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sábado, 18 de fevereiro de 2012

Quiqueisso companheiro?! Privatizando, asi no mas?


Aeroportos - foi mesmo privatização e inevitável

Roberto Macedo
O Estado de S.Paulo, 16 de fevereiro de 2012

Ouvi muita gente dizer que a recente concessão à iniciativa privada da gestão dos aeroportos de Guarulhos, Viracopos e Brasília não foi privatização, mas, sim, concessão, ao contrário de minhas convicções. E também do próprio fato, pois concessão à iniciativa privada é, evidentemente, uma forma de privatização. Assim, como afirmar que concessão é uma coisa e privatização é outra? Quem sabe, não seria eu o errado?
Diante de casos como esse, costumo procurar o dicionário, hábito adquirido desde criança, quando uma das primeiras e boas lições que tive de Português - ou de Língua Pátria, como era chamada a disciplina na escola - foi a de fazer isso para esclarecer o significado de palavras. Quando escrevo, procuro ter um ao alcance da mão. Ou melhor, das duas, pois são pesados, e de tanto usá-los sua capa costuma se largar da grossa lombada.
Uso o Houaiss, que assim define privatização: "1. ato ou efeito de privatizar; 2. transferência do que é estatal para o domínio da iniciativa privada". E privatizar: "1. realizar a aquisição ou incorporação de (empresa do setor público) por empresa privada; 2. colocar sob controle de empresa particular a gestão de (bem público). Os parênteses são do texto original e as ênfases em itálico são minhas. Confirmam que as definições alcançam a concessão. Portanto, a dos aeroportos é privatização mesmo.
E por que inevitável? Por muito tempo o governo federal procrastinou uma solução para sua dificuldade de pôr em funcionamento satisfatório e de expandir o sistema aeroportuário do País. As privatizações acabariam por alcançá-lo se os sucessores de Collor e FHC tivessem convicções similares às desses dois ex-presidentes. Mas entraram os petistas e seu drama de tons shakespearianos: privatizar ou não? Na dúvida, enrolaram por muito tempo.
Essa atitude, porém, costuma ter seu próprio mecanismo de correção. Os problemas agravam-se e a perspectiva de situação futura ainda mais crítica pode precipitar decisões. Assim, pesou na privatização a forte expansão da demanda e o assustador fantasma de vexames de alcance internacional durante a Copa e os Jogos Olímpicos. Isso juntamente com a incapacidade do governo de gerir o ramo na escala que alcançou. E, também, pelas equipes gestoras que arregimenta com o tal presidencialismo de coalizão e suas práticas, digamos, heterodoxas. Há ainda outro forte ingrediente que vem da sua maneira de governar, a carência de recursos para mais investimentos, ditada por outras prioridades. Ademais, Dilma Rousseff não dança a enrolation tanto bem quanto Lula.
Quanto a essa carência, Mansueto Almeida, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e especialista em finanças públicas, em artigo recente no jornal Valor (6/2), ressaltou que no governo federal o investimento funciona residualmente como uma conta de ajuste para alcançar sua meta de resultado primário (receitas menos despesas exceto juros). As prioridades são gastos do INSS turbinados por aumentos do salário mínimo e outros tipicamente sociais (benefícios para idosos e inválidos, seguro-desemprego e Bolsa-Família), um conjunto que chamo de socioeleitoral, com seu quê de social e muito de eleitoral.
Essa prioridade federal é conhecida, mas Mansueto Almeida foi aos números. Num balanço do período 1999-2011, concluiu que 87% (!) dos gastos primários foram absorvidos por essas despesas e apenas 20%(!) com ampliação dos investimentos. E mais: estes últimos aumentaram apenas 0,6% do produto interno bruto (PIB), trazendo o seu já irrisório total de 0,5% (!) em 1999 para o igualmente irrisório valor de 1,1% (!) do PIB em 2011. Já os gastos socioeleitorais subiram 2,6% (!) do PIB, de 6,1% para 8,7%, absorvendo, assim, a maior parte de mais um aumento da carga tributária, perto de 4% do PIB no período.
Portanto, com esse modelo de gestão socioeleitoralmente orientado não sobram recursos para aliviar substancialmente a enorme carência de investimentos de uso público, como nesses aeroportos.
Falta explicar como petistas mandantes resolveram seu drama ideológico, dado o conflito entre convicções que dizem ter e o comportamento privatizante a que foram levados. Para isso voltei novamente a lições passadas, desta vez de um grande professor de Economia, Albert Hirschman, que com sua visão ampla me levou a um "Freud explica" para dilemas como esse. O Freud, no caso, é Leon Festinger, um psicólogo americano já falecido, não tão famoso, mas um dos mais importantes.
A Festinger é atribuída a Teoria da Dissonância Cognitiva. Esta argumenta que as pessoas procuram manter a coerência entre suas crenças, opiniões e atitudes, bem como entre elas e seu comportamento. Neste último caso estão petistas ainda com alguma convicção ideológica estatizante, diante do seu comportamento privatizador de serviços aeroportuários.
A teoria diz que nesse caso o mais provável é que as pessoas mudem suas convicções para acomodar seu novo e dissonante comportamento. Acrescento que pelas razões citadas não vejo comportamento alternativo. Ademais, quando no governo, a mudança de convicções é muito comum, seja por força das responsabilidades ou das benesses do poder, estas gerando comportamentos dissonantes também de outras modalidades, como no plano ético. Também neste se percebe que convicções anteriores costumam ceder espaço a eles.
Portanto, Festinger oferece uma resposta para uso de petistas privatizadores colocados diante da incômoda pergunta: o que é isso, companheiro? Talvez seja mais complicado recorrer a ela, mas, no mínimo, poderá servir para confundir interlocutores mais teimosos. Em qualquer caso, tem maior potencial de eficácia que o jogo semântico voltado para dizer que as concessões aeroportuárias não são privatizações. Decidido pelo simples recurso ao dicionário, é um jogo perdido.
*ECONOMISTA (UFMG, USP, HARVARD), PROFESSOR ASSOCIADO À FAAP, É CONSULTOR , ECONÔMICO, DE ENSINO SUPERIOR

