Para todos aqueles que seguem os debates diários que "ocorrem" -- o termo correto, na verdade, seria "são perpetrados" -- no Fórum Social Mundial de Porto Alegre, a impressão que se tem - a partir dos resumos diários, claro, pois assistir ao vivo deve representar um sacrifício muito grande a qualquer pessoa sã de espírito ou dotada de certa alergia à estupidez e à burrice, como é o meu caso -- é a de uma imensa cacofonia, a de uma improvisão sem limites e, sobretudo, a de uma ausência completa de idéias, ou de propostas inteligíveis, consistentes, aplicáveis, factíveis, exequíveis, sensatas, economicamente viáveis, etc., etc., etc... (desculpem a redundância dos sinônimos, mas eles são diretamente proporcionais aos pleonasmos cometidos no FSM).
Pois bem, com base no resumo de hoje, eu me permito destacar algumas pérolas. Depois, com tempo, vou selecionar todas as pérolas de todos os debates ocorridos, pois algumas delas são realmente impagáveis, concorrendo, com folga, com aquelas pérolas de vestibular e dos provões (tipo ENEM e ENADE) que regularmente professores mal intencionados fazem circular pela internet, apenas para espezinhar e humilhar aluninhos eventualmente desprovidos de maior intimidade com a língua pátria ou com simples regras de lógica elementar.
RESUMO – 28.01: mesa “Elementos da nova agenda II: Como Construir uma Hegemonia Política”
Já de início, a conclusão dessa mesa, sobre a construção da nova hegemonia, demonstra um caso extremo de gramscismo surrealista, ou, digamos, "leninismo do crioulo doido", uma assemblagem heteróclita de elementos dispersos, que faria os dois personagens em questão revirarem-se em seus túmulos (no caso de Lênin, sua múmia ficaria verde de raiva, pois que ela já é pintada regularmente de vermelho róseo). Vejamos:
"Os participantes da mesa “Como Construir uma Hegemonia” foram unânimes em avaliar que um novo socialismo está sendo desenhado pelos movimentos sociais. A construção da nova hegemonia política depende da diversidade. E esse foi o grande salto dessa discussão nos últimos anos. Se as primeiras a luta [sic] pela implementação de uma sociedade socialista vinha a reboque do proletariado organizado, o socialismo do século 21 se dará pelo esforço daqueles que lutam pelos direitos dos povos indígenas, pelo fim do sexismo, contra o preconceito racial, pelo direitos humanos, pela apropriação dos meios de comunicação e de todos os demais movimentos sociais."
PRA: OK, OK, os novo socialismo sairá dessa nova e santa aliança dos movimentos sociais, sem esquecer o GLTBs...
Aquele português maluco da Universidade de Coimbra (que já produziu coisas melhores), doido de pedra e criminoso intelectual -- que pretende que o MST vem sendo perseguido injustamente pelo Ministério Público e que anunciou que pediria pessoalmente a cessação de todos os processos contra esses inocentes agraristas do século 18 -- anunciou coisas verdadeiramente surpreendentes, que transcrevo, em parte:
"Para combater as democracias representativas – que como disse Virginia Vargas, em sua apresentação, vai muito além do sistema eleitoral – Boaventura sugere uma aproximação dos partidos políticos e dos movimentos sociais por meio da organização de seminários. Aceitar que a democracia tem seus limites e partidarizar os movimentos, foram só alguns caminhos apontados por Boaventura. Ele também defende que um outro mundo só será possível tirando da mão do capital os bens naturais; promovendo a justiça histórica com negros e índios e a justiça ambiental; combatendo o sexismo e integrando a América Latina. Para isso, a posição do Brasil é fundamental. “O Brasil tem que deixar de ficar entre o sim e o não em relação a todos os movimentos sociais”, disse."
Não contente com sua genial trouvaille, ele ainda anunciou outra:
"...chegou a causar espanto quando disse que o socialismo do século 21 pode até conviver com capitalistas. 'O que não pode é eles definirem a lógica do sistema. A economia solidária é que tem que fazer isso', explicou."
Ainda bem: cheguei até a pensar que eles pretendiam enforcar todos os capitalistas com as cordas que estes mesmos venderiam a esses neobolcheviques, como pretendia Lênin. Que alívio!: não vamos ter mais aquelas cenas horrríveis de revolucionários fuzilando a burguesia, sngue correndo nas ruas; todos poderão conviver em paz, desde que se submetam à "economia solidária", que poderia ser chamada de "etapa superior do besteirol altermundialista".
Mas, o português maluco tem pressa, e pretende mudar até o slogan favorito dos antiglobalizadores, o de que "um outro mundo é possível":
"Boaventura também chamou a atenção para a urgência da transformação. “Devíamos mudar o nome do Fórum para 'um outro mundo é urgente e necessário'”, disse explicando que esse modelo de produção e consumo não é mais apenas injusto, é também insustentável. A crise ambiental, lembrou, atingirá tanto Bangladesh como a Holanda."
Confesso que eu gostaria de ter estado presente para ver a cena descrita a seguir no resumo, para ver as caras de embevecimento do público, apenas para constatar se havia algum sinal de lucidez aparente:
"A platéia aplaudiu em pé quando ao término de sua apresentação disse: 'Não queremos críticos bem formados, queremos criar rebeldes competentes.'"
Mas eu de verdade me pergunto se esse pessoal junta dois neurônios para refletir, ou se tudo é fruto da teoria do caos cerebral. Vejamos esta altermundialista:
"Virginia Vargas [da Articulación Feminista Marcosur, do Peru] também trouxe a discussão para o cotidiano. Para ela, o socialismo do século 21 traz um novo horizonte de poder, onde não há divisão entre governantes e governados. 'A proposta não é substituir uma hegemonia por outra. É inventar relações não hierarquizadas, que também estão nas relações pessoais e nas relações entre as organizações', disse. Essa dinâmica, defende ela, leva à formação de um sujeito emancipado e revolucionário."
Eu sinceramente desejo sucesso nessa empreitada de "inventar relações não hierarquizadas", que leve "à formação de um sujeito emancipado e revolucionário", mas também acho que esse pessoalzinho vai ter certa dificuldade em realizar o prometido, ou desejado...
Finalmente, mesmo com toda a cobertura da grande mídia em torno do total vazio de ideias que representou o FSM - e ainda assim divulgando suas dansas e pantomimas com aqueles pézinhos sujos -- os altermundialistas ainda reclamam da imprensa:
"Rosane Bertotti [CUT, Brasil] levou para o debate o desafio da comunicação de disseminar essas questões para os diferentes públicos. 'O Fórum, por exemplo, é invisível para a grande imprensa, que não consegue entender esse espaço', disse. Além disso, as pautas de discussão não estão nos meios de comunicação. 'Precisamos intervir [para democratizar os meios de comunicação], mas também precisamos ousar e construir meios de comunicação que olhem para outra realidade econômica'."
