sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Percursos Diplomaticos: Samuel Pinheiro Guimaraes - Paulo Roberto de Almeida

Tivemos esta tarde, no IRBr, uma palestra do embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, extremamente agradável.
Abaixo, texto que li na abertura da sessão.
O vídeo da palestra será disponibilizado tão pronto preparado, em nosso site.
Paulo Roberto de Almeida 


Percursos Diplomáticos: uma reflexão necessária

Paulo Roberto de Almeida
 [Objetivo: reflexão introdutória; finalidade: acolher um depoimento]

Permitam-me uma breve introdução a este novo depoimento dentro da série dos “Percursos Diplomáticos”, que talvez possa servir como reflexão de meio de caminho.
Pouco menos de dois anos atrás, após ter começado a trabalhar como diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI), depois de uma década e meia afastado de qualquer função na Secretaria de Estado, reuni-me com o diretor do Instituto Rio Branco, o então ministro, como eu, hoje embaixador, José Estanislau do Amaral Souza Neto, para planejar o que poderiam fazer, conjuntamente, nossas duas instituições. Ambas estão dedicadas à produção de conhecimento, seja pela formação de capital humano para a diplomacia, como é a função primária do Rio Branco, ademais de aperfeiçoar constantemente os diplomatas já formados pelos seus cursos de revisão dos grandes temas da diplomacia, ou de aperfeiçoamento e especialização em nível superior, seja, pelo lado do IPRI, pela pesquisa, organização de seminários, palestras e debates e também a produção de publicações relevantes dentro da agenda diplomática brasileira, que são as suas áreas de trabalho. 
Vim visitá-lo aqui no Rio Branco e, em sua mesa de trabalho do 1o. andar, começamos a planejar novas iniciativas para reforçar o que ambos pressentíamos que deveria ser a vocação e o objetivo principal dos dois institutos: exatamente aquilo que poderia ser designado de “diplomacia do conhecimento”. Decidimos então, eu e Estanislau, iniciar uma vertente pouco explorada até aqui pela nossa Casa, que não dispõe nem de um historiador institucional, nem de um programa de história oral. Resolvemos criar um espaço dedicado à exposição pessoal dos, e de um diálogo aberto com os diplomatas seniores da Casa, funcionários que souberam deixar sua marca na diplomacia, e que ainda têm algo a dizer às gerações mais jovens, em especial aos novos ingressantes na carreira, estudantes do Rio Branco e diplomatas em início de carreira. Seria uma oportunidade para que os diplomatas aposentados oferecessem um testemunho pessoal sobre seu itinerário no serviço exterior brasileiro, sobre seu ingresso e formação, sobre as grandes etapas da carreira e sobre as experiências adquiridas ao longo de várias décadas de trabalho a serviço do Brasil, na Secretaria de Estado, nos postos no exterior, em outros órgãos da administração pública, ou até na vida acadêmica, numa eventual expressão artística, assim como na produção intelectual. 
O Itamaraty é um conglomerado extraordinário de servidores vocacionados para a ação exterior do Estado brasileiro, funcionários que já ingressam na carreira a partir de uma preparação extremamente exigente, e que são constantemente requeridos a comprovar essa excelência nos cursos criados para reforçar sua preparação e estudo em algumas etapas do processo de ascensão funcional, e que continuam a ser testados em diferentes áreas de trabalho, na Secretaria de Estado e nos postos do exterior. Eles adquirem com isso – pois a isso são forçados pelas circunstâncias especiais da carreira – uma enorme experiência de vida, pois que residindo em todos os cenários geográficos, políticos e diplomáticos abertos ao engenho e arte da diplomacia brasileira. Esses postos são os mais variados, indo do famoso circuito Elizabeth Arden aos chamados postos C ou D, ditos de sacrifício, sobretudo no plano familiar ou do pouco conforto material. 
Depois de alguma hesitação quanto à designação que deveríamos dar a essa nova série, nos fixamos neste nome, “Percursos Diplomáticos”, concebido exatamente como uma exposição absolutamente pessoal, focada no itinerário de carreira dos convidados a este exercício, mas totalmente aberta às preferências de cada um, quanto ao tipo de testemunho a ser oferecido à audiência, segundo as inclinações peculiares a cada um deles. Desde março de 2017, quando demos início à iniciativa com a presença do embaixador Rubens Ricupero, tivemos outros nove depoimentos, seguidos de debates, com os embaixadores Marcos Azambuja, José Alfredo Graça Lima, Roberto Abdenur, Rubens Barbosa, Thereza Quintella, Gelson Fonseca, Celso Lafer, Ronaldo Sardenberg e Maria Celina de Azevedo Rodrigues. Esses depoimentos estão disponíveis na página do IPRI (http://www.funag.gov.br/ipri/index.php/percursos-diplomaticos), aos quais eu poderia agregar o depoimento do embaixador Synesio Sampaio Goes, embora feito em outro formato. Este ano o IPRI ainda vai trazer, para falar no Rio Branco, Jório Dauster, Osmar Chohfi e Sérgio Duarte, todos eles conhecidos por eminentes serviços prestados à diplomacia brasileira ao longo de várias décadas.
Este é o caso, igualmente, do embaixador Samuel Pinheiro Guimarães Neto, uma vez que ele preenche todos os critérios sob os quais concebemos, Estanislau e eu, os convites prioritários a serem feitos ao abrigo desta série voltada aos aposentados, conhecidos por trajetórias de carreira especialmente relevantes do ponto de vista da política externa e da diplomacia brasileira. Agradeço pessoalmente ao embaixador Samuel ter aceito meu convite para falar a vocês, alunos e colegas, e também, agora e por meio do registro audiovisual, a todos os interessados em seu depoimento sobre um dos momentos mais importantes vividos pelo Itamaraty. 
