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domingo, 3 de fevereiro de 2013

Brasil frustrado no FMI: paga o preco de escolhas erradas...

Qualquer observador mais atento, que não fosse toldado por preconceitos ideológicos primários, como certos "desenvolvimentistas de botequim", sabia que o principal obstáculo para uma reforma verdadeira das instituições de Bretton Woods era a sobre-representação europeia, desproporcional em relação a seu peso econômico na atual economia mundial.
Por isso, na última escolha para o Diretor Gerente do FMI, depois do escândalo do fauno Dominique Strauss-Khan, teria sido importante o Brasil apoiar um nome comprometido com as reformas, que poderia ter sido qualquer um menos um europeu. Havia, por exemplo, o ex-presidente do Banco Central mexicano, muito próximo dos americanos, todos eles interessados em repartir o poder excessivo hoje detido pelos europeus nas duas irmãs de Bretton Woods.
E quem o Brasil escolhe apoiar?
A candidata francesa, se autoenganando com o fato de ela ter prometido "reformas" na instituição. Bem, nos últimos três anos, o FMI só fez apoiar os processos de ajuste na Eurioa, sendo muito mais concessivo, leniente e bondoso com os caloteiros europeus do que havia sido, nos anos 1980 e 1990 com os latinos e outros países periféricos.
Por que o Brasil apoiou um europeu só os companheiros ideológicos da Fazenda podem explicar, mas o preço está descrito abaixo.
Paulo Roberto de Almeida   


Valor Econômico – Brics permanecem sem novas cotas no FMI
Por Assis Moreira | De Genebra, 2/02/2013
Em junho do ano passado, os cinco países que formam os Brics - Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul - anunciaram que contribuiriam com US$ 75 bilhões para reforçar o caixa do Fundo Monetário Internacional (FMI) para a chamada muralha anti-crise. Mas os líderes dos emergentes condicionaram a liberação do dinheiro a que todas as reformas acertadas no G-20, em 2010, fossem implementadas no tempo previsto, para lhes dar mais poder de decisão na instituição monetária mais importante do mundo e refletir a nova realidade econômica global.
Desde então, as duas reformas prometidas fracassaram. Ontem, por causa da resistência dos europeus, o FMI constatou o fiasco na tentativa de completar a revisão da fórmula de cotas para redistribuir o poder de decisão a partir de 2014. Desde 2011, a reforma estava praticamente bloqueada. Em reunião na quarta, a diretoria-executiva do FMI só conseguiu aprovar um documento com vagas orientações futuras. A tentativa agora é para a revisão da fórmula estar pronta antes da próxima reforma geral de cotas, programada para até janeiro de 2014. Mas as dúvidas se acumulam sobre isso.
Em outubro passado, por falta de ratificação pelo Congresso dos EUA, não pôde entrar em vigor a reforma de 2010 aumentando as cotas para os emergentes. Por ela, o Brasil passará a estar entre os dez maiores em cotas e poder de voto no Fundo. E as cadeiras dos países que formam os Brics juntas representarão 15,47% e passarão a deter direito de veto nas principais decisões se atuarem de forma coordenada. Mas vão ter de esperar.
Nesse cenário, o dinheiro anunciado pelos Brics para o FMI tende a demorar. Somente a China assinou o contrato com o Fundo, mas não colocou à disposição os US$ 43 bilhões prometidos. Brasil, Rússia e Índia, cada um com US$ 10 bilhões, sequer concluíram as negociações dos contratos, assim como a África do Sul, que ofereceu US$ 2 bilhões.
