O Brasil conseguiu se distinguir num concurso econômico internacional: é o país onde as importações cresceram mais rapidamente, de todos os membros da OMC. Os exportadores -- outros países da OMC -- agradecem e pedem para continuar essa "abertura irresponsável e unilateral".
Nossos parceiros na OMC adoram todas as nossas "práticas econômicas nefandas", todo esse "populismo cambial", que "destrói a indústria nacional", "remete empregos para o exterior", cria um "desequilíbrio insustentável na balança comercial" e "compromete gravemente o saldo de transações correntes" do Balanço do Pagamentos.
Todo esse quadro é "inaceitável", só explicável num "governo antinacional", "submisso aos interesses estrangeiros", e que arrisca "comprometer nossa soberania nacional". Tudo isso é consequência do "neoliberalismo da política econômica", de uma visão "mercadista exagerada", que acredita na "ilusão de que os mercados são capazes de auto-correção", que afasta a "necessária ação do Estado na manutenção de um bom ambiente econômico interno", se necessário por algumas "medidas de proteção justificadas", em face da "deslealdade comercial" de vários parceiros externos.
"Tudo isso é inaceitável", e "não pode continuar assim".
Calma, calma, não penso nada disso. Tudo o que está entre aspas são frases, reais, pronunciadas por vários dos que nos comandam ou que nos representam atualmente, quando essas personagens estavam na oposição ao governo anterior, social-democrata, e quando eles acusavam o governo de ser antinacional e vendido aos interesses estrangeiros.
Pois bem: os atuais dirigentes estão fazendo exatamente o que foi feito anteriormente: uma abertura "irresponsável", um "populismo cambial" e outros atos perversos contra a economia nacional.
Não vejo os protestos que deveriam existir nessas circunstâncias.
Será que estou vivendo em outro país?
Paulo Roberto de Almeida
CÂMBIO DÓLAR-REAL É INSUSTENTÁVEL! IMPORTAÇÕES SOBEM 46%
O Estado de S.Paulo, 25/11/2010
1. Brasil é o país onde as importações mais cresceram desde o início do ano. Volume cresceu 46% entre dezembro de 2009 e setembro deste ano; variação é a maior entre 70 países avaliados pela OMC. A invasão de importados no Brasil bate todos os recordes. Segundo dados oficiais de 70 governos, o País está sofrendo a maior expansão de importações em 2010 entre todos os membros do G-20 e entre todas as economias do mundo que tiveram seus dados compilados pela Organização Mundial do Comércio (OMC).
2. Setembro bateu recorde em volume de importações no País. Em comparação com a média dos meses de 2006, o valor é três vezes maior. Em relação a setembro de 2009, o Brasil também tem a maior taxa de expansão, de 43%. Na China, a alta havia sido de 24%, ante 34% na Rússia. Nenhuma das 70 economias avaliadas teve variação tão grande como a do Brasil entre dezembro de 2009 e o fim do terceiro trimestre de 2010.
3. O Brasil já aparece nas estatísticas americanas como o parceiro comercial com o qual os Estados Unidos têm o maior superávit. Com a Europa, a situação se repete. O superávit que o Brasil tinha com os europeus desde 1999 foi zerado no terceiro trimestre. O resultado contrasta com os números de 2007, quando o País havia obtido saldo positivo de 11,5 bilhões, amplamente favorável às contas nacionais.
4. Em 2010, o Brasil foi ainda a economia que teve a maior expansão de importação de produtos europeus em todo o mundo. O crescimento das vendas europeias ao Brasil foi de 54% de janeiro a agosto. Segundo os dados da OMC, China e Rússia também tiveram alta em suas importações em 2010. Mas em nenhum deles a expansão ocorreu no mesmo ritmo que a do Brasil.
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
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Um comentário:
Que susto! Fui até conferir se entrei na pagina certa.
Depois me aliviei.
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