Bem, quem já leu o Programa Nacional de Direitos Humanos-3, aquele que pretende também "democratizar a grande mídia", sabe o que esperar desse tipo de iniciativa. Eu apenas gostaria de saber qual é essa "outra realidade econômica" que eles pretendem divulgar, pois ainda não vi nas prateleiras dos supermercados da História.
Concluo, dizendo simplesmente o seguinte: estou perdendo um tempo enorme lendo os materiais do FSM, apenas para constatar o que eu já sabia: de onde menos se espera, é que não sai nada mesmo. Espreme, espreme, e o FSM continua vazio de idéias. Vai ser difícil construir o outro mundo possível pretendido.
Êta mundo impossível...
Pelo resumo:
Paulo Roberto de Almeida (29.01.2010)
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
sexta-feira, 29 de janeiro de 2010
1878) O debate sobre a "primarizacao" da economia brasileira
1) Primeiro a matéria do jornal que sustenta um debate que vem sendo travado desde certo tempo, sem conclusões definitivas no estado atual:
Básica e concentrada
Exportação de bens primários ganha força. Indústria perde espaço
Henrique Gomes Batista e Eliane Oliveira RIO e BRASÍLIA
O Globo, 29.01.2010
A concentração das vendas externas do país em produtos primários e o enfraquecimento da indústria ganharam força em 2009. Apenas seis produtos básicos foram responsáveis por praticamente um terço (32,17%) das exportações brasileiras: soja, minério de ferro, petróleo, açúcar, frango e farelo de soja.
No ano anterior, este grupo respondia por 27,72% das vendas brasileiras a outras nações e, em 2004, somente 20,69%. Isso ocorre porque a crise mundial afetou mais fortemente os compradores de produtos acabados brasileiros — como Estados Unidos, Europa e América Latina — e favoreceu a exportação para a China, grande compradora de bens primários e hoje o maior parceiro comercial do Brasil.
O ano de 2009 foi o primeiro em que não havia nenhum item industrializado entre os seis mais vendidos.
Entre os dez produtos mais exportados, apenas dois — aviões, na sétima posição, e automóveis, em décimo lugar no ranking — são manufaturados.
Em 2004, o top ten continha outras duas manufaturas, além das atuais: peças de automóveis e aparelhos de transmissão e recepção.
Com isso, os produtos primários responderam por 40,50% das exportações brasileiras em 2009. Esta é a primeira vez, em 20 anos, que a categoria ultrapassa os 40% do total — em 2008, estava em 36,89%. Por outro lado, os produtos manufaturados, que representaram 46,82% das vendas de 2008, passaram a significar apenas 44,02% no ano passado.
Para o economista da RC Consultores, Fábio Silveira, hoje o país está dependente das commodities, sem autonomia para planejar seu futuro, sob o ponto de vista comercial. O quadro é positivo, quando os preços sobem.
Mas uma queda nas cotações dos produtos, a curto prazo, acaba afetando negativamente a balança.
— Esta forte concentração de produtos na pauta de exportações é preocupante, pois são produtos sobre os quais o Brasil não tem qualquer controle, nem de preços, nem quantidade — confirmou o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro
Dependência deve aumentar em 2010
O Brasil vive hoje esse problema da “primarização” de sua pauta exportadora.
Alguns dizem que isso não é um problema, pois Chile, Canadá e Austrália se desenvolveram com exportações de bens primários. Há quem alegue, inclusive, que existe mais tecnologia em alguns primários, como carnes, com pesquisa genética, que em alguns manufaturados. Mas é polêmico, e o Brasil precisa saber se quer ser um grande exportador de básicos ou se quer diversificar a sua pauta — afirmou Luís Afonso Lima, presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet).
Para Lima, essa concentração tende a continuar em 2010, pois ele acredita que os grandes compradores de manufaturados do Brasil ainda estarão com economias relativamente fracas, enquanto a China deve aumentar seu apetite por produtos básicos. Em sua opinião, o país perdeu a oportunidade de, na bonança mundial, de fazer as reformas tributária e trabalhista, o que daria mais competitividade para o setor industrial brasileiro.
O governo reconhece que as commodities têm tido um papel imprescindível nas exportações. Mas argumenta que a queda da participação de manufaturados se deve ao desaquecimento da demanda mundial. Outros dois fatores são o dólar desvalorizado, que tira a rentabilidade, em reais, dos exportadores, e a concorrência chinesa em terceiros mercados.
Os setores que melhores resultados apresentaram em 2009 mostram suas estratégias. Produtores de açúcar, por exemplo, se beneficiaram da quebra de produção da Índia, o que abriu mercado ao produto nacional, com preços melhores no mercado mundial. O presidente da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Frango (Abef), Francisco Turra, disse que o segredo foi focar em mercados menos atingidos pela crise: Ásia e Oriente Médio. Outro fator considerado fundamental pelo setor foi a abertura do mercado chinês para o frango: — As vendas para Rússia, União Europeia, Japão e Venezuela caíram muito. Por isso, incrementamos negócios em outras regiões.
Segundo o vice-presidente do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, a siderurgia brasileira manteve o esforço de exportação, mesmo com queda de preços para manter os níveis de produção, tendo em vista que o mercado interno desaqueceu: — Além disso, houve a entrada em operação de novas indústrias. A queda das exportações em volume foi de 2,9% e em receita 38,8%.
========================
2) Agora a carta de um economista indignado com o que ele imagina ser uma traição de neoliberais, prontos para entregar o país aos donos do "Consenso de Washington" e autores intelectuais de uma volta de nossa economia a padrões coloniais:
Carta ao jornal O Globo por João Carlos Bezerra de Melo
A reprimarização da economia
Ora, até que enfim esse jornal abre as suas páginas e estampa manchete de primeira página, para noticiar, como se fosse a última novidade, o resultado do processo (que se vai agravar ainda, muito mais) de reprimarização da economia brasileira, com os seus inelutáveis efeitos sobre o balanço de transações externas correntes, sobre o nível do emprego e sobre o crescimento econômico, enfim.
O que não faz a parcialidade sistemática com que esse obstinado porta-voz da classe dominante (vale dizer dos grandes oligopólios financeiros e sua camarilha, poderosa o suficiente para abranger, envolver e, digamos, e$timularcerto tipo hegemônico de colunistas econômicos da grande mídia - ataca, por todos os meios o atual governo?
Afinal, (quem diria?), denuncia O GLOBO o óbvio fenômeno, não natural nem casual, mas resultante de uma persistente, proposital e criminosa política cambial, contra a qual nós, os economistas não alinhados sob a bandeira inimiga dos lesa-pátria neoliberais, vimos nos batendo, anos a fio.
