quinta-feira, 1 de julho de 2010

Questao do concurso do Itamaraty...

97 O MERCOSUL, orientado pela lógica da globalização, segue o modelo adotado pela União Européia, que prioriza o intercâmbio comercial.

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O gabarito aponta como certo o item acima.
Eu só consegui pensar naquele samba do Stanislaw Ponte Preta, cujo nome já é um atentado ao politicamente correto que vigora em nossos dias...

Addendum importante:
OK, OK, não vamos ser injustos com o CESPE e com o Itamaraty. O meu indutor em erro se desculpou pelo erro, como abaixo ele me escreve:

Prezado Professor:
Mas devo consignar meu engano (que percebi ao ler o comentário acima). Na realidade, como apontado por João Marcos, o gabarito aponta o item como ERRADO e não como certo. Fiz alguma confusão na leitura do gabarito, daí meu inconformisto com a resposta (que é ERRADA, portanto, o gabarito está ok).
O Gabarito definitivo encontra-se aqui:
http://www.cespe.unb.br/concursos/_antigos/2004/IRBRTPS2004/Arquivos/GAB_DEF_IRB.PDF
Prof. Paulo, obrigado, mais uma vez, pela atenção.
Abçs,


Bem, a única coisa que eu acrescentaria, seria esta: o autor da questão quis mesmo fazer um "samba do crioulo doido", sendo explicitamente politicamente incorreto (por muito menos um professor da UnB foi processado, por se referir a negros americanos como crioulos...).

Agora, cá entre nós: muitos candidatos, animados com aquele fervor militante de que só alguns ideólogos neófitos são capazes, devem ter pensado que, realmente, esse Mercosul neoliberal foi feito mesmo para cumprir objetivos exclusivamente comerciais, e que ele merece toda a sua reorientação social e política que vem atravessando nos últimos oito anos. Nunca se deve desconfiar da capacidade de alguns reagirem de um jeito estranho quando ouvem a palavra globalização; eles vão logo sacando seus revólveres...

Manual de Economia Al Reves: ainda uma aula do Professor Chavez

Sempre vou me surpreender com a ENORME capacidade de certas pessoas de reescreverem, completamente, toda a parte de microeconomia (e se der a macroeconomia também) dos manuais de economia com base na vontade pessoal, e não nas realidades econômicas mais comezinhas. Vale o prêmio Ignóbil de Economia do ano.

Venezuela: prohíben venta informal de alimentos si no cumple con el control de precios
Infolatam
Caracas, 29 de junio de 2010

Chávez aplica esta medida en momentos en los que ha arreciado el intermitente desabastecimiento.

El Gobierno venezolano ordenó que los comerciantes informales del país solo podrán vender alimentos básicos si respetan el control de precios vigente para los mismos y garantizan las condiciones de "higiene y salubridad" necesarias.

Una resolución publicada en la gaceta oficial oficializó la "prohibición absoluta de venta" de los alimentos básicos "a través del comercio informal, ambulante o eventual donde no se garantice el cumplimiento de los precios establecidos por el Ejecutivo Nacional".

La prohibición se aplica además cuando los vendedores informales no puedan garantizar las "condiciones de higiene y salubridad de los alimentos para el consumo humano declarados de primera necesidad", informaron medios locales que citaron la gaceta oficial.

En Venezuela se da el fenómeno de que alimentos controlados como el café, el azúcar y la harina de maíz desaparecen cíclicamente de los anaqueles de los comercios formales, pero se los puede hallar en las ventas ambulantes o informales con precios muy por encima de los establecidos por el Gobierno.

El Ejecutivo del presidente venezolano, Hugo Chávez, aplica la medida sobre la venta informal de alimentos básicos en momentos en que ha arreciado el intermitente desabastecimiento de algunos de ellos, y el sector acumula una inflación de 20,5 por ciento en lo que va de año, según datos de Banco Central de Venezuela (BCV).

El Gobierno socialista de Chávez mantiene desde 2003 un régimen de control de precios sobre un centenar de productos alimenticios y médicos, entre otros, considerados de primera necesidad, con el fin de garantizar el acceso a los mismos a la mayoría de la población.

