sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

1875) FSM, dia 3: um completo energumeno e criminoso...

Não sou de ordinário alguém que saia por aí ofendendo os outros. Medíocres e ignorantes me dão simplesmente pena.
Criminosos devem apenas receber as penas previstas em lei. Cúmplices de criminosos também devem ser julgados, de acordo com a gravidade de seus casos.
Este cidadão, abaixo relatado, é pior que um criminoso das ruas. Trata-se de um criminoso intelectual, e como tal deveria receber uma pena maior. Não a prisão, talvez, mas o opróbio, o desprezo intelectual, pois se trata visivelmente de um indigente mental. Um desonesto e um cidadão de má fé.
Paulo Roberto de Almeida (29.01.2010)

Em painel do FSM, sociólogo exige fim de "perseguição" ao MST no Estado
Letícia Duarte
Zero Hora, 28/01/2010

Boaventura de Souza Santos defende que criminalização dos movimentos sociais torna ar irrespirável para o Fórum
Diante de 50 promotores e procuradores do país, que participam hoje de um encontro sobre direitos humanos, durante a programação do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos fez uma crítica veemente à atuação do Ministério Público.
Mesmo sem ser painelista, ele pediu a palavra para contestar a tendência de criminalização dos movimentos sociais. E aproveitou para reivindicar o arquivamento de todas as ações civis públicas de criminalização ao MST.
- Vejo com muita inquietação esse cenário de criminalização dos movimentos sociais. O que se passa no Rio Grande do Sul é grave -, firmou.
Segundo o intelectual, que também tem formação jurídica, a prática de proibição das marchas sociais e o fechamento das escolas itinerantes cria um estado de exceção, com perda de direitos fundamentais.
(...)
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Basta isso, para revelar o energúmeno que ele é...
Paulo Roberto de Almeida

1874) Aos "frequentadores" de meus blogs e site: algumas considerações...

Por vezes, tenho a impressão de que estou sendo espiado por cima do ombro, enquanto trabalho, o que aliás não é apenas uma impressão, e sim a verdade.
Quem mantem um site como eu, por razões essencialmente didáticas, e diversos blogs especializados -- cada um para uma necessidade específica -- só pode se sentir espionado, pois é isso que ocorre de fato, ainda que eu apenas tenha indicações indiretas desses atos de "espionagem".
Algumas são explícitas, pois os mais corajosos fazem comentários, de diversos tipos, e só posso agradecer a atenção, mesmo quando me atacam, nesse caso anonimamente. Outras são apenas implícitas, e se revelam em comentários orais de interlocutores ocasionais.
Com base nessas impressões impressionistas, creio que posso traçar uma:

Tipologia dos frequentadores dos meus blogs

1) Fiéis leitores
Suponho que sejam todos aqueles inscritos como "seguidores" no rodapé desses blogs, em especial este aqui. Alguns têm sua identidade totalmente, revelada, outros assumem personalidades interessantes, atores ou personagens de cinema, de histórias em quadrinho, não importa. Também suponho que sejam pessoas que, como eu, sempre querem aprender algo novo, posto que meu blog é feito basicamente para meu próprio aprendizado, ademais de servir de "depósito de materiais úteis". Muitos deles dialogam comigo, através da janela de comentários. Quero dizer-lhes que muito aprecio seus comentários, posto que eles me dão a oportunidade de saber o que vai na cabeça de meus leitores, aprender um pouco com eles, e tentar aperfeiçoar a informação ou análises que disponibilizo nesses blogs. Grato, sinceramente.

2) Passantes ocasionais, leitores de oportunidade
São aqueles que buscam algo na internet, estudantes desesperados para terminar, na última hora, algum trabalho acadêmico, candidatos à carreira diplomática, pesquisadores de algum tema com interface em meus focos de trabalho, que acabam tropeçando com algum post meu -- geralmente algum antigo, do qual já me havia esquecido -- e, por acaso, vencendo a timidez, acabam deixando um comentário, não necessariamente de modo anônimo, posto que seu interesse é legítimo e focado naquela objeto ocasional. Eu também lhes sou grato pelos comentários -- embora saiba que a imensa maioria, a quase totalidade, passa sem deixar traços -- pois isso representa uma espécie de gratificação moral, já que indica que meus posts, muitos deles colocados laboriosamente madrugada adentro, podem ser de alguma utilidade para algum necessitado de ocasião. Muitos deles corrigem pequenos erros em minha informação, ou reclamam de que tal coisa está incompleta. Também tem aqueles que fazem comentários de natureza política, ou moral, o que também é interessante...

3) Anônimos, furiosos, ou não...
Devo dizer que a maior parte dos comentários que recebo são feitos por anônimos (enfim, alguns "anônimos" assinam o nome no corpo da mensagem, mas a maioria não o faz). Trata-se, portanto, de uma grande categoria de visitantes, alguns frequentes (que ficam me vigiando, ou seguindo), outros puramente esporádicos e erráticos (sua presença, não suas pessoas). Uma "espécie" de anônimos me descobriu por acaso e como algum post meu lhes deu prazer (quer dizer que se conformou às suas próprias opiniões) acabam escrevendo para me cumprimentar, apoiar, agradecer, whatever... Outra "espécie" de anônimos, ao contrário, fica furiosa, seja com a matéria postada, seja em relação às minhas posições; esses escrevem, então, de maneira indignada, por vezes até ofensiva, para retrucar, me chamar de idiota, ou algo do gênero. Confesso que costumo postar tudo -- de fato, provavelmente 99 por cento do me chega -- pois não me importam as críticas, a menos que sejam totalmente impertinentes ao objeto do post, ou estejam em linguagem ofensiva aos demais leitores (o que é extremamente raro, porém). Mesmo quando eles são especialmente ofensivos, ou agressivos, também creio que devo agradecer a esses anônimos furiosos, pois eles me ajudam a ser eu mesmo mais tolerante, a aperfeiçoar minhas postagens, enfim, a fazer deste instrumento livre uma fonte mais fiável e mais interessante de informações. Como esses anônimos me visitaram uma vez, existe alguma probabilidade de que o façam novamente, e não quero decepcioná-los novamente (embora eu não me incomode de decepcionar os intolerantes, os fundamentalistas, os sectários). Grato a todos, portanto.

