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sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

1879) FSM, dia 4: uma hegemonia esqualida, quase diafana

Para todos aqueles que seguem os debates diários que "ocorrem" -- o termo correto, na verdade, seria "são perpetrados" -- no Fórum Social Mundial de Porto Alegre, a impressão que se tem - a partir dos resumos diários, claro, pois assistir ao vivo deve representar um sacrifício muito grande a qualquer pessoa sã de espírito ou dotada de certa alergia à estupidez e à burrice, como é o meu caso -- é a de uma imensa cacofonia, a de uma improvisão sem limites e, sobretudo, a de uma ausência completa de idéias, ou de propostas inteligíveis, consistentes, aplicáveis, factíveis, exequíveis, sensatas, economicamente viáveis, etc., etc., etc... (desculpem a redundância dos sinônimos, mas eles são diretamente proporcionais aos pleonasmos cometidos no FSM).
Pois bem, com base no resumo de hoje, eu me permito destacar algumas pérolas. Depois, com tempo, vou selecionar todas as pérolas de todos os debates ocorridos, pois algumas delas são realmente impagáveis, concorrendo, com folga, com aquelas pérolas de vestibular e dos provões (tipo ENEM e ENADE) que regularmente professores mal intencionados fazem circular pela internet, apenas para espezinhar e humilhar aluninhos eventualmente desprovidos de maior intimidade com a língua pátria ou com simples regras de lógica elementar.

RESUMO – 28.01: mesa “Elementos da nova agenda II: Como Construir uma Hegemonia Política”

Já de início, a conclusão dessa mesa, sobre a construção da nova hegemonia, demonstra um caso extremo de gramscismo surrealista, ou, digamos, "leninismo do crioulo doido", uma assemblagem heteróclita de elementos dispersos, que faria os dois personagens em questão revirarem-se em seus túmulos (no caso de Lênin, sua múmia ficaria verde de raiva, pois que ela já é pintada regularmente de vermelho róseo). Vejamos:

"Os participantes da mesa “Como Construir uma Hegemonia” foram unânimes em avaliar que um novo socialismo está sendo desenhado pelos movimentos sociais. A construção da nova hegemonia política depende da diversidade. E esse foi o grande salto dessa discussão nos últimos anos. Se as primeiras a luta [sic] pela implementação de uma sociedade socialista vinha a reboque do proletariado organizado, o socialismo do século 21 se dará pelo esforço daqueles que lutam pelos direitos dos povos indígenas, pelo fim do sexismo, contra o preconceito racial, pelo direitos humanos, pela apropriação dos meios de comunicação e de todos os demais movimentos sociais."
PRA: OK, OK, os novo socialismo sairá dessa nova e santa aliança dos movimentos sociais, sem esquecer o GLTBs...

Aquele português maluco da Universidade de Coimbra (que já produziu coisas melhores), doido de pedra e criminoso intelectual -- que pretende que o MST vem sendo perseguido injustamente pelo Ministério Público e que anunciou que pediria pessoalmente a cessação de todos os processos contra esses inocentes agraristas do século 18 -- anunciou coisas verdadeiramente surpreendentes, que transcrevo, em parte:

"Para combater as democracias representativas – que como disse Virginia Vargas, em sua apresentação, vai muito além do sistema eleitoral – Boaventura sugere uma aproximação dos partidos políticos e dos movimentos sociais por meio da organização de seminários. Aceitar que a democracia tem seus limites e partidarizar os movimentos, foram só alguns caminhos apontados por Boaventura. Ele também defende que um outro mundo só será possível tirando da mão do capital os bens naturais; promovendo a justiça histórica com negros e índios e a justiça ambiental; combatendo o sexismo e integrando a América Latina. Para isso, a posição do Brasil é fundamental. “O Brasil tem que deixar de ficar entre o sim e o não em relação a todos os movimentos sociais”, disse."

Não contente com sua genial trouvaille, ele ainda anunciou outra:

"...chegou a causar espanto quando disse que o socialismo do século 21 pode até conviver com capitalistas. 'O que não pode é eles definirem a lógica do sistema. A economia solidária é que tem que fazer isso', explicou."