Aplausos, pois, para o tardio despertar d'O GLOBO. Porém, a um só tempo, veemente (a mais veemente) condenação, por não haver contado toda a história: O câmbio sobrevalorizado, em que reside a causa do objeto da "denúncia" tardia, se mantém como herança dos tempos não saudosos do tucanato servil aos postulados do Consenso de Washington (cujos prepostos, no atual governo, suportam o insider Meirelles no comando do independente Banco Central); e tem como corolário a total desregulamentação (por que não dizer orgia?) dos fluxos financeiros e dos juros estratosféricos, que ganham o topo do pódio mundial, se é que cabe a imagem no contexto de tão sinistro certame. Esse outro lado da verdade, O GLOBO não conta e, omitindo-o, exerceu o seu sempre presente papel de desinformar o seu público leitor, no que diz respeito à realidade brasileira.
Mais uma vez, na contra-mão da História e do interesse da nacionalidade, O GLOBO perdeu um belo momento para contar a história toda, completa, sem omitir nem escamotear a verdade. E de perguntar aos virtuais candidatos à Presidência da República: Quem dos senhores subscreve o compromisso de disciplinar os fluxos financeiros internacionais e promover uma política cambial realista e patriótica que evite o retorno do País à condição de uma grande plantation?
João Carlos Bezerra de Melo, economista, assinante de O GLOBO
Básica e concentrada
Exportação de bens primários ganha força. Indústria perde espaço
Henrique Gomes Batista e Eliane Oliveira RIO e BRASÍLIA
O Globo, 29.01.2010
A concentração das vendas externas do país em produtos primários e o enfraquecimento da indústria ganharam força em 2009. Apenas seis produtos básicos foram responsáveis por praticamente um terço (32,17%) das exportações brasileiras: soja, minério de ferro, petróleo, açúcar, frango e farelo de soja.
No ano anterior, este grupo respondia por 27,72% das vendas brasileiras a outras nações e, em 2004, somente 20,69%. Isso ocorre porque a crise mundial afetou mais fortemente os compradores de produtos acabados brasileiros — como Estados Unidos, Europa e América Latina — e favoreceu a exportação para a China, grande compradora de bens primários e hoje o maior parceiro comercial do Brasil.
O ano de 2009 foi o primeiro em que não havia nenhum item industrializado entre os seis mais vendidos.
Entre os dez produtos mais exportados, apenas dois — aviões, na sétima posição, e automóveis, em décimo lugar no ranking — são manufaturados.
Em 2004, o top ten continha outras duas manufaturas, além das atuais: peças de automóveis e aparelhos de transmissão e recepção.
Com isso, os produtos primários responderam por 40,50% das exportações brasileiras em 2009. Esta é a primeira vez, em 20 anos, que a categoria ultrapassa os 40% do total — em 2008, estava em 36,89%. Por outro lado, os produtos manufaturados, que representaram 46,82% das vendas de 2008, passaram a significar apenas 44,02% no ano passado.
Para o economista da RC Consultores, Fábio Silveira, hoje o país está dependente das commodities, sem autonomia para planejar seu futuro, sob o ponto de vista comercial. O quadro é positivo, quando os preços sobem.
Mas uma queda nas cotações dos produtos, a curto prazo, acaba afetando negativamente a balança.
— Esta forte concentração de produtos na pauta de exportações é preocupante, pois são produtos sobre os quais o Brasil não tem qualquer controle, nem de preços, nem quantidade — confirmou o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro
Dependência deve aumentar em 2010
O Brasil vive hoje esse problema da “primarização” de sua pauta exportadora.
Alguns dizem que isso não é um problema, pois Chile, Canadá e Austrália se desenvolveram com exportações de bens primários. Há quem alegue, inclusive, que existe mais tecnologia em alguns primários, como carnes, com pesquisa genética, que em alguns manufaturados. Mas é polêmico, e o Brasil precisa saber se quer ser um grande exportador de básicos ou se quer diversificar a sua pauta — afirmou Luís Afonso Lima, presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet).
Para Lima, essa concentração tende a continuar em 2010, pois ele acredita que os grandes compradores de manufaturados do Brasil ainda estarão com economias relativamente fracas, enquanto a China deve aumentar seu apetite por produtos básicos. Em sua opinião, o país perdeu a oportunidade de, na bonança mundial, de fazer as reformas tributária e trabalhista, o que daria mais competitividade para o setor industrial brasileiro.
O governo reconhece que as commodities têm tido um papel imprescindível nas exportações. Mas argumenta que a queda da participação de manufaturados se deve ao desaquecimento da demanda mundial. Outros dois fatores são o dólar desvalorizado, que tira a rentabilidade, em reais, dos exportadores, e a concorrência chinesa em terceiros mercados.
Os setores que melhores resultados apresentaram em 2009 mostram suas estratégias. Produtores de açúcar, por exemplo, se beneficiaram da quebra de produção da Índia, o que abriu mercado ao produto nacional, com preços melhores no mercado mundial. O presidente da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Frango (Abef), Francisco Turra, disse que o segredo foi focar em mercados menos atingidos pela crise: Ásia e Oriente Médio. Outro fator considerado fundamental pelo setor foi a abertura do mercado chinês para o frango: — As vendas para Rússia, União Europeia, Japão e Venezuela caíram muito. Por isso, incrementamos negócios em outras regiões.
Segundo o vice-presidente do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, a siderurgia brasileira manteve o esforço de exportação, mesmo com queda de preços para manter os níveis de produção, tendo em vista que o mercado interno desaqueceu: — Além disso, houve a entrada em operação de novas indústrias. A queda das exportações em volume foi de 2,9% e em receita 38,8%.
========================
2) Agora a carta de um economista indignado com o que ele imagina ser uma traição de neoliberais, prontos para entregar o país aos donos do "Consenso de Washington" e autores intelectuais de uma volta de nossa economia a padrões coloniais:
Carta ao jornal O Globo por João Carlos Bezerra de Melo
A reprimarização da economia
Ora, até que enfim esse jornal abre as suas páginas e estampa manchete de primeira página, para noticiar, como se fosse a última novidade, o resultado do processo (que se vai agravar ainda, muito mais) de reprimarização da economia brasileira, com os seus inelutáveis efeitos sobre o balanço de transações externas correntes, sobre o nível do emprego e sobre o crescimento econômico, enfim.
O que não faz a parcialidade sistemática com que esse obstinado porta-voz da classe dominante (vale dizer dos grandes oligopólios financeiros e sua camarilha, poderosa o suficiente para abranger, envolver e, digamos, e$timularcerto tipo hegemônico de colunistas econômicos da grande mídia - ataca, por todos os meios o atual governo?
Afinal, (quem diria?), denuncia O GLOBO o óbvio fenômeno, não natural nem casual, mas resultante de uma persistente, proposital e criminosa política cambial, contra a qual nós, os economistas não alinhados sob a bandeira inimiga dos lesa-pátria neoliberais, vimos nos batendo, anos a fio.
