terça-feira, 13 de abril de 2010

2084) Via Política - Artigos Paulo R Almeida

Tenho publicado regularmente nesta newsletter editada em Porto Alegre, por dois jornalistas conhecidos: Omar Luiz de Barros Filho e Sylvia Bojunga.

Abaixo uma relação dos artigos mais recentes, com sua disponilização na seção Diplomatizando, neste link.

Artigos na ordem mais recente de publicação:
Por Paulo Roberto de Almeida

Elogio da burguesia (com uma deixa para a aristocracia também)
12.04.2010

Manual de diplomacia prática, 11: instrumentos
05.04.2010

Manual de diplomacia prática, 10: atores sociais
29.03.2010

Manual de diplomacia prática, 9: segurança
21.03.2010

Manual de diplomacia prática, 8: blocos de integração
14.03.2010

Manual de diplomacia prática, 7: parcerias estratégicas
07.03.2010

Manual de diplomacia prática, 6: prioridades
28.02.2010

Manual de diplomacia prática, 5: interesse nacional
22.02.2010

Manual de diplomacia prática 4: caráter inovador
08.02.2010

Fórum Social Mundial 2010, uma década de embromação: antecipando as conclusões e desvendando os equívocos
25.01.2010

Manual de diplomacia prática 3: avaliação dos meios
18.01.2010

Manual de diplomacia prática, 2: interação com a economia
11.01.2010

Manual de diplomacia prática, 1: clareza de intenções
27.12.2009

Todas as leis da estupidez humana (2), suite et fin...
13.12.2009

As Leis Fundamentais da Estupidez Humana (1)
06.12.2009

Muro de Berlim, vinte anos depois (4) O que poderá ocorrer com a nova Alemanha, e que ainda não ocorreu?
30.11.2009

Muro de Berlim, vinte anos depois (3) O que poderia ter ocorrido com Berlim e com a Alemanha, e que não ocorreu?
22.11.2009

Nova carta a Raul Castro: seja um pouco mais Gorby e menos Ceausescu
16.11.2009

Muro de Berlim, vinte anos depois (2) Guerra Fria: Berlim de volta ao centro da história contemporânea
11.11.2009

Muro de Berlim, 20 anos depois (1) Berlim e Alemanha no centro da história contemporânea
03.11.2009

De sapatos e da soberania
26.10.2009

A liberdade de destruir a liberdade: um aviso preventivo vindo do passado
18.10.2009

Declaração de Princípios (apenas relembrando certas coisas que são permanentes)
04.10.2009

A crise econômica internacional e seu impacto no Brasil
21.09.2009

Milton Friedman conversa com Roberto Campos no limbo econômico
31.08.2009

Carta aberta a Raul Castro sobre Cuba e o socialismo
17.08.2009

Frases de um perfeito idiota latino-americano (dos grandes)
10.08.2009

Os dez mandamentos da política – em certos governos (Com alguns agradecimentos a Moisés e seus escribas)
02.08.2009

Crônica de um desastre anunciado: o socialismo do século 21 na Venezuela
26.07.2009

A cooperação euro-brasileira no âmbito internacional Uma proposta maximalista para resultados minimalistas
19.07.2009

2083) Revista Espaco da Sophia - Colaboracoes Paulo R Almeida

Relaciono abaixo minhas colaborações à revista acadêmica digital
Espaço da Sophia

Primeiro a data de publicação, depois o nome do artigo e, finalmente, o número de visualizações em ordem decrescente

A relação cronológica serial pode ser vista neste link.

