a sensação de que o congelamento de preços acabaria com a inflação. Tive­mos a repetição desse remédio algu­mas vezes. Por que é tão complexo re­duzir os juros? Seguramente não é um ato de vontade. Os juros são um preço de mercado, que refletem sobretudo a decisão das pessoas de comprar títu­los públicos. Não são produto da ga­nância. Lembre-se do tempo em que achavam que a inflação era alta no Bra­sil por ganância dos supermercados e dos oligopólios. Agora vejo elementos desse tipo de campanha para cima dos bancos. É perda de tempo. Significa uma politização indevida do tema, sem mexer no que é importante.
O diagnóstico do governo Dilma sobre os juros está equivocado?
Reduzir os juros deveria começar pelo aumento do superávit primário. Quan­to mais o Tesouro se endivida, mais pu­xa os juros para cima. Isso é o princi­pal, mas o governo só enxerga a políti­ca fiscal como instrumento para au­mentar a demanda. Se continuarmos querendo resolver o problema dos ju­ros no braço, vamos repetir o insuces­so das políticas de estabilização.
Claro. Hoje temos uma situação sin­gular, que é uma combinação de ple­no emprego com demanda fraca. Se setor privado acordar, a economia sobreaquece. Por isso, a maior parte dos especialistas projeta que, se o impulso fiscal continuar e o setor privado se animar, a inflação vai bei­rar o limite de tolerância do sistema de metas em seis meses. Se isso ocorrer, vai ter de subir os juros.
O Brasil tem hoje pouco espaço para choques externos de alta de preços?
A situação de pleno emprego torna o País sensível a qualquer choque de oferta. Mas a inflação não é o nos­so principal problema. O governo acerta no entendimento de que é preciso trabalhar para o crescimen­to. De novo, o problema é o diagnós­tico. Já temos todos trabalhando. O que gostaríamos é que o Brasil pro­duzisse mais. Este é um problema de produtividade. E como elevar a produtividade? Com mais escolari­dade, mais competição. Seguramen­te não é o gasto público. O desafio hoje é mudar o mix: aumentar o gas­to privado com investimento e redu­zir o gasto público corrente. O go­verno é ruim para fazer investimen­to. Gasta-se um dinheiro insano pa­ra fazer ponte, estrada, estádio de futebol. Custa cinco vezes p preço e dá tudo quanto é problema no TCU (Tribunal de Contas da União).
Em meio à crise global, é justificá­vel um câmbio mais controlado para defender a indústria?
É preciso pragmatismo nesse assun­to. Filosoficamente todos somos favoráveis ao câmbio flutuante. Mas existem circunstâncias e circunstân­cias. Fui presidente do BC numa época em que a manutenção do câm­bio era muito importante para asse­gurar uma conquista da sociedade, que é a vitória sobre a hiperinflação. A âncora cambial não é uma coisa para se fazer em circunstâncias nor­mais, mas foi fundamental para ga­nhar essa batalha. Hoje as circuns­tâncias são outras. Na opinião das autoridades, a manutenção de uma taxa de câmbio muito apreciada é danoso demais para a indústria. Não sei se compartilho, mas o Brasil não é o único país que pratica inter­venções no mercado de câmbio. Na­da disso é ilegítimo. Do jeito que es­tá sendo feito agora é uma banda cambial - tal qual a que praticáva­mos na minha época -, porém, não proclamada, com números não espe­cificados, sem ferramentas claras. E com a vantagem de que, se der tudo errado e o câmbio começar a se apre­ciar, as autoridades não vão se sen­tir falhando em seus compromissos.
A meta de inflação de 4,5% é alta?
A diferença é muito pequena, espe­cialmente para alguém como eu que estava no BC quando a inflação atin­giu 40% ao mês ou 6.000% ao ano (ele foi diretor de assuntos internacio­nais do BC no fim do governo Itamar). 3,5% ou 4,5% é muito bom. Se man­ter a meta em 4,5% for o preço para ajustar as finanças públicas e ter ju­ros de primeiro mundo, é justificável. Mas acima de 4,5% seria ruim para a credibilidade do sistema.
Ainda há muita indexação no Brasil?
Não. Esse assunto de indexação é um falso problema. As economias li­vres de inflação não impõem restri­ção à indexação. No Brasil, é assim. Só é proibido fazer contrato indexa­do a um índice de preço com prazo menor que um ano. Hoje o sistema anual funciona. Todos assinam con­tratos de aluguel. As empresas que fornecem energia em contratos de 30 anos estão satisfeitas com o reajuste anual. A indexação é um segu­ro que beneficia as duas partes de uma relação contratual. Deixa a in­dexação, não vamos mexer nisso.
O Plano Real completou 18 anos e quem nasceu na década de 90 nem sabe o que é hiperinflação. Ainda há risco de inflação descontrolada?
É sempre bom guardar a memória da tragédia. Não existem bem essas fronteiras, mas sabemos que, quan­do os contratos deixam de ter rea­juste anual e passam a semestral, a inflação pula de 25% para 40%. Se fo­rem para três meses, vai a 100%. En­tre o governo Figueiredo e o fim do governo Sarney, o Brasil passou de 100% ao ano para 83% ao mês. Cla­ro que essas tragédias requerem muitas coisas dando errado e não creio que vamos viver isso de novo. Mas não quer dizer que todos os problemas estejam resolvidos.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Populismo cambial?: o governo tem uma politica cambial?

