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terça-feira, 16 de novembro de 2010

Tragedia educacional brasileira (3) - entrevista com Simon Schwartzman

Progresso mal-educado
Entrevista com Simon Schwartzman
Ivan Marsiglia
O Estado de S.Paulo, 14/11/2010

Desenvolvimentistas achavam que a educação no Brasil melhoraria junto com a economia. Não foi assim, diz sociólogo e pesquisador do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (IETS)
O MEC ainda não passou na prova do Enem. Desde que o Ministério da Educação apresentou sua proposta de reformulação do Exame Nacional do Ensino Médio, uma sucessão de erros, tentativas de fraude e problemas de organização tiraram a paz dos estudantes e abalaram o nome do ministro Fernando Haddad nas bolsas de apostas para permanência no cargo na futura gestão Dilma Rousseff.

Em outubro de 2009, o principal instrumento de avaliação dos conhecimentos do ensino médio do governo federal foi cancelado após uma reportagem do Estado revelar que a prova tinha vazado. Em dezembro do mesmo ano, o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), responsável pelas provas, divulgou o gabarito errado e seu presidente pediu demissão.

Em janeiro de 2010, o sistema online do MEC para candidatura a vagas nas universidades federais usando o Enem travou e estudantes levaram até 14 horas para fazer a inscrição. Em fevereiro, um equívoco na digitalização das redações levou à divulgação errada das notas de 915 estudantes.

Em agosto, vazaram dados pessoais de inscritos nos anos de 2007, 2008 e 2009. E, nessa semana, erros no cartão de resposta fizeram a Justiça do Ceará suspender o exame liminarmente - decisão derrubada apenas na sexta-feira pelo Tribunal Regional da 5ª Região. Desempenho nota zero.

Para o sociólogo mineiro Simon Schwartzman, os problemas operacionais e logísticos do Enem escondem a questão que realmente importa. "É a própria ideia do Enem, desse tamanho e com essa escala, que precisa ser discutida", diz o pesquisador do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (IETS), que foi presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) entre 1994 e 1998 e diretor para o Brasil do American Institutes for Research de 1999 a 2002. "O correto seria voltar à ideia inicial do exame, menor e focado na avaliação de competências, não de conhecimentos", defende o especialista.

Na entrevista a seguir, Schwartzman afirma que os ideólogos do desenvolvimentismo no Brasil sempre minimizaram a importância da educação, considerando-a mero corolário do crescimento econômico. E que a superação do gigantesco atraso educacional do país passa não pelo "grande projeto", que nunca vem, mas por investimentos específicos e esforços simultâneos em diversas frentes.

- Como entender a sucessão de problemas na principal prova de avaliação do MEC?

É a própria ideia do Enem que precisa ser discutida. Os problemas operacionais e logísticos que ocorreram são acidentes de percurso, embora não aleatórios - pois quando se tenta fazer algo desse tamanho, com tal escala, está sujeito ao que ocorreu. Falta estrutura ao Inep, que tem demasiadas funções, não possui um quadro de pessoal forte e se meteu a fazer um projeto muito grande, ambicioso demais.

- O que deve ser discutido no Enem?

A questão é: precisamos de um Enem desse tipo? Na experiência de outros países, existe algo semelhante? A resposta é não. Em sua origem, nos anos 90, o Enem era uma maneira de obter um padrão de referência para o ensino médio. Um teste de competência, não de conhecimento - em que se analisa nos alunos a capacidade de raciocínio, o uso da língua, a capacidade de expressão e a de resolver questões. Mas se transformou em uma prova de conteúdo, longa, exaustiva, um vestibular nacional.

- Com esse mesmo argumento, de que o sentido original da prova se descaracterizou, a antropóloga Eunice Durham defendeu o fim do Enem. O sr. concorda?

O correto seria voltar à ideia inicial, focar o exame em competências, e não em conhecimentos. Imagino que esse tamanho de prova, feita em dois dias, tenha sido uma exigência das universidades. O governo deve ter feito um movimento para convencê-las a considerar a prova em seu processo de seleção e elas responderam: "Então coloquem no Enem tudo o que a gente gostaria de avaliar". Está errado.

- Não é assim em outros países?