Data da Publicação – Nome do Artigo – Número de visualizações (até 12.04.10)

2008-10-01 A Economia Mundial do Petróleo 1537
2008-02-01 Políticas econômicas nacionais no contexto da globalização: a questão do desenvolvimento 923
2007-12-01 História virtual do Brasil: um exercício intelectual 663
2009-02-01 A INTEGRAÇÃO NA AMÉRICA DO SUL EM PERSPECTIVA HISTÓRICA: UM BALANÇO 390
2008-03-01 A herança portuguesa e a obra brasileira: um balanço e uma avaliação de dois séculos 292
2009-04-01 Os mitos da Revolução Cubana 234
2009-09-01 Falácias acadêmicas, 12: o mito da exploração capitalista 210
2009-01-10 Fórum Surreal Mundial Pequena visita aos desvarios dos antiglobalizadores 197
2009-07-01 Falácias acadêmicas, 10: mitos sobre o sistema monetário internacional 192
2008-12-01 Uma reorganização da ordem econômica mundial? Rumores a esse respeito são altamente exagerados... 187
2007-09-01 Teses para uma revolução partidária: sugestões (não solicitadas) para o congresso de um grande parti 183
2008-06-01 Governança democrática: trajetória nacional e dimensão internacional 180
2009-05-01 Falácias acadêmicas, 7: os mitos em torno do movimento militar de 1964 178
2008-11-01 Sobre a proposta de uma nova autoridade financeira mundial 176
2008-08-01 Uma paz não-kantiana? Sobre a paz e a guerra no contexto da globalização 172
2009-06-01 Falácias acadêmicas, 9: o mito do socialismo do século 21 172
2009-10-02 01:29:06 Falácias acadêmicas, 13: o mito do socialismo de mercado na China 167
2009-03-01 A questão racial nas relações Brasil-EUA 155
2010-01-01 A Primeira Década do Século 21: um retrospecto e algumas previsões imprevisíveis 148
2009-08-01 Falácias acadêmicas, 11: o mito da transição do capitalismo ao socialismo 145
2008-07-01 SOBRE MUDAR DE IDÉIAS 140
2007-06-01 Estaria a Imbecilidade Humana Aumentando 139
2008-01-01 Uma proposta modesta: a reforma do Brasil 136
2009-11-01 Um outro mundo possível: Alternativas históricas da Alemanha, antes e depois do muro de Berlim 135
2008-04-01 O fetiche do Capital 129
2007-07-01 Prometeu Acorrentado: o Brasil Amarrado por sua Própria Vontade 127
2007-11-01 Expansão Econômica Mundial: 100 anos de uma obra pioneira 117
2007-08-01 Já não se fazem mais marxistas como antigamente 107
2007-10-01 Crônica do petismo universitário: dissolução de uma redundância? 106
2009-12-01 De la Démocratie au Brésil: Tocqueville de novo em missão 72
2010-03-01 TRISTE FIM DE POLICARPO SOCIAL MUNDIAL 54
2010-02-01 Sobre a responsabilidade dos intelectuais 53

segunda-feira, 12 de abril de 2010

2082) Protocolo adicional ao TNP: duas visoes contrastantes

Escolha a sua: uma determina a defesa da soberania nacional e recusa o Protocolo adicional (de inspeções reforçadas), a outra aceita isso, como parte de nossa inserção internacional.
Folha de São Paulo (10.04.2010):

Instrumento desnecessário e humilhante
Samuel Pinheiro Guimarães

"As ultracentrífugas de tecnologia brasileira são as mais eficientes do mundo e há grande interesse em ter acesso a suas características, uma das consequências da assinatura do Protocolo Adicional, que, no caso do Brasil, seria um instrumento desnecessário, intrusivo, prejudicial e humilhante"
Samuel Pinheiro Guimarães é ministro de Assuntos Estratégicos. Artigo publicado na "Folha de SP":

O centro da questão é o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), cujo objetivo é evitar uma guerra nuclear. A possibilidade de tal conflito não está nos países que não detêm armas nucleares, mas, sim, naqueles que as detêm. Portanto, o principal objetivo do TNP deve ser a eliminação das armas dos países nuclearmente armados: Estados Unidos, Rússia, China, França e Inglaterra.