Não parece.
Nos tempos do Ancien Régime tucanês, ou seja, o octanato neoliberal, vendido ao império, submisso ao FMI, amigo dos banqueiros e dos capitalistas financeiros, o câmbio no Brasil flutuava. Ocorreu dele se valorizar um pouco.
Pronto, bastou isso para que o mundo viesse abaixo.
Os companheiros, muitos dos quais hoje aboletados no poder, atacavam acerbamente a política de "populismo cambial", acusando a política "malanista" de ser a favor de banqueiros e contra os trabalhadores.
Teve até deputado, hoje senador, que queria fixar em lei o valor do salário mínimo em 100 dólares, vejam vocês até onde chega a sapiência petista em matéria de economia.
Pois é, hoje o regime cambial é exatamente o mesmo, apenas que a moeda está muito mais valorizada do que jamais esteve em qualquer época.
Amigo dos banqueiros? Certamente. E de outros personagens também, que se abastecem nas tetas gordas do BNDES e nos subsídios governamentais e na proteção rústica contra a "concorrência predatória" dos produtos importados (o que eles mesmos causaram, com sua política desindustrializadora).
Inteligência econômica é isso aí. O resto é conversa...
Paulo Roberto de Almeida

THE ECONOMIST DIZ QUE REAL ESTÁ VALORIZADO EM 35%!
(BBC, 13) Com uma sobrevalorização de 35% em relação ao dólar, o real seria a quarta moeda mais cara do mundo, segundo o tradicional "índice Big Mac", publicado periodicamente pela revista britânica The Economist. Segundo a revista, a sobrevalorização do real fica atrás somente do franco suíço (sobrevalorizado em 62% em relação ao dólar), a coroa norueguesa (também 62% sobrevalorizada) e a coroa sueca (41%). As moedas mais desvalorizadas seriam, segundo o índice Big Mac, a rupia indiana (desvalorizada 61% em relação ao dólar), a hryvnia ucraniana (50%) e o dólar de Hong Kong (49%). O iuan chinês estaria desvalorizado em 42%.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Populismo cambial e farra dos importados: Brasil tem o Guiness...

O Brasil conseguiu se distinguir num concurso econômico internacional: é o país onde as importações cresceram mais rapidamente, de todos os membros da OMC. Os exportadores -- outros países da OMC -- agradecem e pedem para continuar essa "abertura irresponsável e unilateral".
Nossos parceiros na OMC adoram todas as nossas "práticas econômicas nefandas", todo esse "populismo cambial", que "destrói a indústria nacional", "remete empregos para o exterior", cria um "desequilíbrio insustentável na balança comercial" e "compromete gravemente o saldo de transações correntes" do Balanço do Pagamentos.
Todo esse quadro é "inaceitável", só explicável num "governo antinacional", "submisso aos interesses estrangeiros", e que arrisca "comprometer nossa soberania nacional". Tudo isso é consequência do "neoliberalismo da política econômica", de uma visão "mercadista exagerada", que acredita na "ilusão de que os mercados são capazes de auto-correção", que afasta a "necessária ação do Estado na manutenção de um bom ambiente econômico interno", se necessário por algumas "medidas de proteção justificadas", em face da "deslealdade comercial" de vários parceiros externos.
"Tudo isso é inaceitável", e "não pode continuar assim".

Calma, calma, não penso nada disso. Tudo o que está entre aspas são frases, reais, pronunciadas por vários dos que nos comandam ou que nos representam atualmente, quando essas personagens estavam na oposição ao governo anterior, social-democrata, e quando eles acusavam o governo de ser antinacional e vendido aos interesses estrangeiros.
Pois bem: os atuais dirigentes estão fazendo exatamente o que foi feito anteriormente: uma abertura "irresponsável", um "populismo cambial" e outros atos perversos contra a economia nacional.
Não vejo os protestos que deveriam existir nessas circunstâncias.
Será que estou vivendo em outro país?
Paulo Roberto de Almeida

CÂMBIO DÓLAR-REAL É INSUSTENTÁVEL! IMPORTAÇÕES SOBEM 46%
O Estado de S.Paulo, 25/11/2010

1. Brasil é o país onde as importações mais cresceram desde o início do ano. Volume cresceu 46% entre dezembro de 2009 e setembro deste ano; variação é a maior entre 70 países avaliados pela OMC. A invasão de importados no Brasil bate todos os recordes. Segundo dados oficiais de 70 governos, o País está sofrendo a maior expansão de importações em 2010 entre todos os membros do G-20 e entre todas as economias do mundo que tiveram seus dados compilados pela Organização Mundial do Comércio (OMC).

2. Setembro bateu recorde em volume de importações no País. Em comparação com a média dos meses de 2006, o valor é três vezes maior. Em relação a setembro de 2009, o Brasil também tem a maior taxa de expansão, de 43%. Na China, a alta havia sido de 24%, ante 34% na Rússia.  Nenhuma das 70 economias avaliadas teve variação tão grande como a do Brasil entre dezembro de 2009 e o fim do terceiro trimestre de 2010.

3. O Brasil já aparece nas estatísticas americanas como o parceiro comercial com o qual os Estados Unidos têm o maior superávit. Com a Europa, a situação se repete. O superávit que o Brasil tinha com os europeus desde 1999 foi zerado no terceiro trimestre. O resultado contrasta com os números de 2007, quando o País havia obtido saldo positivo de 11,5 bilhões, amplamente favorável às contas nacionais.

4. Em 2010, o Brasil foi ainda a economia que teve a maior expansão de importação de produtos europeus em todo o mundo. O crescimento das vendas europeias ao Brasil foi de 54% de janeiro a agosto. Segundo os dados da OMC, China e Rússia também tiveram alta em suas importações em 2010. Mas em nenhum deles a expansão ocorreu no mesmo ritmo que a do Brasil.