Qualquer que seja o julgamento que se faça sobre a diplomacia levada a efeito entre os anos 2003 e 2016, período com o qual o embaixador Samuel está especialmente identificado, seu depoimento é, sem qualquer dúvida, altamente relevante no plano histórico e também político. Mas não é apenas ou principalmente sobre esse período de nossa diplomacia que ele foi convidado a falar, mas sobre o conjunto de sua carreira. Essa carreira atravessou, aliás, vários regimes políticos, ou várias fases da vida pública brasileira, assim como de nossa própria diplomacia. 
Samuel ingressou na carreira diplomática sob a égide da República de 1946, contemporaneamente à chamada Política Externa Independente; ele atravessou todo o regime militar, exercendo os seus talentos a serviço do Estado brasileiro, não necessariamente em benefício dos governos militares; continuou se dedicando aos grandes temas da diplomacia na redemocratização, com ênfase, sobretudo, no processo de integração bilateral com a Argentina, e regional, no contexto sul-americano, dos quais ele foi um paladino. Mais importante, foi um dos meus antecessores no IPRI, do qual foi ingloriosamente afastado pela ação censória da famigerada “Lei da Mordaça”, quando lhe tolhera, a livre expressão de suas opiniões quanto a determinados rumos das relações exteriores do Brasil, em especial no tocante ao Mercosul e à Alca. Finalmente, na transição de 2002-2003, foi chamado a exercer a mais alta função a que pode aspirar um servidor do Serviço Exterior, nos quadros da própria carreira diplomática: a de Secretário Geral das Relações Exteriores.
Ele foi um ativo Secretário Geral nos primeiros sete anos dos governos liderados pelo Partido dos Trabalhadores, provavelmente o principal animador de sua política externa. Ao se aposentar do Itamaraty, em 2009, foi convidado a exercer o cargo de Ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, e depois se tornou o Alto-Representante Geral do Mercosul, por breve período, cargo que não hesitou em deixar quando constatou falta de apoio dos governos às suas propostas. 
Ao longo de uma carreira sempre permeada por muitas pesquisas, pela docência e publicações diversas, Samuel deixou uma marca própria no pensamento diplomático, especialmente durante os anos que lhe coube administrar na prática o serviço exterior, na condição de Secretário Geral das Relações Exteriores. Essa fase, que correspondeu aos dois governos do presidente Lula, retomou o velho costume, bastante usual durante o período militar, de designar sob um conceito unificador a diplomacia que se pretendia desenvolver. Tínhamos tido, antes, a “diplomacia da prosperidade”, sob Costa e Silva e Magalhães Pinto, a “diplomacia da Grande Potência”, sob Médici e Gibson Barbosa, a “diplomacia do pragmatismo responsável”, sob Geisel e Azeredo da Silveira, e a “diplomacia ecumênica e universalista”, sob o último presidente militar, Figueiredo, com o chanceler Saraiva Guerreiro. A “diplomacia presidencial”, que parece ter sido exercida por Fernando Henrique Cardoso, ganhou essa designação malgré lui, ou seja, não que ele, ou o chanceler Lampreia, a tenham designado por esse nome, que foi bem mais uma designação jornalística do que propriamente diplomática. Já o chanceler Celso Amorim fazia questão de chamar a diplomacia do governo Lula, que ele dirigia, junto com Samuel e o assessor internacional da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, de “ativa e altiva”, e tinha orgulho dessa designação, que prometia reproduzir o estilo e alguma substância da antiga Política Externa Independente. 
Qualquer que seja a importância que se atribua a um simples rótulo, não há como recusar a centralidade que teve a política externa no conjunto das políticas desenvolvidas sob o chamado lulopetismo. Não estou certo de que a política externa “ativa e altiva” mereça esse rótulo de lulopetismo diplomático, termo que eu mesmo empreguei em diversas ocasiões. Alguns acadêmicos consideram que a política externa desses anos se propunha, como talvez a revolução bolchevique setenta anos antes, não apenas orientar um país, mas, mais exatamente, remodelar a nação com base em novos valores e princípios políticos. Os companheiros quase o conseguiram, e talvez também por isso mesmo eu tenha me arriscado – parafraseando a periodização histórica do mundo ocidental, dividida entre um AC e um DC, um Antes e um Depois de Cristo – a estabelecer um novo calendário político para a história recente do Brasil, sob a forma de um AC e um DC, um Antes e um Depois dos Companheiros. 
No intervalo entre um e outro, se situa uma fase certamente diferente da política externa brasileira, e nela Samuel Pinheiro Guimarães desempenhou um relevante papel de ideólogo dessa diplomacia, no sentido mais estrito e direto do conceito de ideologia. Sem qualquer conotação depreciativa desse termo, o que nos interessa saber, enquanto diplomatas, pesquisadores, ou futuros historiadores dessa política externa, é como, exatamente, foi estabelecido o processo de decisão diplomática nesses anos, que é uma questão central na avaliação de um período tão importante de nossa história recente. 
O embaixador Samuel Pinheiro Guimarães está especialmente dotado de um conhecimento intrínseco sobre esse período, para nos contar como foram pensadas e formuladas as principais ideias que moveram a política externa ativa e altiva, e como funcionava a diplomacia lulopetista (ou qualquer outra designação que ele preferir). Eu sou, como provavelmente muitos colegas e outros interessados aqui presentes, um leitor de seus muitos escritos, assim como fui um espectador de seu desempenho à frente da Secretaria Geral do Itamaraty. Embora eu tenha sido um observador um pouco distante de sua gestão, pois nunca trabalhei na Secretaria de Estado durante seus novo anos de Secretaria Geral, acompanhei atentamente as iniciativas e novidades da diplomacia ativa e altiva, tanto que a ela dediquei um livro inteiro: Nunca Antes na Diplomacia...: a política externa brasileira em tempos não convencionais, publicado em 2014. 
Caro embaixador Samuel: tenho o prazer de lhe passar a palavra para que nos fale sobre o seu percurso diplomático. 