MEC: um antro de sauvas freireanas e de "perdidos no espaço"

Acho que este editorial do Estadão, transcrito abaixo, peca por condescendência.
O novo ministro da Educação não é o novo regente do MEC, no máximo um ocupante desocupado, e um passageiro de ocasião, sem qualquer noção do que deve ser feito, e como deve ser feito.
O MEC, hoje, é uma montanha dessas fofas, construídas pelas formigas, neste caso uma espécie particular, as saúvas.
Lembram-se de Monteiro Lobato, aquele que dizia, 90 anos atrás, que "ou o Brasil acaba com as saúvas, ou as saúvas acabam com o Brasil"?
Pois bem, as saúvas não acabaram com o Brasil, pois a agricultura se modernizou e liquidou as malvadas.
Mas poucos sabem que as saúvas -- uma nova espécie, resistente -- se mudaram todas, de mala e cuia, se ouso dizer, para o MEC, e lá proliferaram de modo extraordinário; essas são mais duras de serem extirpadas: são as saúvas freireanas, ou seja, aquelas pedagogas -- e pedagogos também, pois idiotas é um adjetivo que não tem gênero -- que seguem o besteirol do supremo mestre idiota de todas as bobagens pedagógicas que fomos capazes de oferecer ao mundo desde os anos 1960, Paulo Freire, e que hoje ainda continua infernizando a vida de alunos, de mestres, de pais, de todo o Brasil.
Pois eu digo que, ou o Brasil acaba com as saúvas freireanas, ou elas vão acabar com o Brasil, como já estão acabando, há muito tempo, e prometem continuar fazendo estragos pelas próximas gerações, se deixarmos. Acho que vamos deixar...
Sou moderadamente pessimista quanto à economia brasileira, como sempre digo: acho que vamos continuar crescendo a taxas medíocres, graças à despoupança estatal e a todo o custo Brasil, que hoje se resume numa única palavra: o Estado. Sim é o Estado que se tornou um obstrutor do crescimento no Brasil, como constata qualquer um que tenha dois neurônios para observar a realidade brasileira.
Mas, sou ABSOLUTAMENTE pessimista quanto aos destinos da educação brasileira: acho que ela não só vai continuar ruim, péssima, horrivel, como vai piorar muito mais, tendente ao horripilante! A mediocridade tende a se instalar em todos os níveis, do kindergarten à pós-graduação.
Não digam que eu não avisei...
Paulo Roberto de Almeida 