Las Claves:
* Una resolución oficializó la "prohibición absoluta de venta" de los alimentos básicos "a través del comercio informal, ambulante o eventual donde no se garantice el cumplimiento de los precios establecidos".
* Se estableció "30 días continuos" para que los comerciantes informales se adecúen a la medida oficial,

Duas visoes do Brasil: a mitica e a real

Cada um escolhe a sua...

A nation’s destiny
By Luiz Inácio Lula da Silva
Financial Times, 29/06/2010

When I look back on my seven years as president of Brazil, I have great reason to be proud of the achievements of my government.
In that time, we have returned to growth an economy that had long been stagnant, taken tens of millions of people out of absolute poverty, created more than 14m formal jobs and increased workers’ incomes. Today, most Brazilians are members of the middle class. Our internal market has also grown exceptionally, which was crucial in protecting Brazil from the worst effects of the global financial crisis.
We did this while keeping inflation under control, reducing the ratio of debt to gross domestic product and rebuilding the regulatory functions of the Brazilian state.
We set in motion a powerful process to improve our infrastructure – in energy, housing and social assets – through the accelerated growth programme. As part of this, we are eliminating the bottlenecks that have affected our competitiveness in the past – what is often called the “Brazil cost”.
I am the first president of Brazil without a university degree, yet my government has built the most universities, and ensured they open their doors to hundreds of thousands of young poor people.
Brazil has also been able to substantially reduce its vulnerability to external shocks. We are no longer debtors, but have become international creditors. There is no little irony in the fact that the union leader who once shouted “IMF out!” in the streets has become the president who paid off Brazil’s debts to the same institution – and ended up lending it $14bn.
It is particularly satisfying to have led these changes while strengthening democracy. The tough criticism I have faced from the opposition and from sections of the media are testament to the health of Brazil’s democracy.
As I near the end of my second term as president, what makes me particularly proud is the place Brazil has come to occupy in the world over the past few years, along with other emerging nations. With them, we are creating the basis of a new international economic and political geography. With them, we have sought to build a world that is more just in social and economic terms – free of hunger and misery, respectful of human rights and able to confront the threat of global warming.
But the successes my government has achieved cannot obscure the enormous challenges that still lie ahead. Most importantly, we still have significant amounts of poverty in our country. The creation of opportunities for our young people, in particular, should remain a key objective, as it is central to the future we are building for Brazil. To do this, we must address issues such as how to improve our education system, how to find effective ways of dealing with drugs and violence, and how to offer our young people real choices in terms of work, leisure and culture.
Some of these initiatives will be decisive in the construction of an economy that is based increasingly on knowledge. The great advances we have made in the field of science – which have placed us among the best in the world in this area – must continue and be translated into technological progress.
But there are also political deficits we will have to face. The reform of the Brazilian state, which we have begun, must continue and deepen, along with tax reform. The reform of our political and electoral systems cannot wait any longer – that would compromise the continuity of the advances we have enjoyed in recent years.
For myself, after leaving the presidency I want to continue to contribute to improving people’s quality of life. At the international level, I intend to concentrate my attention on initiatives to benefit the countries of Latin America and the Caribbean, and the continent of Africa. Brazil has much experience it can share. We cannot be an island of prosperity surrounded by a sea of poverty and social injustice.
I want to continue the efforts my government has made towards creating a multilateral and multipolar world that is free from hunger and poverty. A world in which peace is no longer a utopia, but a concrete possibility.

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A Noruega tropical de Lula
Editorial - O Estado de São Paulo, 30/06/2010

Convidado pelo Financial Times (FT) de Londres a fazer uma avaliação do seu governo e a antecipar o que pretende fazer depois de deixar o Planalto, no primeiro dia de 2011, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva respondeu com um artigo de 700 palavras, publicado ontem em um suplemento especial sobre o Brasil.

Trata-se de uma versão comparativamente austera, como convém aos textos do mais influente diário econômico do mundo, da exuberante teoria do “nunca antes na história deste País”, complementada pela promessa de “continuar a contribuir para a melhora da qualidade de vida das pessoas” - desta vez no mundo inteiro.