4) Anônimos "anônimos", ou seja, visitantes incógnitos
Estes são uma categoria especial que confesso não sei como classificar. Alguns são simples curiosos, outros fofoqueiros, alguns tem ciume de minha produção, outros me detestam, de todo coração (se ouso dizer), vários percorrem meus posts simplesmente para terem motivo de me atacar, na academia, na carreira, por qualquer motivo que seja, dos mais desinteressados aos mais mesquinhos. Estou obviamente imaginando tudo isso, talvez me dando mais importância do que eu tenha, realmente, mas é o que sinto por vezes, por sinais indiretos (aquela coisa de um comentário rápido num corredor, num restaurante, numa menção de terceiros). Alguns desses comentários rápidos e muito ocasionais são até bem intencionados, do tipo: "Veja, andam dizendo por aí que você anda se expondo demais, exagerando nos seus textos, isso pode lhe prejudicar...". Outros não dizem absolutamente nada, embora eu perceba que viram alguma coisa e não dizem nada diretamente, mas vão comentar depois, geralmente de forma depreciativa ao meu comportamento. Creio que não tenho nada a agradecer a estes últimos, posto que eles não gostam de mim, mas eu pouco me importo com eles. Acho que sou indiferente ou infenso a fofocas...

A todos eles eu gostaria de dizer o seguinte:
Não tenho por hábito me preocupar com a opinião das pessoas sobre mim ou sobre o meu trabalho, minhas ideias, minha producao intelectual. Jamais eu faria algo para dar prazer a alguém, quero dizer, para ser Mister Nice Guy, simpático a alguém ou alguma causa, qualquer que seja ela. Eu apenas escrevo aquilo que desejo escrever, as simple as that... Não tenho por hábito pedir permissão a ninguém para expressar minhas opiniões; considero-me um ser absolutamente livre, tanto quanto possível no quadro de uma carreira burocrática que tem um pouco de Vaticano e outro tanto de Forças Armadas, ou talvez confraria maçônica. Tudo o que eu faço corresponde a uma necessidade interna, geralmente curiosidade intelectual, ou no caso dos blogs - que são por definição muito rápidos e por vezes irrefletidos -- uma simples necessidade de registro, de "depósito" de materiais para recuperar "algum dia".
Cada um deve assumir responsabilidade por seus atos, dizeres, escritos. Eu assino embaixo de cada peça terminada, e mantenho uma lista completa (ou quase) de todos os meus escritos, e não tenho absolutamente nada a esconder de ninguém. Quem não gosta de mim, ou de minhas opiniões, obviamente não é obrigado a ler meus textos ou a expelir algum comentário irritado em algum post meu.
De toda forma, creio que continuarei a agradar alguns, a irritar outros, a ajudar desconhecidos, mas sobretudo dar prazer a mim mesmo. Trata-se, provavelmente, de uma segunda natureza, esta minha, anárquica e irritante, de fato, mas não creio que deva mudar agora.

Em todo caso, boa noite a todos...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 29.01.2010

1873) Pork-Viagra, viagra-suino, whatever, com sotaque argentino...

Este é um aspecto da integração no Mercosul que ainda não foi devidamente regulado, objeto de alguma resolução, liberalização tarifária, enfim algo do gênero.
Creio que os presidentes (e presidentas, if any) deveriam fazer uma Declaração solene a respeito...

Cristina Kirchner acha carne de porco mais eficiente que Viagra
France Presse, 28/01/2010

BUENOS AIRES - "Comer carne de porco melhora a atividade sexual", declarou a presidente argentina Cristina Kirchner durante um encontro com empresários do setor suíno na noite desta quinta-feira na Casa Rosada.

"Além do mais, acho que é muito mais gostoso comer leitãozinho assado do que tomar Viagra", acrescentou a presidente ante a surpresa dos presentes.

Ela confessou ainda que no fim de semana comeu, junto com o marido, o ex-presidente Néstor Kirchner, um leitão assado em sua residência de El Calafate, uma paradisíaca região patagônica, e o resultado "foi impressionante".

"Kirchner vai me matar quando eu chegar a Olivos!", acrescentou, sorrindo e se referindo à residência presidencial na periferia norte de Buenos Aires.

Ela aproveitou para anunciar uma redução do preço da carne suína.

O titular da Associação de Produtores Suínos, Juan Uccelli, confirmou as observações da presidente, assegurando que os dinamarqueses e japoneses, que consomem muito carne de porco, "têm uma sexualidade muito mais harmoniosa que os argentinos".

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PRA: Já sabemos como vai ser a próxima "cúpula" do Mercosul (eu disse cúpula...).

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

1872) FSM, dia 3: Brasil chamado de pais imperialista

No terceiro dia do Forum Social Mundial de Porto Alegre, o Brasil foi chamado de imperialista por um dos participantes, que foi pelo menos sincero, pois disse algo que vários outros pensam sem ousar dizer.