Europeus e americanos têm sistemas antigos e bem estabelecidos de avaliação do ensino médio. Na França há o baccalauréat (que existe desde 1808, dura cerca de uma semana e inclui provas orais), os ingleses têm o que chamam de A-Level (Advanced Level General Certificate of Education, aplicado desde 1951) e nos EUA existe o SAT (Scholastic Assessment Test, que começou em 1901). Em geral, esse tipo de prova exige que o estudante apresente certo nível de conhecimento da língua e de matemática, para então oferecer diversas opções: geografia, artes, ciências, etc. Depois, as universidades usam os resultados em função dos interesses de cada departamento. O ponto fundamental é que não se manda todo o mundo estudar tudo. Esse é um problema da educação média brasileira: os vestibulares das universidades mais competitivas criaram uma tal pressão em cima do ensino médio que resulta nesse currículo maluco que temos, com 14 matérias. Outra diferença é de logística: na Inglaterra são cinco as instituições encarregadas de preparar as provas, os examination boards. E, nos EUA, o SAT é aplicado por computador, várias vezes por ano. O estudante se inscreve, marca uma hora, vai lá e responde questões em progressão de dificuldade. Por que não adotar uma tecnologia dessas no Brasil? É maluquice juntar 3,5 milhões de pessoas em salas de aula no mesmo dia para responder às provas com caneta.

- Por que, após oito anos de governo FHC e oito de Lula, o Brasil ainda não encontrou um rumo claro para a educação?

Faltou prioridade. Durante muito tempo, boa parte da esquerda brasileira cultivou a ideia de que a educação se resolve sozinha quando a economia estiver bem. Se você pegar a obra de Celso Furtado, o grande teórico do desenvolvimento no Brasil, vai ver que ele não escreveu uma linha sobre educação na vida. O contrário do que diziam os pioneiros do tema nos anos 30: se você resolver a educação, o resto vem. A verdade é que a educação exige um investimento específico, próprio, ainda que sem relação clara com o mercado de trabalho. O exemplo sempre citado é o da Coreia do Sul, que nos anos 60 tinha um nível educacional parecido com o brasileiro e, com investimento pesado em educação básica, média e superior, atingiu um alto patamar de qualidade para toda a população.

- Consta que na Coreia do Sul o enfoque foi na qualidade e não na infraestrutura: as escolas muitas vezes eram grandes galpões onde os estudantes aprendiam em período integral com professores de alto nível e bem pagos. O que se pode tirar da experiência coreana?

Acho que dá para tirar algumas lições. No Brasil, o governo federal sempre colocou mais dinheiro na educação superior. Até hoje é assim. Como a classe média alta a queria para os seus filhos, o pensamento foi: "Vamos dar universidade gratuita para esse pessoal que pressiona muito; o povão que não pressiona, deixa para lá." E nunca houve uma política nacional para a educação básica e média. Até porque ninguém sabia muito bem o que fazer. Não houve um esforço intelectual de se pensar quais seriam os conteúdos, como se monta o sistema, como se equacionam os problemas.

- O ministro Paulo Renato universalizou o ensino básico. Fernando Haddad retomou investimentos em escolas técnicas, nas universidades federais e fez o Prouni. Como o sr. avalia essas duas gestões?

A coisa mais importante da gestão Paulo Renato foi a criação do Fundef, que depois virou Fundeb - e equacionou o financiamento da educação fundamental. Foi essa norma que estipulou a distribuição de recursos conforme o número de alunos. No ensino superior, não acho que ele tenha conseguido muita coisa: o ensino privado cresceu sozinho, pois o sistema público continuou fechado e elitista, tal como foi pensado na reforma de 1968, ainda no período militar. Embora tenha criado o Provão e estimulado uma gestão mais responsável dos recursos pelas próprias universidades, Paulo Renato enfrentou greves e grande resistência política. No caso do governo Lula, houve a criação de algumas universidades, mas em boa parte apenas no papel: instituições que já existiam e apenas mudaram de nome. A política do atual governo tem sido a de dar tudo o que as universidades públicas querem, sem pedir nada em troca. Houve um esforço no Reuni, quando se estimulou que elas a aumentassem o número de vagas, criando cursos noturnos. Mas sem clareza sobre em que áreas, de que maneira, para que tipo de público. E teve o Prouni, uma política que faz sentido, de se usar as vagas do setor privado para responder um pouco à demanda. Curiosamente, antes de Lula, essa ideia de subvencionar o estudo no setor privado era um tabu, não se podia fazer no Brasil.

- Por que o sr. diz que, sem parcerias privadas, a universidade pública 'se acomoda'?