Há 42 anos esses países se comprometeram a eliminar suas armas, e há 42 anos não cumprem esse compromisso. Ao contrário, aumentaram a eficiência de suas armas nucleares.

Apesar de não terem se desarmado, esses países insistem em forçar os países não nucleares a aceitar obrigações crescentes, criando crescentes restrições à difusão de tecnologia, inclusive para fins pacíficos, a pretexto de evitar a proliferação.

Os países nucleares, ao continuarem a desenvolver suas armas e, portanto, a intimidar os países não nucleares, estimulam a proliferação, pois os países que se sentem mais ameaçados procuram se capacitar. Isso ocorreu com a então União Soviética (1949), com a França (1960) e com a China (1964).

Hoje, diante da inexistência de ameaça de conflito nuclear, o argumento dos países nucleares é a possibilidade de terroristas adquirirem a tecnologia ou as armas.

Essa tecnologia está disponível. A questão é a capacidade de desenvolver industrialmente as armas e os vetores para atingir os alvos.
Nenhum grupo terrorista detém os vetores (mísseis e aviões), nem a estrutura industrial para produzir o urânio enriquecido, nem a técnica para fabricar detonadores. Por outro lado, os terroristas poderiam obter essas armas justamente onde existem, nos países nucleares.

Nesse contexto se insere o Protocolo Adicional. O TNP prevê que todos os países-membros assinem acordos de salvaguardas com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), pelos quais os Estados não nucleares submetem a inspeção todas as suas instalações nucleares. O objetivo do acordo é verificar se há, para fins militares, desvio de material nuclear da instalação (reatores, usinas de enriquecimento etc.).

O Brasil tem atividades nucleares exclusivamente para fins pacíficos, como determina a Constituição, e tem um acordo de salvaguardas com a AIEA, que permite à agência inspecionar instalações brasileiras. Tudo com respeito à soberania nacional e a nossos interesses econômicos.

A AIEA, por proposta americana e a pretexto do programa do Iraque, elaborou um modelo de protocolo adicional aos acordos de salvaguardas, permitindo a visita de inspetores, sem aviso prévio, a qualquer local do território dos países não nucleares para verificar suspeitas sobre qualquer atividade nuclear, desde pesquisa acadêmica e usinas nucleares até a produção de equipamentos, como ultracentrífugas e reatores.

O Protocolo Adicional constituiria uma violação inaceitável da soberania diante da natureza pacífica das atividades nucleares no Brasil, uma suspeita injustificada sobre nossos compromissos constitucionais e internacionais e uma intromissão em atividades brasileiras na área nuclear.

Essa intromissão causaria graves danos econômicos, quando se consideram as perspectivas brasileiras na produção de combustível nuclear, que terá forte demanda com a necessidade de enfrentar a crise ambiental.

A solução ambiental exige a reforma da matriz energética, tanto nos emissores tradicionais, como os EUA, quanto nos de rápido desenvolvimento, como a China e a Índia.

Uma das mais importantes fontes de energia não geradora de gases de efeito estufa é a nuclear. O Brasil tem grandes reservas de urânio, tem o conhecimento do ciclo de enriquecimento do urânio e a capacidade para produzir reatores, ultracentrífugas, pastilhas etc. e, assim, pode vir a atender uma crescente demanda externa.

A preservação do conhecimento tecnológico é, assim, aspecto essencial na área nuclear. Ora, as ultracentrífugas de tecnologia brasileira são as mais eficientes do mundo. Há grande interesse de certos países em ter acesso a suas características, uma das consequências da assinatura do Protocolo Adicional, que, no caso do Brasil, seria um instrumento desnecessário, intrusivo, prejudicial e humilhante.
(Folha de SP, 10/4)

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Adesão não contraria interesse nacional
Rubens Ricupero

"O Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) é desigual e injusto, mas superior às alternativas existentes"
Rubens Ricupero é diretor da Faculdade de Economia da Faap e do Instituto Fernand Braudel de São Paulo. Foi secretário-geral da Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) e ministro da Fazenda (governo Itamar Franco). Artigo publicado na "Folha de SP":

Da mesma forma que a democracia, segundo Churchill, é a pior forma de governo, exceto todas as demais, o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) é desigual e injusto, mas superior às alternativas existentes. Durante os 40 anos de sua vigência, renunciaram à arma atômica 11 países que já a possuíam ou desejavam adquiri-la (entre eles Brasil, Argentina e África do Sul).

