segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

1757) Divida publica: deterioracao no Brasil, comparacao com os Brics

A concessão de empréstimos do Tesouro Nacional a bancos estatais foi o principal fator de deterioração dos números da dívida pública em 2009, indicam dados do Banco Central.
A dívida pública bruta total (ou seja, incluindo a União, estados e municípios) alcançou 64,1% do PIB até novembro de 2009, registrando um aumento de 7,8% em relação a 2008, a maior elevação de um ano a outro desde o ano 2000 (Cristiano Romero,"Crédito do Tesouro a banco estatal deteriora dívida pública em 2009", Valor Econômico, 25.01.2010, p. C10).

O valor é similar ao deixado pelo governo FHC a Lula em 2002, sendo que logo em 2003, a dívida total passou a 70,4% do PIB, tendo diminuído depois. "O aumento poderia ter sido maior, se o governo não tivesso mudado, em 2008, a metodologia de cáclculo, que passou a considerar apenas a dívida efetivamente no mercado, retirando os títulos encarteirados, mas sem negociação."
Ou seja, o BC carrega títulos que o governo não consegue colocar no mercado, o que é no mínimo preocupante. Mais preocupante ainda é o fato de que o governo emite títulos à taxa Selic e depois empresta a bancos estatais, que cobram menos, encaixando um custo fiscal considerável nesse tipo de operação (estimado em algo próximo de 150 bilhões de reais).
Segundo o economista Samuel Pessoa, da FGV-Rio, "Isso pode ter as características de uma bomba relógio se a política fiscal ficar muito desorganizada e a Selic tiver de subir muito lá na frente".
A distância entre a dívida líquida e a dívida bruta vem crescendo recentemente: passou de 18% do PIB para mais de 25% do PIB. O problema é que os créditos concedidos a bancos estatais, apeasr de abatidos da dívida bruta, não são líquidos como as reservas internacionais (corretamente abatidas da dívida bruta), pois não podem ser exigíveis no curto prazo. Esses créditos devem ser tratados como uma expansão fiscal, segundo economistas. Retirando-se esses crésitos da contabilidade, a dívida líquida passaria de 43% a 52% do PIB.
Mas, o crescimento da dívida líquida também foi significativo, passando de 37,3% para 43% do PIB, ou seja, um crescimento de 5,7% do PIB.

Comparativamente a outros países, e numa escala crescente, temos o seguinte quadro da dívida pública em 2009, como proporção do PIB (segundo dados do FMI):
Rússia: 7,2
China: 20,2
Argentina: 60,5
Brasil: 68,5
Reino Unido: 68,7
França: 78,0
Alemanha: 78,7
Índia: 84,7
Estados Unidos: 84,8
Itália: 115,8
Japão: 218,6

1756) O que define um heroi?

O Brasil vem prestando homenagem aos militares brasileiros do contingente destacado para servir no Haiti, que faleceram vítimas do terremoto que abalou aquele país duas semanas atrás.
Todos, o governo naturalmente, e os meios de comunicação com grande ênfase, vem classificando esses militares mortos como "herois", e como tais eles foram tratados nas homenagens póstumas (medalha de bravura, promoção post mortem, indenização à família, bolsas oferecidas aos dependentes, etc.).
Confesso que, mesmo sob risco de parecer insensível ou destoante da unanimidade, eu fico me perguntando por que, em que medida e com qual legitimidade eles seriam herois de verdade.
Se vou aos dicionários, as definições que me são dadas do termo são estas:

HEROI: substantivo masculino
1 Rubrica: mitologia. Filho da união de um deus ou uma deusa com um ser humano; semideus.
2 Rubrica: mitologia. Mortal divinizado após sua morte; semideus.
3 Derivação: por extensão de sentido. Indivíduo notabilizado por seus feitos guerreiros, sua coragem, tenacidade, abnegação, magnanimidade etc.
4 Derivação: por extensão de sentido. Indivíduo capaz de suportar exemplarmente uma sorte incomum (p.ex., infortúnios, sofrimentos) ou que arrisca a vida pelo dever ou em benefício de outrem.
5 Derivação: por extensão de sentido. Indivíduo notabilizado por suas realizações; Ex.: os h. das ciências.
6 Derivação: por extensão de sentido. Figura central de um acontecimento ou de um período; Ex.: os h. da Revolução Francesa.
7 Derivação: por extensão de sentido. Pessoa que, por ser homenageada ou por qualquer motivo (nobre ou pouco digno), se distingue ou é centro de atenções. Ex.: .
8 Derivação: por extensão de sentido. Principal personagem de uma obra de literatura, dramaturgia, cinema etc.
9 Uso: informal. Indivíduo que desperta enorme admiração; ídolo.
(Cf. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa; versão eletrônica)

Eu me pergunto, sinceramente, em quais das categorias poderíamos encaixar os militares brasileiros mortos, geralmente esmagados em decorrência do forte tremor que abalou o Haiti.
Se alguém tiver uma sugestão, agradeço comunicar-me...
(25.01.2010)

domingo, 24 de janeiro de 2010

1755) Lancamento virtual (chat) de O Moderno Principe (e novos cássicos revisitados)

Participei ontem do lançamento virtual (por meio de chat) de meu livro mais recente:

O Moderno Príncipe: Maquiavel revisitado
(Rio de Janeiro: Freitas Bastos, edição eletrônica, 2009, 191 p.; ISBN: 978-85-99960-99-8); R$ 12,00; disponível online neste link: http://freitasbas.lojatemporaria.com/o-moderno-principe.html
Ver sumário completo neste link.