Nós temos no Brasil uma situação em que as universidades são repartições públicas. É o caso da USP. Elas recebem uma porcentagem fixa dos impostos do Estado e não se preocupam em ir além. Não contam com um sistema de incentivos ou busca de resultados - nem acadêmicos, nem de eficiência no uso dos recursos. Em outros países, as universidades públicas são obrigadas a mostrar o que estão fazendo, justificar o que gastam e, em contrapartida, têm flexibilidade para pagar mais ou menos ao professor de acordo com o seu desempenho. Um modelo de gestão muito mais ágil.

- O foco do Brasil hoje deveria ser a educação básica ou a pesquisa de ponta?

Esse é um falso dilema. Uma não pode ser sacrificada pela outra. A educação é uma fronteira ampla de trabalho. Não se pode esperar que um ministro, uma única cabeça, saiba o que fazer. Precisamos de gente competente trabalhando em diversos níveis, em todo o país. Nossa educação básica continua com um desempenho péssimo internacional, em qualquer comparação que se faça. Na pesquisa de ponta, o que temos no Brasil é uma política de valorização da pesquisa acadêmica, que teve um papel importante, formou gente, desenvolveu a pós-graduação - mas relegou a segundo plano a pesquisa aplicada, ligada às política empresarial e pública. É um sistema muito voltado para dentro dele mesmo.

- O sr. diz que a educação nunca esteve na órbita do desenvolvimentismo brasileiro. Tanto a presidente eleita, Dilma Rousseff, quanto seu adversário no segundo turno, José Serra, são considerados desenvolvimentistas. Se é assim, quando haverá o grande projeto que diminua o gap histórico do país na educação?

Não existe "grande projeto". É preciso trabalhar muito e em várias frentes. O Brasil tem boas experiências, que podem ser aprofundadas. Na educação básica, Minas Gerais aplica uma política de contratos de gestão nas escolas, em que se definem metas e se avaliam resultados. Vários estados do país já adotam o período de seis horas nas escolas - que é o tempo necessário às crianças. Precisamos falar de programas e métodos de ensino. É intolerável que um menino de 8 anos em uma escola não saiba ler e escrever, quando há metodologia estabelecida para isso. As faculdades de pedagogia não ensinam como se ensina: ficam discutindo teorias sociológicas ou sei lá o quê. Há que se aumentar o salário dos professores e criar sistemas que associem desempenho a remuneração. A hora é esta.

7 comentários:

Unknown disse...

Confesso que depois que vi o nome de Simon Schwartzman entre aqueles que apoiaram o candidato Serra, perdi a confiança na imparcialidade das palavras deste intelectual. Dentre outras, a justificativa econômica que ele oferece para esta defesa me parece falha, no mínimo. Sem querer insinuar nada, mas já insinuando, devo lembrar que Simon Schwartzman foi agraciado com o cargo de presidente do IBGE, no qual permaneceu durante boa parte da gestão de FHC.
De qualquer forma, tenho que admitir que a maior parte dos argumentos que ele expõe nesta entrevista procedem. Estou de acordo com quase tudo. Só tenho duas observações a fazer:
-Para que os sul-coreanos pudessem dar este incrível salto na educação, foi necessária imensa quantidade de recursos para financiá-la, os quais não serião possíveis sem uma brilhante estratégia de política industrial. Portanto, da mesma forma que a educação é condição necessária para o desenvolvimento sócio-econômico, o crescimento econômico é fundamental para desenvolvimento da educação! Ao meu ver, é fundamental que isto seja lembrado e enfatizado, e isto Simon Schwartzman deixou de fazer.
-O autor também não aponta nenhuma virtude do governo Lula na área da educação básica. Não sou especialista, mas sei que a relação entre o valor médio gasto por aluno na educação superior e aquele gasto na educação básica diminuiu nos últimos anos, tal como ele (em tese) gostaria. Além disso, outro fato positivo foi a criação do Fundeb, que incorporou também a educação infantil (estratégica para a formação cognitiva da criança) ao antigo Fundef.
Quero deixar claro que não sou petista. Sinceramente, o que me motiva a fazer esta crítica é o repúdio que sinto em relação á politicagem na academia e em institutos de pesquisa, algumas vezes ligada a resquícios de ideologia (lê-se preconceito) e outras à alianças do passado (e do presente também). Esta politicagem tem sido fonte de imparcialidade, a qual leva a discursos de conteúdo cada vez mais distorcido, totalmente destituídos de importância para o progresso de nosso país.
Faço um apelo àqueles que compartilham comigo o sonho de um Brasil melhor: ao analisar projetos e programas de desenvolvimento, deixemos o preconceito de fora!