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 12-24 de agosto de 2018

O Estado interventor no Brasil: monopolio e abuso tributario no periodo colonial - Paulo Werneck

Como sempre, Paulo Werneck, em seu Guardamoria, nos fornece sempre exemplos edificantes de como os monopólios coloniais eram um mecanismo usual de extorsão tributária da Coroa contra os habitantes deste país tropical.
Mudou alguma coisa atualmente?
Paulo Roberto de Almeida

Guardamoria, 23 Aug 2018 07:26 PM PDT
Paulo Werneck


Mulher com arenque salgado para vender
Cris de Paris, ca 1500. Paris, Biblioteque Nationale
Fonte: Wiki  

Em Fake Olds foi apresentado um trecho de um livro com inverdades históricas, a saber normas inexistentes ou fora de contexto, mostrando prejuízos ao desenvolvimento do Estado do Brazil, como o nosso país foi denominado durante a maior parte do tempo em que esteve unido ao Reino de Portugal.

Procurando o texto integral das citadas normas, algumas não foram localizadas na minha vasta biblioteca virtual de livros antigos de legislação, e a busca na Internet acabou por localizar um artigo de Luiz Tenório de Brito.

Dada a relevância do tema, mais algumas diatribes serão contestadas agora, utilizando-se parcialmente o mesmo método pelo qual as notas históricas inverídicas são disseminadas: citação da citação da citação, de ler ou de ouvir dizer, sem verificação das fontes.

Todavia a busca pelos diplomas legais originais continuará e mais cedo ou mais tarde serão publicados neste local, para que a verdade prevaleça.

Em respeito aos que nos precederam e que divulgaram mentiras de boa fé, ressalto que o acesso às fontes originais era dispendioso tanto em tempo como em dinheiro, com a necessidade de busca em arquivos governamentais, onde o mais confiável era, e continua sendo, a Torre do Tombo, em Lisboa.

Mesmo as fontes que consultamos não são documentos originais, mas compilações de legislação feitas por juristas e pesquisadores para auxílio ao trabalho de juízes e advogados, algumas dessas compilações sancionadas pelos governos de então. Mas, evidentemente, como errar é humano, essas compilações podem ter divergências em relação aos diplomas originais.

Vejamos a questão do sal. Ferreira Lima afirma, com base em Pereira dos Reis [que não consultamos] que foi proibida a fabricação do sal ("em 1665, foi proibido produzir sal no Brasil").

Brito rebate essa afirmação, tratada em outra publicação (que ele não nomeia), publicação essa que faz referência a outra norma que teria determinado a mesma proibição:
"LEI DE 20 DE FEVEREIRO DE 1690 proibindo o uso de outro sal que não fôsse o vindo de Portugal e que aqui chegava por preço exorbitante, possuíndo o Brasil, como possuia, excelentes e riquissimas salinas que já eram conhecidas na época".

Sôbre o assunto, leiamos a historiadora Miriam Elis, professôra da Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo, na sua obra monumental - O Monopólio do Sal no Estado do Brasil, pg. 46 - "Apoiado na prerrogativa que o Rei de Castela implantou o monopólio do sal em Portugal, e por orientação do seu valido, o conde duque de Olivares, esta imposição violenta da Coroa dos Felipes, foi uma das consequências da política de Castela, ou melhor, do Domínio Espanhol, tão desastroso e funesto ao comércio exterior e ao poderio lusitano". Era bom o sal do Brasil? "O sal da terra (do Brasil) havia se mostrado muitas vêzes nocivo às salgas e parece que nem todo o sal nativo era aplicável ao salgamento e ao preparo das carnes" (Miriam Elis - obra citada, página 31). 
Note-se que a questão do sal é recorrente na tributação do Ancien Régime, dada a absoluta necessidade de seu uso, portanto tornando-se uma ferramenta adequada, pelo menos aos olhos dos reis e seus ministros, para reforçar a arrecadação.