Ilustrando a impaciência dos emergentes, o diretor-executivo para Brasil e outros dez países na diretoria do Fundo, Paulo Nogueira Batista Júnior, voltou a advertir que países subrepresentados no FMI podem se distanciar da instituição caso a reforma permaneça bloqueada ou ocorra em ritmo lento demais. "Eles [emergentes] vão continuar a se apoiar na segurança dada por suas próprias reservas internacionais e intensificar esforços para contribuir e reformar acordos regionais e outros acordos financeiros", afirmou Nogueira Batista, que diz opinar em caráter pessoal.
A briga no FMI parece perdida em complexidades técnicas, mas é essencialmente política, sobre a repartição de poder para refletir a mudança na economia global. E deve ser tema da reunião dos líderes dos Brics em março, na África do Sul. No caso da reforma das quotas de 2010, pode entrar em vigor desde que o Congresso dos EUA a ratifique. Mas o confronto entre a Casa Branca e o Congresso e uma agenda carregada com o limite da dívida americana e questões fiscais tumultuam o processo.
Quanto à revisão da fórmula das cotas, a dificuldade é causada pela obstrução do bloco europeu, que perderá poder em favor de emergentes. Os europeus divergem muito entre si, mas no âmbito do G-20 e no FMI sabem somar forças. A coordenação mais estreita que existe no FMI e no G 20 é entre os europeus, segundo Nogueira Batista. Para ele, o problema fundamental na governança do FMI é a "evidente super-representaçao da Europa". Aponta, primeiro, uma grande diferença entre o peso da Europa no poder de voto no FMI e seu peso na economia mundial. A parte da União Europeia no PIB global, medido em PPC (Paridade de Poder de Compra), é de 20% e está caindo. Em contrapartida, os membros da UE tem quase um terço do poder de voto no Fundo.
Além disso, nota que a Europa tem número desproporcional de cadeiras (8 das 24) no conselho-executivo do Comitê Financeiro e Monetário Internacional (IMFC, na sigla em inglês). Chega a nove, quando a Espanha junta seu poder de voto com México e Venezuela. Recentes mudanças anunciadas nas cadeiras na Europa são "cosméticas", já que basicamente melhora a posição de emergentes membros da UE, como República Checa, Polônia e Hungria. Para completar, a Europa mantém a posição de diretor-geral do FMI, com a francesa Cristine Lagarde.
Aplicando a atual fórmula, as quotas e poder de voto de Brasil, Rússia, Índia e África do Sul deveriam diminuir. Todos os países Brics, com exceção da China, estão super-representados.
Para o futuro, o staff do Fundo sugeriu uma fórmula que dá peso a novas variáveis, como abertura financeira e contribuição financeira para o Fundo. Vários países reclamam de lacunas, com a proposta produzindo resultados que não refletem suas posições relativas na economia global, incluindo a crescente importância dos emergentes e dos países em desenvolvimento.
O Brasil defende que a fórmula seja baseada numa mistura de variáveis do PIB, com maior peso para a Paridade de Poder de Compra. A futura quota (2,316%) e poder de voto (2,218%) pela reforma de 2010, quando implementada, ainda ficarão bem abaixo da participação média do Brasil no PIB mundial (2,654%) no período de referência 2006-2008. Para os brasileiros, se o PIB passar a receber maior peso na fórmula, como o país defende, o Brasil ganhará novos aumentos relativos de quotas na próxima revisão em janeiro de 2014. A diretoria do FMI aponta apoio considerável para manter as reservas internacionais com seu peso atual.