Rafael Anicio disse...

Confesso que depois que vi o nome de Simon Schwartzman entre aqueles que apoiaram o candidato Serra, perdi a confiança na imparcialidade das palavras deste intelectual. Dentre outras, a justificativa econômica que ele oferece para esta defesa me parece falha, no mínimo. Sem querer insinuar nada, mas já insinuando, devo lembrar que Simon Schwartzman foi agraciado com o cargo de presidente do IBGE, no qual permaneceu durante boa parte da gestão de FHC.
De qualquer forma, tenho que admitir que a maior parte dos argumentos que ele expõe nesta entrevista procedem. Estou de acordo com quase tudo. Só tenho duas observações a fazer:
-Para que os sul-coreanos pudessem dar este incrível salto na educação, foi necessária imensa quantidade de recursos para financiá-la, os quais não serião possíveis sem uma brilhante estratégia de política industrial. Portanto, da mesma forma que a educação é condição necessária para o desenvolvimento sócio-econômico, o crescimento econômico é fundamental para desenvolvimento da educação! Ao meu ver, é fundamental que isto seja lembrado e enfatizado, e isto Simon Schwartzman deixou de fazer.
-O autor também não aponta nenhuma virtude do governo Lula na área da educação básica. Não sou especialista, mas sei que a relação entre o valor médio gasto por aluno na educação superior e aquele gasto na educação básica diminuiu nos últimos anos, tal como ele (em tese) gostaria. Além disso, outro fato positivo foi a criação do Fundeb, que incorporou também a educação infantil (estratégica para a formação cognitiva da criança) ao antigo Fundef.
Quero deixar claro que não sou petista. Sinceramente, o que me motiva a fazer esta crítica é o repúdio que sinto em relação á politicagem na academia e em institutos de pesquisa, algumas vezes ligada a resquícios de ideologia (lê-se preconceito) e outras à alianças do passado (e do presente também). Esta politicagem tem sido fonte de imparcialidade, a qual leva a discursos de conteúdo cada vez mais distorcido, totalmente destituídos de importância para o progresso de nosso país.
Faço um apelo àqueles que compartilham comigo o sonho de um Brasil melhor: ao analisar projetos e programas de desenvolvimento, deixemos o preconceito de fora!

Paulo Roberto de Almeida disse...

Rafael Anicio,
Voce se diz apartidario mas nao parece. Apenas porque o SS serviu ao governo anterior isso desqualifica suas criticas? Isso não é nem partidarismo, isso é sectarismo. Ou seja, ninguém pode trabalhar para governo nenhum, pois do contrário é suspeito, de um lado ou de outro.
Você se engana redondamente quanto aos coreanos e o suposto financiamento da educação via política industrial, mostrando que você não conhece fundamentos de finanças públicas e de organização orçamentária. Políticas setoriais, quaisquer políticas setoriais, podem ser financiadas de diversas maneiras e isso não tem relação causal entre uma política e outra.
Você se engana também entre o link entre crescimento e educação: a coisa não é unívoca e unilinear.
Se você conhece as virtudes do governo Lula em educação básica deveria dizer, em lugar de dizer que SS não disse.
Tudo o que foi criado no governo FHC recebeu reparos e um novo nome e apresentado como coisa genial deste governo. Acho que muita gente percebe a fraude, a apropriação indébita a falcatrua política.
Quem mais praticou politicagem na academia você sabe quem é, e não preciso dizer.
Políticagem é o contrário de fonte de imparcialidade, justamente.
Deixe seus preconceitos de fora: proponha suas políticas.
Paulo Roberto de Almeida

Unknown disse...

Olá doutor Paulo!

Fico feliz por haver criticado minha opinião! Considero isto um grande impulso para que eu possa aprimorar os argumentos que sustentam a minha visão sobre estas questões, as quais considero de extrema relevância.

Em primeiro lugar, com todo respeito, tenho que contestar a percepção que o senhor tem sobre mim. Não sou sectarista, não tenho nenhum vínculo e não sinto nenhuma admiração especial pelo PT! Há uma série de coisas que vem acontecendo no governo Lula contra as quais faço oposição. A corrupção (explícita no caso Erenice, por exemplo) é a maior delas. Quando o assunto é economia, lembro da desindustrialização que vem ocorrendo (expressa na balança comercial, por exemplo). Preocupa-me a possibilidade do Brasil voltar a se especializar em commodities. Divirjo totalmente da idéia que sustenta a política monetária que tem sido feita. Os juros derivados dela consomem uma quantidade excessiva de recursos que poderiam ser usados para investimento e educação. Esta, por outro lado, tem configurado um grande problema. Dada a relevância estratégica que tem, deveria receber muito mais atenção e, principalmente, mais recursos.