Dos 4 que se tornaram nucleares, 3 (Índia, Paquistão e Israel) jamais assinaram o TNP, e a Coreia do Norte teve que deixá-lo antes de construir a bomba. O controle das armas de destruição de massa não é impossível, pois desde Hiroshima e Nagasaki o mundo viveu 65 anos sem que a tragédia se repetisse.

Brasil e Argentina tomaram juntos a decisão de abandonar seus programas nucleares rivais, desarmando perigosa corrida armamentista na América Latina e abrindo caminho à integração do Mercosul.

O processo culminou, em 1991, com a assinatura do acordo entre o Brasil, a Argentina, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e a Agência Argentino-Brasileira de Controle, pelo qual os dois países aceitaram as inspeções da agência da ONU.

A adesão ao TNP constituiu a consequência natural, pois a proibição da arma nuclear já constava da Constituição de 1988 e o acordo de 1991 havia criado para o país todas as obrigações que decorreriam do tratado.

Quando a adesão se deu, em 1997-1998, os únicos que não haviam assinado eram Índia, Paquistão e Israel, que tinham para isso uma razão: queriam adquirir a bomba (o quarto era Cuba, que aderiu logo depois). Que sentido teria tido para o Brasil ficar de fora, em companhia dos três belicistas, se já havíamos assumido na prática as obrigações do TNP?

O mesmo argumento se aplica ao Protocolo Adicional, que não é mais que a aceitação de fiscalização reforçada. O Brasil é dos raros países que permitem à agência acesso até a suas instalações militares. O que teríamos a temer se nada temos a esconder?

Alega-se que deveríamos proteger a originalidade de nossa tecnologia. O objetivo é legítimo, mas, segundo especialistas, pode ser perfeitamente assegurado pela negociação com a agência de modalidades que preservem os segredos tecnológicos.

Até agora, a recusa era justificada pelo desinteresse do governo americano de cumprir a obrigação de desarmamento constante do TNP.

A situação mudou totalmente com o advento do governo Obama, o acordo com a Rússia para redução de ogivas nucleares e a nova estratégia dos EUA, que restringe o papel das armas nucleares. Ainda se está longe do desarmamento, mas é mudança construtiva que deve ser encorajada.

Neste momento, a persistência da recusa será vista como obstrução à evolução positiva em curso. A infeliz coincidência com a visita do presidente Lula a Teerã avivará suspeitas sobre nossas intenções.

Cedo ou tarde, o processo de reforço do TNP conduzirá à proibição da exportação ou importação de urânio enriquecido e restrições de acesso tecnológico para os que rejeitam o protocolo. É risco gratuito quando nossa tecnologia pode ser preservada por negociação cautelosa.

Se o real motivo for armamentista, equivale a golpe gravíssimo contra a Constituição. O argumento da soberania não procede, pois a adesão não contraria o interesse nacional.

Que interesse haveria em adquirir a bomba para país que não está sob ameaça ou em zona de conflito, tendo completado 140 anos de paz ininterrupta com seus dez vizinhos?

Na hora lancinante da catástrofe do Rio de Janeiro, só o delírio de grandeza e a perda de contato com a realidade explicam desviar recursos escassos para prioridades erradas e desnecessárias como os desvarios atômicos. A realidade que chega pela tela da TV nos revela aonde estão nossos inimigos: não no exterior, mas aqui dentro.