O novo regente do MEC

Editorial O Estado de S.Paulo, 16 de fevereiro de 2012 

Desde que assumiu o Ministério da Educação (MEC), há três semanas, o ministro Aloysio Mercadante já deu várias entrevistas sobre as reformas que pretende promover numa das mais estratégicas áreas da máquina federal. Nessas entrevistas, ele falou muito e deixou claro que não tem projeto de gestão definido nem critérios técnicos para justificar a fixação de prioridades.
O novo ministro prometeu mudar a metodologia do Enem, adotando critérios mais rigorosos para a correção da prova. Disse que a escola não está "interessante" e que concederá bônus para as que alfabetizarem os alunos até os 8 anos. Também defendeu o uso de tecnologia digital pela rede pública de ensino fundamental e afirmou que o "arranjo social da sala de aula" e o quadro negro são do século 18, os professores são do século 20 e os alunos do século 21. "Nós, professores, somos analógicos e imigrantes digitais. Os alunos são nativos digitais. Não queremos um apartheid digital, como tivemos um apartheid educacional no passado."
Além disso, declarou-se favorável à aplicação de uma prova nacional de docentes, que definiu como instrumento de motivação dos professores que trabalham em redes municipais de ensino com baixo desempenho e em áreas de risco. Contudo, foi evasivo sobre o futuro do Plano Nacional de Educação (PNE), que está parado no Congresso há mais de um ano. A prova nacional é prevista pelo PNE, que estabelece diretrizes do setor para a década de 2010. Quanto a metas, o ministro disse que compartilha "a forma de ver" da presidente Dilma Rousseff. "Ela diz que sempre precisamos estabelecer metas como quem lida com arco e flecha: mira um pouco mais acima para acertar o alvo" (sic).
Questionado sobre as fontes de financiamento do setor educacional e sobre a reivindicação de associações de docentes, que pedem a elevação do investimento público em ensino para 10% do Produto Interno Bruto, Mercadante lembrou que o dinheiro poderá vir do pré-sal. "O que nós temos de novo para poder dar um salto é o pré-sal. Os royalties são para você preparar a economia pós-petróleo. Porque o pré-sal é uma energia não renovável. As futuras gerações não terão acesso. O que podemos fazer era vincular pelo menos 30% dos recursos do pré-sal para educação, ciência e tecnologia e fazer um grande pacto de que pelo menos durante uma década a prioridade vai ser investir em educação" (a citação do ministro da Educação é textual, segundo a versão do jornal O Globo da entrevista).
Com declarações vagas como essas, o novo ministro da Educação mostrou não ter o preparo necessário para o exercício do cargo, deixando os especialistas em pedagogia perplexos. Segundo eles, o País - que hoje tem cerca de 3,8 milhões de crianças e jovens fora da escola e padrões de ensino muito ruins - não pode esperar pelos dividendos da exploração do pré-sal para melhorar a qualidade de seu sistema educacional. Em outras palavras, condicionar o aumento do financiamento da educação ao pré-sal é apenas uma forma de furtar-se a uma definição sobre a questão fundamental do aumento dos investimentos de que o setor educacional tanto necessita. Por enquanto, eles deverão permanecer como hoje - ou seja, muito abaixo dos padrões necessários a uma economia competitiva e capaz de ocupar espaços cada vez maiores no mercado mundial.
Na realidade, a ideia de condicionar qualquer fonte de recursos para a educação ao pré-sal é absurda - a começar pelo fato de que os primeiros lucros da exploração desse tipo de petróleo demorarão décadas para aparecer. Até lá, se o Executivo não financiar com recursos próprios projetos de melhoria do ensino fundamental e do ensino médio, o Brasil terá perdido pelo menos uma geração. Além disso, Mercadante parece não compreender - o que demonstra surpreendente despreparo - que se o governo não começar a preparar desde já as crianças em idade pré-escolar, elas não terão a formação necessária para aprender matemática e ciências, os requisitos básicos de uma mão de obra capaz de trabalhar na exploração do pré sal e nos projetos de inovação científica e tecnológica inerentes àquele projeto.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

A "concessao" da obesidade: marca registrada dos companheiros

Parece que os companheiros fizeram tudo para que a sua concessão-privatização não desse certo: não apenas mantiveram a Infraero -- que como se sabe é um exemplo de gestão empresarial e de eficiência administrativa --, não apenas enfiaram os fundos de pensão dos companheiros no processo, mas também exigem que não se façam demissões, ou seja, que os concessionários mantenham todos os inúteis admitidos lá nos últimos dez anos.
Oh céus, oh vida, eu acho que não vai dar certo...
Paulo Roberto de Almeida 