SS diz que a prioridade deveria ser dada à educação básica. Estou totalmente de acordo. O problema é que ela está sob a responsabilidade dos estados e municipios. Estes, além de serem desiguais em termos de arrecadação, têm muito menos recursos em comparação com a União e muitas responsabilidades. Além disto, não há fiscalização séria a fim de verificar se a parcela de recursos reservada pelo Fundeb é realmente aplicada na área correta. A União deveria ser, legalmente, mais responsabilizada pela educação básica. Não sou especialista em educação, mas considero este um ponto importante! Além dele, há muitos outros que merecem atenção.

É claro que a causa do problema da educação brasileira (que reflete, por exemplo, numa criança de oito anos que ainda não aprendeu a ler nem a escrever, fato comum nos dias atuais) passa por questões de pedagógicas, mas na minha humilde opinião, o dinheiro faz muita falta. A carga horária dos professores é absurda para o trabalho intenso que realizam. E não há como cotratar mais professores com um salário digno sem dinheiro.

Unknown disse...

Com relação ao caso coreano, o senhor citou o papel dos fundamentos da finança pública e de organização orçamentária. Sinceramente, fiquei curioso para saber sobre isto. Se não for incômodo, gostaria que me explicasse melhor. Adoraria aprender com o senhor que já é doutorado, eu ainda sou um estudante de graduação, o que me faz crer que tenho sido bastante soberbo ao expôr minhas opiniões. Ainda assim, continuo me arriscando e divulgando-as, sempre aberto às críticas, que, aliás, são aquilo que me faz crescer!

Li alguns textos sobre a Coréia, e neles era enfatizado o papel das famílias no financiamento, tanto dos estudos regulares, como daquilo que eles chamam de private tutoring, as aulas particulares de reforço. Pra que estas famílias tivesem dinheiro para pagar a educação dos filhos foi necessário que a economia gerasse empregos de qualidade, na área industrial, intensiva em tecnologia. Por outro lado, a parte do financiamento que cabe ao governo tem sua origem na expansão da arrecadação, intimamente atrelada, tal como na maior parte dos casos, ao crescimento da economia, o qual foi bastante influenciado pelo crescimento da indústria. Isto é o que eu li. Claro que pode estar incompleto, por isto gostaria de conhecer sua versão dos fatos.

Sobre a políticagem, gostaria de entender melhor a afirmação: “Políticagem é o contrário de fonte de imparcialidade, justamente”. Creio que ela necessita de mais explicação. Sei que há muitos acadêmicos neste governo atual sendo hipócritas. Não quero citar nomes, mas sabemos quem são. De qualquer forma, não é porque eles são assim que não existe problema em ser assim. Devemos ser diferentes. Agir igual a eles seria o mesmo que limpar a lama com mais lama.

Não disse que um acadêmico não pode trabalhar para governo nenhum. Acho que enquanto ele estiver lá, tem a obrigação de trabalhar e o direito de defender seu trabalho. O problema é quando ele volta para a academia e continua agindo como um político! Até mesmo para afirmar-se como um homem de respeito, ele deve ter coragem para assumir erros e apontar virtudes alheias, e vice-versa. Sem picuinhas, criancices e coisas parecidas! Se para um político isto já é ridiculo, imagine para uma pessoa que não está na política.

Quando analiso um texto que trata de economia, de educação, etc., considero o seguinte critério: o autor analisou tudo o que deveria continuar (TODOS os pontos positivos) e tudo que deveria mudar (TODOS os pontos negativos)? É necessário criticar aqueles que enfatizam uma coisa e desprezam a outra, e vice-versa. Isto é um serviço feito por pessoas que estão verdadeiramente preocupados com o país. O Brasil é mais importante que PT e PSDB!

Unknown disse...

Olá doutor Paulo!

Fico feliz por haver criticado minha opinião! Considero isto um grande impulso para que eu possa aprimorar os argumentos que sustentam a minha visão sobre estas questões, as quais considero de extrema relevância.