A corrupção e a incompetência diante da urbanização selvagem, a patética incapacidade de salvar vidas, a falta de dinheiro para dar casa decente aos trabalhadores -são essas as ameaças a enfrentar. E não será com submarinos nucleares e urânio enriquecido que vamos diminuir um só desses perigos reais e imediatos.
(Folha de SP, 10/4)

2081) Brasil: potencia economica de semiletrados

Há muito tempo, com base unicamente em minha experiência pessoal, venho insistindo no tema educacional, sem ser especialista no setor, e sem sequer fazer pesquisas nessa área. Trata-se de simples percepção pessoal: para mim, o Brasil é um gigante de pés de barro, e mais ainda, se trata de um gigante bobão, com uma classe política e supostas elites sumamente ignorantes, alguns ostentando mesmo o que se poderia chamar de "ignorância enciclopédica" (isto é, espalhando sua estupidez por vários campos do saber e das atividades humanas, e nem preciso lembrar quem é).
Pois bem, creio que este texto de um conhecido especialista no setor ajuda a explicar um pouco as raízes do problema e a agravar o alerta que venho sempre fazendo:
Em matéria de educação, estamos muito pior, mas muuuuiiiito piiiiior do que jamais ousaríamos imaginar, e a situação tende a se agravar, graças ao sindicalismo professoral, às pedagogas freirenas do MEC, às políticas absolutamente erradas do governo (de todos os governos, ou quase).
Acho que o Brasil tem um futuro muito ruim pela frente a persistir essa situação, que aliás não se corrige facilmente, mas exigiria pelos menos uma geração inteira de paciente reconstrução do sistema educacional.
A tragédia, contudo, é que sequer tomamos consciência da situação e ainda não começamos a corrigir o problema...
Paulo Roberto de Almeida
(Shanghai, 13.04.2010)

Brasil: a primeira potência de semiletrados?
Gustavo Ioschpe
Revista Veja, 14.04.2010

"Apesar do oba-oba, o Brasil está próximo de ser um colosso econômico e esquecer a formação de sua gente"