Esse é um tema importante, por exemplo, na tributação do Reino de França, sob a forma da gabelle du sel. Colbert tentou reduzir um pouco esse imposto indireto. Os interessados podem consultar as muitas referências a esse tributo em Histoire de l’Impôt en France. E os franceses não eram colonos do rei de França...

Quanto a Portugal, Freire tece diversas considerações acerca das salinas propriamente ditas:
ALGUMAS DISPOSIÇÕES SOBRE AS SALINAS

§ XIII - Seja-nos lícito juntar aqui algumas observações sobre as salinas. Os seus antigos direitos pertencem inteiramente ao Rei, segundo a Ordenação, liv. 2, tit. 26, § 15, que se intitula Dos direitos reais. Em Espanha há uma Ordenação semelhante na Recopilación, liv. VI, tit. 13, lei 2; e em França também, como afirma Cujácio nas Observationes, liv. III, cap. 31, assim como entre os Romanos na lei 17, § I, do tit. De verborum significatione, do Digesto, na lei 59, § I, do tit. De heredibus instituendis, do Digesto, na lei II do tit. De vectigalibus et commissis, do Código, e na lei 4, § 7, do tit. De censibus, do Digesto. As nossas leis também proíbem os estrangeiros de trabalhar nas marinhas de sal, Extravagante de 27 de Maio de 1696, Colecção I à Ord. liv. 2, tit. 26, N. II; igualmente estão os naturais do Reino proibidos de trabalhar nas marinhas de sal das outras nações, Extravagante de 15 de Fevereiro de 1695, na mesma Colecção. N. 10. As salinas situadas em local particular não pertencem ao Rei, mas ao respectivo senhor; devem-se, porém, cobrar os direitos do sal pela maneira prescrita no Regimento de 13 de Julho de 1638, apud Menescal, tomo I, pág. 211.

As áreas salineiras, tais como os campos incultos e desertos, eram antigamente dados de sesmaria, sem qualquer ónus, segundo a Ord. liv. 4, tit. 43, § 13; depois, começaram a ser dados mediante uma módica pensão, como se vê de documentos dos anos de 1435, 1460 e 1490, apud Cabedo. p. 2, Decisio 53. A novíssima lei de 17 de Julho de 1769 sobre as salinas dos Algarves seguiu de mui perto essas razões de humanidade e interesse público. 
Não encontramos a proibição de 1665, nem tampouco a lei de 1690, mas existem muitos documentos tratando da tributação do sal, como o Regimento dos Direitos do Sal da Alfândega de Lisboa, de 13 de julho de 1638, registrado na Collecção Chronológica da Legislação Portugueza.

Dispensável informar que as duas proibições, de 1665 e 1690, não foram localizadas.

Fontes:

BRITO, Luiz Tenório de. Prometi. Aqui Estou. In Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, Volume LIX, paginas 59 a 70.

CLAMAGERAN, J. J., Histoire de l’Impôt en France. 3 volumes. Paris: Librairie de Guillaumin, 1867, 1868 e 1876. Disponíveis em epub, pdf, e word em www.mercadores.com.br, na aba História.

FREIRE, Pascoal José de Melo. Instituições de Direito Civil Português, Volume I. Versão Portuguesa de Miguel Pinto de Meneses. Lisboa: Boletim do Ministério da Justiça, 1966. Disponível em http://www.governodosoutros.ics.ul.pt.

LIMA, Heitor Ferreira (1905-1989). História do pensamento econômico no Brasil, página 71. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1976.

SILVA, José Justino de Andrade e, Collecção Chronológica da Legislação Portugueza, 1634 - 1640. Lisboa: Imprensa de J. J. A. Silva, 1855.

Os mandarins e o seu custo para a sociedade: um caso de auto-defesa na China - The Washington Post

E se eu decidisse atacar os mandarins do Estado brasileiro e o seu custo para a sociedade, como de fato sempre o faço? Eu seria demitido de meu cargo de servidor do mesmo Estado, como sou hoje?
Ou eu seria demitido de meu cargo de professor numa universidade privada, como de fato exerço esse segundo cargo por vontade própria?
O que dizer, por exemplo, do enorme custo para a sociedade chinesa, pelo fato de ter de cobrir as despesas de 20 MILHÕES de mandarins oficiais, os atuais funcionários do Partido, que supostamente exercem "funções produtivas na sociedade"?
Um professor universitário que ousou questionar esse custo, e o seu efeito sobre a economia, foi não apenas demitido, como também bloqueado de qualquer possibilidade de continuar questionando esse fato pelas redes de comunicação social da China comunista.
O assunto é tratado neste "Editorial board" do Washington Post.
Paulo Roberto de Almeida

