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terça-feira, 16 de novembro de 2010

Universidades estrangeiras: selecao pelo merito

Nao vi nenhuma menção a "cotas raciais" nesta matéria sobre seleção de candidatos ao terceiro ciclo em outros países...
Paulo Roberto de Almeida


Caminhos estrangeiros de acesso à universidade
Fernanda Godoy, Deborah Berlinck, Graça Magalhães-Ruether, Priscila Guilayn e Janaina Figueiredo O Globo, 14/11/2010

Em seis países, modo de seleção se divide entre aplicação de exames como o Enem ou avaliação do histórico escolar
Depois de dois anos consecutivos com fraudes e confusões no Enem, especialistas voltam os olhos para experiências de outros países para garantir o acesso à universidade. Há dois caminhos mais comuns: um teste similar ao Enem, como o realizado nos EUA, porém mais descentralizado, ou a primazia das notas do histórico do aluno na escola.

Nos Estados Unidos, país com a maior concentração de universidades de alta qualidade, há mais de cem anos as principais instituições, reunidas no College Board, organização sem fins lucrativos, decidiram aplicar exames padronizados aos candidatos à admissão.

O SAT Reasoning Test (antes conhecido como Scholastic Aptitude Test), com questões de matemática, compreensão de texto e redação, é aplicado atualmente pelo Educational Testing Service, com base em Princeton, e que também aplica outros testes, como o TOEFL (de língua inglesa), em mais de 180 países. Normalmente, os alunos fazem o teste duas vezes, no começo e no final da high school (o equivalente ao ensino médio).

Nos últimos anos, ganhou força um teste alternativo, o ACT (American College Testing), criado em 1959 e aceito por universidades de todo o país, mas especialmente popular em alguns estados, como Michigan, Flórida e Califórnia. Os números estão praticamente empatados: este ano, 1.568.835 fizeram o ACT - com prova de ciência, além de inglês e matemática - e 1.547.990 passaram pelo SAT.

Notas altas são indispensáveis para entrar nas universidades de elite, como as Ivy League: Brown, Columbia, Cornell, Dartmouth, Harvard, Penn, Princeton e Yale. A nota máxima do SAT é 2.400 pontos. O candidato tem o direito de optar entre apresentar todos os resultados ou apenas o melhor, tanto no SAT como no ACT.

Mas nota não é garantia de vaga, e as universidades americanas se valem de outros critérios para selecionar alunos, como o envolvimento em atividades extracurriculares, comunitárias e esportivas. É de praxe as universidades pedirem um texto - e agora também um vídeo - de apresentação, no qual o candidato explique por que gostaria de entrar na instituição e que contribuição ele traz.

Na França, em princípio, para universidade, não há exames: valem as notas da escola. Mas, de acordo com a reputação da universidade, a seleção é dura.

No Instituto de Ciências Políticas em Paris, o SciencesPo, por onde passou a nata da política francesa, como o ex-presidente Jacques Chirac, o funil da seleção é estreitíssimo. O SciencesPo diz que não tem limite para o número de alunos. O critério é o nível dos candidatos.

Em 2009, por exemplo, foram admitidos 1.225: 415 por teste, 302 por um procedimento internacional (estrangeiros), 381 por terem obtido notas muito boas nos estudos anteriores e 127 por ter CEP (Certificado de Estudos Políticos).

Dez semestres à espera de vaga
Quem quer uma vaga em qualquer universidade alemã precisa fazer o exame de conclusão do ensino (Abitur) com boas notas e empacotar as malas para ir viver na cidade onde for possível uma vaga. Como não há vestibular (apenas em alguns cursos, como Arquitetura, Arte ou Música, há provas de aptidão), a disputa por vaga é como a competição por emprego - os melhores têm prioridade.

Para os cursos cobiçados, como medicina ou psicologia, os candidatos só têm chances se tiverem a melhor média possível. Nas universidades mais disputadas, como Berlim e Munique, nem isso é garantia. Muitos precisam candidatar-se várias vezes.

Munique leva em consideração a nota e o tempo na lista de espera. O tempo médio de espera para o curso de economia na Universidade Humboldt é de dez semestres.

Embora as universidades alemãs sejam gratuitas (cobram apenas taxa semestral de cem a 500 euros), os altos preços dos aluguéis fazem da universidade um privilégio dos mais ricos.

Apenas 33% das crianças que frequentam a escola primária terminam os estudos em uma universidade. A maioria segue a educação profissionalizante.

Na Espanha, em novembro do ano passado foi aprovada uma nova prova de acesso à universidade, conhecida como Exame de Seletividade. O exame é preparado por um comitê formado pelas universidades, professores do bachillerato (equivalente ao ensino médio) e representantes das comunidades autônomas (regiões espanholas). Quando as provas estão prontas, as comissões universitárias fazem público o número e tipo de perguntas e os critérios de pontuação, para que os alunos se preparem.

São quatro provas: Língua Castelhana e Literatura; Idioma Estrangeiro; História da Filosofia ou História da Espanha; além de alguma disciplina do bachillerato.

Há uma quinta prova (de segunda língua oficial) no caso das comunidades autônomas com idioma próprio. Também há uma específica dependendo da área escolhida.

Na Argentina, em 1985, o governo argentino criou o Ciclo Básico Comum (CBC), que substituiu as antigas e tradicionais provas para entrar na Universidade Nacional de Buenos Aires, a mais importante do país. Formado por seis matérias (duas comuns a todas as faculdades, duas determinadas pela orientação escolhida pelo aluno e duas específicas da carreira), o CBC é obrigatório para quem quer entrar na UBA.

Existe ainda um sistema de educação à distância pelo qual o aluno pode estudar sozinho e fazer as provas do CBC. As demais faculdades estatais do país têm sistemas variados (provas e cursos similares ao CBC). A maioria das faculdades particulares não realiza provas de admissão.

No Chile, desde 2003 existe a chamada Prova de Seleção Universitária (PSU), aplicada por todas as universidades do país para selecionar novos estudantes.

No início, a ideia do governo chileno era que a PSU fosse um mecanismo transitório, prévio à implementação de um novo Sistema de Ingresso à Educação Superior (SIES). No entanto, até hoje o SIES não saiu do papel. A PSU é realizada na primeira quinzena de dezembro e tem quatro provas.

Numa prova de múltipla escolha, a cada quatro respostas incorretas é descontada uma resposta correta, e a pontuação varia entre 150 e 850 pontos. Cada carreira tem um número de vagas disponíveis, e o ingresso dos novos alunos depende do resultado da prova e da média de suas notas no ensino médio. Os alunos com melhor rendimento recebem uma bolsa, e o resto, tanto da educação pública como da privada, pagam uma mensalidade, que depende de cada carreira.

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