Por Gustavo Patu e Dimmi Amora
Folha de S.Paulo, 17/02/2012

As empresas privadas que assumirão a administração de aeroportos brasileiros terão de lidar com um quadro de pessoal que foi multiplicado nos últimos anos pelo governo petista. Dados e documentos oficiais apontam excessos de funcionários e baixa produtividade da mão de obra no setor. Um estudo vê ainda sinais de “inchaço” na burocracia da estatal Infraero, responsável pela infraestrutura aeroportuária do país. O número de empregados da empresa teve expansão de no mínimo 63% desde o início do governo Lula, passando de 8.100 para 13,3 mil ao final de 2010.
Os balanços de 2011, ainda não divulgados, deverão mostrar um contingente de 13,9 mil contratados, distribuídos entre os 67 aeroportos e as funções administrativas, sem contar os terceirizados. Trata-se de um crescimento só superado, entre os setores sob exploração das estatais federais, pela Petrobras e suas subsidiárias. Como comparação, o aumento do funcionalismo civil dos ministérios, motivo de críticas à gestão do PT, ficou em 17% no mesmo período.
EFICIÊNCIA
A ampliação do quadro da Infraero tem, ao menos, uma explicação mais palpável: a igualmente vigorosa elevação do número de passageiros, resultado de crescimento econômico e ascensão social. Essa política, no entanto, manteve os aeroportos do país em baixos patamares de eficiência e produtividade, segundo indicadores adotados internacionalmente. Considerado o contingente próprio da estatal, havia um funcionário da Infraero para cada 12,7 mil passageiros no ano retrasado.
De acordo com a ATRS (Sociedade para Pesquisa em Transporte Aéreo, na sigla em inglês), os aeroportos da América do Norte atendem a mais de 40 mil passageiros por empregado anualmente.

La frase du siecle (du XIX, tout au moins...)

Quand je me regarde, je me désole...
Quand je me compare, je me console...

Chateaubriand

François-René de Chateaubriand, peint par Girodet-Trioson, au début du xixe siècle.


La vie me sied mal; la mort m'ira peut-être mieux.

Chateaubriand, Mémoires d'Outre-Tombe, Préface testamentaire de 1833.

Os amigos latino-americanos de Assad - Paulo Paranagua (Le Monde)


Les amis latino-américains de la Syrie d’Al-Assad

L’Assemblée générale des Nations unies a adopté, jeudi 16 février, unerésolution sur la Syrie, non contraignante, à l’initiative de la Ligue arabe.
C’était une occasion de vérifier qui sont les derniers amis de Bachar Al-Assad, le despote syrien, dont la répression sanglante a fait 6 000 morts depuis un an.
En Amérique latine, le boucher de Damas compte toujours avec l’appui indéfectible de Cuba, du Venezuela, du Nicaragua, de l’Equateur et de la Bolivie. Bref, les pays de l’Alliance bolivarienne pour les Amériques (ALBA), financée par les pétrodollars vénézuéliens.
Le Brésil, qui avait fait de l’obstruction contre une résolution sur la Syrie au Conseil de sécurité de l’ONU en 2011, a voté pour en Assemblée générale. Brasilia préfère désormais suivre la Ligue arabe sur ce dossier, plutôt que de continuer à s’aligner sur la Russie et la Chine.
Outre ces deux puissances au stalinisme mal dégrossi et la Syrie elle-même, le dernier quarteron de soutiens de Bachar Al-Assad comprend encore l’Iran, la Biélorussie, la Corée du Nord et le Zimbabwe.
La résolution de l’Assemblée générale de l’ONU a été approuvée par 137 pays. Outre les 12 qui ont voté contre, 17 pays se sont abstenus.
Publié dans le blog Amérique Latine, du journaliste du Monde, Paulo Paranaguá

Brazil and Argentina: a book by Werner Baer and David Fleischer


The Economies of Argentina and Brazil: 

A Comparative Perspective

€ 30.21 (+ VAT)


Edward Elgar Publishing; December 2011
512 pages; ISBN 9781849809979
Read online, or download in secure PDF format

This book compares the successes and failures of the development and growth processes of Argentina and Brazil. It provides important insights into the different performances of these economies through a series of comparative essays written by Argentinian and Brazilian economists. In the last 60 years Argentina and Brazil have both undergone a dramatic process of urbanization and industrialization. While there are similarities between the two, each country has dealt with the side effects in a different manner. In this insightful book, Argentinean and Brazilian economists expertly analyze their country's experiences with processes of industrialization, the performance of the agricultural and service sectors, the impact of foreign investments, the distribution of income, the roles of the state and the privatization experience, and inflationary and stabilization experiences. The contrast of the two emerging countries addressing these challenges will offer students, economists and other social scientists significant new insights into the economic development process.Many of the articles will also appeal to individuals in multinational corporations and banks that have to deal with emerging market economies. 

Mantega: os impostos nao sao altos no Brasil (sic, sic, sic...)

IstoÉ Dinheiro
Nº EDIÇÃO: 748 | Capa | 03.FEV.12 - 21:00 | Atualizado em 14.02 - 10:47

O plano de Mantega para garantir o crescimento

O ministro da Fazenda conta à DINHEIRO como pretende proteger a economia brasileira e assegurar um aumento de 4,5% do PIB em 2012, ano em que as incertezas ainda dominam o cenário mundial.