Mas a megalomania se livra dos arreios quando, para justificar o seu intento de fazer pelos latino-americanos, caribenhos e africanos o que se vangloria de ter feito pelos brasileiros, Lula não deixa por menos: “Não podemos ser uma ilha de prosperidade cercada por um mar de pobreza e injustiça social.”

Sejam quais forem as evidências que ele queira enfileirar sobre os progressos dos últimos anos da economia brasileira e das condições de vida da população - e seria pueril, ou desonesto, negá-los -, Lula fala do Brasil, 75.º colocado no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), como se fosse uma Noruega.

O país nórdico lidera o ranking criado pelas Nações Unidas e gasta proporcionalmente mais do que qualquer outro país em ajuda externa. Na realidade, já descontados os Estados Unidos e o Canadá, 16 países do Hemisfério têm um IDH melhor que o brasileiro.

Como era de esperar, Lula credita exclusivamente ao seu governo o fato de o Brasil sangrar em saúde. O que veio antes foi como se não tivesse existido, ou, quando existiu, foi contraproducente. “Devolvemos o crescimento a uma economia de há muito estagnada”, alardeia, “e o fizemos mantendo a inflação sob controle, reduzindo a relação entre a dívida e o PIB e reconstruindo as funções reguladoras do Estado brasileiro.”

O papel, como se diz, aceita tudo. Nem a conjuntura internacional excepcionalmente favorável a exportadores de produtos primários e insumos, como é o Brasil, nem, muito menos, a decisão de Lula de se apropriar da “herança maldita” do governo Fernando Henrique, na esfera macroeconômica, precisam ser reconhecidas - o que não há de ter escapado àquela parcela dos leitores do Financial Times que sabe que a história do País não começou quando o atual presidente chegou ao Planalto.

Além de se atribuir a paternidade pelo “novo Brasil”, título do caderno especial do FT, Lula fez pelo menos 2 gols em impedimento, na esperança de que os árbitros estivessem olhando para o outro lado. A afirmação sobre a reconstrução das funções reguladoras do Estado nacional é mais do que falsa. O que o lulismo tem feito com as agências reguladoras é privá-las de sua autonomia e manipular a sua composição para atender aos interesses do governo e seus aliados políticos e politiqueiros. A isso se chama destruir e não reconstruir.

O leitor distraído pode tomar pelo valor de face o que Lula escolheu dizer sobre a transformação material do País, mas os investidores sabem perfeitamente quanto há de embromação nas seguintes palavras: “Pusemos em marcha um processo poderoso de melhorar nossa infraestrutura (?). Como parte disso, estamos eliminando os gargalos que afetavam nossa competitividade no passado - o que costuma ser chamado “custo Brasil”.”

Lula reconhece “os enormes desafios pela frente”, a começar da pobreza ainda significativa, a insuficiência do sistema de educação, além da droga e da violência. E menciona em seguida a necessidade das reformas tributária e político-eleitoral. Estas últimas “não podem esperar mais”, sob pena de “comprometer a continuidade dos avanços de que desfrutamos nos anos recentes”.

O presidente fala como se tivesse dado o melhor de si, ao longo desses 7 anos, para mudar as regras do jogo político. Não apenas não o fez - e ao não fazê-lo permitiu que prevalecessem no Congresso os interesses dos que querem que tudo permaneça como está -, como ainda tirou proveito da fragmentada e reduzida representatividade do sistema de partidos para formar a sua enxundiosa base parlamentar, vitaminada pelo mensalão.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

A falencia do Estado (supostamente) de bem-estar - Ubiratan Iorio

Desafio qualquer ser vivente neste "nosso planetinha", como diria um cidadão que já imaginou um dia que a Terra pudesse não ser redonda, a contestar um milímetro do diagnóstico oferecido aqui pelo professor Ubiratan Iório.
Paulo Roberto de Almeida