A professor dared tell the truth in China — and was fired


CHINA’S COMMUNIST Party is a massive superstructure that dictates the direction of the government, the media, the economy, social policy, security and more. The party demands fealty and does not tolerate competition. It is also an enormous organization in its own right, with a ubiquitous, paternalistic presence. That was on the mind of a Chinese professor, Yang Shaozheng, when he dared publish an article last year questioning the enormous weight of the party as an organization on China’s economy.
The article came after Mr. Yang’s teaching at Guizhou University was abruptly suspended Nov. 10, as well as his supervision of graduate students. He had been a professor in good standing there for 11 years, teaching game theory and microeconomics. His questions about the Communist Party were trenchant. Mr. Yang estimated that the party’s 20 million officials cost 2 trillion yuan, or about $291 billion annually, to support. In a separate, longer article, he pointed out that in two different countries, one with such a big burden and one without, the one without would do better. The country with a massive overlay of officials, he said, would eventually become “impoverished,” and he added, “As long as nothing changes, the society that has to sustain the more government officials will ultimately collapse.”
Mr. Yang’s first article was sent to the New Tang Dynasty television station, in New York City, that is affiliated with Falun Gong, a spiritual practice persecuted by the Chinese authorities. That surely got him in hot water. In both articles, he raised a discomfiting question for a party that presents itself as integral to China’s future: Why was no one talking about the economic burden of the party? The first article was titled “Can We Really Leave the Party Out of Our Economic Research?”
The professor has slowly been receiving the party’s answer. His blog was shut down. His WeChat account was closed. His classrooms were silenced. His written appeal to the university president was ignored. Then, on Aug. 15, the university expelled him. According to the website China Change, which chronicles human rights issues in China, the reasons given were his “long-running publication and spreading online of politically mistaken speech, writing a large number of politically harmful articles, and creating a deleterious influence on campus and in society.” He was also accused of “being unrepentant” and refusing to accept “educational help.”
Mr. Yang had clearly touched a third rail by raising even the slightest bit of doubt about whether the party was worth the expense. His ouster is another sign of a campaign being undertaken across academia in China to squelch freedom of expression and inquiry. These are at the heart of learning and scholarship, and China will be the loser for undermining them. According to China Change, the professor, shorn of his ability to speak out, turned to Twitter. His first tweet said: “The more I think, the more distressed I become. It’s hard to pursue the truth; it’s hard to speak the truth; and it’s hard to be a truthful person. Being able to freely express ourselves, without terror, is our dream.”


The Development of Economic Thought: book review

Não pude comprar: por incrível que pareça, custa US$ 80,00 versão impressa e  inacreditáveis US$ 90,00 (!!!) a versão KINDLE. Chose de loque...

Joseph R. Cammarosano:
The Development of Economic Thought: An Overview
Lanham, MD: Rowman and Littlefield, 2018. vii + 223 pp. $95 (hardcover), ISBN: 978-1-4985-7160-9.
Reviewed for EH.Net by Donald E. Frey, Department of Economics, Wake Forest University.
 Joseph Cammarosano has been a professor and administrator at Fordham University in New York City. He also has had a career in fiscal economics with the U.S. and New York state governments. He is a World War II veteran. His book reflects a long familiarity with his subject — and great depth and breadth of reading.