Por Denize BACOCCINA, Carla JIMENEZ e Guilherme BARROS

Exclusivo: Clique e confira a entrevista de Guilherme Barros com o ministro da Fazenda, Guido Mantega


Nem mesmo a pane no jato que o levaria de volta a Brasília, na manhã da terça-feira 31, foi capaz de abalar o bom humor de Guido Mantega. Ao final de uma longa conversa com a DINHEIRO na Base Aérea de Congonhas, em São Paulo, o ministro da Fazenda olhou para a parafernália eletrônica da reportagem sobre a mesa à sua frente e brincou: “Cuidado para não levar o meu iPad por engano. Aqui tem segredos de Estado”. Um dos segredos mais bem guardados no tablet do ministro é a natureza dos cortes que o governo irá fazer no Orçamento de 2012 para garantir o equilíbrio das contas públicas. A decisão, que tomou boa parte do seu tempo na semana passada, é essencial para garantir a relativa tranquilidade com que o Brasil tem atravessado a crise dos países ricos. 
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Guido Mantega: "2012 será o ano do investimento. Queremos que o setor privado seja protagonista"
Ele não comenta as estimativas de analistas que apontam para uma redução de até R$ 60 bilhões nas despesas da União. Mas ressalta que não abre mão de manter o superávit primário (economia para pagar juros) em 3,1% do PIB, uma das principais armas em seu plano de voo para proteger o País das turbulências externas. Nesse ponto, nada muda na política econômica. “O Brasil faz superávit primário há 12 anos consecutivos”, afirma. “É uma situação consolidada. Nunca fomos tão respeitados.” Mas Mantega quer ir além e fortalecer ainda mais a economia neste ano. A ordem da presidenta Dilma Rousseff, que Mantega seguirá à risca, é garantir o crescimento do PIB entre 4% e 5% neste segundo ano de mandato. Em 2011, a soma das riquezas produzidas no País aumentou 3%. 
Isso depois de atingir 7,5% em 2010. Acertar o passo em torno de 4,5% é uma meta ousada, num momento em que a Europa enfrenta a perspectiva de recessão, os Estados Unidos tendem a andar de lado e a Ásia, especialmente a China, deverá desacelerar, segundo as previsões da maioria dos economistas do mercado financeiro. Mesmo com a crise lá fora, Mantega acredita que o Brasil conseguirá evitar a contaminação e tem os instrumentos para ditar a velocidade do crescimento da atividade econômica. “Não há uma blindagem, porque a economia mundial é toda interconectada”, diz ele. “Mas nós temos um domínio maior do ritmo de crescimento que queremos imprimir. Nós ganhamos essa autonomia.” A fórmula dessa calibragem é continuar a redução dos juros para um dígito, de um lado, e acelerar os investimentos, de outro. 
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Canteiro de obras: usina de Santo Antônio, prédios do "Minha casa minha vida"
e refinaria da Petrobras: projetos do PAC são prioridade do governo neste ano.
O Banco Central reduziu a taxa básica Selic em mais meio ponto percentual em janeiro, para 10,5% ao ano, e deve promover novos cortes nos próximos meses. E a Fazenda deve coordenar as medidas para estimular os investimentos públicos e privados. “2012 será o ano do investimento”, afirma Mantega. Nos últimos três anos, o estímulo ao consumo e o fortalecimento do mercado interno foram vitais para o Brasil driblar os efeitos da crise internacional. O País incluiu 50 milhões de pessoas no mercado consumidor e, em dezembro passado, o desemprego já havia caído para 4,7%, a menor taxa da história. Agora, o governo aposta no investimento como o motor do desenvolvimento. São os recursos produtivos, tanto públicos quanto privados, que vão modernizar a infraestrutura e preparar o parque industrial para o crescimento dos próximos anos. 
Projetos de logística, energia e habitação encabeçam a lista de prioridades desse pacote de crescimento, que inclui as obras do PAC e medidas de desoneração tributária (veja mais detalhes nos quadros). Na semana passada, a agenda de Mantega começou com uma reunião em São Paulo – onde mora a família e ele tem despachado às segundas e sexta-feiras. Na tarde da segunda-feira, ele reuniu-se com representantes da Caixa, do Banco do Brasil e de construtoras para pedir o empenho de todo o setor para acelerar a construção das unidades do programa habitacional “Minha Casa Minha Vida”. O setor de construção civil é um dos que mais cresceram nos últimos anos, mas o governo acha que as obras do programa que pretende construir e entregar 2,5 milhões de residências até 2014 podem andar mais depressa. 