A FALÊNCIA DO WELFARE STATE"...
Ubiratan Iório, 30/06/2010

A Wikipedia – o “pai dos burros” da era cibernética – define o Estado de bem-estar social ou Estado-providência como “a organização política e econômica que coloca o Estado como agente da promoção (protetor e defensor) social e organizador da economia. Nesta orientação, o Estado é o agente regulamentador de toda vida e saúde social, política e econômica do país em parceria com sindicatos e empresas privadas, em níveis diferentes, de acordo com a nação em questão. Cabe ao Estado do bem-estar social garantir serviços públicos e proteção à população.
Pois bem, os fatos estão sobejamente a mostrar que essa concepção de Estado está falida. Na Europa, foram seis décadas em que os estados gastaram acima de suas possibilidades. O resultado não podia ser outro: dívidas públicas astronômicas (que estão, ne média da Europa, em cerca de 90% do PIB), ameaça de inflação, desemprego e um legado moral de gastança que cairá sobre os ombros inocentes das futuras gerações. A Europa, enfim, acordou e hoje vemos diversos países tentando adotar medidas duras para a correção do problema das imensas necessidades de financiamento do setor público. Os governos asiáticos também sinalizam estar despertando, embora preguiçosamente. O governo de Obama ainda não acordou. Parece dormir ainda um sono profundo, povoado por falsos sonhos em que os gastos públicos são capazes de gerar o bem estar de todos...
Na América Latina e no Brasil, os governos (com as honrosas exceções do Chile, da Colômbia e do Peru), permanecem em sono pesado, como indica a manchete principal do jornal O Globo de hoje: "gastos levam contas públicas ao pior resultado em 18 anos”. Ainda é possível encobrir a gravidade do problema, porque o crescimento do PIB e a elevação da arrecadação tributária podem, durante algum tempo, fazer isso. Mas a hora do ajuste de contas não tardará e nem falhará...
A bomba vai estourar nas mãos do próximo presidente, seja ele quem for. Quem viver verá.

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Addendum PRA:
De fato, a herança (esta sim, maldita) a ser deixada por este governo será uma bomba-relógio fiscal, que vai estourar no colo do próximo presidente, que será assim obrigado a corrigir (pelo menos parcialmente) o festival de gastança em que o Brasil incorreu pelas mãos (e pés, sobretudo) do Estado nos últimos oito anos...

Problemas da Previdência Pública: um inusitado

Da coluna do jornalista Carlos Brickmann (30.06.2010):

Homem que mudou de sexo aos 58 ganha direito a aposentadoria em idade mínima para mulheres

Notícia perigosa: tem gente que para se aposentar mais cedo é capaz de fazer qualquer coisa, até de extirpar uma parte do corpo...

Dois amigos em conflito na Colombia: espaço para mediacao criativa...

Leio, em em fontes de informação colombianas, o que segue (resumindo uma história bem mais movimentada):

FARC y ELN se enfrentan a balazos por control de región cocalera: 20 muertos
Cronica Viva
Jueves, 03 Junio 2010 (BBC Mundo)

BOGOTA - Guerrilleros de de las Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colombia (FARC) y del Ejército de Liberación Nacional (ELN) se enfrentaron en la zona cocalera del Arauco que, de acuerdo a un diputado , dejó por lo menos 20 muertos y decenas de heridos, en una convulsionada zona del oriente y fronteriza con Venezuela donde se ubican numerosos campamentos de los narcotraficantes.
Los choques, que comenzaron el pasado fin de semana, se deben a la disputa entre esas dos guerrillas por el control de una región con ricos yacimientos petroleros, hatos ganaderos y actividades de narcotráfico, informó la cadena británica.

Colombia: nueve muertos en combates entre las FARC y ELN
América Economia

Los enfrentamientos se registraron en zona rural del municipio de Arauquita, en una zona fronteriza con Venezuela, por el control de una zona estratégica para el narcotráfico.