Não o fiz voluntariamente, mas apenas por sugestão da editora, sutilmente constrangido a fazê-lo, claro, para movimentar os negócios, produzir lucros, enfim, essas coisas do mundo capitalista, que devemos todos aceitar (se é que pretendemos viver num mundo capitalista). Confesso que nunca lancei livros, ou se o fiz foi por iniciativa de editoras ou por indução de alguma entidade (universidades, ou associações de cunho acadêmico). Não sou comercialista, não me interessa quanto vão "render" os meus livros, interessa-me apenas que eles sejam lidos, pois a implicação lógica de quem escreve e publica é que seja conhecido, lido, comentado. Tudo bem se não fosse minha proverbial timidez mercadológica, digamos assim: eu espero que meus livros seja "descobertos" e lidos apenas pela sua importância intrínseca, não pelo suporte publicitário que se possa fazer em torno deles. Concedo que um pouco de informação é útil, até mesmo necessária, mas não me sinto bem fazendo isso eu mesmo, posto que já coloco a informação no meu site...

Tampouco aprecio a forma escolhida, por um chat pré-formatado. Talvez se possa melhorar a ferramenta no futuro, mas a que existe atualmente me parece muito canhestra e pouco prática.
Não gosto do meio -- aquela coisa de ficar no "tec, tec, tum" -- e não gosto do ambiente: você não consegue raciocinar direito, tem de ficar respondendo apressadamente a um e a outro, e com isso o que se tem é uma "conversa" fragmentada, entrecortada por pensamentos 'profundos' e comentários ligeiros, como é de hábito numa conversa de roda... Sinceramente, não me sinto bem com o instrumento e com a natureza da comunicação. Pode que no futuro tenhamos chats inteligentes, sofisticados, que permitam um diálogo amplo, tranquilo, transparente e agradável, por enquanto, ficou apenas incômodo.

De toda forma, gostaria de agradecer a todos os que compareceram (poucos "gatos pingados", como diria alguém), e que me prestigiaram nesta oportunidade de interação.
Foi uma chance de conversar um pouco, e também de assumir novas "obrigações", como a de continuar a série dos "clássicos revisitados" que gostaria de fazer. Talvez textos curtos, entre 20 e 50 páginas, e quem sabe um por mês em 2011 (sinto, mas 2010 já está ocupado).
Ontem, num intervalo de restaurante, anotei rapidamente em minha caderneta, quais poderiam ser eventualmente considerados. Fiz a lista out of the mind, sem me preocupar com datas, nomes, representatividade, ou sequer (neste momento) com o tema principal, que é o elemento central de minha série de clássicos revisitados, ou seja, capturar a mensagem central de cada obra, e transplantá-la para a nossa época, como se o autor tivesse renascido, ou como se eu falasse por ele, num diálogo à distância.
Aqui vai a minha lista de:

Cássicos Revisitados

1) Animal Farm - George Orwell
2) Utopia - Thomas Morus
3) Elogio da Loucura - Erasmo de Rotterdam
4) Paz Perpétua - Immanuel Kant
5) Paraíso Perdido - Milton
6) O Capital - Karl Marx
7) O Estado e a Revolução - Lênin
8) O Caminho da Servidão - Alfred Hayek
9) O Antigo Regime e a Revolução - Alexis de Tocqueville
10) Novelas Exemplares - Miguel de Cervantes
11) História da província Santa Cruz a que vulgarmente chamamos Brasil - Pero Magalhães de Gândavo
12) História do Futuro - Antonio Vieira

Existem dezenas de sugestões, eu sei, mas me contenho, no momento, apenas nestas, out of the mind, como disse. Nem todas são para trazer o conteúdo ou o espírito original para os tempos atuais, apenas para aproveitar o seu título atrativo e daí compor uma obra totalmente original.
Vejamos o que aparece no decurso deste ano (já tenho programação que vai me manter ocupado por pelo menos trezes meses, se eu conseguir esticar o ano).

Paulo Roberto de Almeida (24.01.2010)