No esforço para distanciar o Brasil da crise que já reduziu as exportações para a Europa, os dias do ministro da Fazenda têm sido divididos entre medidas para estimular a economia brasileira, proteger as empresas nacionais da concorrência dos importados e cortar as despesas. Na primeira tarefa, a parceria é com o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel. No difícil trabalho de cortar gastos, a parceira é a ministra do Planejamento, Miriam Belchior – que na quarta-feira 1º deixou Brasília para fazer exames em São Paulo por causa de uma crise de hipertensão. O governo tem até o dia 17 de fevereiro para apresentar os números. Até lá, as equipes de Mantega, Pimentel e Miriam Belchior negociam incentivos e cortes. Mantega já decidiu que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) terá um novo aporte do Tesouro, mas o volume será menor do que o do ano passado, de R$ 45 bilhões. 
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O BNDES é fundamental na estratégia de crescer 4,5% em 2012. O banco foi um dos grandes financiadores de fusões entre empresas, como a BRFoods, na política de criação de “campeões nacionais” do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Agora, vai privilegiar os financiamentos para melhorar a infraestrutura do País, uma das condições básicas para se garantir um crescimento sustentado. No ano passado, esses financiamentos representaram 40% dos desembolsos de R$ 139,7 bilhões. Somente os projetos de energia elétrica e logística (as grandes obras de transportes) somaram R$ 18,7 bilhões, num total de 155 empreendimentos. Para este ano, o diretor da área, Roberto Zurli Machado, prevê que o segmento terá financiamentos de R$ 23,4 bilhões e uma fatia maior do bolo, que não deve crescer. 
A novidade é que o BNDES quer entrar também como sócio nas obras de infraestrutura, e não apenas como financiador. “Os projetos precisam de financiamento e de capital também. Por isso vamos entrar mais nisso, olhando as necessidades de cada projeto”, afirmou Machado. Projetos não faltam. O que faltou, nos últimos anos, foi mais velocidade para tirá-los do papel. No ano passado, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) só conseguiu gastar R$ 28 bilhões. Neste ano, o governo garante que vai executar todo o orçamento, superior a R$ 40 bilhões. São obras importantes, como novas usinas hidrelétricas, rodovias, ferrovias, projetos de saneamento básico, portos e aeroportos. Em todos esses setores, a parceria com o setor privado é fundamental. 
Nos planos do governo, os investimentos privados devem chegar a 17% do PIB, enquanto os do setor público, incluindo as estatais, aumentariam de 2,8% do PIB em 2011 para algo entre 3% e 3,5% em 2012. É o bom e velho desenvolvimentismo, mas com uma ênfase diferente na participação dos agentes econômicos. “No passado era só o Estado que investia, e o setor privado era um coadjuvante”, diz o ministro. “Agora nós queremos que o setor privado seja o protagonista.” Há muito espaço a ser ocupado pelos empresários. Um levantamento do economista Carlos Campos, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), mostra que a maioria das obras do PAC realizadas no ano passado estava apoiada em três frentes: os projetos patrocinados pela Petrobras, pela Caixa (para financiar os mutuários do “Minha Casa Minha Vida”) e pelo do BNDES. 
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O setor privado participou com 18% dos recursos necessários para o PAC, mas também com grande suporte do BNDES. Para alterar esse quadro, o governo vem estimulando, desde o fim de 2010, a criação de instrumentos financeiros que garantam o crédito ao setor de infraestrutura. “Os bancos privados já levantaram R$ 150 bilhões em letras financeiras e estão se preparando para financiar projetos de infraestrutura”, diz Mantega. Apetite para entrar no jogo não falta ao setor, garante Silvania Del Barrio, superintendente de Project Finance do Itaú BBA. Que venham as grandes obras. “Ainda não estamos vendo o número de projetos que gostaríamos de ver”, diz Silvania. Alguns fatores explicam esse desencontro entre oferta e demanda de recursos. 
E um deles é a falta de cultura do País de investir em empreendimentos de longo prazo, como os de infraestrutura. “O governo pode dar o norte, mas quem dá o ritmo dos negócios são as agências reguladoras”, diz Robertson Emerenciano, advogado especializado em infraestrutura. Licenças ambientais e autorizações de uso de solo ou de espaço dependem de uma coordenação nos órgãos públicos, que ainda está se acomodando na economia brasileira. “É preciso destravar a burocracia para emitir licenças ambientais”, diz Wagner Cardoso, secretário-executivo da Confederação Nacional da Indústria (CNI). “Para liberar autorizações, pedem até a foto do Pelé”, dramatiza. Muitos projetos dependem, ainda, de concessões, ou marcos regulatórios que estão em fase de ajuste, como no caso de saneamento básico ou do setor ferroviário. 