The book, in eleven chapters, spans from ancient times through Alfred Marshall and John Maynard Keynes. The intended audience is students and others with background in social science and philosophy (p. 1). The pre-Smith material displays a richer understanding of early economics than many “overview” books. Much of the book is devoted to the classical economists, their critics within the classical tradition, and their modernizers or synthesizers. Still, a chapter is given to Karl Marx and other socialists, and two chapters cover economists not fitting the classical mold (e.g., Joseph Schumpeter and Thorstein Veblen).
The book’s endpoint with Keynes is justified by affirming the “older and more humanistic treatment” of economics in contrast to the quantitative treatment since World War II, for which Cammarosano seems less than enthusiastic (pp. 1-3). However, even granting that twentieth-century neoclassical economics was not “humanistic,” more recent psychological and experimental economics, or ethical economics (e.g., some works by Amartya Sen), surely are. The book’s cut-off means these latter developments are not considered.
Given the book’s heaviest emphasis on the nineteenth century, much of it is structured around the classic economists’ questions of value (whether, or how, price reflects some deeper intrinsic value), distribution (factor shares), consumption, and how answers to these questions may rationalize business cycles.
Cammarosano overlays this framework with the thesis that social context often shaped economic thought. For example, in his day, Thomas Aquinas “attempted to reconcile theological dogma with the existing conditions of economic life” (p. 16). Or, the ideas of Thomas Malthus and David Ricardo reflected the agricultural economy of their time (p. 64). Once there was a large body of economic theory, existing theory influenced any newer economics (e.g., John Stuart Mill and Marshall modernized existing theory with an eye to the societal realities of their times). Even Marx, who reacted so strongly to social conditions, was still influenced by classical economists (p. 102).
While Cammarosano does not overdo it, he classifies economists, when relevant, according to where they fall in terms of several useful polarities: optimistic/pessimistic, universal-law approach/a particularist (my term) approach, reformist/pro-status quo, static/dynamic, individualistic/social, materialist/idealist. He does not force any economist to fall on one side or the other of these dichotomies if the economist really doesn’t fit. However, I thought that when relevant these polarities added useful interpretive continuity and interest.
Space allows only one illustration of how these polarities influence the book. Consider the major dichotomy between universal economic laws (e.g., utilitarian pleasure-pain calculus, Malthus’s principle of population, the iron law of wages, diminishing returns — see p.63) and particularist theories (e.g., Institutionalists and Historical School thinkers). Roughly speaking, these thinkers believe that economic generalizations, while useful, are contingent on the particular situations in which they emerge, and should not be universalized. (Cammarosano gives a fuller and more nuanced summary of this dichotomy on pp. 164-166.) In any case, he deftly traces universal-law ideas from the ancient Romans, through the physiocrats, and into the early and late classical thinkers.
At the other pole of this dichotomy are the likes of Friedrich List who, accused followers of Adam Smith of “divorcing themselves from the world as it really exists and building on suppositions” (p. 71). Considerably later, Institutionalism included a statistical wing, typified by Wesley Mitchell, who collected data to describe patterns of behavior in capitalist business cycles (not to test pre-existing theories). In something of an oversight, however, Cammarosano barely mentions the German Historical School, which ultimately had significant influence on some American economists in the late nineteenth century.
Cammarosano paints Mill as the personal embodiment of the clash of the universalist/particularist polarity — a man who improbably tried to embrace both poles. For Mill, immutable economic laws governed the production side of the economy; but temporal, changeable man-made laws determined the distribution of income (p. 87). Mill seemed conflicted in his deeper loyalties: his impulse toward reform gravitated to particularist types of theory; while his attraction to classical thought gravitated to universal-laws types of theories, which often rationalized society’s status quo.
Cammarosano shows a willingness to criticize his subjects, as just noted with Mill. But some sharp words season the book throughout. Even the iconic Adam Smith is not spared by Cammarosano, who concludes that Smith’s “analysis of value is full of contradictions . . . which are difficult to reconcile” (p. 39). Also, Cammarosano cites Lord Lauderdale and John Rae questioning of Smith’s debatable value judgment that a nation’s wealth is merely the sum of private wealth (p. 43). Early mathematical economists, such as the American Herbert Davenport, are also subject to sharp criticism (p. 156). Other examples could be cited.
Disproportionate attention is given to some topics. For example, Malthus’s vacillating view of “moral restraint” as a curb on population receives more attention, relative to his other ideas, than this reviewer thought necessary. Similarly, for the Marginalist thinkers, Cammarosano gives detailed, even textbook-like, expositions of some, but not all, of their arguments. That said, occasional overemphasis was not significant enough to mar the main storyline. And, actually, Cammarosano provided, what seemed to me, a deep and thoughtful interdisciplinary context to the sections on marginalism.
A look at the concluding substantive section of the book (on Keynes) gives good insight into Cammarosano’s approach. The section gives summaries of many of Keynes’s works, not just to The General Theory. Many of these lesser works focused specifically on economic problems faced by the U.K. In this Cammarosano shows how Keynes was deeply responsive to his social context: “Keynes was first and foremost a Briton” (p. 189), whose attention was on contemporary economic problems facing his country.
Cammarosano also views Keynes as “eminently practical and when the facts did not conform to theory . . . quick to move on” (p. 189), abandoning both classical orthodoxy and his own past ideas. We find classical doctrines being addressed, albeit to abandon some and reinterpret others (see p. 197). The more recent New Classicals’ critique of Keynes for lacking “microfoundations” would suggest that at least they don’t find enough deference to universal laws in Keynes. In any case, I would be quick to turn to this section if I needed a quick, but coherent, overview of Keynes and his context.
Finally, in a “Conclusion,” Cammarosano produces an exceptional summary his major themes (pp. 203-206). All in all, despite some additional minor blemishes (e.g., sometimes economists’ birth and death years were included, sometimes not), this book exhibits a great breadth and depth of knowledge of the history of economic thought, generally presented in a way appropriate for its intended readers.

Donald E. Frey (Wake Forest University, retired) is author of America’s Economic Moralists: A History of Rival Ethics and Economics (SUNY Press, 2009).
Copyright (c) 2018 by EH.Net. All rights reserved. This work may be copied for non-profit educational uses if proper credit is given to the author and the list. For other permission, please contact the EH.Net Administrator (administrator@eh.net). Published by EH.Net (August 2018). All EH.Net reviews are archived at http://www.eh.net/BookReview.

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Livro de Rubens Ricupero vence o Premio Jose Ermirio de Moraes

page1image3896512
Livro de Rubens Ricupero vence o Prêmio José Ermírio de Moraes

O livro “A diplomacia na construção do Brasil – 1750-2016” é o vencedor do Prêmio José Ermírio de Moraes em 2018.
De autoria de Rubens Ricupero, o livro foi escolhido pela Academia Brasileira de Letras, dentre todos os gêneros literários, como o melhor editado no Brasil em 2017 por autor brasileiro e por editora brasileira.
O prêmio será entregue ao autor em sessão solene e pública da ABL, em data ainda não definida.