Aplausos, pois, para o tardio despertar d'O GLOBO. Porém, a um só tempo, veemente (a mais veemente) condenação, por não haver contado toda a história: O câmbio sobrevalorizado, em que reside a causa do objeto da "denúncia" tardia, se mantém como herança dos tempos não saudosos do tucanato servil aos postulados do Consenso de Washington (cujos prepostos, no atual governo, suportam o insider Meirelles no comando do independente Banco Central); e tem como corolário a total desregulamentação (por que não dizer orgia?) dos fluxos financeiros e dos juros estratosféricos, que ganham o topo do pódio mundial, se é que cabe a imagem no contexto de tão sinistro certame. Esse outro lado da verdade, O GLOBO não conta e, omitindo-o, exerceu o seu sempre presente papel de desinformar o seu público leitor, no que diz respeito à realidade brasileira.
Mais uma vez, na contra-mão da História e do interesse da nacionalidade, O GLOBO perdeu um belo momento para contar a história toda, completa, sem omitir nem escamotear a verdade. E de perguntar aos virtuais candidatos à Presidência da República: Quem dos senhores subscreve o compromisso de disciplinar os fluxos financeiros internacionais e promover uma política cambial realista e patriótica que evite o retorno do País à condição de uma grande plantation?
João Carlos Bezerra de Melo, economista, assinante de O GLOBO
1877) Construindo a heranca maldita: contas públicas
Truques fiscais
Regina Alvarez
O Globo - Panorama Econômico, 28/01/2010
Em um ano de crise aguda, como foi 2009, o governo valeu-se de truques e muita criatividade para fechar as contas públicas. O resultado do Tesouro confirma que o superávit primário foi forjado a partir de caminhos muito pouco ortodoxos. Começando pelo uso do BNDES, um banco público de fomento, para reforçar o caixa da União, abrindo espaço para mais despesas, sem comprometer a meta.
De um lado, o BNDES recebeu empréstimo de R$ 100 bilhões do Tesouro em títulos da dívida pública — que não teve impacto fiscal, mas elevou a dívida bruta — para mitigar os efeitos da crise global. De outro, o bancão repassou um valor recorde de dividendos ao caixa da União: R$ 11 bilhões, quase o dobro de 2008; e ainda "comprou" mais R$ 3,5 bilhões de dividendos da Eletrobrás, também repassados ao Tesouro.
A lógica é a seguinte: o BNDES não contribui com o superávit primário da União, tudo que paga de dividendos entra no caixa do Tesouro como receita primária. Enquanto que o repasse direto dos dividendos da Eletrobrás ao Tesouro teria efeito neutro nas contas, já que a estatal contribui com a meta de superávit primário. Se paga dividendos, economiza menos e faz um superávit menor. A operação triangular garantiu mais recursos para a União no ano da crise.
Outro truque foi o uso dos depósitos judiciais para reforçar o caixa federal. No total, foram R$ 15,3 bilhões de depósitos tributários e não tributários. Neste caso, o governo foi com tanta sede ao pote que desconsiderou alguns detalhes importantes.
Primeiro, parte dos R$ 8,9 bilhões de depósitos judiciais tributários ainda estavam sem classificação. Quando forem classificados, dependendo do imposto que os originou, parte do bolo será dividido com estados e municípios (IR e IPI, no caso).
Especialistas em orçamento estimam que pelo menos R$ 1 bilhão dessa receita pertence aos demais entes e foi apropriada pela União. No caso dos depósitos não judiciais, R$ 6,2 bilhões, um detalhe pode complicar as contas de 2010. O valor que o governo computou como receita em novembro e dezembro de 2009 também entrou nas contas do relator de receitas do Orçamento de 2010, senador Romero Jucá, para acomodar o aumento de despesas aprovado pelo Congresso.
Finalmente, tem a história do Imposto de Renda das Pessoas Físicas. O governo prometeu que não reteria devoluções do IR para fazer caixa, mas o fato é que em 2009, pela primeira vez, mais de um milhão de contribuintes caíram na malha fina. E o mais estranho: em janeiro, no primeiro lote de restituições, foram devolvidos R$ 616 milhões a quase 400 mil contribuintes. Em janeiro de 2008, a devolução fora de R$ 75 milhões.
Nunca antes na história deste país a Receita trabalhou tanto e demonstrou tanta eficiência no primeiro mês do ano. Será que havia mesmo motivo para tante gente ter caído na malha? Com todos esses truques, o governo conseguiu um superávit de R$ 42,3 bilhões nas contas de 2009 e com o reforço dos investimentos do PPI/PAC — abatidos das despesas — a meta foi atingida.
Num ano de crise aguda, as receitas cresceram 3,2% e as despesas 15%. Não ocorreu aos equilibristas econômicos fazer o ajuste pela lado da despesa. As receitas "atípicas" viabilizaram o aumento dos gastos.
Herança maldita
No mercado, esses truques para obter superávit primário e o aumento da dívida bruta são vistos com preocupação. O economista Sérgio Vale, da MB Associados, prevê que haverá uma piora no perfil da dívida pública mais pra frente, em decorrência desses fatores.
— O perfil da dívida está diretamente relacionado à qualidade da política fiscal.
Quanto mais o governo cria subterfúgios para o superávit primário ou aumenta a dívida bruta, aumenta a probabilidade da qualidade do perfil piorar — afirma.
Este ano será muito ruim do ponto de vista fiscal, por conta do fator eleitoral, na visão do economista. A questão em aberto é 2011.
Quem vai fazer o ajuste fiscal necessário e de que tamanho será, quando se sabe que há uma programação enorme de investimentos públicos programados — Copa, Olimpíadas, présal, infraestrutura, etc.?, pergunta.
— Não temos espaço para a festa fiscal que o governo está fazendo nos últimos dois anos de seu governo, tanto que descobriu o uso da dívida bruta para aumentar seus gastos. Essa dívida, que está em torno de 64% do PIB este ano, pode subir facilmente para 67% no final de 2010 e, dependendo do cenário fiscal de 2011, passar dos 70% — estima o economista
Regina Alvarez
O Globo - Panorama Econômico, 28/01/2010
Em um ano de crise aguda, como foi 2009, o governo valeu-se de truques e muita criatividade para fechar as contas públicas. O resultado do Tesouro confirma que o superávit primário foi forjado a partir de caminhos muito pouco ortodoxos. Começando pelo uso do BNDES, um banco público de fomento, para reforçar o caixa da União, abrindo espaço para mais despesas, sem comprometer a meta.