sábado, 20 de outubro de 2012

Diplomacia brasileira: representacao em expansao

Na diplomacia, um empate entre Brasil e Alemanha
O Globo, 20/10/2012


Número de diplomatas brasileiros cresce mais de 50% em uma década 
RIO e BRASÍLIA — O Brasil começa a ter estrutura diplomática de gente grande. Já conta com 228 postos (contra 155 em 2003) pelo mundo, quantidade similar à da Alemanha e acima da Índia e da África do Sul. O total de diplomatas no país passou de 1.023, em 2000, para 1.557, em 2012. Ao mesmo tempo em que a estrutura está ficando mais adequada às pretensões brasileiras de ser um ator global, dando suporte às empresas nacionais que se internacionalizam, o Brasil será cobrado a se posicionar mais firmemente em questões mundiais, alertam especialistas. Eles dizem ainda que a posição do governo brasileiro será mais relevante e, para as pequenas nações, sobretudo na América Latina, o Brasil poderá reforçar a sua imagem de potência imperialista, o que afetaria a avaliação, em geral positiva, que a maior parte dos povos tem do país. Este é um desafio típico de nação desenvolvida que o Brasil, país emergente, começa a enfrentar e que é tema do último dia da série de reportagens do GLOBO, iniciada domingo. 

O embaixador Tovar da Silva Nunes , porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, conta que este crescimento da diplomacia nacional chegou a causar até problemas de espaço físico no Itamaraty. Ele afirma ainda que o maior peso do Brasil nos debates globais faz com que outras nações anunciem embaixadas no Brasil, como o atual caso de Ilhas Fiji, o que faz com que o Brasil, pela reciprocidade, também abra embaixadas nestes países. Ele diz que, com a alta dos negócios do Brasil, esta nova estrutura é fundamental.
— Além da busca por um espaço maior nos debates mundiais, a demanda cresce com o avanço do país. Temos mais brasileiros no exterior, mais empresas multinacionais. Esta estrutura do Itamaraty é fundamental até para ampliarmos os negócios brasileiros — disse.
País pode sofrer desgaste
Nunes explica que o Brasil conseguiu garantir uma presença em mais países com a criação de embaixadas cumulativas. Ele conta ainda que não foram apenas mais postos, mas alguns pontos importantes, como a representação em Bruxelas, que ganhou mais diplomatas. Apesar de considerar que o país hoje está com estrutura adequada, ele lembra que ainda está atrás de grandes nações como Estados Unidos, Reino Unido e França, e até da Rússia e da China:
— Entre os Brics temos uma estrutura maior apenas que a Índia e a África do Sul.
Ele conta ainda que o Brasil começa a enfrentar mais pressão em suas fronteiras, até pelo avanço da imigração ilegal —tema da primeira reportagem desta série.
Oliver Stuenkel, professor e pesquisador do Centro de Relações Internacionais da FGV, afirma que este avanço no número de diplomatas não é suficiente para um país que queira grande representação. Ele lembra, por exemplo, que na China, principal parceiro comercial do Brasil, são apenas 16 diplomatas. Em Nova Déli, somente 6. Mas, para ele, o Brasil vai repetir o que ocorreu com a China e, em breve, terá sua avaliação positiva arranhada.
Defesa militar também deve crescer
— Como a presença econômica do Brasil cresce, essa visão pode mudar. A diplomacia brasileira terá que defender os interesses nacionais, o que nem sempre será bom para os outros países. O Brasil terá de entrar nos debates complexos, se posicionar — diz Stuenkel.
O professor acredita que a boa imagem brasileira e a tradição de não-interferência em temas internos (como no caso da Síria) pode dar ao país a condição de mediador de conflitos. Mas também deverá defender com força conceitos como direitos humanos e democracia — principalmente na América Latina, onde a democracia gera estabilidade, previsibilidade e negócios.
— O que ocorreu com o Paraguai, rapidamente suspenso do Mercosul, tende a se repetir quando há interesses nacionais em jogo. Em outros casos, contudo, o Brasil deverá ser pragmático como as grandes potências — disse Stuenkel.
Para o professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) Estevão Martins, gastar mais não é coisa de país rico, mas de nação inteligente. No entanto, ele critica como a expansão diplomática no Brasil foi feita de forma “atabalhoada” nos últimos anos. O país aumentou a presença na África e em nações árabes — que querem mais cooperação. Na prática, isso significaria vantagens comerciais e financiamento do BNDES nos moldes do que foi feito nos últimos anos na América do Sul. Para ele, o Brasil não teria capacidade para fazer.
— O Brasil deu um passo maior que suas pernas. Não somos tão ricos quanto dizem.
Além disso, o Brasil precisa ampliar sua atuação militar, para se proteger até do terrorismo. Oficialmente, o governo diz que nenhuma organização atua no Brasil. Nos bastidores, monitora esparsos sinais de atividade e prepara um esquema especial para os grandes eventos esportivos e para a visita do Papa Bento XVI em 2013.
Forças Armadas e Polícia Federal mapearam pontos nas cidades-sede da Copa do Mundo que poderiam ser alvo de ataque. E a PF fará um treinamento no exército de Israel.
— Isso (terrorismo) não deve ser visto com alarmismo porque não temos esse tipo de atividade em solo brasileiro — disse o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. — O que não quer dizer que nós não tenhamos de estar preparados para isso, até pelos grandes eventos.
No entanto, os militares já identificaram integrantes da Al Qaeda a poucos quilômetros do centro do poder em Brasília. Fontes admitem que representantes da organização atuam na Feira do Paraguai, o camelódromo da cidade.
Especialistas defendem o aumento do gasto do país com Defesa. Os investimentos na área deveriam chegar a 2% do Produto Interno Bruto (PIB) por ano. É o que querem especialistas e o ministro da pasta: Celso Amorim. Hoje, o gasto é de 1,5% do PIB, quase tudo com salários de militares. Entre os BRICS, a média é de 2,5% .
— A sua casa está aberta ou fechada? Aposto que você não tem inimigos, mas ela está fechada — brinca Carlos Afonso Pierantoni Gambôa, vice-presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Seguranca (Abimde).