1754) Hugo Boss, aplaudido e ovacionado no FSM

Bem, se ele aparecer, está claro. Não tenho certeza de que o grande boss desse tipo de surrealismo recorrente apareça no FSM desde ano em Porto Alegre; afinal de contas, ele está enfrentando um bocado de problemas no seu país natal (e sua fazenda pessoal).
Nenhum dos problemas que ele tem, diga-se de passagem, foi criado pelo seu inimigo imaginário (ou real, dirão seus amigos), o imperialismo americano. Todos, sublinho TODOS os problemas são e foram criados pela sua incúria administrativa, pela sua inépcia econômica, pela indigência mental daqueles que o assistem e seguem de maneira completamente idiota (ou submissa, a troco de vantagens, dinheiro, prestígio, whatever...).
Mas, eu tenho absoluta certeza disto: se ele aparecer em Porto Alegre será ovacionado, saudado delirantemente por um bando de pessoas que eu só posso classificar de idiotas completos (sinto muito, meus críticos, mas não consigo achar um termo melhor), pessoas que não se dão ao trabalho de simplesmente constatar o que está acontecendo no vizinho país e que apenas se deixam enganar pela conversa fiada de um candidato a Mussolini (sim, tem gente que acha que, apenas por causa de sua conversa mole anti-imperialista, o caudilho em questão deva ser considerado um líder de esquerda, quando ele é apenas um candidato a condottieri fascista).
Para que se perceba um pouco desses problemas, que podem impedi-lo de aparecer (cercado de gorilas, como convem) no FSM, vejamos o editorial do Globo deste domingo, um jornal perfeitamente burguês e capitalista (mas que também tem idiotas que escrevem artigos nele, como convem a nossa nossa imprensa plural).

Chavismo em crise
Editorial de O GLOBO, 24/01/2010

As últimas ações do coronel Hugo Chávez confirmam que seu histrionismo cresce quando ele precisa desviar a atenção de problemas domésticos. Daí a declaração cômica de que testes de armas secretas da Marinha americana estariam por trás do terremoto no Haiti. Ou a afirmação de que "o império americano está tomando o Haiti sobre os cadáveres e as lágrimas de seu povo".

Quanto ao seu povo, os venezuelanos sofrem com a elevada inflação, o desabastecimento, os apagões (a energia elétrica escasseia por falta de investimentos em infraestrutura), a violência (Caracas é a cidade mais perigosa da América do Sul) e a ineficiência generalizada, uma vez que a ação preferida do governo é a estatização de empresas, sob qualquer pretexto. Há um ambiente propício também à corrupção.

Chávez derrubou a democracia "das elites" venezuelanas para supostamente acabar com a corrupção e refundar o país em nome de um vago "socialismo bolivariano do século XXI", que se revela um regime autoritário e capaz de arruinar um país rico como a Venezuela.

Enquanto o preço do petróleo esteve nas alturas, Chávez, de cofre cheio, patrocinou aliados — Cuba, Bolívia, Equador, Argentina, Nicarágua, Honduras, Paraguai. Hoje, com a crise mundial e o preço do petróleo mais baixo, o chavismo faz água e seus aliados, idem. Cuba ainda espera o fim do embargo americano para melhorar de vida, mas os irmãos Castro não largam o osso. Evo Morales tomou posse para o segundo mandato na sextafeira, tentando costurar a colcha de retalhos que é a Bolívia, situação agravada por ele mesmo com a criação das autonomias indígenas.

A Argentina, importante aliado do chavismo, atravessa grave crise econômica, política e institucional.

Em Honduras, Chávez amargou uma derrota com a destituição do aliado Manuel Zelaya — numa crise que se arrasta há meses e que levou junto o Brasil.

Nesse panorama, enquanto o Chile confirma a maturidade de sua democracia com a vitória de Sebastián Piñera, o presidente Lula, em que pesem recaídas terceiromundistas, consolida a liderança no continente. A Venezuela, mesmo que consiga a adesão plena ao Mercosul (falta apenas a concordância do Senado paraguaio), não terá nele a solução de seus problemas, e ainda criará outros para o bloco. A instabilidade na Venezuela e em aliados de peso, como a Argentina, permite antecipar que 2010 deverá ser um ano tenso na América do Sul, no bloco sob a influência do chavismo.

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PS PRA: Essa coisa de "consolidar a liderança no continente" é uma perfeita bobagem do editorialista do Globo, que não deve conhecer a realidade dos outros países, nem (aparentemente) ler os jornais desses países.

1753) Forum Surreal Mundial: começa amanhã...

Bem, acho que está tudo mundo avisado, inclusive pelos meios de informação da globalização contemporânea, meios que em sua quase totalidade são capitalistas, ou seja, aspirando ao lucro, a ganhos monopolísticos, à acumulação desenfreada, enfim, tudo aquilo que será objeto de condenação, de opróbrio, de rejeicão no FSM de Porto Alegre, aliás perfeitamente globalizado pela internet, pelas redes de computadores, pelos blogs gratuitos (enfim, um free lunch do capitalismo), pelos celulares de última geração, em resumo, tudo o que não existe nos regimes e países que eles vão exaltar (Cuba, Venezuela, etc...).
Contraditório, não é mesmo?
O que se há de fazer?
Os antiglobalizadores são mesmo assim: aproveitam-se das benesses da globalização capitalista para condenar e protestar contra essa mesma globalização capitalista.

Bem, eu espero, pelo menos, que alguns deles, uma ínfima minoria que seja, aproveite esta tarde de domingo para ler as "conclusões antecipadas" que eu fiz a propósito do show que começa nesta segunda e vai até sexta-feira.
Minha contribuição para a boa compreensão do que eu chamei de Forum Surreal Mundial está aqui:

Fórum Social Mundial 2010, uma década de embromação: antecipando as conclusões e desvendando os equívocos
Paulo Roberto de Almeida
Publicado em Mundorama (http://mundorama.net/2010/01/20/forum-social-mundial-2010-uma-decada-de-embromacao-antecipando-as-conclusoes-e-desvendando-os-equivocos-por-paulo-roberto-de-almeida/).