De um lado, o BNDES recebeu empréstimo de R$ 100 bilhões do Tesouro em títulos da dívida pública — que não teve impacto fiscal, mas elevou a dívida bruta — para mitigar os efeitos da crise global. De outro, o bancão repassou um valor recorde de dividendos ao caixa da União: R$ 11 bilhões, quase o dobro de 2008; e ainda "comprou" mais R$ 3,5 bilhões de dividendos da Eletrobrás, também repassados ao Tesouro.
A lógica é a seguinte: o BNDES não contribui com o superávit primário da União, tudo que paga de dividendos entra no caixa do Tesouro como receita primária. Enquanto que o repasse direto dos dividendos da Eletrobrás ao Tesouro teria efeito neutro nas contas, já que a estatal contribui com a meta de superávit primário. Se paga dividendos, economiza menos e faz um superávit menor. A operação triangular garantiu mais recursos para a União no ano da crise.
Outro truque foi o uso dos depósitos judiciais para reforçar o caixa federal. No total, foram R$ 15,3 bilhões de depósitos tributários e não tributários. Neste caso, o governo foi com tanta sede ao pote que desconsiderou alguns detalhes importantes.
Primeiro, parte dos R$ 8,9 bilhões de depósitos judiciais tributários ainda estavam sem classificação. Quando forem classificados, dependendo do imposto que os originou, parte do bolo será dividido com estados e municípios (IR e IPI, no caso).
Especialistas em orçamento estimam que pelo menos R$ 1 bilhão dessa receita pertence aos demais entes e foi apropriada pela União. No caso dos depósitos não judiciais, R$ 6,2 bilhões, um detalhe pode complicar as contas de 2010. O valor que o governo computou como receita em novembro e dezembro de 2009 também entrou nas contas do relator de receitas do Orçamento de 2010, senador Romero Jucá, para acomodar o aumento de despesas aprovado pelo Congresso.
Finalmente, tem a história do Imposto de Renda das Pessoas Físicas. O governo prometeu que não reteria devoluções do IR para fazer caixa, mas o fato é que em 2009, pela primeira vez, mais de um milhão de contribuintes caíram na malha fina. E o mais estranho: em janeiro, no primeiro lote de restituições, foram devolvidos R$ 616 milhões a quase 400 mil contribuintes. Em janeiro de 2008, a devolução fora de R$ 75 milhões.
Nunca antes na história deste país a Receita trabalhou tanto e demonstrou tanta eficiência no primeiro mês do ano. Será que havia mesmo motivo para tante gente ter caído na malha? Com todos esses truques, o governo conseguiu um superávit de R$ 42,3 bilhões nas contas de 2009 e com o reforço dos investimentos do PPI/PAC — abatidos das despesas — a meta foi atingida.
Num ano de crise aguda, as receitas cresceram 3,2% e as despesas 15%. Não ocorreu aos equilibristas econômicos fazer o ajuste pela lado da despesa. As receitas "atípicas" viabilizaram o aumento dos gastos.
Herança maldita
No mercado, esses truques para obter superávit primário e o aumento da dívida bruta são vistos com preocupação. O economista Sérgio Vale, da MB Associados, prevê que haverá uma piora no perfil da dívida pública mais pra frente, em decorrência desses fatores.
— O perfil da dívida está diretamente relacionado à qualidade da política fiscal.
Quanto mais o governo cria subterfúgios para o superávit primário ou aumenta a dívida bruta, aumenta a probabilidade da qualidade do perfil piorar — afirma.
Este ano será muito ruim do ponto de vista fiscal, por conta do fator eleitoral, na visão do economista. A questão em aberto é 2011.
Quem vai fazer o ajuste fiscal necessário e de que tamanho será, quando se sabe que há uma programação enorme de investimentos públicos programados — Copa, Olimpíadas, présal, infraestrutura, etc.?, pergunta.
— Não temos espaço para a festa fiscal que o governo está fazendo nos últimos dois anos de seu governo, tanto que descobriu o uso da dívida bruta para aumentar seus gastos. Essa dívida, que está em torno de 64% do PIB este ano, pode subir facilmente para 67% no final de 2010 e, dependendo do cenário fiscal de 2011, passar dos 70% — estima o economista
1876) Livro: Um Enigma Chamado Brasil

Estou lendo agora este livro: Um Enigma Chamado Brasil: 29 Intérpretes e um País, organizado por Lilia Moritz Schwarcz e André Botelho (São Paulo: Companhia das Letras, 2009).
Segundo informação da editora, nessa coletânea de artigos, intérpretes do Brasil são analisados à luz de suas ideias e sob o ponto de vista de pesquisadores contemporâneos. Alguns nomes como Gilberto Freyre e Sergio Buarque de Hollanda unem-se a outros, com trabalhos sobre o Brasil, como Oliveira Vianna, Manoel Bomfim e Octavio Ianni. A obra pretende estabelecer um diálogo entre esses pensadores e suas obras, e mostra como suas ideias foram recebidas em determinados contextos.
O resultado é uma compilação que percorre o pensamento social em diferentes gerações - desde aqueles que se debruçaram sobre a construção do Estado durante o Império até os ensaístas da década de 1930, passando pelos teóricos do racismo científico, seus críticos na Primeira República, os modernistas nos anos 1920 e a geração dos cientistas sociais e seus primeiros discípulos. Ao reunir esses autores, a obra propõe contribuir para o debate e introduzir aos estudantes e entusiastas do tema, ideias consideradas fundamentais para o entendimento da sociedade brasileira. Ao final de cada verbete há indicações de leitura e, ao final do livro, uma biografia dessas personalidades.
Nem todos são brasileiros, pois existem brasilianistas como Roger Bastide e Richard Morse. Nem todos são falecidos, pois do volume constam intelectuais ainda atuantes como Fernando Henrique Cardoso e Roberto Schwarz, bem como Antonio Candido, Gilda de Mello e Souza e Maria Isaura Pereira de Queiroz. Um capítulo é "coletivo", como a contribuição de José Murilo de Carvalho, sobre o radicalismo político no Segundo Reinado, cobrindo as obras do Marquês do Paraná, de Teófilo Otoni e de José Inácio Silveira da Mota.
É o tipo de leitura que eu gosto: história e sociologia das ideias, ou seja, uma trajetória do pensamento, ou história intelectual. Farei anotações em função de um ensaio meu que poderia ser chamado de "memórias intelectuais".
1875) FSM, dia 3: um completo energumeno e criminoso...
Não sou de ordinário alguém que saia por aí ofendendo os outros. Medíocres e ignorantes me dão simplesmente pena.
Criminosos devem apenas receber as penas previstas em lei. Cúmplices de criminosos também devem ser julgados, de acordo com a gravidade de seus casos.
Este cidadão, abaixo relatado, é pior que um criminoso das ruas. Trata-se de um criminoso intelectual, e como tal deveria receber uma pena maior. Não a prisão, talvez, mas o opróbio, o desprezo intelectual, pois se trata visivelmente de um indigente mental. Um desonesto e um cidadão de má fé.