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/economia/na-diplomacia-um-empate-entre-brasil-alemanha-6438856#ixzz29t3gaK5K
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segunda-feira, 15 de outubro de 2012

FMI: Colombia troca Grupo do Brasil pelo do Mexico

Consequência inevitável dos desacordos entre o Brasil e a Colômbia, inclusive por causa do humor mal-humorado -- se me permitem a contradição -- do representante brasileiro, a Colômbia prefere escapar dessa vizinhança que não lhe tem sido muito favorável, e ficar com quem pensa mais ou menos como ela.
O grupo Brasil vai ter sua participação diminuída nas organizações de Bretton Woods, o que sempre é uma pena. Mas, a culpa é do próprio Ministro Mantega: quem mandou votar para uma europeia para a direção do FMI? Por que não escolheu o mexicano, que poderia, com os EUA, realizar essas mudanças desejadas pelo Brasil, diminuindo o poder excessivo da Europa?
Paulo Roberto de Almeida 

Colombia to Leave Brazil IMF Group for Mexico’s, Uribe Says
Bloomberg, October 15, 2012

Colombia will leave Brazil’s group at the International Monetary Fund and join one headed by Mexico as part of a reshuffle at the lender’s board of directors, central bank chief Jose Dario Uribe said. 
“It’s a group where there’s a receptivity towards a country like Colombia, where there are great historical and commercial ties,” Uribe said in an interview in Tokyo today, where he is attending the IMF’s annual meetings. “It’s a group, without doubt, of interest.” Nicaragua, Cape Verde and East Timor will be added to Brazil’s constituency, according to an IMF document obtained byBloomberg News. 

Brazil has been one of the most vocal of the IMF’s 188 member countries, pushing policy makers to grant emerging marketsmore say at the institution and criticizing guidelines on capital controls. Brazil’s increasing clout on the global stage probably makes it challenging for a nation like Colombia to be heard, said Bessma Momani, a political science professor at the University of Waterloo in Canada. 
“It can be difficult to be in a group with a rising economic power like Brazil” that “can be self-centered in its pursuit of its agenda,” Momani said in an interview in Tokyo. “Without Colombia, Brazilians are freer to act as they will, but losing a Spanish-speaking country doesn’t help its legitimacy as a regional power.” 

Spain, Venezuela 
Colombia’s new group is currently represented on a rotational basis by Mexico, Spain and Venezuela, which takes over the leadership on Nov. 1. The chair’s voting power will rise as a result of Colombia joining, and cement the group’s position as the largest of three Latin American constituencies on the board. 
Uribe said details about Colombia’s role will be announced later. 
The movements on the 24-seat IMF board, which approves loans and economic assessments of member countries, aren’t limited to emerging economies. Europe is making changes in its constituencies to meet a 2010 pledge to reduce representation by two chairs in favor of developing economies. 

European Shifts 
Belgium, Luxembourg and the Netherlands are forming their own group, along with countries currently represented by the Netherlands, Belgian Finance Minister Steven Vanackere told the IMF’s steering committee today. Turkey, Austria, the Czech Republic and Hungary are now in a group as well, and will rotate as executive directors, he said. 
The chair of Nordic countries will extend its rotation to Baltic members of the group, Swedish Finance Minister Anders Borg said. 
The European moves were criticized by Brazil and South Africa. Brazilian Finance MinisterGuido Mantega called them “cosmetic” and said they will upgrade the status of emerging markets from the European Union. 
“This of course fails to correct the overrepresentation of Europe in the board, sending yet another negative signal to the outside world,” Mantega said in his speech in Tokyo. 

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

FMI: a dificil reforma da representacao proporcional (proporcional a que, exatamente?)

Disputa entre EUA e Europa no FMI ameaça Brasil
Alex Ribeiro, de Washington
Valor Econômico, 30/08/2010

Novo equilíbrio: Número de diretorias deve cair de 24 para 20 para forçar europeus a abrir mão de poder

O Brasil e outros países emergentes importantes estão sob ameaça de perder as suas representações dentro da diretoria executiva do Fundo Monetário Internacional (FMI), no mais recente capítulo na disputa pela redistribuição do poder no organismo multilateral.

Esse desfecho, embora politicamente bastante improvável, tornou-se teoricamente possível depois que os Estados Unidos tomaram uma medida que, na prática, reduz de 24 para 20 o números de membros na diretoria executiva do FMI.

O movimento americano teve como alvo países europeus, para forçá-los a abrir mão do poder desproporcional que detêm no organismo multilateral. Mas as cadeiras na diretoria executiva lideradas por Brasil, Argentina, Índia e Ruanda entraram na linha de tiro porque são os grupos com menor poder de voto no organismo e que, em tese, estariam mais vulneráveis a perder seus assentos caso não haja acordo para redistribuir as diretorias do Fundo Monetário Internacional.