Seminário 10 anos depois – 28.01.2010
Mesa Novo Ordenamento Mundial


Eis o que disse um dos participantes:

"Eric Toussaint, do Comitê pela Anulação da Dívida (Bélgica) fez uma colocação que gerou polêmica. Para ele, além de a crise não ter fragilizado o poderio norte-americano, ele está sendo reforçado por atitudes imperialistas dos países do BRIC. “Podemos afirmar que o modo como o Brasil está presente na Bolívia, no Peru, no Equador é um tipo de imperialismo periférico, a reprodução da logica imperialista em escala regional”. Estes países, segundo Toussaint estão, em processos internacionais importantes e centrais, como foi a COP-15, pactuando com uma política imperialista e transformando seus países e regiões em zonas de reprodução desta lógica."

Ele continuou:
"Toussaint afirma que, para se contrapor a estas lógicas, os países deveriam, em lugar de reproduzir a dinâmica imperialista em escalas regionais, adotar posturas soberanas unilaterais e promover mobilizações de massa, como grandes greve internacionais, marchas, desobediências. “Por que não fazer auditoria da dívida, como fez o Equador? Por que não nacionalizar o petróleo o gás, como fez a Bolívia? Por que mandar tropas para o Haiti?”, questiona. Uma das agendas centrais para a região segundo ele é o Banco do Sul. “Seria um banco dos países da América Latina para financiar reforma agrária, soberania alimentar, indústria farmacêutica de genéricos. Um instrumento de implementação de outro modelo para a região e não para comprar bônus do tesouro americano, como os países fazem hoje em dia, ajudando a sustentar o poderio do EUA”."

Esse belga é, obviamente, maluco, o que se percebe facilmente pelas "soluções" propostas para as debilidades da região, mas parece ter percebido que os Brics reproduzem uma velha realidade da economia mundial: toda economia dinâmica constitui a sua própria periferia, acumulando capital e exportando esse capital para suas "dependências" regionais, ou seja, investimento direto de suas empresas nas economias vizinhas, o que é a própria definição de imperialismo segundo Hobson, Lênin e Rosa Luxemburgo.
Aqueles que recusam essa realidade, como os aliados "anti-imperialistas" do Brasil, querem dourar a realidade e recusam constatar o que parece óbvio a todos, inclusive a esse belga maluco.

Ou seja, o FSM revela as mesmas contradições que existem em qualquer situação da economia real.
Bem, continuo esperando o "outro mundo possível", ou pelo menos a exposição de sua arquitetura ideal.

1871) Ainda os aviões da FAB: uma opinião bem informada

Sobre a compra dos caças, recebi uma nota interessante escrita por alguem do ramo, o Brig R1 Teomar Fonseca Quírico, aposentado.
Ele me foi transmitido por um colega de lista, que se refere a um blog de aviadores neste link.
São elementos importante para a reflexão, inclusive porque os comentários da nota do Brigadeiro do Ar precedem o debate caótico que se seguiu à divulgação (parcial) do relatório da Aeronáutica que recusava o Rafale francês e recomendava a compra do Gripen sueco, colocando o avião americano em segundo lugar.

PROJETO FX-2: ALGUNS COMENTÁRIOS A RESPEITO NA ANTEVÉSPERA DA DECISÃO
Brig R1 Teomar Fonseca Quírico

Este artigo está sendo escrito no dia 21 de outubro de 2009, na antevéspera da decisão sobre o vencedor do chamado Projeto FX-2.
Nesses últimos meses tenho sido questionado com bastante frequência a respeito do que eu acho desse processo de seleção do mais novo avião de caça que o Brasil vai comprar: quem vai ganhar, qual dos três aviões é o melhor etc.
Companheiros da Força, amigos militares de outras forças, civis conhecidos e por vezes até desconhecidos (é impressionante a atração que o avião, em especial o avião de caça, tem sobre o homem comum!), eventualmente sabedores da minha condição de piloto de caça na reserva, todos querendo saber a minha opinião a respeito.
Eu sempre desconversei, no sentido de não tumultuar mais ainda um processo já por demais tumultuado, dentro da filosofia popular que diz que “piru de fora não se manifesta”! Um dia nós ainda vamos aprender a fazer como a Marinha, que compra 5 submarinos, um deles nuclear, troca de portaviões, compra aviões de caça, tudo com muito pouco ou quase nenhum ruído na mídia!
A todos eu dizia que os três aviões eram muito bons, que todos atendiam as nossas necessidades operacionais, e que o mais importante seria aquilo que o Brasil iria ganhar além dos aviões. Dizia, ainda, que independentemente da minha opinião, o parecer que fosse assinado pelo oficial responsável pela equipe técnica de avaliação eu assinaria embaixo porque, conhecedor do perfil e do profissionalismo desse oficial, tinha a certeza de que o que ele indicasse sem dúvida nenhuma seria a melhor alternativa a ser adotada pela FAB e pelo Brasil.
Naturalmente que tenho uma opinião em relação ao assunto e em respeito aos amigos que me questionaram em tempos atrás, resolvi colocar minhas considerações no papel neste momento, na antevéspera da decisão a ser tomada, mas somente tornando-a pública após o anúncio do projeto vencedor. Se não o fiz no passado para não tumultuar o processo, faço-o agora, antes da decisão, para não ser contaminado ou influenciado pelos comentários que certamente irão surgir e para não dar uma de “engenheiro de obra pronta”, figura que sempre abominei ao longo da minha carreira.
Naturalmente que faço isso com a irresponsabilidade da reserva, por não ser conhecedor de qualquer aspecto das propostas apresentadas e baseado apenas no sentimento e experiência angariados em mais de trinta anos de serviço dedicados em especial à aviação de caça do Brasil. Claro que é fácil falar quando não se tem a responsabilidade de uma decisão, mas dentro do mais puro espírito da “Tribuna Livre do Piloto de Caça” aí segue minhas considerações.