Paulo Roberto de Almeida (29.01.2010)
Em painel do FSM, sociólogo exige fim de "perseguição" ao MST no Estado
Letícia Duarte
Zero Hora, 28/01/2010
Boaventura de Souza Santos defende que criminalização dos movimentos sociais torna ar irrespirável para o Fórum
Diante de 50 promotores e procuradores do país, que participam hoje de um encontro sobre direitos humanos, durante a programação do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos fez uma crítica veemente à atuação do Ministério Público.
Mesmo sem ser painelista, ele pediu a palavra para contestar a tendência de criminalização dos movimentos sociais. E aproveitou para reivindicar o arquivamento de todas as ações civis públicas de criminalização ao MST.
- Vejo com muita inquietação esse cenário de criminalização dos movimentos sociais. O que se passa no Rio Grande do Sul é grave -, firmou.
Segundo o intelectual, que também tem formação jurídica, a prática de proibição das marchas sociais e o fechamento das escolas itinerantes cria um estado de exceção, com perda de direitos fundamentais.
(...)
==================
Basta isso, para revelar o energúmeno que ele é...
Paulo Roberto de Almeida
Criminosos devem apenas receber as penas previstas em lei. Cúmplices de criminosos também devem ser julgados, de acordo com a gravidade de seus casos.
Este cidadão, abaixo relatado, é pior que um criminoso das ruas. Trata-se de um criminoso intelectual, e como tal deveria receber uma pena maior. Não a prisão, talvez, mas o opróbio, o desprezo intelectual, pois se trata visivelmente de um indigente mental. Um desonesto e um cidadão de má fé.
Paulo Roberto de Almeida (29.01.2010)
Em painel do FSM, sociólogo exige fim de "perseguição" ao MST no Estado
Letícia Duarte
Zero Hora, 28/01/2010
Boaventura de Souza Santos defende que criminalização dos movimentos sociais torna ar irrespirável para o Fórum
Diante de 50 promotores e procuradores do país, que participam hoje de um encontro sobre direitos humanos, durante a programação do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos fez uma crítica veemente à atuação do Ministério Público.
Mesmo sem ser painelista, ele pediu a palavra para contestar a tendência de criminalização dos movimentos sociais. E aproveitou para reivindicar o arquivamento de todas as ações civis públicas de criminalização ao MST.
- Vejo com muita inquietação esse cenário de criminalização dos movimentos sociais. O que se passa no Rio Grande do Sul é grave -, firmou.
Segundo o intelectual, que também tem formação jurídica, a prática de proibição das marchas sociais e o fechamento das escolas itinerantes cria um estado de exceção, com perda de direitos fundamentais.
(...)
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Basta isso, para revelar o energúmeno que ele é...
Paulo Roberto de Almeida
1874) Aos "frequentadores" de meus blogs e site: algumas considerações...
Por vezes, tenho a impressão de que estou sendo espiado por cima do ombro, enquanto trabalho, o que aliás não é apenas uma impressão, e sim a verdade.
Quem mantem um site como eu, por razões essencialmente didáticas, e diversos blogs especializados -- cada um para uma necessidade específica -- só pode se sentir espionado, pois é isso que ocorre de fato, ainda que eu apenas tenha indicações indiretas desses atos de "espionagem".
Algumas são explícitas, pois os mais corajosos fazem comentários, de diversos tipos, e só posso agradecer a atenção, mesmo quando me atacam, nesse caso anonimamente. Outras são apenas implícitas, e se revelam em comentários orais de interlocutores ocasionais.
Com base nessas impressões impressionistas, creio que posso traçar uma:
Tipologia dos frequentadores dos meus blogs
1) Fiéis leitores
Suponho que sejam todos aqueles inscritos como "seguidores" no rodapé desses blogs, em especial este aqui. Alguns têm sua identidade totalmente, revelada, outros assumem personalidades interessantes, atores ou personagens de cinema, de histórias em quadrinho, não importa. Também suponho que sejam pessoas que, como eu, sempre querem aprender algo novo, posto que meu blog é feito basicamente para meu próprio aprendizado, ademais de servir de "depósito de materiais úteis". Muitos deles dialogam comigo, através da janela de comentários. Quero dizer-lhes que muito aprecio seus comentários, posto que eles me dão a oportunidade de saber o que vai na cabeça de meus leitores, aprender um pouco com eles, e tentar aperfeiçoar a informação ou análises que disponibilizo nesses blogs. Grato, sinceramente.
2) Passantes ocasionais, leitores de oportunidade
São aqueles que buscam algo na internet, estudantes desesperados para terminar, na última hora, algum trabalho acadêmico, candidatos à carreira diplomática, pesquisadores de algum tema com interface em meus focos de trabalho, que acabam tropeçando com algum post meu -- geralmente algum antigo, do qual já me havia esquecido -- e, por acaso, vencendo a timidez, acabam deixando um comentário, não necessariamente de modo anônimo, posto que seu interesse é legítimo e focado naquela objeto ocasional. Eu também lhes sou grato pelos comentários -- embora saiba que a imensa maioria, a quase totalidade, passa sem deixar traços -- pois isso representa uma espécie de gratificação moral, já que indica que meus posts, muitos deles colocados laboriosamente madrugada adentro, podem ser de alguma utilidade para algum necessitado de ocasião. Muitos deles corrigem pequenos erros em minha informação, ou reclamam de que tal coisa está incompleta. Também tem aqueles que fazem comentários de natureza política, ou moral, o que também é interessante...
3) Anônimos, furiosos, ou não...
Devo dizer que a maior parte dos comentários que recebo são feitos por anônimos (enfim, alguns "anônimos" assinam o nome no corpo da mensagem, mas a maioria não o faz). Trata-se, portanto, de uma grande categoria de visitantes, alguns frequentes (que ficam me vigiando, ou seguindo), outros puramente esporádicos e erráticos (sua presença, não suas pessoas). Uma "espécie" de anônimos me descobriu por acaso e como algum post meu lhes deu prazer (quer dizer que se conformou às suas próprias opiniões) acabam escrevendo para me cumprimentar, apoiar, agradecer, whatever... Outra "espécie" de anônimos, ao contrário, fica furiosa, seja com a matéria postada, seja em relação às minhas posições; esses escrevem, então, de maneira indignada, por vezes até ofensiva, para retrucar, me chamar de idiota, ou algo do gênero. Confesso que costumo postar tudo -- de fato, provavelmente 99 por cento do me chega -- pois não me importam as críticas, a menos que sejam totalmente impertinentes ao objeto do post, ou estejam em linguagem ofensiva aos demais leitores (o que é extremamente raro, porém). Mesmo quando eles são especialmente ofensivos, ou agressivos, também creio que devo agradecer a esses anônimos furiosos, pois eles me ajudam a ser eu mesmo mais tolerante, a aperfeiçoar minhas postagens, enfim, a fazer deste instrumento livre uma fonte mais fiável e mais interessante de informações. Como esses anônimos me visitaram uma vez, existe alguma probabilidade de que o façam novamente, e não quero decepcioná-los novamente (embora eu não me incomode de decepcionar os intolerantes, os fundamentalistas, os sectários). Grato a todos, portanto.