Quando voltei ao Brasil, depois de anos no exterior, queria montar meu escritório rapidamente. Contratei, então, um desses serviços de secretariado virtual para me ajudar enquanto iniciava o processo de busca por uma equipe permanente. Notei que a secretária virtual não era um gênio, mas achei que quebraria o galho. Certo dia, mandei um e-mail a ela pedindo que me conseguisse a informação de contato do cônsul brasileiro em Houston (EUA). Informação encontrável na internet em poucos minutos. Passaram-se cinco minutos, cinco horas, e nada.
Três dias depois, recebi um e-mail da fulana: "Sr. Gustavo, procurei na Cônsul e até na Brastemp, mas ninguém conhece esse tal de Houston". Pensei que fosse piada. Reli. Não era. Para quem havia ficado alguns anos construindo teses acadêmicas sobre a importância da educação para o desenvolvimento das nações, através do seu impacto na produtividade de uma população, estava ali o exemplo pronto e acabado de como é difícil produzir algo quando a ignorância campeia à volta. É assim para uma pessoa, uma empresa e um país.
Os economistas Gustav Ranis, Frances Stewart e Alejandro Ramirez ilustraram essa relação de forma clara. Analisaram 76 países durante um período de 32 anos. Dividiram-nos de acordo com dois critérios: crescimento econômico e desenvolvimento humano (nesse caso, medido através de uma combinação de indicadores de educação e saúde). Usando essas duas dimensões, você pode ter duas situações de equilíbrio (quando o lado humano e o econômico são igualmente altos ou baixos) e duas de desequilíbrio (quando o humano é alto e o econômico baixo, e vice-versa). Surgem algumas conclusões interessantes desse estudo.
A primeira é que as situações de desequilíbrio duram pouco. Se um país tem muito crescimento econômico e pouco capital humano (CH), ele tende a parar de crescer (caso, sim, do Brasil nas décadas de 60 e 70) ou a aumentar seu lado humano.
A segunda: é muito difícil sair de uma situação de equilíbrio negativo: mais da metade dos países que tinham baixo crescimento e baixo CH em 1960 permanecia empacada na mesma posição na década de 90.
A terceira é que o crescimento econômico, quando desacompanhado de evolução do lado humano, dura pouco: de todos os países que tinham alto crescimento econômico e baixo CH no início do período, nenhum conseguiu chegar ao equilíbrio em alto nível. Todos, sem exceção, terminaram o período com baixo crescimento e baixo CH.
A quarta, e mais importante, é que a estratégia de privilegiar o lado humano dá frutos muito melhores do que aquela que enfatiza só o lado econômico: dos países que começaram o período com alto CH e baixo crescimento econômico, um terço chegou ao nirvana da alta renda e alto nível humano; um terço continuou com um lado mais desenvolvido que o outro, e apenas um terço regrediu para o fim trágico do baixo crescimento e baixo CH.
O resumo da ópera é o seguinte: é muito difícil passar de uma situação de subdesenvolvimento e chegar ao chamado Primeiro Mundo. Mas, se o período 1960-92 servir de guia, das duas estratégias possíveis – privilegiar o crescimento econômico versus privilegiar o crescimento humano –, a primeira se mostrou um fracasso total, e só através da segunda é que um terço dos países chegou ao objetivo desejado.
Esse aprendizado é, hoje, especialmente importante para o Brasil. Apesar de todo o oba-oba com o país nas capas de revistas e jornais estrangeiros, o Brasil está, na verdade, perigosamente próximo de repetir a trajetória do fim da década de 60: ser um colosso em termos de crescimento econômico e esquecer a formação de sua gente. Essa estratégia tem destino certo: a falta de pessoas qualificadas faz com que o processo emperre e o crescimento acabe. Temo, inclusive, que seja tarde demais para evitar parte desse enredo: várias indústrias, especialmente as ligadas à engenharia, já têm seu crescimento cerceado pela impossibilidade de encontrar gente qualificada. O problema será muito pior nos próximos vinte anos, à medida que a demanda por pessoas qualificadas for aumentando e as escolas continuarem formando incompetentes.
Há três diferenças importantes entre o momento atual do Brasil e aquele da época do milagre econômico.
A primeira é que o atraso educacional brasileiro em relação aos países desenvolvidos aumentou consideravelmente. Há trinta anos, o ensino superior era um nível para poucos, mesmo nos países mais ricos. Levantamento feito em 2000 mostrou que a porcentagem de adultos com diploma universitário no Brasil era bastante parecida com a de outros países – 1 ou 2 pontos porcentuais abaixo de Chile e Argentina e 3 a 4 pontos abaixo de Itália e França, por exemplo. Quando se olha para a taxa de matrícula atual do ensino universitário, porém, nota-se que o Brasil tem uma diferença de 20 pontos porcentuais para nossos vizinhos latino-americanos e de 40 ou mais pontos para os países desenvolvidos. A maioria dos brasileiros não se dá conta de quão ruim é a educação nacional. Uma pesquisa de 2009 sobre alfabetização, feita pelo Instituto Paulo Montenegro, mostrou que apenas 25% da população adulta brasileira é plenamente alfabetizada. Deixe-me repetir: só um quarto dos brasileiros conseguiria ler e entender um texto como este. Nenhum país jamais se tornou potência com uma população de semianalfabetos. É improvável que o Brasil seja o primeiro, mesmo com todos os recursos naturais de que dispomos.
Segunda diferença: nos anos 60/70, pouquíssimo se falava sobre educação. Hoje, a questão está em pauta. O diacho é que a maior parte do discurso ainda é pré-científica (ou anticientífica) e continua insistindo em teses furadas e demagógicas: que o Brasil investe pouco e que o principal problema é o salário do professor.
A terceira e última é que naquela época éramos uma ditadura inserida no polo pró-americano em um contexto de Guerra Fria, e hoje somos uma democracia altiva em um mundo multipolar. Se então nossos males nos eram impostos por um regime autocrático, hoje temos liberdade e responsabilidade por nossos destinos. Os problemas e os erros são todos nossos, e as soluções também terão de ser.

