Nova proposta dos EUA divide G-20
Assis Moreira | De Seul
Valor Econômico, 08/11/2010
O Valor teve acesso ao "draft" (rascunho) do Plano de Ação de Seul, pelo qual os chefes de Estado se comprometerão com medidas para evitar uma guerra cambial e impulsionar "um crescimento forte, sustentável e equilibrado da economia mundial no médio prazo".
É nesse plano que Washington insiste em estabelecer que o déficit ou superávit das contas correntes dos países não supere 4% do Produto Interno Bruto (PIB). A partir desse patamar seriam deflagradas negociações para sua redução.
"Países com déficits sustentáveis vão reforçar seu desempenho exportador e impulsionar a poupança nacional", diz a proposta americana. "Países com superávits sustentáveis vão adotar políticas cambiais, estrutural e fiscal para impulsionar fontes domésticas de crescimento".
A diferença, em relação à proposta dos Estados Unidos rejeitada em encontro de ministros de Finanças do G-20, é que agora Washington atenua a pressão sobre a Alemanha, país com maior superávit, de 6,1% do PIB, e que contaria na média da zona do euro. Termina por deixar o peso do ajuste mais sobre a China, com saldo de 4,7% nas contas externas.
Washington argumenta que o objetivo não é estabelecer metas quantitativas e sim bandas indicativas, para se alcançar até 2015 desequilíbrios nas contas correntes em níveis sustentáveis. E seria uma maneira alternativa de tratar da moeda chinesa desvalorizada, que dopa suas exportações para o resto do mundo.
Mas Cui Tiankai, vice-ministro chinês das Relações Exteriores, ridicularizou a ideia americana. Há questões na economia mundial que merecem muito mais atenção, como o impacto do afrouxamento monetário nos EUA, afirmou.
O sentimento é de que os EUA relançaram a guerra de moedas antes do G-20 com a anunciada injeção de liquidez de US$ 600 bilhões. Emergentes mais dinâmicos estão sob pressão de mais valorização da moeda, riscos de bolhas pelo excesso de liquidez e de crédito.
A Índia acusa os EUA de terem minado o espírito de cooperação multilateral que os líderes do G-20 vêm tentando duramente estabelecer para afrontar a atual crise das moedas. Para importantes negociadores, sugerir a banda é "forçar a barra" no contexto atual e a proposta deverá ser novamente rejeitada.
Também descontente com a posição americana, o Brasil quer obter do G-20 o aval para que os emergentes possam impor controle de capital para evitar desestabilização de suas economias com o fluxo de capitais. E insistirá para que os países desenvolvidos estimulem suas economias para o consumidor voltar a gastar, em vez de esperar ação apenas dos emergentes.
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Pois bem, agora vejamos [PRA]:
Se o problema brasileiro é a valorização do real, um problema que ele divide com todos os demais países (pois todos eles sofrem com a desvalorização do dólar, salvo a China), a maneira correta de evitar isso é conter o afluxo maciço de dólares em sua economia, o que ele pode fazer de duas maneiras: importando mais, diminuindo a taxa de juros interna, que é o principal fator de atração desses capitais. Controles de capitais não são as medidas mais adequadas, pois eles aumentam a taxa de risco (spread) nos empréstimos externos, ou seja, quando o Brasil pretender importar capitais estrangeiros, pagará mais caro por isso, já que costuma recorrer a esses mecanismos arbitrários e aleatórios, essencialmente negativos, que impõem um custo para o próprio país.
Agora, se pretende que os países desenvolvidos estimulem suas economias, está sendo contraditório com o que já disse o ministro da Fazendo, para quem esses mecanismos não servem para nada, e são o mesmo que atirar dinheiro de helicóptero (ainda que fique difícil imaginar um helicóptero viajando pelo mundo, atirando dinheiro pela janela). Os EUA injetaram 600 bi na economia justamente para isso, e agora o ministro vem reclamar? Aliás, este é o mesmo fator que faz com o dólar se desvalorize. O ministro precisa resolver do que ele pretende reclamar...
Paulo Roberto de Almeida
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