Transcrevo apenas o comecinho:

1. A novela está de volta (com o mesmo enredo...)
Como acontece todo ano, os alternativos da antiglobalização estarão reunidos neste final do mês de janeiro de 2010 para protestar contra a globalização assimétrica e proclamar que um “outro mundo é possível”. Eu também acho, mas a verdade é que eles nunca apresentam o roteiro detalhado desse outro mundo esperado, se contentando com slogans redutores contra a globalização, essa mesma força indomável que torna mais eficiente a interação entre essas tribos e permite que suas mensagens – equivocadas, como sempre – alcancem, em questão de minutos, todos os cantos do planeta. Em todo caso, eles já se consideram tão importantes que já nem mais se dão ao trabalho de protestar contra o outro Fórum Mundial, o capitalista de Davos, como ocorria todo ano naquela estação suíça de esqui: os capitalistas agradecem serem deixados em paz e prometem refletir sobre as propostas do fórum alternativo, se é que alguma será feita.
Como também acontece todo ano, eu fico esperando para ver se alguma ideia nova e interessante – Ok, ok, também podem ser ideias velhas e desinteressantes, mas que sejam pelo menos racionais e exequíveis – vai emergir desse jamboree anual de antiglobalizadores e iluminar as nossas políticas públicas tão carentes de racionalidade e sentido de justiça. Como não confio, porém, que algo de novo vá surgir de onde nunca veio nada de inteligente, resolvi não esperar pela conclusão do encontro de 2010, e me proponho, sem cobrar copyright dos antiglobalizadores, antecipar suas conclusões conclusivas (se é verdade que algo do gênero pode ocorrer; isso corre o risco de nos surpreender).

para ler o texto completo (e vários comentários a respeito) clicar aqui.

Pois bem, retomo agora para tratar de um problema para o qual já fui chamado à atenção por alguns leitores benevolentes, que acham que eu ofendo muita gente, gratuitamente, ao chamar os que participam desse tipo de evento embromador de idiotas, ou até mesmo de perfeitos idiotas.

Acho que tenho de me desculpar e ao mesmo tempo de me explicar, explicitando exatamente o que eu quero e pretendo dizer. Vamos por parte e dividir em categorias toda a tropa, a tribo heteróclita, que participa desse tipo de show mediático e contraditório.
Nos diversos FSMs existem:

1) Ingênuos: são os jovens idealistas, estudantes primeiro-anistas das faculdades de humanidades, geralmente instruidos no anticapitalismo e no anti-americanismo desde o primário e o secundário, por professores perfeitamente mal-instruídos, desejosos de contribuir para o bem-estar da humanidade, que estaria ameaçado por poderosas empresas multinacionais, que exploram os trabalhadores, poluem o meio ambiente (em todos os países, os seus e especialmente aqueles ditos periféricos), sequiosos por participar da campanha de libertação dos mesmos países periféricos da exploração e dominação ignóbil do imperialismo americano; esses jovens são apenas meio idiotas, pois caem na conversa mole desses professores idiotas completas e não conseguem distinguir a fantasia que lhes é servida da realidade que eles tem ao alcance do computador, bastando navegar um pouco para se informar como é feito o mundo. Vamos chamá-los, portanto, apenas de ingênuos, pois suas motivações são nobres, eles são desprendidos, apenas não tendo informação suficiente (mas também são idiotas por não procurá-la, pois ela está disponível livremente nos meios perfeitamente capitalistas e globalizados que eles usam).

2) Idiotas em tempo integral: são os mestres desses jovens ingênuos, que aprenderam meia dúzia de slogans de outros mestres idiotas antes deles, nunca leram Marx (mas apenas contrafações) nem quaisquer livros mais sérios de história ou de economia, e saem por aí, impunemente, ensinando bonagens aos jovens passivos que são seus alunos. Acho que eles não tem conserto, por isso não merecem de mim mais do que estas poucas linhas, pois, à diferença dos jovens idealistas, eles vão continuar assim idiotas durante toda a sua carreira.

3) Perfeitos idiotas profissionais: São alguns expoentes da academia, que passam por "intelequitais", mas que são apenas profissionais da embromação e do oportunismo, pois que são mais conhecidos (já publicaram meia dúzia de obras perfeitamente inúteis) e são sempre convidados para falar nesses convescotes animados, onde as pessoas sensatas (como eu e você) já sabem perfeitamente o que eles vão dizer, de tão óbvio. Eles não são calhordas profissionais, pois não ganham a vida nessas masturbações militantes, são apenas os interventores úteis a convite, já que em geral são professores das universidades públicas e perpetram suas bobagens gratuitamente, apenas se contentando com os aplausos da galera embevecida. Exemplos típicos: Noam Chomsky e Boaventura de Souza Santos.