1- Qual dos três aviões é o melhor?
Para quem voa Mirage 2000, F-5E modernizado, A-1A/B ou AT-29 “é ruim” dizer que um Rafale, um F-18E/F ou mesmo um Gripen não atende às nossas necessidades operacionais!
Costumo comparar a situação com aquela em que um proprietário de um Monza 87, com o dinheiro da poupança no bolso, procurando um automóvel novo para comprar, recebeu ofertas de um Peugeot/Citroen último tipo, de um Cadillac também último tipo, bem como de um Volvo não menos atualizado; é difícil para o cara dirigindo aquele Monza antigo dizer que qualquer dos carros ofertados não atendem a sua necessidade de transporte!
Entretanto, se além do automóvel um fornecedor pouco ou nada oferece, um outro dá um ano de seguro total gratuito e o terceiro oferece, além do seguro gratuito, dois anos de assistência técnica e de peças de reposição também gratuitos, com quilometragem livre, agora nosso bravo proprietário do Monza já teria algumas vantagens adicionais em escolher um ou outro automóvel.
Ou seja, o que menos importa nessa competição é o avião, uma vez que todos, com certeza, atendem às nossas necessidades operacionais; o que importa mesmo é o que o Brasil vai receber ALÉM dos aviões!!A diferença está aí e, nesse sentido, estão certíssimas nossas autoridades que dizem que a transferência de tecnologia é que será o fator primordial para a decisão, muito embora essa expressão – transferência de tecnologia – mereça algumas considerações que serão feitas ao final.
Mas o que importa no momento é ressaltar que o fator de decisão não deve ser o avião, mas o pacote de benefícios que o Brasil irá receber além da aquisição pura e simples das aeronaves. A partir deste raciocínio, mesmo o homem comum, principalmente aquele ligado às coisas da aviação, já tem condições de fazer um prejulgamento considerando o histórico dos três países envolvidos na disputa.

2- França (Rafale), EUA (F-18E/F), Suécia (Gripen NG)
Novamente falando, todos os comentários a seguir eu os faço irresponsavelmente a partir da experiência acumulada ao longo da carreira, uma vez que não tive acesso a qualquer informação pertinente à disputa, além daquelas que se tornaram públicas pelos meios da imprensa.
Minha experiência com os franceses é a pior possível, vem de longa data, desde o início da minha carreira como piloto de caça, e a não ser que de alguma forma nossos amigos gauleses tenham mudado radicalmente e expressado isso nos documentos apresentados (o que também não garante nada!), minha opinião é de nem levá-los em consideraçãoab initio!
Ela se inicia com a comparação das publicações técnicas vindas com o Mirage III com aquelas que trouxemos junto com os nossos F-5. Basta pegar as TO-1 de ambas as aeronaves e se verá a pobreza das informações contidas na TO do Mirage em comparação com aquelas existentes na do F-5. Tradicionalmente as publicações técnicas francesas pouco informam de importante, em comparação com o nível de informações contidas nas publicações americanas, por exemplo. Gráficos de desempenho, gráficos de combate… basta comparar e ver a diferença entre elas!
Além disso, minha experiência com eles passa pela definição do canhão que equiparia a série das nossas aeronaves AMX. Poucos sabem, mas nossos protótipos de A-1 foram ensaiados com o canhão DEFA 554, uma versão melhorada daqueles canhões que equipavam nossos Mirage III. Pois bem, depois de toda uma campanha de ensaios feita com o DEFA 554, na hora em que fomos colocar nosso pedido de compra para a série, nossos amigos franceses colocaram tanta dificuldade e tanto sobre preço que, a despeito de todo o gasto que teríamos para ensaiar um novo canhão, saiu mais barato e conveniente trocarmos de armamento e começarmos tudo de novo, com um novo canhão de um outro país que poderia, inclusive, ser produzido no Brasil!
Essa experiência ruim continua com a gestão do contrato da troca dos helicópteros “Puminha” pelo Super-Puma onde, a despeito de contratualmente constar a implantação de um banco de provas do motor, para evitar o tremendo gasto das revisões gerais feitas na França, tivemos que suar várias camisas para convencer nossos amigos gauleses a simplesmente cumprirem as cláusulas previstas contratualmente que eles haviam concordado e assinado! E saí da logística sem saber se eles efetivamente cumpriram o contrato ou se estamos até hoje mandando nossas turbinas para fazerem revisão geral na França!
E falando em logística, só quem trabalhou nessa área para saber o elevadíssimo custo de manutenção dos produtos franceses, quase que inviabilizando, economicamente, a operação desses equipamentos.
Quanto à transferência de tecnologia, bem, basta alguém procurar saber hoje, passadas algumas dezenas de anos, qual é o índice de nacionalização dos nossos helicópteros Esquilos montados em Itajubá para se ter uma idéia da filosofia francesa em relação ao assunto.Um companheiro antigo da Força costuma dizer que a diferença entre o americano e o francês é que o americano pouco ou nada entrega, mas aquilo que ele se comprometeu a entregar ele o faz; já o francês, promete que vai entregar mundos e fundos e, ao final, apesar de compromissado e assinado, pouco ou nada entrega!
Eliminados os franceses restam, portanto, dois competidores.

