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quarta-feira, 17 de novembro de 2010

O governo encomenda a inflaçao (nao, nao me enganei de titulo)

Alguem pode até pensar que eu estou exagerando -- como geralmente faço -- um pouco no título apenas para épater la galère e chamar a atenção dos "passantes".
Não, não é isso: o governo realmente não apenas encomenda como determina, praticamente obriga a uma taxa de inflação superior ao que ela deveria ser se o mercado fosse deixado tranquilo, e o BC pudesse fazer o seu trabalho sem esse patrulhamento constante dos supostos "desenvolvimentistas" (de fachada, apenas, pois ninguém, obviamente, é contra o desenvolvimento e pretender monopolizar o título é mais uma fraude intelectual).
O governo realmente é responsável por boa parte da inflação produzida este ano, com sua expansão irresponsável dos gastos, com todos os aumentos concedidos e prometidos a funcionários públicos e amigos do poder (os sindicalistas, como não poderia deixar de ser), com o crescimento de crédito em limites bastante altos, com todas as bolhas de consumo que ele anda criando demagogicamente...
Retenho apenas um trecho desta matéria de um jornalista conhecido:
"O fato é que o mercado de trabalho aquecido e os gastos do governo continuam estimulando a demanda. A despesa com pessoal do serviço público e a expansão crédito também são incentivos incrivelmente fortes. A massa salarial real cresce a taxas recordes (mais de 10%)."
O governo não pretende se corrigir, pelo menos não este governo.
Vamos ter de esperar algum governo mais responsável.
Paulo Roberto de Almeida

Inflação em alta é desafio para Dilma

Cristiano Romero
Valor Econômico, 17/11/2010
 A economia brasileira caminha para fechar 2010 com inflação (medida pelo IPCA) de 5,5%, bastante superior, portanto, à meta oficial de 4,5%. As expectativas do mercado para 2011, captadas pelo Banco Central (BC) por meio do Boletim Focus, mostram que a meta virou piso. O Brasil avançou muito no controle da inflação nos últimos 16 anos, mas ainda está longe de ter índices compatíveis com a média dos países ricos (2%) e mesmo com a dos emergentes (3%).
Os números mostram que não há um único fator explicando a corrida dos preços. De janeiro a outubro, o IPCA acumulado chegou a 4,4%. O item que mais chama a atenção na composição desse índice não é propriamente alimentação, mas, sim, serviços. Estes responderam por 1,6 ponto percentual dos 4,4%. Alimentação no domicílio contribuiu com 1 ponto.
A tendência desses dois itens é piorar no fim do ano. Novembro e dezembro já costumam ser meses difíceis no caso de alimentação. Com a economia superaquecida, é possível que os preços dos serviços também pressionem a inflação - analistas ouvidos por esta coluna projetam, para um IPCA de 5,5% em 2010, participação de 1,8 p.p. do item serviços e de 1,3 p.p., de alimentação no domicílio.
BC não conseguiu conter expectativas de inflação mais alta
É importante lembrar que os preços administrados se comportaram bem em 2010. Mesmo assim, a inflação seguiu forte. Quando se compara a variação do IPCA com o núcleo por exclusão (sem alimentação no domicílio e sem preços administrados), o que se vê é o núcleo correndo acima da inflação oficial. Nos 12 meses até outubro, esse núcleo variou 5,7% e o IPCA, 5,2%.
Isso mostra que as pressões inflacionárias neste momento são de demanda e não de oferta. Quando se faz essa mesma comparação com anos anteriores, verifica-se que, do início de 2007 até outubro de 2008, o núcleo por exclusão variou abaixo do IPCA. No início de 2009, no entanto, descolou e passou a ficar acima da inflação oficial.
Na última ata do Comitê de Política Monetária (Copom), o BC fez menção aos "efeitos de segunda ordem" provocados pela alta dos alimentos. Foi uma referência importante. O problema é que, talvez, tenha sido feita um pouco tarde, uma vez que esses efeitos secundários, isto é, de transmissão de expectativas de alta da inflação, não são hoje um risco, mas, sim, uma realidade objetiva.
Os efeitos de segunda ordem se manifestam por meio da inflação corrente, através dos preços dos serviços, como de fato está ocorrendo, ou da deterioração das expectativas. Os aumentos dos preços dos alimentos vêm ocorrendo há algum tempo de forma bastante forte e consistente. A deterioração das expectativas também não é recente.
Até março de 2009, o mercado dizia, por meio do Boletim Focus, que a expectativa mínima de inflação para 2011 girava em torno de 3,8%. A projeção começou a subir no fim do ano passado e, agora, a expectativa mínima está em quase 4,5% (ver gráfico). Conclui-se, portanto, que a inflação na meta é o mínimo que o mercado espera para o ano que vem - e está dizendo isso desde julho. A expectativa máxima para 2011, por sua vez, está, neste momento, em 6,47% e a média e a mediana, respectivamente, em 5,09% e 5,05%.

Se o BC tivesse realmente conseguido administrar as expectativas, o mercado teria lhe dado o benefício da dúvida, projetando agora um IPCA para 2011 em torno de 4%. Afinal, até lá haveria tempo suficiente para a instituição domar a inflação, trazendo-a para a meta por meio da política monetária. O fato é que o mercado de trabalho aquecido e os gastos do governo continuam estimulando a demanda. A despesa com pessoal do serviço público e a expansão crédito também são incentivos incrivelmente fortes. A massa salarial real cresce a taxas recordes (mais de 10%).
A reversão das expectativas de inflação para 2011 será um dos desafios da presidente eleita, Dilma Rousseff, já no início do seu mandato. No mercado, a expectativa é que o BC seja obrigado a elevar a taxa básica de juros (Selic) para pelo menos 12% ao ano ao longo de 2011 - exatamente o contrário do que vem dizendo o atual ministro da Fazenda, Guido Mantega, cotado para ficar; ele prevê queda dos juros no próximo ano.
Cristiano Romero é editor-executivo e escreve às quartas-feiras.
E-mail cristiano.romero@valor.com.br

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