4) Anônimos "anônimos", ou seja, visitantes incógnitos
Estes são uma categoria especial que confesso não sei como classificar. Alguns são simples curiosos, outros fofoqueiros, alguns tem ciume de minha produção, outros me detestam, de todo coração (se ouso dizer), vários percorrem meus posts simplesmente para terem motivo de me atacar, na academia, na carreira, por qualquer motivo que seja, dos mais desinteressados aos mais mesquinhos. Estou obviamente imaginando tudo isso, talvez me dando mais importância do que eu tenha, realmente, mas é o que sinto por vezes, por sinais indiretos (aquela coisa de um comentário rápido num corredor, num restaurante, numa menção de terceiros). Alguns desses comentários rápidos e muito ocasionais são até bem intencionados, do tipo: "Veja, andam dizendo por aí que você anda se expondo demais, exagerando nos seus textos, isso pode lhe prejudicar...". Outros não dizem absolutamente nada, embora eu perceba que viram alguma coisa e não dizem nada diretamente, mas vão comentar depois, geralmente de forma depreciativa ao meu comportamento. Creio que não tenho nada a agradecer a estes últimos, posto que eles não gostam de mim, mas eu pouco me importo com eles. Acho que sou indiferente ou infenso a fofocas...
A todos eles eu gostaria de dizer o seguinte:
Não tenho por hábito me preocupar com a opinião das pessoas sobre mim ou sobre o meu trabalho, minhas ideias, minha producao intelectual. Jamais eu faria algo para dar prazer a alguém, quero dizer, para ser Mister Nice Guy, simpático a alguém ou alguma causa, qualquer que seja ela. Eu apenas escrevo aquilo que desejo escrever, as simple as that... Não tenho por hábito pedir permissão a ninguém para expressar minhas opiniões; considero-me um ser absolutamente livre, tanto quanto possível no quadro de uma carreira burocrática que tem um pouco de Vaticano e outro tanto de Forças Armadas, ou talvez confraria maçônica. Tudo o que eu faço corresponde a uma necessidade interna, geralmente curiosidade intelectual, ou no caso dos blogs - que são por definição muito rápidos e por vezes irrefletidos -- uma simples necessidade de registro, de "depósito" de materiais para recuperar "algum dia".
Cada um deve assumir responsabilidade por seus atos, dizeres, escritos. Eu assino embaixo de cada peça terminada, e mantenho uma lista completa (ou quase) de todos os meus escritos, e não tenho absolutamente nada a esconder de ninguém. Quem não gosta de mim, ou de minhas opiniões, obviamente não é obrigado a ler meus textos ou a expelir algum comentário irritado em algum post meu.
De toda forma, creio que continuarei a agradar alguns, a irritar outros, a ajudar desconhecidos, mas sobretudo dar prazer a mim mesmo. Trata-se, provavelmente, de uma segunda natureza, esta minha, anárquica e irritante, de fato, mas não creio que deva mudar agora.
Em todo caso, boa noite a todos...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 29.01.2010
Quem mantem um site como eu, por razões essencialmente didáticas, e diversos blogs especializados -- cada um para uma necessidade específica -- só pode se sentir espionado, pois é isso que ocorre de fato, ainda que eu apenas tenha indicações indiretas desses atos de "espionagem".
Algumas são explícitas, pois os mais corajosos fazem comentários, de diversos tipos, e só posso agradecer a atenção, mesmo quando me atacam, nesse caso anonimamente. Outras são apenas implícitas, e se revelam em comentários orais de interlocutores ocasionais.
Com base nessas impressões impressionistas, creio que posso traçar uma:
Tipologia dos frequentadores dos meus blogs
1) Fiéis leitores
Suponho que sejam todos aqueles inscritos como "seguidores" no rodapé desses blogs, em especial este aqui. Alguns têm sua identidade totalmente, revelada, outros assumem personalidades interessantes, atores ou personagens de cinema, de histórias em quadrinho, não importa. Também suponho que sejam pessoas que, como eu, sempre querem aprender algo novo, posto que meu blog é feito basicamente para meu próprio aprendizado, ademais de servir de "depósito de materiais úteis". Muitos deles dialogam comigo, através da janela de comentários. Quero dizer-lhes que muito aprecio seus comentários, posto que eles me dão a oportunidade de saber o que vai na cabeça de meus leitores, aprender um pouco com eles, e tentar aperfeiçoar a informação ou análises que disponibilizo nesses blogs. Grato, sinceramente.
2) Passantes ocasionais, leitores de oportunidade
São aqueles que buscam algo na internet, estudantes desesperados para terminar, na última hora, algum trabalho acadêmico, candidatos à carreira diplomática, pesquisadores de algum tema com interface em meus focos de trabalho, que acabam tropeçando com algum post meu -- geralmente algum antigo, do qual já me havia esquecido -- e, por acaso, vencendo a timidez, acabam deixando um comentário, não necessariamente de modo anônimo, posto que seu interesse é legítimo e focado naquela objeto ocasional. Eu também lhes sou grato pelos comentários -- embora saiba que a imensa maioria, a quase totalidade, passa sem deixar traços -- pois isso representa uma espécie de gratificação moral, já que indica que meus posts, muitos deles colocados laboriosamente madrugada adentro, podem ser de alguma utilidade para algum necessitado de ocasião. Muitos deles corrigem pequenos erros em minha informação, ou reclamam de que tal coisa está incompleta. Também tem aqueles que fazem comentários de natureza política, ou moral, o que também é interessante...
3) Anônimos, furiosos, ou não...