2080) Editorial do Globo sobre o Iran e o problema nuclear

Nunca é tarde para transcrever certas manifestações de princípio, que tem a ver com o núcleo mesmo da política externa brasileira, num momento de definições relevantes.
Veremos como se dá a evolução deste processo.

Brasil à deriva no apoio ao Irã
EDITORIAL
O Globo, 09/04/2010

O presidente Barack Obama recepcionará líderes de 47 países na próxima semana, em Washington, para uma reunião sobre segurança nuclear, com três trunfos na mão: a revisão da política nuclear americana, há pouco anunciada, pela qual os Estados Unidos se comprometem a não usar armas atômicas contra países que não as possuam, exceto estados sem lei, como Irã e Coreia do Norte; a assinatura com a Rússia ontem, em Praga, de um pacto para redução em um terço dos arsenais nucleares, apontando para uma nova era de cooperação entre os grandes ex-inimigos da Guerra Fria (a Rússia é a sucessora legal da União Soviética); e, finalmente, a concordância da China em conversar sobre as novas sanções que os EUA e o Ocidente desejam aplicar ao Irã, pela falta de transparência de seu programa nuclear, considerado uma ameaça em escala mundial.

A revisão da política americana feita pelo governo Obama reflete preocupação, não com outras potências nucleares, como Rússia e China, mas com a proliferação: se estados sem lei, no sentido de não confiáveis, como Irã e Coreia do Norte, obtiverem armas atômicas, ainda que rudimentares, muito mais provável se torna a hipótese de que elas caiam em poder de redes terroristas, como a al-Qaeda. Estaria criado o pesadelo do terror nuclear.

Daí a busca de consenso para a imposição de sanções destinadas a interromper o desenvolvimento do programa nuclear iraniano, uma vez que Teerã rejeita submetê-lo à Agência Internacional de Energia Atômica (em relação à Coreia do Norte, há um trabalho permanente que envolve os EUA, China, Grã-Bretanha, França e Alemanha).

Nesse contexto, quanto mais cresce a compreensão de que é preciso evitar que o Irã - governado por uma ditadura militar e teocrática com objetivos expansionistas - desenvolva armas nucleares, mais delicada se torna a posição do Brasil. O governo Lula adota uma política externa de protagonismo terceiro-mundista que, para seus artífices, o "Itamaraty do B", é a melhor forma de defender os interesses do país. Ela se pauta, estranhamente, pelo apoio a ditaduras - como as de Cuba, Venezuela e Irã - colocando o Brasil em rota de colisão com os EUA e o mundo. O argumento do presidente Lula é que "o Brasil conversa com todos". O do chanceler Celso Amorim é que não se deve pressionar o Irã porque isso poderá levar a maior radicalização de sua liderança. Imagine-se este argumento aplicado a Hitler.

Os EUA aceleram as gestões para que o Conselho de Segurança da ONU aprove o quanto antes novas sanções ao Irã. A China, o maior aliado iraniano, aceita conversar sobre a hipótese, embora não se possa dizer que vá concordar com ela. Sobra o Brasil, que, claro, também aceita conversar, mas insiste em dar o benefício da dúvida ao Irã. Se não houver uma evolução da posição brasileira, o presidente Lula chegará a Teerã em maio, retribuindo visita de Ahmadinejad a Brasília, em novembro, num um dilema infernal: se o Brasil votar na ONU a favor das sanções, desembarcará como persona non grata. Se recorrer à abstenção, desagradará tanto a Ahmadinejad quanto ao Primeiro Mundo. E se, num ato delirante, votar contra as sanções, a diplomacia brasileira terá ficado refém de Teerã.