"Os Estados Unidos jogaram uma bomba atômica", afirma um técnico que acompanha as negociações. "Ninguém acredita que o FMI seja viável sem duas letras dos BRICs nem sem as suas cadeiras da América Latina, por isso os europeus terão que negociar." Amanhã, os países europeus vão se reunir para discutir o impasse, e alguma solução deve ser encontrada até 31 de outubro, quando termina o atual mandato dos diretores do FMI.

Depois da atual crise econômica mundial, os países reunidos no G-20 decidiram que era hora de redistribuir o poder dentro dos organismos multilaterais, dando mais voz para economias que crescem rapidamente, como China, India, Brasil e Rússia. Mas, para tanto, será necessário que economias hoje menos importantes no cenário mundial, como Bélgica, abram mão de poder.

Numa primeira rodada, 2,5% das cotas foram transferidos para países em desenvolvimento, e o Brasil teve seu poder de voto elevado de 1,4% para 1,7%.

Até novembro, quando ocorre a próxima reunião de cúpula do G-20, na Coreia do Sul, devem ser redistribuídos mais 5% dos votos. As negociações, porém, chegaram a um impasse, com grandes chances de fracasso.

O ponto central da discórdia é o critério para distribuir cotas. Hoje, a fórmula dá um grande peso para o grau de abertura da economia, o que faz, por exemplo, com que Bélgica e Holanda tenham mais votos que o Brasil. Os países emergentes querem que seja dado mais peso para critérios como o tamanho da economia, pelo conceito de paridade do poder de compra (PPP). Se o FMI der mais peso ao volume de reservas, o Brasil também pode sair ganhando.

Há algumas divisões também entre os países em desenvolvimento. O G-20 declarou que deve ser dado mais poder para as economias dinâmicas. Nesse conceito, estão seguramente Brasil e China, mas há disputas sobre a inclusão da Argentina, por exemplo, nesse clube.

Para forçar um acordo, os Estados Unidos exerceram seu poder de veto sobre as regras eleitorais. Uma das consequências disso é que o número de diretores-executivos do FMI cai de 24 para 20. Nos estatutos do FMI, estão previstos apenas 20 diretores. Com o fim do bloco soviético, novas economias foram agregadas ao fundo, que teve o número de vagas ampliado temporariamente para 24. Essa ampliação deve ser renovada a cada eleição.

Os Estados Unidos, que estão alinhados com os países emergentes na questão da redistribuição das cotas, deixaram claro em conversas com negociadores brasileiros que sua intenção é forçar os europeus a uma negociação - e não levar à perda de cadeira para os grupos com menos votos.

Há outros pontos da agenda de reforma do FMI, porém, em que Brasil e Estados Unidos estão de lados opostos. O Brasil quer eliminar o poder de veto dos Estados Unidos, que têm 16,74% dos votos no organismo. Os negociadores brasileiros também querem acabar com um acordo informal que sempre dá o comando do FMI a um europeu, e o do Banco Mundial, a um americano.

domingo, 18 de abril de 2010

2029) Tribulacoes da nova diplomacia financeira do Brasil...

Criando problemas onde eles não existiam. A demissão pelo representante brasileiro no FMI, com laivos de humilhação (ordem de evacuar os locais em 24 horas, por exemplo), da representante colombiana no FMI (que não deve sua nomeação a ele, e sim ao governo colombiano), foi mais uma demonstração de arrogância e inabilidade de Paulo Nogueira Batista Jr.
Se a Colômbia se retirar do grupo brasileiro e aderir a um outro, o Brasil poderá perder a cadeira que exibe no Board. Mais um exemplo daquela velha lei das "consequências involuntárias", que certas pessoas não se lembram que existe...
Paulo Roberto de Almeida