Em primeiro lugar, com todo respeito, tenho que contestar a percepção que o senhor tem sobre mim. Não sou sectarista, não tenho nenhum vínculo e não sinto nenhuma admiração especial pelo PT! Há uma série de coisas que vem acontecendo no governo Lula contra as quais faço oposição. A corrupção (explícita no caso Erenice, por exemplo) é a maior delas. Quando o assunto é economia, lembro da desindustrialização que vem ocorrendo (expressa na balança comercial, por exemplo). Preocupa-me a possibilidade do Brasil voltar a se especializar em commodities. Divirjo totalmente da idéia que sustenta a política monetária que tem sido feita. Os juros derivados dela consomem uma quantidade excessiva de recursos que poderiam ser usados para investimento e educação. Esta, por outro lado, tem configurado um grande problema. Dada a relevância estratégica que tem, deveria receber muito mais atenção e, principalmente, mais recursos.

SS diz que a prioridade deveria ser dada à educação básica. Estou totalmente de acordo. O problema é que ela está sob a responsabilidade dos estados e municipios. Estes, além de serem desiguais em termos de arrecadação, têm muito menos recursos em comparação com a União e muitas responsabilidades. Além disto, não há fiscalização séria a fim de verificar se a parcela de recursos reservada pelo Fundeb é realmente aplicada na área correta. A União deveria ser, legalmente, mais responsabilizada pela educação básica. Não sou especialista em educação, mas considero este um ponto importante! Além dele, há muitos outros que merecem atenção.

É claro que a causa do problema da educação brasileira (que reflete, por exemplo, numa criança de oito anos que ainda não aprendeu a ler nem a escrever, fato comum nos dias atuais) passa por questões de pedagógicas, mas na minha humilde opinião, o dinheiro faz muita falta. A carga horária dos professores é absurda para o trabalho intenso que realizam. E não há como cotratar mais professores com um salário digno sem dinheiro.

Unknown disse...

Com relação ao caso coreano, o senhor citou o papel dos fundamentos da finança pública e de organização orçamentária. Sinceramente, fiquei curioso para saber sobre isto. Se não for incômodo, gostaria que me explicasse melhor. Adoraria aprender com o senhor que já é doutorado, eu ainda sou um estudante de graduação, o que me faz crer que tenho sido bastante soberbo ao expôr minhas opiniões. Ainda assim, continuo me arriscando e divulgando-as, sempre aberto às críticas, que, aliás, são aquilo que me faz crescer!

Li alguns textos sobre a Coréia, e neles era enfatizado o papel das famílias no financiamento, tanto dos estudos regulares, como daquilo que eles chamam de private tutoring, as aulas particulares de reforço. Pra que estas famílias tivesem dinheiro para pagar a educação dos filhos foi necessário que a economia gerasse empregos de qualidade, na área industrial, intensiva em tecnologia. Por outro lado, a parte do financiamento que cabe ao governo tem sua origem na expansão da arrecadação, intimamente atrelada, tal como na maior parte dos casos, ao crescimento da economia, o qual foi bastante influenciado pelo crescimento da indústria. Isto é o que eu li. Claro que pode estar incompleto, por isto gostaria de conhecer sua versão dos fatos.

Sobre a políticagem, gostaria de entender melhor a afirmação: “Políticagem é o contrário de fonte de imparcialidade, justamente”. Creio que ela necessita de mais explicação. Sei que há muitos acadêmicos neste governo atual sendo hipócritas. Não quero citar nomes, mas sabemos quem são. De qualquer forma, não é porque eles são assim que não existe problema em ser assim. Devemos ser diferentes. Agir igual a eles seria o mesmo que limpar a lama com mais lama.

Não disse que um acadêmico não pode trabalhar para governo nenhum. Acho que enquanto ele estiver lá, tem a obrigação de trabalhar e o direito de defender seu trabalho. O problema é quando ele volta para a academia e continua agindo como um político! Até mesmo para afirmar-se como um homem de respeito, ele deve ter coragem para assumir erros e apontar virtudes alheias, e vice-versa. Sem picuinhas, criancices e coisas parecidas! Se para um político isto já é ridiculo, imagine para uma pessoa que não está na política.

Quando analiso um texto que trata de economia, de educação, etc., considero o seguinte critério: o autor analisou tudo o que deveria continuar (TODOS os pontos positivos) e tudo que deveria mudar (TODOS os pontos negativos)? É necessário criticar aqueles que enfatizam uma coisa e desprezam a outra, e vice-versa. Isto é um serviço feito por pessoas que estão verdadeiramente preocupados com o país. O Brasil é mais importante que PT e PSDB!