3- EUA (F-18E/F) x Suécia (Gripen NG)
Ainda baseado na minha experiência de carreira e uma vez mais irresponsavelmente falando, entendo que a solução de menor risco é a americana, enquanto a alternativa que nos daria a maior independência é a sueca.
A solução americana é a de menor risco, uma vez que há centenas de F-18E/F voando em diversos países, com alguns milhares de horas de vôo acumuladas, além de ser o avião de primeira linha de combate da marinha americana nos dias de hoje. A versão ofertada é a do Super-Hornet (F-18 E/F) e não a do Hornet antigo (F-18 A/B ou mesmo C/D). Isso nunca tivemos antes, uma vez que os americanos sempre nos ofertaram aviões de segunda linha e que não estavam sendo empregadas operacionalmente pelas suas próprias forças armadas.
A FAB já possui longa tradição em operar aeronaves americanas, temos já toda uma cultura operacional assimilada bem como uma completa cadeia logística implantada com nossos amigos americanos do norte. Táticas de combate, canais de suprimento, escritórios de ligação, tudo implantado e funcionando (bem)!
Além disso, se olharmos para frente e visualizarmos necessidades futuras para o nosso País, há já uma versão de combate eletrônico dessa aeronave, bem como ela própria é uma versão embarcada que poderia vir a preencher uma eventual necessidade futura da nossa marinha de guerra, com todas as vantagens que isso possa significar para ambas as Forças e para o nosso País.
Como ponto negativo, tradicionalmente nossos amigos do norte não fornecem os armamentos e os equipamentos mais atualizados e que na guerra fazem a diferença! Podemos até tentar, mas penso que dificilmente eles nos cederiam tudo aquilo que desejamos, seja por filosofia política seja pela arrogância típica americana! Entretanto, o pouco ou o muito que conseguirmos obter nas negociações de agora, ANTES da indicação da aeronave vencedora, certamente iremos receber; tradicionalmente os americanos cumprem o assinado em contrato, sem grandes desgastes por parte do contratante.
Se a alternativa americana é a de menor risco, é porque a solução sueca tem um risco maior. E isso é debitado ao fato de que a aeronave ofertada de fato não existe, é um projeto em desenvolvimento, com todos os riscos e custos que isso possa significar. Paradoxalmente, é exatamente por isso – ser um projeto em desenvolvimento – a razão para a maior independência que o nosso País teria ao operar essa aeronave.
Por estar em desenvolvimento, poderíamos desde já participar com as nossas empresas em projetos, processos, testes, ensaios, fabricação etc., nas áreas de nosso maior interesse, nos mesmos moldes utilizados do desenvolvimento da aeronave AMX, com uma grande e marcante diferença, com toda a experiência do que deu certo e do que não deu certo naquele projeto!
Essa é a única forma de se ter independência, é conhecer o porquê (know-why) das coisas, e não apenas o como fazer (know-how) dessas coisas.
É importante ressaltar que a forma de participação nesse desenvolvimento, as áreas em que atuaríamos, os compromissos e documentos que norteariam esse trabalho, tudo que dissesse respeito a isso teriam de ser definidos e assinados ANTES da indicação do projeto vencedor, enquanto o poder de barganha está conosco; se deixarmos para depois, o poder de barganha passa para o outro lado e só teremos aquilo que ele quiser nos dar!
Quanto ao risco em escolher uma aeronave em desenvolvimento, em minha opinião esse risco é bem reduzido; não podemos esquecer que a versão ofertada (Gripen NG) é uma versão melhorada de uma aeronave já existente e voando em diversas Forças Aéreas no mundo, e que a Suécia é um país com grande tradição e sucesso no desenvolvimento de aeronaves de caça, com soluções pioneiras que, posteriormente, algumas delas se tornaram presentes em outras aeronaves (a aerodinâmica utilizando o duplo delta da aeronave Draken, a superfície canard totalmente móvel usada no Viggen, o trem de pouso principal em tandem e o uso de reverso no motor do mesmo Viggen).
Além do mais, a experiência que tivemos recentemente com os suecos no desenvolvimento da versão de vigilância aérea da aeronave E-99, utilizando o radar Erieye, sugere que teríamos um ambiente de extrema e profícua colaboração entre os dois países e as empresas participantes.
Bem, depois de tanto falar, resta ainda a pergunta – qual dos dois projetos seria, em minha opinião, o melhor para o nosso País: o de menor risco (Super-Hornet) ou o da maior independência (Gripen NG)?
O cachimbo deixa a boca torta, assim diz um dito popular. Talvez por ter participado do desenvolvimento da aeronave AMX, por ter percebido as chances enormes que nosso País teve em termos de obtenção de conhecimento, tecnologia, trabalho com elevado valor agregado etc., por ser um incorrigível entusiasta da indústria nacional sou levado dizer que em minha opinião a melhor solução a ser adotada pelo Brasil é a solução sueca. Já que, por definição, todos os aviões atendem às nossas necessidades operacionais, participar do desenvolvimento da versão NG da aeronave Gripen, com nossos amigos suecos, certamente é a alternativa que maior possibilidade dá de transferência de tecnologia e aquisição de conhecimentos para o nosso País.
E em relação a isso – Transferência de Tecnologia – vale à pena fazer alguns comentários em função de experiências passadas.