O realismo mágico do PT no FMI
Veja, 21 de abril de 2010

REALISMO MÁGICO DO PT
NO FMI O economista Paulo Nogueira Batista Júnior foi nomeado, em 2007, diretor executivo e representante brasileiro no Fundo Monetário Internacional (FMI). Descrente do capitalismo e alinhado à ala mais atrasada do PT, ele é um estranho no ninho em Washington. Há dois meses, abriu um conflito diplomático com a Colômbia, país que divide com o Brasil e um grupo de outras economias menores uma cadeira no diretório do Fundo. Nogueira Batista demitiu a representante colombiana, María Inés Agudelo, alegando escassez de qualificações profissionais para o posto. Rodrigo Botero, ex-ministro da Fazenda da Colômbia e experiente analista da política latino-americana, revela que a demissão foi motivada pelo choque de visões a respeito de política econômica. "O fato é que Agudelo defendia políticas como as que são adotadas no Brasil com sucesso desde os anos 90", afirma Botero. "Mandar a Washington um representante que execra a própria política econômica de seu país é uma manifestação clara do realismo mágico latino-americano por parte do governo brasileiro." De Boston, onde vive, Botero conversou com o editor Giuliano Guandalini.

O INCIDENTE
"A destituição de María Inés Agudelo por Nogueira Batista viola o acordo de cavalheiros que existe há pelo menos quatro décadas entre o Brasil e a Colômbia. Nunca houve antes um incidente como esse. Nogueira Batista alega que ele, como diretor executivo da cadeira, teve amparo institucional ao demitir Agudelo. Foi o rompimento com uma prática saudável de convivência em que se cultiva a tolerância, com o respeito a profissionais nomeados por outros países. O Brasil adotou a atitude de tratar o incidente como uma questão exclusiva do ministro da Fazenda, Guido Mantega, responsável pela indicação de Nogueira Batista. Mas esse incidente afeta diretamente as relações bilaterais entre os países. Não estamos diante de uma questão meramente burocrática. O Planalto e o Itamaraty devem compreender que a grosseria de Nogueira Batista não colabora em nada para a boa vontade de outros países em relação à política internacional brasileira."

O CONFLITO
"Nogueira Batista não pode invocar o argumento de incompetência para destituir a colombiana. Agudelo possui mais credenciais acadêmicas que Nogueira Batista. As diferenças de Batista com Agudelo se devem a concepções incompatíveis sobre política econômica. Não é segredo para ninguém que Batista é crítico de uma política econômica que tenha um regime de metas de inflação, que empregue a flexibilidade cambial e que persiga metas de superávit fiscal primário. Esses são, em essência, os fundamentos da política econômica colombiana. São princípios que Agudelo, como representante de seu país, era obrigada a defender no FMI. Seria inconcebível que a Colômbia permitisse que um detrator de sua política econômica interviesse nas discussões do Fundo. Agora, se bem entendo, as políticas mencionadas são as mesmas que vêm sendo aplicadas com sucesso no Brasil desde os anos 90. Mandar a Washington um representante que execra a política econômica de seu próprio país é uma manifestação clara do realismo mágico latino-americano por parte do governo brasileiro. Mas isso é problema brasileiro, que não concerne à Colômbia."

RELAÇÕES ESTREMECIDAS "As relações entre Colômbia e Brasil, no FMI, foram tradicionalmente cordiais, baseadas no respeito mútuo. A afronta de Nogueira Batista constitui um desrespeito, um insulto. O governo colombiano notificou o diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, de que Nogueira Batista não está autorizado a interferir em assuntos relacionados à Colômbia. A manutenção da harmonia nas relações requer que o Brasil reconheça a validade do acordo de cavalheiros que acaba de ser violentado e ofereça garantias de que aceita restabelecer a situação que imperava antes da chegada de Nogueira Batista ao FMI."

DIPLOMACIA BRASILEIRA
"Existem aspectos desconcertantes na diplomacia brasileira na América Latina. Dou três exemplos recentes. Primeiro, ter declarado que Hugo Chávez é o melhor presidente que a Venezuela teve em 100 anos. Segundo, ter equiparado o preso político e mártir da ditadura cubana Orlando Zapata, falecido na prisão depois de uma greve de fome, a um delinquente comum. Isso é uma indecência, uma obscenidade. O terceiro foi permitir que a Embaixada do Brasil em Honduras servisse de palco para a ópera-bufa encenada por Manuel Zelaya. Além de revelarem falta de profissionalismo diplomático, esses episódios contribuem para a percepção de que a política regional tem um viés a favor do chavismo. Minha impressão é que essa aparente esquizofrenia tem uma explicação em função das tensões no interior do PT. Lula teve de repudiar a plataforma de seu partido e adotar uma política econômica ortodoxa. Esse alinhamento exigiu que Lula apaziguasse o descontentamento da extrema esquerda do PT. Como prêmio de consolação, delegou a gestão das relações latino-americanas a personagens como Marco Aurélio Garcia e seus seguidores."