4) Empulhadores profissionais: São aqueles que têm perfeita consciência de que participam de uma mistificação, pois são pessoas viajadas, conhecem o capitalismo (onde vivem, obviamente) E o socialimo (já foram váraias vezes a Cuba, a convite, obviamente), e fazem isso com um zelo profissional que beira a calhordice. São militantes da causa, e vivem disso. Não creio que acreditem seriamente nas bobagens que propagam, dizem, escrevem, pois se isso ocorre, além de calhordas profissionais seriam idiotas mais que perfeitos. Eles sabem perfeitamente que Cuba é uma miséria material, humana e espiritual, e ainda assim se dão ao trabalho de defender um regime assassino e liberticida. É que os compromissos do passado e certas vantagens do presente os "obrigam" a fazer isso, do contrário cairiam no completo ostracismo e não teriam mais o que fazer, por falta completa de credibilidade. São dos seres mais abjetos que possam viver nas academias atualmente. Eu poderia dar vários exemplos, mas só vou uma abreviatura, pois quem conhece esses meios sabe de quem estou falando: ES.

5) Assassinos em potencial, fazendo de conta que são democratas: São aqueles que animam movimentos ditos sociais, por exemplo, em favor da reforma agrária, que nada mais é do que um pretexto. Dirigem grupos paramilitares, de cunho leninista ou neobolchevique, e acreditam (talvez por também serem idiotas terminais) que estão em Petrogrado em 1917, e esperam a sua oportunidade de "fazer a Revolução". São tipos perigosos, pois vivem do dinheiro da burguesia, das contribuições de todos esses movimentos ingênuos de europeus arrependidos (com a exploração passada), e do seu, do meu, do nosso dinheiro, que são os recursos públicos que eles "roubam" (sim ROUBAM) do Estado a pretexto de fazer obras no campo, educação de camponeses e coisas do gênero). Acho que não preciso citar nenhum nome de tão óbvio.

6) Oportunistas políticos: São todos aqueles políticos profissionais, ou militantes guindados em cargos públicos, que frequentem esses foros (que deveriam ser apenas da sociedade civil, mas que vão neles "a convite", de organizações que são as suas) para divulgar suas ações governamentais, para dizer que o governo está sim, preocupado com a "justiça social" e com a "equidade", que o governo quer sim "democratizar os meios de comunicação", que o governo quer sim tornar a globalização mais humana e fraterna, enfim, um monte de bobagens que eles fingem acreditar (e se acreditam são também idiotas), mas que servem para desculpá-los pelo fato do governo não ter ainda enterrado o capitalismo (imagina se eles vão matar a galinha dos ovos de ouro) e ter começado a construir aquele "outro mundo possível" que vários idiotas franceses antes deles se encarregaram de propagandear. São eles que financiam esse bando de surrealistas, idiotas, calhordas e outros representantes da espécie que se reunem com o seu, com o meu, com o nosso dinheiro para decidir absolutamente nada, apenas continuar o festival de ilusões.

OK, acho que já me expliquei e não chamei a todos de idiotas. Bem apenas quase todos...
Como sempre, vou ser condenado por dizer o que penso.
Sinto muito, folks, eu tenho um problema grave: não consigo deixar de dizer o que penso, quando vejo uma idiotice manifesta.
Sinto muito, tenho esse grave defeito.
Ainda bem que vivemos em democracia, pois num regime como os que vão ser homenageados pelos surrealista do FSM eu nunca conseguiria manter um blog como este...

Paulo Roberto de Almeida (24/01/2010)

PS.: Vejam o post seguinte...

1752) Gastos publicos e crescimento na América Latina - estudo do IPEA

Minha atenção foi chamada para um estudo do IPEA por uma nota no portal (e também blog-newsletter) do economista José Roberto Affonso, neste link.
O título "latrinos" é dele, e não corresponde ao título real do estudo:

Impactos dos Gastos Públicos Latrinos (Silva e Cândido)
Transcrevo primeiro o resumo que ele faz, depois vou ao texto original:

Texto para Discussão do IPEA n.1434, de Alexandre Manoel A. da Silva e José Oswaldo Cândido Jr. ,mensura os impactos macroeconômicos dos gastos públicos nas principais economias da América Latina onde se observa, de maneira geral, que no longo prazo os investimentos públicos tendem a afetar positivamente o produto e consumo das famílias. No curto prazo, os multiplicadores do consumo do governo com relação ao produto, consumo e investimento privado são positivos e significativos. (PDF em português; Data: 30/11/2009)

Vou agora ao trabalho original, que pode ser encontrado neste link.


Transcrevo agora a sinopse e as conclusões (se algum leigo não entender, eu posso colocar em linguagem simples, que redundaria apenas nisto: gastos públicos podem ser um expediente útil, em determinadas circunstâncias e por um tempo limitados, nas no longo prazo são negativos para o crescimento. Os autores, trabalhando no Ipea, para chefes comprometidos com os gastos públicos, tentam conciliar as duas posições).

TEXTO PARA DISCUSSÃO No 1434
IMPACTOS MACROECONÔMICOS DOS GASTOS PÚBLICOS NA AMÉRICA LATINA *
Alexandre Manoel Angelo da Silva ** José Oswaldo Cândido Júnior ***
Rio de Janeiro, novembro de 2009

* As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, o pensamento dos órgãos onde os autores trabalham.
Destaque-se nosso agradecimento ao economista Carlos Mussi por disponibilizar os Anuários Estatísticos da Comissão Econômica
para a América Latina e o Caribe (Cepal), fundamentais nesta pesquisa.
** Técnico de Planejamento e Pesquisa da Diretoria de Estudos e Políticas Regionais, Urbanas e Ambientais – DIRUR/Ipea.
*** Técnico de Planejamento e Pesquisa da DIRUR/Ipea cedido ao Senado Federal.