“Entrar no setor de ferrovias ainda é difícil, pois os projetos têm maturação de 30 anos. Mas o mercado quer retorno de dez anos”, diz Renato Mazzola, diretor da divisão de Investimentos em Infraestrutura do BTG Pactual. Se por um lado a carência brasileira desanima, ela é também sinônimo de oportunidades de negócios para quem busca alternativas de lucro, principalmente quando a economia global está patinando. Mazzola conta que já conversou com 160 investidores estrangeiros, interessados em projetos na área. “Se compararmos o Brasil com os demais Brics, ainda somos a Suíça em termos de regulação”, afirma o executivo. Um bom termômetro da atração pelo País será o leilão dos primeiros aeroportos, que acontece na segunda-feira 6. Onze consórcios disputam o controle dos terminais de Guarulhos e Viracopos, em São Paulo, e o aeroporto Juscelino Kubitschek, em Brasília. 
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“Teremos um ágio interessante para o governo, que tornará as próximas rodadas de concessão ainda mais atraentes”, diz Renato Mazzola. O BNDES também vai financiar parte dos investimentos – até 80% do que for gasto no Brasil. Mas o plano do ministro Mantega não é apenas de investimentos em obras de infraestrutura. Ele lembra que as montadoras de veículos instaladas no País vão investir U$S 20 bilhões na ampliação de suas atividades até 2014. “Graças aos cuidados que nós tomamos, senão eles iriam investir em outro lugar”, afirmou o ministro. No dia 15 de dezembro do ano passado, o governo aumentou em 30 pontos percentuais o IPI sobre carros importados. Embora polêmica, a medida foi celebrada por outros segmentos da economia, que compõem a cadeia de fornecedores do setor automobilístico. 
“Se querem vender aos brasileiros, então que venham produzir aqui”, diz Carlos Fadigas, presidente da petroquímica Braskem. Fadigas acredita que a boa fase da economia brasileira deve ser aproveitada internamente, principalmente depois do crescimento de apenas 0,3% no setor industrial em 2011. “É legítimo investir numa cadeia nacional de veículos, assim como numa rede de fornecedores locais da Petrobras”, diz ele. As decisões de investimento da Braskem também levaram em conta essas prioridades do governo. Com US$ 5 bilhões em caixa para os projetos dos próximos cinco anos, a petroquímica deve inaugurar, em 2012, duas fábricas, uma de PVC, em Alagoas, e outras de intermediário de borracha (butadieno), no Rio Grande do Sul – esta última visa a atender ao crescimento do mercado automotivo brasileiro. A empresa de logística Ceva também se beneficia da expansão da indústria automotiva e já prevê crescimento de dois dígitos em 2012, ancorado, em parte, na expansão das plantas da Ford e da Volkswagen, no Nordeste. 
“Vamos fazer o maior investimento dos últimos três anos em gestão de pessoas”, diz Caio Najm, diretor-geral da Ceva, que pretende ampliar em 10% o quadro de funcionários para atender à demanda. O economista-chefe do Banco Bradesco, Octávio de Barros, observa que, na prática, o ciclo de investimentos privados no País nunca foi de fato interrompido desde 2005. “O cenário global adverso apenas gerou uma recalibragem dos projetos de investimento, mas eles não foram abandonados”, diz Barros, que acredita na recuperação do setor industrial este ano, apesar da sobreoferta dos produtos manufaturados no mundo. Para ele, a meta de crescer 4,5% não é impossível, pois o “fundo do poço” da desaceleração da economia ficou em outubro. A pesquisa do Banco Central com economistas de bancos e consultorias mostra que o mercado prevê um crescimento de 3,27% para este ano. 
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A meta de crescimento do governo também parece factível para o presidente da DHL Express Brasil, Joakim Thrane. “Mas não devemos olhar o mercado doméstico como único foco”, diz Thrane. “É preciso trabalhar uma estratégia de comércio exterior mais aberta e agressiva.” O ministro Guido Mantega lembra que o País conseguiu diversificar os destinos de suas exportações, o que reduziu a dependência da Europa, por exemplo. Com o dólar desvalorizado, no entanto, o problema ganhou força. Em janeiro, a balança comercial teve um déficit de US$ 1,29 bilhão, o maior para um mês de janeiro. Por isso, o governo quer tomar providências para proteger o mercado brasileiro. Uma das medidas em análise é uma salvaguarda temporária que vai instituir a cobrança do imposto de importação de produtos têxteis por peça e não por valor, e pode impedir a entrada de mercadorias subfaturadas. 