4- Transferência de Tecnologia: Falácia ou Panaceia?
Ao longo de todo esse processo de escolha tenho ouvido diversos companheiros se manifestarem a respeito da cláusula mandatória de transferência de tecnologia (off-set) que todos os fornecedores de alguma forma devem aderir.
Muitos entendem que isso ao final de nada vale, pois na prática ninguém transfere conhecimento que custou milhões e milhões de dólares para ser obtido simplesmente porque está vendendo um determinado equipamento.
Além do mais, transferir tecnologia pressupõe alguém capacitado em receber, seja em termos materiais e humanos, e aí o problema se agiganta pelo fato de termos pouca ou nenhuma empresa em condições.
Da minha parte, eu sou um eterno entusiasta da política de Off-Set, convicto de que para um País como o nosso, com todas as nossas dificuldades, ela é a única forma de desenvolvimento científico e tecnológico capaz de superar o imenso gap existente entre nós e as nações mais desenvolvidas.
Entretanto, da mesma forma que sou um incorrigível entusiasta em incentivar a indústria aeroespacial brasileira, eu sou um eterno frustrado pelos resultados obtidos até agora pelo nosso País, em especial pela Força Aérea.
Recordo neste instante uma frase do Maj.Brig. José Rebello Meira de Vasconcellos, herói da FAB e veterano piloto de caça com 93 missões na Segunda Guerra Mundial que dizia num outro contexto, mas que se pode usar para o tema em discussão: “Não se pode ensinar nada a quem não quer aprender e não se aprende nada sem que alguém saiba ensinar”!
Neste instante em que estamos definindo todos os aspectos concernentes à transferência de tecnologia que o vencedor da concorrência terá que cumprir, é bom olharmos para a experiência e resultados que a FAB obteve com o Programa de Industrialização Complementar (PIC) do programa AMX para não cometermos os mesmos erros que nos levaram a resultados tão pífios para o montante investido.
Em minha modesta opinião, o Programa AMX, por meio desse PIC, oferecia (e dava) o paraíso que qualquer empresário sempre desejou: aquisição de tecnologia de ponta em determinadas áreas, capacitação de pessoal, ampliação e adequação de instalações, aquisição de máquinas e equipamentos e, talvez o mais importante, uma carga de trabalho garantida por várias décadas (enquanto a aeronave estivesse voando!).
Naquela ocasião, selecionou-se um leque de empresas para receberem esse pacote por meio de um contrato de capacitação tecnológica e de industrialização de determinados equipamentos, e o resultado que temos hoje é ZERO ou muito próximo de ZERO! Á exceção da EMBRAER, quase todas as demais empresas desapareceram, obviamente após receberem todo o pacote de bondades governamental, de forma que hoje temos que recorrer ao exterior para fazer revisões gerais dos nossos equipamentos. Chegamos a montar uma fábrica completa para a fabricação de trem de pouso e componentes hidráulicos e qual é o resultado que temos hoje? Na área do motor, chegamos a comprar a sublicença de fabricação de componentes com alto teor tecnológico para que pudéssemos ter uma empresa capacitada a, no futuro, revisar nossos motores internamente, fabricar componentes e, eventualmente, até desenvolver motores aeronáuticos… e o resultado hoje é nenhum. Nossos motores de AMX têm que ser enviados para o exterior para revisões gerais com todo o enorme custo financeiro que isso significa.
E não adianta considerar que a posse de uma “Golden-Share” por parte do governo na composição acionária da empresa é garantia de que tudo irá correr conforme desejamos, porque na prática isso pouco adianta se não sabemos como e quando usar essa “Golden-Share”, ou tivermos vontade política para usar.
Recordo-me de ainda na ativa ouvir de oficiais mais antigos, por diversas vezes, em situações em que estava gerenciando o desenvolvimento de algum sistema, um quase mantra: “Nós não queremos repetir os erros do AMX”!
Embora defenda com todas as forças o Programa AMX, seja pela aeronave fantástica que ele forneceu à Força Aérea, seja pelos pequenos, mas significativos resultados tecnológicos obtidos no desenvolvimento do avião, sou forçado a concordar que certas filosofias de Off-Set, de transferência de tecnologia etc. não deram certo e que é importante que neste momento nos voltemos para as experiências vividas no passado para não cometermos os mesmos erros.
Transferência de tecnologia não é falácia, mas também não é a solução para todos os nossos problemas. O leque de empresas que temos é esse que existe aí, para o bem ou para o mal; eventualmente podemos até recorrer a uma multinacional que aqui venha a se estabelecer! Os pífios resultados do passado não justificam que não tentemos mais uma vez. A Força Aérea sempre foi assim, sempre considerou as necessidades do País antes da sua própria necessidade; assim foi no passado e assim terá que ser agora. É a única forma de legarmos um País melhor a quem nos seguirá!

5- Decisão Política vs Decisão Técnica
Durante o processo de seleção conduzido pela Força Aérea muito se falou de que a decisão seria política e não técnica. O próprio Presidente da República manifestou publicamente que, ouvida a Força Aérea, a decisão seria dele e de ninguém mais.
Creio que ele está mais do que certo e que ninguém jamais colocou isso em dúvidas, pelo menos no âmbito da Força Aérea! Uma aquisição dessa monta, envolvendo uma imensa soma de recursos, com uma gama infindável de impactos na área geopolítica, tem que levar em conta os interesses maiores da nação e que somente o Presidente da República tem condições de avaliar concretamente.
Entretanto, decisão política não significa uma decisão qualquer. Decisão política deve obedecer a pressupostos básicos que irmanam a nação em torno de seus objetivos nacionais permanentes e não, apenas, as conveniências do momento.
Decisão política também exige explicações e justificativas coerentes a serem prestadas a toda a sociedade brasileira. Enganam-se aqueles que pensam que quanto maior o nível funcional menor é a necessidade de explicações e justificativas de seus atos! É exatamente o contrário pois maiores e mais amplas são as implicações daquilo que fazem e que falam!
Nesse sentido, quanto mais completo, consistente e baseado em avaliações objetivas for o relatório técnico que a Força Aérea está produzindo, maior será a chance de que a decisão final, política, esteja em linha com a avaliação técnica e que a aeronave ao final escolhida atenderá, não apenas aos interesses políticos da nação, mas, também, às necessidades operacionais da Força Aérea.
Em minha opinião, se na avaliação técnica duas aeronaves tiveram pontuação semelhante – por exemplo, numa escala de zero a cem, uma recebeu 95 pontos e uma outra 90, enquanto a terceira recebeu uma pontuação de apenas 30 pontos – uma decisão política que escolha a aeronave de 90 pontos em detrimento daquela com pontuação ligeiramente maior é perfeitamente aceitável. O que fica difícil de aceitar, e de justificar, mesmo politicamente, é que a escolha recaia naquela com pontuação extremamente inferior!
De qualquer forma, como já disse no início desse artigo, independente das minhas opiniões e da decisão final a ser adotada, serei um ardoroso defensor da opção indicada pelo oficial responsável pela equipe técnica de avaliação; o relatório técnico assinado por ele eu assino embaixo, “em cruz”, sem dúvidas de que ela é a melhor para o nosso País e para a FAB.
Nesse sentido, cabe um comentário final em relação a isso.