SINOPSE
Este artigo mensura os impactos macroeconômicos dos gastos públicos (consumo e investimento das administrações públicas) nas principais economias da América Latina por meio do modelo cointegrado dos vetores autorregressivos. No longo prazo, de maneira geral, os investimentos públicos tendem a afetar positivamente o produto e o onsumo das famílias, embora tenha apresentado uma relação de substitutibilidade com o investimento privado. No curto prazo, na maioria dos casos, os multiplicadores do consumo do governo com relação ao produto, consumo e investimento privados são positivos e significativos, embora de pequena magnitude. Já os multiplicadores do investimento público para a maioria dos países são estatisticamente não significativos.

5 CONCLUSÕES
Este artigo avalia os impactos macroeconômicos dos principais componentes dos gastos públicos (consumo e investimento) sobre o PIB, consumo das famílias e investimento privado, em uma amostra de seis países da América Latina: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México e Venezuela, no período 1970-2002. Esses países são as principais economias da região, representando cerca de 90% do PIB regional.
Para a obtenção dos resultados, utilizou-se a estrutura dos vetores autorregressivos cointegrados. A fim de expor os principais resultados de maneira didática, dividem-se as conclusões em dois contextos: relações de longo prazo e relações no curto prazo.
Relações de longo prazo: em geral, o investimento público afeta positivamente o produto e o consumo das famílias, embora tenha mantido uma relação de substituição com os investimentos privados. O consumo governamental afeta negativamente o produto e o consumo das famílias para a maioria dos países. No que diz respeito ao impacto do consumo do governo sobre o investimento privado, o resultado é de complementaridade para Colômbia, México e Venezuela e de substitutibilidade para Argentina, Brasil e Venezuela.
Esses resultados sugerem que o impacto do consumo do governo sobre o investimento privado depende do nível relativo desse consumo na comparação com o investimento público. De fato, nos países em que esse nível é relativamente mais baixo ou a sua evolução ao longo do tempo é de estabilidade ou queda, é possível encontrar relações positivas entre o consumo do governo e o investimento privado. A ideia é que gasto público considerado produtivo (improdutivo) possa vir a se tornar improdutivo (produtivo), quando seu montante se torna excessivo (escasso).
Relações de curto prazo: em linhas gerais, os resultados de uma política de estabilização baseada em uma política keynesiana ativa de estabilização se mostram limitados em termos de magnitude e duração ao longo do tempo. De fato, com exceção do caso chileno, os multiplicadores quando significativos são geralmente abaixo de 1 e os efeitos dos choques perduram no máximo por dois períodos (anos), desaparecendo completamente no período (ano) subsequente.
Ademais, os resultados sugerem que para a maioria dos países latino-americanos investigados existe um pequeno espaço para aumento do consumo do governo no estímulo à demanda agregada. Em geral, esse efeito positivo depende do nível e da margem do consumo governamental, ou seja, o espaço fiscal permitido depende da relação nível de consumo governamental vis-à-vis ao de investimento público. Nos países em que essa relação é alta, o espaço fiscal é menor, e vice-versa.
Por fim, cabe destacar, ainda, os prováveis efeitos expectacionais do aumento do investimento público. Este estudo infere que, no longo prazo, existe uma relação positiva entre investimento público e produto, embora o investimento público apresente uma relação de substitutibilidade com o investimento privado. Assim, para que o investimento público não ocupe o espaço do investimento privado, é importante se estimular a parceria público-privada, focalizando em investimentos públicos com elevado grau de complementaridade de investimentos privados.

1751) A obsessao totalitaria da esquerda brasileira (2)

A propósito de minha postagem anterior, com este mesmo título, recebi a reação de um historiador formado pela Universidade Federal da Bahia, Equiano Santos, administrador (e "dono") de um blog chamado Historiografia em Controvérsia, aliás interessante pela sua primeira e única postagem (realizada em Outubro de 2008) com uma entrevista do historiador não sectário, e inteligente, João Fragoso, na qual ele desconsidera os procedimentos tradicionais da tribo acadêmica brasileira que se ocupa de história. Muito interessante e útil para todos os historiadores, como o próprio Equiano Santos, e que eu recomendo a todos (ver neste link).
Bem, fiz esta pequena introdução, porque pretendo dar uma pequena aula de história e de ciência política contemporánea a um jovem historiador que está falhando terrivelmente à metodologia que ele deveria defender, sustentar, usar e adotar (por uma vez, ja que se pretende historiador).
Ele fez um comentário a esse post anterior, que eu me permito reproduzir aqui, e comentar em total transparência, pois creio que ele, e outros eventuais interessados poderão se interessar pelo que eu tenho a dizer sobre esta

Pequena Controvérsia a Respeito da Liberdade de Expressão e de Opinião.