INFORMAÇÕES SOBRE O LIVRO
Obra única sobre a história das relações do Brasil com o mundo.
Poucos países devem à diplomacia tanto como o Brasil. Além da expansão do território, em muitas das principais etapas da evolução histórica brasileira, as relações exteriores desempenharam papel decisivo. Com seus acertos e erros, a diplomacia marcou profundamente a abertura dos portos, a independência, o fim do tráfico de escravos, a inserção no mundo por meio do regime de comércio, os fluxos migratórios, voluntários ou não, que constituíram a população, a consolidação da unidade ameaçada pela instabilidade na região platina, a industrialização e o desenvolvimento econômico.
Até recentemente, a história das relações diplomáticas do Brasil se refugiava quase em notas ao pé da página ou, no melhor dos casos, em parágrafos esparsos dissociados do eixo central da grande narrativa. Com uma carreira dedicada ao serviço público, especialmente ao Itamaraty e à ONU, o diplomata e professor Rubens Ricupero enfrentou o desafio de “inserir o fio da diplomacia na teia sem costura da vida nacional,da qual é indissociável”.
page2image3840512
Ricupero publicou A diplomacia na construção do Brasil (Versal Editores) em 2017, quando completou 80 anos de idade. O livro analisa a diplomacia como causa e consequência da política interna e da economia do período colonial até os dias de hoje, incluindo a atual crise brasileira. Mostra, ao mesmo tempo, como a política externa contribuiu para a definição dos valores e ideais da identidade do país, de como os brasileiros se veem a si mesmos e sua relação com o mundo.
Com documentos originais dos arquivos norte-americanos, o livro traz revelações novas sobre episódios como a intervenção militar de 1964 nos seus aspectos externos. Recorre a perspectivas comparativas com países latino-americanos e os Estados Unidos e renova a maneira de examinar a diplomacia em estreita ligação com os fatos políticos e as condições econômicas. “A ambição da obra é dialogar com os estudantes etambém com aqueles que se interessam pela história do Brasil e sentem curiosidadepela forma como o país se relacionou com o mundo exterior e foi por ele influenciado”,explica o autor.
Com 784 páginas, o livro foi publicado em duas edições: ilustrada, com cerca de 80 imagens e mapas) e brochura

SOBRE O AUTOR
Nascido em São Paulo em 1937, Rubens Ricupero ingressou no Instituto Rio Branco em 1958 e iniciou a carreira diplomática em 1961.
Embaixador do Brasil junto às Nações Unidas em Genebra, Suíça, nos Estados Unidos e na Itália, foi ministro do Meio Ambiente e da Amazônia Legal, ministro da Fazenda durante a implantação do Real, subchefe da Casa Civil e assessor especial do presidente José Sarney. Atuou como assessor de política externa de Tancredo Neves na campanha para a Presidência da República, em 1984/5, e registrou a experiência no livro Diário de bordo: a viagem presidencial de Tancredo Neves (2010). Entre 1995 e 2004, dirigiu, como Secretário Geral, a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), em Genebra.
Diretor, mais tarde Decano, da Faculdade de Economia e Relações Internacionais da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), professor do Instituto Rio Branco e da Universidade de Brasília, colaborador dos mais influentes órgãos de imprensa do país e de publicações especializadas nacionais e estrangeiras, Ricupero é autor de nove livros sobre história diplomática, política, comércio e economia internacional, entre os quais se destacam Rio Branco: o Brasil no mundo (2000), O Brasil e o dilema da globalização(2001), Esperança e Ação A ONU e a busca de desenvolvimento mais justo (2002). A diplomacia na construção do Brasil é sua mais recente obra.
page3image3884640
PARA MAIS INFORMAÇÕES
José Enrique Barreiro 
Diretor Editorial da Versal
jbarreiro@versal.com.br
(21) 2239 4023
(21) 9 8123 8764
page3image7865984

Prof. Watanabe: Japan’s Trade Strategy - IPRI, 28/08, 15hs

Alexandre de Gusmão Foundation (FUNAG) and its Institute for Research on International Relations (IPRI) are honoured to invite you to a lecture by ProfessorYorizumi Watanabe, from Keio University, Tokyo, about "Japan’s Trade Strategy in the 21st Century and Economic Partnership with Latin American Countries Revisited: Japan’s Leadership in Promoting the Mega-FTAs in Troubled International Trade". The lecture will be held in English on Tuesday 28 August 3:00 p.m. at Room "D" in Annex II of the Ministry of Foreign Affairs. Register here.


A Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG) e o seu Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI) têm a honra de convidar para palestra com o professorYorizumi Watanabe, da Universidade Keio, em Tóquio, sobre "Japan’s Trade Strategy in the 21st Century and Economic Partnership with Latin American Countries Revisited: Japan’s Leadership in Promoting the Mega-FTAs in Troubled International Trade". A palestra, em inglês sem interpretação, ocorrerá na sala "D" no Anexo II do Ministério das Relações Exteriores. Inscreva-se aqui.

terça-feira, 21 de agosto de 2018

Sergio Vieira de Mello: um heroi brasileiro


Quinze anos sem Sérgio Vieira de Mello, alto comissário da ONU

Viera foi morto num ataque terrorista em Bagdá em 2003



postado em 19/08/2018 08:00

(foto: AFP PHOTO / YASUYOSHI CHIBA)
(foto: AFP PHOTO / YASUYOSHI CHIBA)

Uma das figuras brasileiras de maior destaque no mundo, Sérgio Vieira de Mello, alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, teve o destino selado num ataque terrorista em Bagdá (Iraque), em 19 de agosto de 2003. A organização extremista Al-Qaeda assumiu a autoria do atentado a bomba contra a sede local da ONU, que matou mais 20 pessoas. O grupo afirmou que o carioca era o alvo principal.