Bogotá. Nueve presuntos guerrilleros izquierdistas murieron el martes en el noreste de Colombia en combates entre las FARC y el ELN, parte de una confrontación entre los dos grupos rebeldes por el control de una zona estratégica para el narcotráfico, informó un oficial.
El comandante de la 18º brigada del Ejército, general Rafael Neira, dijo que los enfrentamientos se registraron en zona rural del municipio de Arauquita, en el departamento de Arauca, fronterizo con Venezuela.
"Los enfrentamientos entre las dos facciones terroristas dejan nueve muertos que son miembros de uno u otro de los bandos enfrentados", explicó Neira en una comunicación telefónica con Reuters.
El oficial sostuvo que los combates se produjeron entre rebeldes de las Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colombia (FARC) y del Ejército de Liberación Nacional (ELN), que desde hace años mantienen una confrontación en varias regiones del país que ha dejado cientos de muertos.
La guerra se reactivó después de meses de una tregua declarada por los máximos comandantes de las FARC y del ELN que anunciaron que después de una negociación habían llegado a un acuerdo para poner fin a la disputa y unir sus frentes para combatir contra las Fuerzas Armadas del gobierno.
El departamento de Arauca, en donde se registraron los combates, es una próspera región petrolera y ganadera, que por años fue controlada política y militarmente por los dos grupos guerrilleros.
Pero las columnas rebeldes fueron obligadas a replegarse a apartadas zonas montañosas y selváticas por una ofensiva militar que ordenó el presidente Alvaro Uribe desde que asumió el poder en 2002 y que ha contado con el apoyo de Estados Unidos.
La ofensiva permitió reducir los asesinatos, las masacres, los secuestros, los asaltos a pueblos y los ataques contra la infraestructura económica del país.
En Arauca eran frecuentes los ataques con explosivos por parte de la guerrilla contra un importante oleoducto e instalaciones petroleras, pero la estrategia de seguridad respaldada por Estados Unidos permitió reducir las hostilidades.

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Uma observação e uma sugestão:
1) Por que será que esses enfrentamentos entre grupos armados rivais (que já foram aliados em certo Foro de discussões inocentes) se dão no "departamento de Arauca, fronterizo con Venezuela"? Antigamente a guerrilha operava em outras regiões...
2) Como é lamentável ver esse tipo de enfrentamento, qualquer enfrentamente, perda de vidas humanas, ameaças à paz, se poderia pensar em alguma grande mediação para trazer novamente a paz a essa região conflagrada. Pode-se inclusive fazer apelo a gente preparada e disposta a enfrentar os dossiês mais espinhosos, gente que se desloca de um continente a outro apenas para mostrar o poder do diálogo e do entendimento...
(PRA)

A escola brasileira degringola, literalmente...

Minha atenção foi chamada para este artigo do Gustavo Ioschpe pelo meu colega de resistência anti-irracionalidades Orlando Tambosi, que o postou em seu blog.
Conheço outros trabalhos do autor, entre eles este seu livro, do qual fiz uma longa resenha publicada:

Gustavo Ioschpe:
A ignorância custa um mundo: o valor da educação no desenvolvimento do Brasil
(São Paulo: Francis, 2004, 234 p.)
Ver minha resenha neste blog Book Reviews, aqui.

Minha opinião sobre a situação da educação, e sobre a decadência das escolas brasileiras, é provavelmente bem mais pessimista do que a dele (qualquer um deles, talvez, não querendo exagerar no pessimismo).
Apenas um retrato para os retrocessos inacreditáveis que estão ocorrendo no Brasil. O pior, o catastrófico, é que as pessoas, os pais, professores e governantes, que deveriam ser os principais interessados no problema, sequer vêm isso como problema.
Acho que vamos direto para o brejo educacional e para o pântano intelectual (se o termo se aplica).
Paulo Roberto de Almeida

segunda-feira, 28 de junho de 2010
Escola é lugar de ciência. Ética se aprende em casa

O economista Gustavo Ioschpe, articulista da Veja, faz uma interessante reflexão sobre o ensino de ética e "cidadania" na escola em detrimento das ciências e do desenvolvimento cognitivo. Tem razão em apontar que a ética deve ser incumbência das famílias, já que a escola não recupera os eventuais delinquentes por elas criados. Ética e "cidadania", termos hoje bastante difusos, estão mais para ideologia do que para formação. A questão me traz à lembrança o que disse, no início dos anos 90, o filósofo italiano Carlo A. Viano (salvo engano meu): a ética tende a se tornar refúgio do esquerdismo, órfão da utopia comunista. Mais ou menos na mesma época, a escritora Doris Lessing disse que a doutrina "politicamente correta" era uma herança do comunismo destroçado pela história. O fato é que, na voz de muitos ideólogos, ética e "politicamente correto" já viraram sinônimos. Fica a ressalva, porém, de que há estudiosos sérios em relação aos temas éticos. Surrupio (Orlando Tambosi) o texto na íntegra:

Escola é lugar de ciência. Ética se aprende em casa
Gustavo Ioschpe
Revista Veja, 30 de junho de 2010

Estou começando a procurar escola para o meu filho, e fico impressionado com o que tenho ouvido e lido a respeito das escolas que procuro. Ouve-se falar pouco no desenvolvimento cognitivo, em aprendizagem, em ciências exatas. Menos ainda alguém se referindo a pesquisa empírica ou aos recentes achados de neurociência. Em compensação, dois temas são unanimidade: cidadania e ética. É uma distorção que me preocupa.

Em primeiro lugar, porque parece presumir que o ensino das matérias tradicionais é uma questão resolvida, e que se ater a elas seria algo menor, reducionista ou, como se diz com certo desdém: "conteudismo". Não é. O Brasil vai muito mal nessa área, como comprovam todos os testes internacionais comparativos. Vai mal não apenas nas escolas públicas. As escolas privadas brasileiras também são, em geral, ruins, mas salvam as aparências por ter suas deficiências mascaradas pelos problemas ainda mais graves das escolas públicas. No Ideb, indicador de qualidade da educação do MEC, as escolas privadas têm nota média 6, em uma escala que vai até 10. No Pisa, teste internacional de qualidade de ensino, descobrimos que os 25% mais ricos do Brasil têm desempenho educacional pior que os 25% mais pobres dos países desenvolvidos. Ainda nos falta muito, portanto, para que possamos considerar a transmissão de conhecimento como tarefa cumprida.

Sei que há uma corrente de pensamento no país que acha que podemos e devemos fazer tudo ao mesmo tempo, e que priorizar a ética não significa descuidar do conteúdo. Deixo esse assunto para outro artigo, mas já adianto que não acredito que isso seja possível com o nível de institucionalização a que chegou o tema no Brasil. Atualmente o MEC exige que os livros didáticos de matemática (sim, matemática) atuem na construção da cidadania, estimulando "o convívio social e a tolerância, abordando a diversidade da experiência humana". Seria melhor se esse espaço do livro e o tempo do professor fossem dedicados à atividade nada trivial de familiarizar o aluno com os conceitos básicos da disciplina. Mesmo quando conseguirem cumprir a função básica de ensinar matemática, português, ciências, não creio que os professores devam priorizar de forma ostensiva a pregação ética. São muitas as razões que me levam a essa conclusão. Em primeiro lugar, o desenvolvimento ético de uma criança é uma prerrogativa de seus pais. Acredito que um pai tem direito a infundir em seu filho padrões éticos divergentes do senso comum, que costuma nortear as escolas. Dou um exemplo claro. A questão da preservação ambiental virou um imperativo ético, e as escolas marretam esse tema insistentemente.

Para mim, conforme já expus em artigo aqui, o comportamento ético em um país com o nível de desenvolvimento brasileiro deveria ser privilegiar o desenvolvimento material humano, mesmo que isso implique algum desmatamento. O que me parece antiético é deixar gente sem renda para que árvores sejam preservadas. Não gostaria, portanto, que um professor ensinasse o contrário ao meu filho.

O segundo problema é que não acredito que os professores brasileiros estejam preparados para travar a discussão profunda e multifacetada que o tema da ética exige. O mais certo é que a questão desande para o discurso panfletário, rasteiro, frequentemente ideologizado. Não imagino que o utilitarismo, o hedonismo ou o epicurismo sejam ensinados em pé de igualdade com correntes filosóficas que pregam as vertentes mais clássicas da moralidade judaico-cristã. E, sem esse contraponto, não se está ensinando ética, mas sim fazendo doutrinamento.