Retomemos, pois, o tema, e eu abro agora um parágrafo para:

Comunismo, soviets, Lenin ???
Equiano Santos disse (Domingo, Janeiro 24, 2010 10:32:00 AM)

É a Veja e seu show de anacronismos. Melhor dizer de saudosismo, pois nem mesmo a esquerda contemporânea cultiva isto com tanta empolgação (exceção às siglas minúsculas e sem voz).
Se o debate deve ser travado em torno de uma suposta restrição da liberdade de imprensa, que aqueles que escrevem a esse respeito se utilizem da história não para fazerem panfletagem e sim para enriquecer o debate. Mas o que dizer de uma revista que tanto falou de uma hipotética reeleição de Lula e que praticamente nada falou da aprovação do Congresso colombiano da recandidatura de Uribe?

Para um bom panfleto político, que são as matérias desta revista, sempre será dois pesos duas medidas...

Já li em seu blog muitos textos de excelente qualidade, principalmente aqueles que me forneceram um ponto de vista diferente de minha formação... Definitivamente os da Veja não...

(Fim de transcrição)

Minha resposta ao Equiano:


Meu caro Equiano,
Agradeço você ter se dado ao trabalho de ler o meu blog e de, por intermédio dele, ter se inteirado de uma matéria da Veja, revista que, se eu deduzo por suas palavras, você jamais lê, pois se trata supostamente de uma revista burguesa, da "grande mídia" como dizem seus colegas de pensamento, e portanto não confiável, falsa, defensora dos interesses do grande capital contra aqueles mais defensáveis do povinho miúdo que constitui maioria no Brasil.
Agradeço sobretudo o fato de você julgar que meus blogs contem textos de excelente qualidade, sobretudo os que divergem do que normalmente você tem, em seu meio de origem ou de formação, o que indica exatamente o objetivo didático de meus blogs e site.
Veja, eu sou um pouco (bem) mais velho do que você, tenho portanto certa experiência de vida, muitas leituras acumuladas -- o que Marx chamaria de "acumulação primitiva" de leituras -- e, sobretudo, uma certa abertura de espírito para julgar as coisas pelo que elas são, não pelo seu suporte mediático, no caso uma simples revista de informação (que eu tampouco considero ideal, no meu plano de fontes de informação).
Você, Equiano, como a totalidade do povo brasileiro, nunca conheceu, nunca viveu e, sendo jovem, nunca visitou algum socialismo real, coisas que eu já conheci, por ter visitado, vivido, assistido pessoalmente ao seu modo de (não) funcionamento, e por ter partilhado, até um certo momento de minha vida, alguns dos objetivos ou ideais (se é que esse conceito se aplica).
Como você, ao ser universitário, fui exposto a determinados conceitos e idéias, típicos da academia brasileira, no terreno das humanidades. Impossível ser sociólogo no Brasil (e em vários outros lugares também) sem ser um pouco (bastante, no meu caso) marxista, e daí condenar o capitalismo com todo o seu cortejo de desigualdades e injustiças sociais, desconfiar da burguesia (e seus planos para escravizar os trabalhadores) e passar a conclamar que um outro mundo é possível. Enfim, isso é muito conhecido.
Sinto dizer, porém, Equiano, que você, como historiador, falha terrivelmente em sua profissão, e continuando assim, você NUNCA será um bom historiador, por uma razão muito simples: em lugar de dialogar com as "fontes", você resolve atacar o "meio" de transmissão, e ao fazê-lo você desconsidera totalmente o conteúdo da informação, apenas para desqualificar o veículo que a transmitiu.
Você simplesmente desconsidera, desqualifica, esquece totalmente a única matéria de seu blog prometedor, a entrevista de um historiador que condenou, justamente, o procedimento que você adotou agora.
Como você há de concordar, os principais documentos para se estudar a história diplomática do Brasil são, obviamente, atos de chancelaria, notas, mensagens, declarações e outros papéis produzidos dentro da chancelaria, por definição "suspeitos", postos que elaborados pelos próprios interessados na "sua" versão da história. O bom historiador vai confrontar esses papéis com outros, de alguma outra chancelaria, se se trata de uma relação bilateral, ou dados da economia, da política, de personagens alheios à chancelaria, para ter uma visão global do processo que ele está estudando. Isso faz o bom historiador.
O mau historiador, não estou dizendo que você é um, faz como você fez neste seu comentário: com base no simples meio ou veículo de informação, passa a atacar o fundamento da informação, não com conceitos substantivos e fundamentados de natureza contrária, mas simplesmente adjetivos, desqualificadores, totalmente subjetivos ou impressionistas: "show de anacronismos", "saudosismo", "panfletagem", enfim, você simplesmente se recusa a discutir a matéria da revista para apenas e tão somente atacar a revista.
Sinto muito, Equiano, mas isso não comrresponde, nem aqui nem no socialismo, aos procedimentos de um historiador.

Agora, se você me permite entrar na substância de suas intenções -- o que também é totalmente subjetivo e impressionista de minha parte -- eu diria o seguinte:

Você, Equianio, como milhares de outros jovens universitários brasileiros, infelizmente não foi educado nas boas regras do método histórico ou sociológico, mas apenas ao festival de panfletagem que hoje responde ao nome de universidade brasileira, uma instituição em rápido processo de mediocrização e de decadência, em razão desses mesmos procedimentos que eu já apontei acima, pelo menos naquele núcleo que responde pelo nome de humanidades.
Obviamente, nem tudo é assim, prova da qual a matéria com o professor Fragoso (que você parece ter esquecido) constitui um belo exemplo de independência de pensamento.