Ainda bem: cheguei até a pensar que eles pretendiam enforcar todos os capitalistas com as cordas que estes mesmos venderiam a esses neobolcheviques, como pretendia Lênin. Que alívio!: não vamos ter mais aquelas cenas horrríveis de revolucionários fuzilando a burguesia, sngue correndo nas ruas; todos poderão conviver em paz, desde que se submetam à "economia solidária", que poderia ser chamada de "etapa superior do besteirol altermundialista".

Mas, o português maluco tem pressa, e pretende mudar até o slogan favorito dos antiglobalizadores, o de que "um outro mundo é possível":

"Boaventura também chamou a atenção para a urgência da transformação. “Devíamos mudar o nome do Fórum para 'um outro mundo é urgente e necessário'”, disse explicando que esse modelo de produção e consumo não é mais apenas injusto, é também insustentável. A crise ambiental, lembrou, atingirá tanto Bangladesh como a Holanda."

Confesso que eu gostaria de ter estado presente para ver a cena descrita a seguir no resumo, para ver as caras de embevecimento do público, apenas para constatar se havia algum sinal de lucidez aparente:

"A platéia aplaudiu em pé quando ao término de sua apresentação disse: 'Não queremos críticos bem formados, queremos criar rebeldes competentes.'"

Mas eu de verdade me pergunto se esse pessoal junta dois neurônios para refletir, ou se tudo é fruto da teoria do caos cerebral. Vejamos esta altermundialista:

"Virginia Vargas [da Articulación Feminista Marcosur, do Peru] também trouxe a discussão para o cotidiano. Para ela, o socialismo do século 21 traz um novo horizonte de poder, onde não há divisão entre governantes e governados. 'A proposta não é substituir uma hegemonia por outra. É inventar relações não hierarquizadas, que também estão nas relações pessoais e nas relações entre as organizações', disse. Essa dinâmica, defende ela, leva à formação de um sujeito emancipado e revolucionário."

Eu sinceramente desejo sucesso nessa empreitada de "inventar relações não hierarquizadas", que leve "à formação de um sujeito emancipado e revolucionário", mas também acho que esse pessoalzinho vai ter certa dificuldade em realizar o prometido, ou desejado...

Finalmente, mesmo com toda a cobertura da grande mídia em torno do total vazio de ideias que representou o FSM - e ainda assim divulgando suas dansas e pantomimas com aqueles pézinhos sujos -- os altermundialistas ainda reclamam da imprensa:

"Rosane Bertotti [CUT, Brasil] levou para o debate o desafio da comunicação de disseminar essas questões para os diferentes públicos. 'O Fórum, por exemplo, é invisível para a grande imprensa, que não consegue entender esse espaço', disse. Além disso, as pautas de discussão não estão nos meios de comunicação. 'Precisamos intervir [para democratizar os meios de comunicação], mas também precisamos ousar e construir meios de comunicação que olhem para outra realidade econômica'."

Bem, quem já leu o Programa Nacional de Direitos Humanos-3, aquele que pretende também "democratizar a grande mídia", sabe o que esperar desse tipo de iniciativa. Eu apenas gostaria de saber qual é essa "outra realidade econômica" que eles pretendem divulgar, pois ainda não vi nas prateleiras dos supermercados da História.

Concluo, dizendo simplesmente o seguinte: estou perdendo um tempo enorme lendo os materiais do FSM, apenas para constatar o que eu já sabia: de onde menos se espera, é que não sai nada mesmo. Espreme, espreme, e o FSM continua vazio de idéias. Vai ser difícil construir o outro mundo possível pretendido.
Êta mundo impossível...

Pelo resumo:
Paulo Roberto de Almeida (29.01.2010)

Um comentário:

Anônimo disse...

No proximo Fórum vai participar das mesas ou da platéia, assim sua critica será melhor e mais construtiva. Por um mundo bem melhor.