6- Decisão Final vs Disciplina Intelectual
Nós, profissionais da Força Aérea, ao longo da carreira, somos treinados e incentivados a tomar decisões. Nosso métier – voar e combater – pressupõe análise permanente do cenário que nos cerca, das condições das nossas aeronaves, das condições meteorológicas e operacionais reinantes, das condições das nossas equipagens de combate, de todas as variáveis, enfim, envolvidas no voo para decidirmos o que é melhor para a nossa missão.
Nossa rotina nos ensina e nos torna líderes naquilo que fazemos. Somos treinados para decidir, e decidir bem! Isso de alguma forma nos leva a ser extremamente críticos com alguma atitude diferente daquela que seria a nossa; até porque decisões erradas ou não apropriadas podem levar ao fracasso da missão e, por vezes, até a morte. Buscamos a perfeição e apenas o perfeito é aceito!
Nesse sentido, os puristas que me perdoem, somos até um pouco indisciplinados!
Mas como alguém já disse, não são as respostas que movem o mundo, mas, sim, as perguntas, os questionamentos, e é assim que chegamos aos dias de hoje, de uma Força Aérea altamente operacional, doutrinada e coesa, da qual temos orgulho de pertencer!
Apesar disso, do nosso apurado espírito crítico, conclamo a todos a nos unirmos em torno de nosso comandante da Força Aérea e adotarmos como nossa a decisão que ele entender ser a melhor para a FAB.
Todo e qualquer assessoramento já foi prestado, tudo que alguém havia de falar devia ter sido dito ao longo das análises feitas e, agora, temos que ter apenas uma escolha: a escolha que o comandante da Força Aérea tiver feito.
Esqueçamos nossas diferenças, nossos conceitos, nossas concepções etc. Não podemos fazer como alguns ainda hoje fazem ao se manifestarem contra determinados projetos, décadas depois de eles terem sido implantados na Força. O que fazer com eles – jogar fora?
Em verdade nem sei muito bem por que estou escrevendo tudo isso uma vez que estou na reserva, sou página virada, em nada contribuo e quando ele se tornar público, daqueles poucos que me questionaram a respeito, a decisão já terá sido tomada e ele pouco ou nada ajudará no processo. De qualquer forma, em respeito a esses amigos, fica registrado aqui o que penso em relação ao assunto; pode ser que no futuro, ele possa servir para alguma coisa!
Um forte abraço e até o FX-3!!!!

Brig R1 Teomar Fonseca Quírico
21 de outubro de 2009

1780) Enquanto isso, no outro Forum, o capitalista...

Primeiro a nota:

Lula vai criticar ricos em Davos
Coluna diária de Luis Nassif, 28.01.2010

O Fórum Econômico Mundial será o palco em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva irá “jogar na cara dos países mais ricos" a crise financeira e o "abandono" do Haiti. “Se o mundo desenvolvido tivesse feito a lição de casa na economia, não teríamos tido crise”, disse, durante o Fórum Social Mundial em Porto Alegre. No fórum, Lula vai receber a primeira edição do prêmio de Estadista Global.

Agora dois pequenos comentários:
Paulo Roberto de Almeida
1) Se o mundo desenvolvido tivesse feito o seu "dever de casa", ou seja, equilibrar contas e diminuir os déficits, o mundo provavelmente não teria conhecido o extraordinário surto de crescimento que experimentou de 2002 a 2008, e o Brasil não teria sido beneficiado tremendamente com o aumento significativo de suas exportações (aliás, bem mais em valor do que em volume, e bem mais em commodities do que em manufaturados).
2) Não foi o mundo que abandonou o Haiti, foi o Haiti que "abandonou" o mundo, ou seja, se descolou em relação à evolução democrática e inserção na globalização da maior parte dos países. A culpa está com as elites haitianas, não com o mundo...