Você, Equiano, como a totalidade do povo brasileiro (e eu repito o que disse acima) jamais conheceu e provavelmente jamais irá conhecer o socialismo real, aquele que se inspira de Marx e Lênin, um dos personagens "julgados" na matéria da Veja.
Ou talvez sim: se você correr, se apressar, e juntar algum dinheiro, ainda poderá assistir a uma espécie de "museu de cera" do socialismo real. Vá a Cuba, passe uma semana, fale com as pessoas normais, observe o dia a dia na ilha, e partilhe um pouco da experiência "normal" dessas pessoas. Acredito que será uma boa experiência para você.
Eu não tenho nenhum problema em dizer isto, posto que, jovem universitário, marxista-leninista, eu fui ao socialismo real, no coração do bloco soviético, e lá pude conhecer o que é, de verdade, o socialismo. Não que eu fosse um ingênuo, mas é que um confronto direto nos fornece outras informações do que apenas livros, revistas, documentos de arquivo.
Não preciso me referir aqui às misérias materiais do socialismo, isso eu já sabia, das penúrias, da falta de abastecimento, da ausência completa de escolha, ou de diversidade de bens e serviços para comprar, apenas o básico, e por vezes nem o básico: produtos de primeira necessidade racionados, aquecimento inexistente (e você pode julgar o efeito disso num inverno soviético, ou russo), falta das coisas mais elementares, exatamente o que acontece hoje em Cuba e Coréia do Norte (que você infelizmente não poderá conhecer, pois é um museu vivo do socialismo real).

Não, não pretendo falar dessas coisas. Refiro-me apenas à miséria moral que é justamente a ausência completa de liberdade informativa, a censura prévia e total, a delação, a vigilância, enfim, um Estado policial (você certamente já ouviu falar disso, deve ter visto, por exemplo, um filme como "A Vida dos Outros").
Talvez você considere tudo isso bobagem, pois nunca teve ausência de liberdade para fazer tudo aquilo que você quer fazer, como por exemplo atacar a Veja, que para você está a serviços dos interesses mais mesquinhos e reacionários da sociedade, em lugar de defender o governo progressista de Lula e seus magnifícos programas sociais. Entre outros programas se encontra esse que foi objeto da matéria da Veja, que você sequer abordou, ou seja, a tentativa canhestra, abjeta moralmente, indefensável no plano dos direitos elementares, de censurar a imprensa.

Veja você que ainda recentemente eu pude visitar a China, e lá admirar o imenso progresso material feito por aquele povo, na construção de belos edifícios, na prosperidade aparente de uma taxa inacreditável de crescimento, na retirada de uma miséria abjeta de centenas de milhões de pessoas para colocá-las numa pobreza aceitável -- os chineses dizem querer oferecer uma "moderada prosperidade" ao seu povo -- enfim, uma história de desempenho econômico que jamais foi registrada nos anais da história econômica mundial, e que provavelmente jamais será igualada novamente.
Pois bem, desfrutando de tudo o que havia de bom na nova China, eu tive uma amostra de tudo (ou apenas parte) o que havia de ruim na velha China: durante uma semana inteira que passei lá, JAMAIS consegui acessar este meu blog (ou outro que tenho, especial sobre a China), para relatar minhas experiências, colocar meu relato de viagem, falar das coisas interessantes que vi, enfim, simplesmente registrar (para mim, ou para outros) o que eu estava vendo e experimentando. NADA, nadica de peterebas, simplesmente foi impossível acessar qualquer blog, e mais irritante ainda, muitos sites simplesmente não entravam, e eu era simplesmente dirigido ao Baidu, o que passa por ser um Google chinês e que nada mais é do que uma amostra de que a China continua a ser um Estado autoritário (não mais totalitário, mas simplesmente dominada por um partido-Estado que se julga dono das pessoas).

Meu caro Equiano, acho que você deveria refletir sobre essas coisas, pensar mais uma vez, e oferecer, da próxima vez, não um comentário adjetivo e cheio de invectivas negativas sobre a Veja, um comentário sobre o cerne da matéria, como faria, por exemplo, um historiador como o João Fragoso.
Eu o convido a retornar ao meu blog, e oferecer comentários substantivos sobre o problema da liberdade de expressão e, se desejar, comentários comparativos entre o que disse Jefferson, e o que disse Lênin.
Ao fim e ao cabo, esse é o único aspecto relevante na matéria, que interessaria ao historiador: saber se o Brasil dirigido pela tropa de estranguladores da liberdade de expressão que se revelou no Programa Nacional de Direitos Humanos se aproximaria mais de Jefferson ou de Lênin.
Acho, também, que você faria bem em ler um pouco mais de história, ou quem sabe, um jornalista como George Orwell, que tem coisas interessantes a dizer sobre a liberdade de expressão.

Com todo o meu apreço acadêmico,
Paulo Roberto de Almeida (24.01.2010)

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