Devo dizer que a maior parte dos comentários que recebo são feitos por anônimos (enfim, alguns "anônimos" assinam o nome no corpo da mensagem, mas a maioria não o faz). Trata-se, portanto, de uma grande categoria de visitantes, alguns frequentes (que ficam me vigiando, ou seguindo), outros puramente esporádicos e erráticos (sua presença, não suas pessoas). Uma "espécie" de anônimos me descobriu por acaso e como algum post meu lhes deu prazer (quer dizer que se conformou às suas próprias opiniões) acabam escrevendo para me cumprimentar, apoiar, agradecer, whatever... Outra "espécie" de anônimos, ao contrário, fica furiosa, seja com a matéria postada, seja em relação às minhas posições; esses escrevem, então, de maneira indignada, por vezes até ofensiva, para retrucar, me chamar de idiota, ou algo do gênero. Confesso que costumo postar tudo -- de fato, provavelmente 99 por cento do me chega -- pois não me importam as críticas, a menos que sejam totalmente impertinentes ao objeto do post, ou estejam em linguagem ofensiva aos demais leitores (o que é extremamente raro, porém). Mesmo quando eles são especialmente ofensivos, ou agressivos, também creio que devo agradecer a esses anônimos furiosos, pois eles me ajudam a ser eu mesmo mais tolerante, a aperfeiçoar minhas postagens, enfim, a fazer deste instrumento livre uma fonte mais fiável e mais interessante de informações. Como esses anônimos me visitaram uma vez, existe alguma probabilidade de que o façam novamente, e não quero decepcioná-los novamente (embora eu não me incomode de decepcionar os intolerantes, os fundamentalistas, os sectários). Grato a todos, portanto.
4) Anônimos "anônimos", ou seja, visitantes incógnitos
Estes são uma categoria especial que confesso não sei como classificar. Alguns são simples curiosos, outros fofoqueiros, alguns tem ciume de minha produção, outros me detestam, de todo coração (se ouso dizer), vários percorrem meus posts simplesmente para terem motivo de me atacar, na academia, na carreira, por qualquer motivo que seja, dos mais desinteressados aos mais mesquinhos. Estou obviamente imaginando tudo isso, talvez me dando mais importância do que eu tenha, realmente, mas é o que sinto por vezes, por sinais indiretos (aquela coisa de um comentário rápido num corredor, num restaurante, numa menção de terceiros). Alguns desses comentários rápidos e muito ocasionais são até bem intencionados, do tipo: "Veja, andam dizendo por aí que você anda se expondo demais, exagerando nos seus textos, isso pode lhe prejudicar...". Outros não dizem absolutamente nada, embora eu perceba que viram alguma coisa e não dizem nada diretamente, mas vão comentar depois, geralmente de forma depreciativa ao meu comportamento. Creio que não tenho nada a agradecer a estes últimos, posto que eles não gostam de mim, mas eu pouco me importo com eles. Acho que sou indiferente ou infenso a fofocas...
A todos eles eu gostaria de dizer o seguinte:
Não tenho por hábito me preocupar com a opinião das pessoas sobre mim ou sobre o meu trabalho, minhas ideias, minha producao intelectual. Jamais eu faria algo para dar prazer a alguém, quero dizer, para ser Mister Nice Guy, simpático a alguém ou alguma causa, qualquer que seja ela. Eu apenas escrevo aquilo que desejo escrever, as simple as that... Não tenho por hábito pedir permissão a ninguém para expressar minhas opiniões; considero-me um ser absolutamente livre, tanto quanto possível no quadro de uma carreira burocrática que tem um pouco de Vaticano e outro tanto de Forças Armadas, ou talvez confraria maçônica. Tudo o que eu faço corresponde a uma necessidade interna, geralmente curiosidade intelectual, ou no caso dos blogs - que são por definição muito rápidos e por vezes irrefletidos -- uma simples necessidade de registro, de "depósito" de materiais para recuperar "algum dia".
Cada um deve assumir responsabilidade por seus atos, dizeres, escritos. Eu assino embaixo de cada peça terminada, e mantenho uma lista completa (ou quase) de todos os meus escritos, e não tenho absolutamente nada a esconder de ninguém. Quem não gosta de mim, ou de minhas opiniões, obviamente não é obrigado a ler meus textos ou a expelir algum comentário irritado em algum post meu.
De toda forma, creio que continuarei a agradar alguns, a irritar outros, a ajudar desconhecidos, mas sobretudo dar prazer a mim mesmo. Trata-se, provavelmente, de uma segunda natureza, esta minha, anárquica e irritante, de fato, mas não creio que deva mudar agora.
Em todo caso, boa noite a todos...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 29.01.2010
1873) Pork-Viagra, viagra-suino, whatever, com sotaque argentino...
Este é um aspecto da integração no Mercosul que ainda não foi devidamente regulado, objeto de alguma resolução, liberalização tarifária, enfim algo do gênero.
Creio que os presidentes (e presidentas, if any) deveriam fazer uma Declaração solene a respeito...
Cristina Kirchner acha carne de porco mais eficiente que Viagra
France Presse, 28/01/2010
BUENOS AIRES - "Comer carne de porco melhora a atividade sexual", declarou a presidente argentina Cristina Kirchner durante um encontro com empresários do setor suíno na noite desta quinta-feira na Casa Rosada.
"Além do mais, acho que é muito mais gostoso comer leitãozinho assado do que tomar Viagra", acrescentou a presidente ante a surpresa dos presentes.
Ela confessou ainda que no fim de semana comeu, junto com o marido, o ex-presidente Néstor Kirchner, um leitão assado em sua residência de El Calafate, uma paradisíaca região patagônica, e o resultado "foi impressionante".
"Kirchner vai me matar quando eu chegar a Olivos!", acrescentou, sorrindo e se referindo à residência presidencial na periferia norte de Buenos Aires.
Ela aproveitou para anunciar uma redução do preço da carne suína.
O titular da Associação de Produtores Suínos, Juan Uccelli, confirmou as observações da presidente, assegurando que os dinamarqueses e japoneses, que consomem muito carne de porco, "têm uma sexualidade muito mais harmoniosa que os argentinos".
=====
PRA: Já sabemos como vai ser a próxima "cúpula" do Mercosul (eu disse cúpula...).
Creio que os presidentes (e presidentas, if any) deveriam fazer uma Declaração solene a respeito...
Cristina Kirchner acha carne de porco mais eficiente que Viagra
France Presse, 28/01/2010
BUENOS AIRES - "Comer carne de porco melhora a atividade sexual", declarou a presidente argentina Cristina Kirchner durante um encontro com empresários do setor suíno na noite desta quinta-feira na Casa Rosada.
"Além do mais, acho que é muito mais gostoso comer leitãozinho assado do que tomar Viagra", acrescentou a presidente ante a surpresa dos presentes.
Ela confessou ainda que no fim de semana comeu, junto com o marido, o ex-presidente Néstor Kirchner, um leitão assado em sua residência de El Calafate, uma paradisíaca região patagônica, e o resultado "foi impressionante".
"Kirchner vai me matar quando eu chegar a Olivos!", acrescentou, sorrindo e se referindo à residência presidencial na periferia norte de Buenos Aires.
Ela aproveitou para anunciar uma redução do preço da carne suína.
O titular da Associação de Produtores Suínos, Juan Uccelli, confirmou as observações da presidente, assegurando que os dinamarqueses e japoneses, que consomem muito carne de porco, "têm uma sexualidade muito mais harmoniosa que os argentinos".
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PRA: Já sabemos como vai ser a próxima "cúpula" do Mercosul (eu disse cúpula...).
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