Addendum em 28.01.2010, 12hs: O PR Lula não foi a Davos, por razões médicas, mas isso não retira ou diminui nada do que foi dito ou escrito acima. Ou seja: ele pretendia dizer aquilo que foi resumido pelo Luis Nassif, e embalado como estava, provavelmente teria se excedido mais um pouco, dando lições de crescimento aos países desenvolvidos, criticando-os por não se entenderem, condenando banqueiros pela crise e, sobretudo, promovendo aquilo que já foi chamado de"Plano Lula para o Haiti". Pode-se, portanto, manter os comentários exatamente como foram escritos. E acrescento:
1. A despeito de seu baixo crescimento, os mercados dos países desenvolvidos, pelo seu tamanho, abertura e diversificação, constituem ainda oportunidades importantes para o comércio exterior brasileiro, posto que a China e outros emergentes tendem a importar bem mais produtos de baixo valor agregado.
2. O Haiti, com "Plano Lula" ou sem ele, continuará subdesenvolvido por décadas, até que suas elites possam fazer aquilo que normalmente elites dirigentes fazem: construir um Estado minimamente eficaz, inserir o país no mundo e viver de seus próprios recursos, sem tutela ou assistência internacional. O resto é conversa humanitária que pode até confortar as boas consciências mas que certamente não resolve o problema do Haiti, estruturalmente.

1779) FSM imaginario: nunca antes neste País...

Acho que nunca antes neste País alguém abusou tanto da tergiversação e da arte de iludir o próximo, no caso muitos "próximos" que adoram ser enganados, estão pedindo para serem mantidos na ilusão, querem continuar acreditando que esse mundo imaginário é possível.
Tudo é possível, sobretudo e principalmente a auto-ilusão...

O salvo-conduto de Lula
Editorial O Estado de S. Paulo, 28.01.2010

Se o mote do Fórum Social Mundial (FSM) é Outro mundo é possível, o do presidente Lula bem que poderia ser Todos os mundos são possíveis. Os políticos convencionais de qualquer latitude, como se sabe, estão sempre prontos para dar o dito pelo não dito ou para dizer uma coisa e fazer outra, tendo sempre pronta também uma alegação, ou enrolação, que justifique as suas guinadas. Às vezes, pega, às vezes, não - e, nesse caso, o zigue-zague será punido nas urnas. Com Lula é diferente. Decerto ele é o único líder democraticamente eleito da atualidade a desfrutar de uma espécie de salvo-conduto que lhe permite, diante dos mais diversos públicos, trafegar sem restrições pelos mundos da retórica, dizendo uma coisa e o seu contrário, construindo verdades de ocasião e exercendo, como já se apontou, o seu notável talento para a quase-lógica.

No devido tempo, os historiadores, sociólogos e cientistas do comportamento tratarão de dissecar as origens dessa imunidade adquirida pelo singular dirigente brasileiro e a sua consolidação nos anos recentes. Ao observador do cotidiano cabe registrar a desenvoltura com que Lula se entrega à sua arte e o deslumbramento das plateias que, a julgar por sua reação, devem se considerar privilegiadas pela oportunidade de assistir ao espetáculo. É o caso do show de 50 minutos que ele protagonizou anteontem para cerca de 7 mil embevecidos participantes da 10ª edição do Fórum Social Mundial, reunidos no Ginásio do Gigantinho, em Porto Alegre. Com exceção dos puros e duros do PSOL e de ajuntamentos como o PSTU, a esquerda superou com galhardia o desconforto que levou parte dela a vaiar o presidente no fórum de 2005 - quando rebentou o escândalo do mensalão.

A grande maioria comprou com indisfarçado alívio a teoria lulista de que tudo não passou de uma conspirata da mídia e da oposição para derrubá-lo do Planalto. Além disso, cada vez mais compreensiva com o seu ídolo, e tendo se despojado dos escrúpulos de consciência de outrora, não será agora que a esquerda irá cobrá-lo pelas profanas alianças que celebrou com figuras como o senador José Sarney e o ex-presidente Fernando Collor, de quem disse no fórum de 2003 ter perdido o mandato por roubalheira. Afinal, para tornar possível o outro mundo de suas aspirações, eis o raciocínio reconfortante, não raro é necessário compactuar com o que este tem de pior. Não se dizia que os fins justificam os meios- E não foi o próprio Lula quem disse que, se estivesse no Brasil, Cristo teria de se aliar a Judas?

Um dos mais formidáveis atributos do presidente é a sua sensibilidade para os públicos a que se dirige. Ele navega por eles de olhos fechados e chega onde quer - a intuição dispensando a bússola. Em Porto Alegre, como quem pede desculpas, mas fazendo jus astutamente à indulgência plena recebida, observou: Sabemos que há diferenças fundamentais entre o que um governante sonhou a vida inteira e o que conseguiu realizar. Deliciou ainda a audiência comparando o FSM com a sua abominada antítese, o Fórum Econômico de Davos. O fórum social, louvou, continua intacto depois de 10 anos. Já o outro não tem mais o glamour que eles achavam que tinha.

Com isso passou batido por um detalhe: amanhã, nesse santuário onde se cultua a exploração do homem pelo homem, Lula será contemplado com o prêmio Estadista Global de 2009. Nada que deva deixar estomagado o pessoal do outro mundo. O presidente aproveitará o momento para tornar a dizer algumas verdades aos loiros de olhos azuis que o homenagearão. Como antecipou o Planalto, defenderá a reforma do sistema financeiro, a conclusão da Rodada Doha de liberalização do comércio e uma reforma abrangente da ONU - codinome para a ambição por um assento permanente em um Conselho de Segurança ampliado. Assim como nenhum radical o censurou em Porto Alegre, nenhum adorador do mercado deixará de aplaudi-lo em Davos, quanto mais não seja por polidez.

O salvo-conduto com que Lula circula tem uma página que ele não cessa de abrir: a que o autoriza a fazer descarada campanha antes da hora para a sua candidata Dilma Rousseff, a Dilminha, como falou dela no FSM. Em 2011, palanqueou, no seu lugar estará uma pessoa com o mesmo compromisso e talvez com mais capacidade para anunciar ao País as coisas que têm que ser feitas daqui para a frente.

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Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...