2079) Elogio da Burguesia - Paulo R. Almeida

Meu mais recente trabalho publicado (sim, um elogio à burguesia, da qual, por sinal, eu não me considero membro):

959. “Elogio da burguesia (com uma deixa para a aristocracia também)
Via Política (10.04.2010); Relação de Originais n. 2127.
Link: http://www.viapolitica.com.br/diplomatizando_view.php?id_diplomatizando=131.

2078) Premio Nacional de Desenvolvimento Regional

Premio Nacional de Desenvolvimento Regional
Homenagem a Celso Furtado
http://www.mi.gov.br/desenvolvimentoregional/premio/index.asp

Apresentação
O Ministério da Integração Nacional (MI), com base nos objetivos e estratégias da Política Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR), lança o Prêmio Nacional de Desenvolvimento Regional. Em sua primeira edição, o Prêmio homenageia o economista Celso Furtado, pela sua contribuição ao estudo dos problemas de desenvolvimento econômico e regional no Brasil e em comemoração dos 50 anos do lançamento do clássico “Formação Econômica do Brasil”.

Objetivo Geral
Promover a reflexão sobre os aspectos teóricos e práticos do desenvolvimento regional no Brasil, envolvendo o poder público e a sociedade civil organizada na discussão e na identificação de medidas concretas para a redução das desigualdades de nível de vida entre as regiões brasileiras e a promoção da eqüidade no acesso a oportunidades de desenvolvimento.

Objetivos Específicos
Estimular o debate e a produção acadêmica sobre o desenvolvimento regional no Brasil, de modo a contribuir para a compreensão do tema e a busca de novas alternativas de intervenção no território em múltiplas escalas;

Identificar e dar visibilidade a boas práticas regionais em execução no País, no que se refere aos sistemas de gestão do desenvolvimento regional e aos bens e serviços produzidos no contexto das novas formas de organização da produção com impactos em nível macrorregional e sub-regional;

Identificar projetos inovadores a serem implementados no território, que sejam voltados para a dinamização econômica e inclusão produtiva e que tenham grande potencial de transformação da realidade socioeconômica em escala macrorregional e sub-regional; e

Ampliar a base de discussão e implementação da Política Nacional de Desenvolvimento Regional.

Categorias
Produção do Conhecimento Acadêmico
Concorrerão teses e dissertações acadêmicas, em nível de Mestrado, Doutorado e Pós-Doutorado, na área de desenvolvimento regional, como forma de contribuir para a compreensão da questão regional brasileira e a identificação de medidas de intervenção adequadas ao estágio atual das disparidades regionais no Brasil.

Práticas Exitosas de Produção e Gestão Institucional
Concorrerão relatos de experiências em andamento, com resultados positivos concretos, implementadas por instituições públicas, privadas ou da sociedade civil, capazes de gerar mudanças estruturais e transformações do território onde está instalado e de seu entorno.

Projetos Inovadores para Implantação no Território
Concorrerão propostas inovadoras de atuação no território, de natureza social, econômica, cultural ou ambiental, com comprovado potencial de transformação da realidade socioeconômica em escala sub-regional ou macrorregional por meio da dinamização econômica e inclusão produtiva.

Premiação
Em cada categoria, serão premiadas as propostas selecionadas em:
1º lugar: Diploma de Reconhecimento de Mérito e a quantia de R$ 46.500,00 (quarenta e seis mil e quinhentos reais)
2º lugar: Diploma de Reconhecimento de Mérito e a quantia de R$ 23.250,00 (vinte e três mil duzentos e cinquenta reais)

Veja também:
• Regulamento
• Anexo I - Instruções para Inscrição
• Inscrições
• Celso Furtado
• Informações
• Notícias

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...