Essa dinâmica está diretamente atrelada a outro problema, que é a relação hierárquica que caracteriza o ensino formal. Se uma escola fizesse uma disciplina de ética opcional ou não avaliada, creio que seria possível que houvesse alguma evolução verdadeira por parte do alunado. Mas, no momento em que esse tema virou transdisciplinar e vale nota, é óbvio que os alunos minimamente atilados saberão conformar suas respostas às expectativas e inclinações de seus professores. Quando eu estava na escola, era formada por marxistas a maioria dos professores de história, português, geografia e outras disciplinas da área de humanas. Isso fazia com que eu e muitos outros colegas nos certificássemos de que toda resposta em prova incluísse alguma lenhada na burguesia e uma conclamação à construção de um mundo mais fraterno. Não por convicção, mas porque o nosso falso esquerdismo rendia notas melhores. Tenho certeza de que os mensaleiros, anões do Orçamento, sanguessugas e demais patifes também pregavam a justiça universal em seus tempos de escola.

Surge aí mais um problema do ensino-cidadão, que é a sua total inutilidade. A psicologia evolutiva demonstra que há um substrato ético que é genético e comum à nossa espécie e a alguns primatas. Complementando essa camada, acredito que a formação de uma consciência ética está indissociavelmente atrelada às experiências de vida, não a ensinamentos acadêmicos. Essa consciência se forma através de um sistema de recompensas e punições trabalhado primordialmente pelos pais de uma criança, desde seus mais tenros anos. É o receio da perda do amor paterno que nos leva a agir de forma ética, em um mecanismo inconsciente. Posteriormente, somam-se a essa base a história de uma pessoa e a fortaleza institucional do local em que ela vive.

O psicólogo Steven Pinker relata o exemplo do que aconteceu, literalmente da noite para o dia, quando a polícia da sua Montreal entrou em greve: uma cidade até então pacata e segura viu-se engolfada por uma onda de criminalidade que só cessou com o fim da greve. A população não sofreu um desaprendizado coletivo naquele período: ela agiu como muitos de nós agiríamos em um cenário em que as violações éticas não fossem punidas. Conhecer Sócrates ou Nietzsche não deve alterar o comportamento da maioria das pessoas. Para ser íntegra, a criança precisa receber orientação de seus pais e, depois, saber que desvios antissociais serão punidos. Alguns professores acreditam que podem sanar, com sua atuação, as deficiências da família e do estado. É ilusão. Um estudo recente das pesquisadoras Fátima Rocha e Aurora Teixeira, da Universidade do Porto, investigou a cola em 21 países e apontou haver relação direta entre a desonestidade em sala de aula e o índice de corrupção do país.

Para aqueles que imaginam que este autor é um defensor de uma escola amoral, explico-me. Acredito, sim, que a ética tem papel vital na escola, mas não no discurso, e sim na ação. Cabe à escola criar um ambiente de total liberdade intelectual, mas sem esquecer de aplicar no seu dia a dia os princípios éticos que norteiam a vida em sociedade. Com coisas simples e em todas as matérias: as aulas devem começar no horário, os professores não devem faltar, os alunos violentos devem ser punidos, as regras da escola devem ser aplicadas a todos. E eis aí o busílis da questão: ao mesmo tempo em que são incompetentes e doutrinárias no ensino da ética, nossas escolas são antiéticas em sua prática. O exemplo mais claro: a cola. No estudo citado, descobre-se que 83% dos universitários brasileiros já colaram, um dos índices mais altos do mundo. Cem por cento dos alunos brasileiros já viram alguém colando.

Nos meus tempos de aluno, havia gente colando na grande maioria das provas. É difícil imaginar que os professores não percebessem o que estava acontecendo. Em vários casos, os professores notavam e então caminhavam pela sala, parando perto do "colador", ou às vezes chamavam seu nome. Mas, se não me falha a memória, em onze anos de escola jamais vi um único aluno perder a prova, a nota do bimestre ou sofrer sanção mais séria por um delito que é provavelmente o mais grave para um ambiente em que se preza o saber. O ensino da ética, em uma realidade assim, é um deboche. Mais do que um deboche, é um desserviço: quando nossas escolas falam sobre o tema e praticam o oposto, a mensagem implícita é que esse negócio de ética e cidadania é papo-furado, pois já na escola os trapaceiros se dão bem. Melhor seria não falar nada.

Postado por Orlando Tambosi às 19:20

(Bem, se alguém conseguir dormir depois disso, me avisa. PRA)

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...