Continua depois da publicidade

O auge da carreira de Mello ocorreu na independência do Timor-Leste. Ele chegou dias depois do referendo de 1999, com o país destruído. Por lá ficou dois anos e meio. No livro Sérgio Vieira de Mello — o legado de um herói brasileiro, de Wagner Sarmento, José Ramos-Horta, Prêmio Nobel da Paz de 1999 por causa da luta para a independência, descreveu no prefácio: “Tendo ouvido falar de Sérgio e conhecendo sua fama, eu em parte julgo ter influenciado Kofi Annan a nomeá-lo como administrador de transição da ONU no Timor-Leste”. 

Ex-presidente do país asiático, Ramos-Horta justificou a declaração. "Bem, eu não disse a Kofi Annan:  'Você tem de nomear Sérgio'. Seria falta de delicadeza da minha parte. Não se diz isso a um secretário-geral da ONU. Mas falei: 'O timorense é um povo traumatizado por conflitos, sofrimento e violência. Nós precisamos de um representante especial que não seja um mero burocrata sem coração. Há burocratas supercompetentes, mas que só sabem lidar com números, administração, computadores. Falta-lhes, porém, verdadeiramente o tato humano. Nós precisamos de alguém que fale português e que tenha um coração'. E então, dito tudo isso, Kofi Annan sabia quem tinha de escolher. Sérgio era quem preenchia o desenho humano que eu fiz da pessoa ideal para Timor-Leste.”

No texto, Ramos-Horta disse ainda que “Sérgio era uma pessoa acadêmica e intelectualmente muito qualificada, com doutorado pela Sorbonne (tradicional universidade francesa), vindo de família de diplomata". Ele também fez elogios ao tipo físico do brasileiro. "Era uma figura que passava perfeitamente como ator de Hollywood, bonito, elegante. Dominava completamente os dossiês de cada problema e cada conflito ao qual era nomeado ou designado para gerir.” 

O livro será lançado na quarta-feira, às 16h, no Instituto Rio Branco, conforme informou o embaixador Paulo Roberto de Almeida, diretor do Instituto Brasileiro de Relações Internacionais (IPRI) do Ministério das Relações Exteriores (MRE).

De acordo com Almeida, a imprensa nacional e internacional erra ao identificar Mello como um "diplomata brasileiro", quando ele, na verdade, era apenas brasileiro e “estava” diplomata pela natureza das funções desempenhadas. “Eu o conheci em Genebra, no fim dos anos 1980. Minha esposa, Carmen Licia Palazzo, chegou a dar aulas de português e de cultura brasileira a dois filhos dele, franceses, mas que ele pretendia 'transformar' em brasileiros ou, pelo menos, mais conhecedores da língua e das coisas do Brasil”, destacou. Ele contou que Mello gostava do Brasil, embora fosse magoado com a grande injustiça cometida pelo Itamaraty ao cassar o pai dele.

Situações difíceis

“Ele poderia ter se tornado um ‘diplomata brasileiro’, se o golpe sofrido pelo pai, em 1969, não tivesse alimentado nele (Mello) uma certa reação contrária ao Brasil e ao seu serviço exterior. E também teria tido, como já demonstrava, novo papel de destaque, se não tivesse sido sacrificado depois do caos que os Estados Unidos criaram no Iraque. Sérgio, com certeza, teria conduzido o Iraque para um destino mais feliz”, lamentou.

O também diplomata e especialista em políticas internacionais da Universidade de Brasília (UnB) Carlos Henrique Cardim conviveu com Mello, no fim dos anos 1990, quando era diretor do Centro de Estudos da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE). “Ele trabalhou sempre em situações muito difíceis. Em Ruanda e Kosovo, me disse que o que mais o chocou foi a violação dos direitos humanos. Mas o que mais me chamou a atenção foi a observação dele sobre a importância do Estado e a ausência do Pacto Robbesiano (sem o Estado, a vida do homem seria solitária, pobre, sórdida, brutal e breve)”, afirmou. “Ele detectou o problema de fundo na Ásia, na Africa e no Oriente Médio. Sérgio faz falta, porque era uma pessoa extremamente valiosa e de coragem.”

A vida de Mello, que passou 34 dos 55 anos trabalhando para a ONU, será retratada em filme. Ele será representado pelo ator Wagner Moura.

Entre cursos e missões

Continua depois da publicidade




Mello foi o primeiro brasileiro a chegar ao alto escalão da organização. Como negociador, atuou nos principais conflitos mundiais em Bangladesh, Camboja, Líbano, Bósnia e Herzegovina, Kosovo, Ruanda e Timor-Leste. Em 1970, terminou o mestrado em filosofia na Universidade de Paris e entrou para o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur). No ano seguinte, foi enviado para Dhaka, em Bangladesh. O diplomata foi para o Peru com a mulher em 1978. Lá, nasceu o primeiro filho do casal. Em 1980, assumiu a divisão de pessoal da Acnur, em Genebra, onde nasceu Adrien, o segundo filho.

O Camboja foi o destino dele em 1991.Em 1998, Mello se mudou para Nova York. Em 12 de setembro de 2002, foi nomeado por Kofi Annan para o cargo de Alto Comissário de Direitos Humanos. Em maio de 2003, assumiu a função de representante especial do secretário-geral no Iraque, país onde sua trajetória foi brutalmente encerrada. 

    Postagem em destaque

    Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

    Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...