O governo também quer romper o acordo automotivo com o México, por causa do déficit comercial neste setor e de suspeitas de que peças e partes que entram como mexicanas sejam na verdade produzidas em outros países. Apesar das reclamações da indústria, o nível de utilização da capacidade instalada aumentou para 83,7% em janeiro, próximo ao patamar histórico de 84,1% de julho do ano passado. Neste cenário de plena utilização da indústria, são muito bem-vindos novos investimentos no aumento da capacidade produtiva da indústria brasileira, para que o governo não seja obrigado a esfriar de novo a economia quando ela voltar a aquecer. Se o plano de Mantega der certo, quem sabe seu próximo iPad será fabricado no Brasil.
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“O Brasil será um caso à parte em 2012”
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, fala sobre as medidas que o governo já adotou para garantir o crescimento de 4,5% na economia neste ano e destaca a importância do setor privado para aumentar o volume de investimentos no País. Confira os principais trechos da entrevista:
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Como o sr. pretende blindar a economia brasileira da crise global?
Não há uma blindagem, mas estamos protegendo a economia brasileira. No passado, ela foi muito dependente dos Estados Unidos e da Europa, mas diversificamos muito os parceiros comerciais. Hoje, dependemos muito mais do mercado interno. Enquanto a Europa vai ficar próxima da recessão, os Estados Unidos vão crescer no máximo 2% e a Ásia vai desacelerar, nós vamos crescer mais do que no ano passado. Estou prevendo 4,5%. Seremos um caso à parte. No ano passado, queríamos desacelerar, porque havia um fenômeno mundial de inflação que poderia contagiar o Brasil. Fizemos política monetária e fiscal restritivas. Neste ano, revertemos essas medidas, soltamos o crédito, baixamos o IOF e reduzimos o IPI para alguns produtos.
O nível de tributação no Brasil ainda é muito elevado. Não está na hora de uma mudança? O turista brasileiro que vai para Miami paga um décimo do valor cobrado aqui nos produtos que compra.
Não acho que a carga tributária seja elevada. Ela tem caído. O que aconteceu é que as empresas estão pagando mais Imposto de Renda porque tanto a formalização quanto a fiscalização da Receita aumentaram. Quem já pagava, agora paga menos. O investidor e o empresário estão pagando menos. Há menos IPI, menos PIS/Cofins, para alguns setores. Reduzimos o prazo de depreciação dos equipamentos. Também reduzimos a apropriação do prazo do PIS/Cofins. Temos desonerado bastante.
Qual é o efeito cambial?
A desvalorização do dólar é de mais de 50%. Então, lá fora tudo fica mais barato. Há um desespero dos produtores. O pavor de Ben Bernanke, presidente do Fed, é a deflação. Além do mais, os Estados Unidos não produzem mais nada, trazem tudo de fora. Por isso fica barato. Foi assim que desestruturaram a indústria. Não queremos isso aqui. O câmbio é a maior arma comercial que nós temos hoje.
E o que o governo pode fazer para atacar esse problema?
O governo tem de atuar no câmbio, e estamos fazendo isso. Não dá para fazer milagre. Tanto os Estados Unidos quanto a Europa estão com a moeda desvalorizada. Vários países têm juro real negativo. Estamos com o câmbio melhor do que antes, porque tomamos medidas eficazes, como o IOF. Tomamos medidas de defesa comercial, como o IPI dos carros. A importação já está caindo.
As montadoras podem subir o preço? Há acordo para evitar isso?
Quando aumentamos o IPI, fizemos um acordo para não subir os preços. Se subir, a gente reverte. Não permitiremos que o consumidor brasileiro seja prejudicado.
Os preços não cairiam mais para o consumidor se o mercado fosse livre?
Se o mercado fosse livre, iria acabar com a indústria nacional. Só haveria produção na China, na Coreia, e o Brasil se tornaria só um grande importador. Voltaríamos ao Brasil da Primeira República. 
O sr. acha natural a remessa dos lucros das montadoras? Não deveria haver uma maior contrapartida, com investimento delas no Brasil?
O Brasil é um país que tem regras do jogo bem claras em relação ao investimento externo. Não podemos impedir a remessa de lucros e dividendos. As remessas no ano passado foram de US$ 38 bilhões, mas entraram US$ 66,6 bilhões de investimentos externos A indústria automobilística tem um plano de investimento de US$ 20 bilhões até 2014, graças a essas medidas que nós tomamos. 
Qual é a sua visão sobre o futuro do capitalismo?
O capitalismo precisa ser sempre reinventado. Onde está dando mais certo? Nos países que adotaram o capitalismo de Estado. Não vamos comparar o Brasil com a China, onde 80% da economia está sob controle do Estado. Mas o Brasil tem bancos públicos também, o Brasil tem financiamento público. O que está em crise é o capitalismo liberal clássico, o capitalismo da desregulamentação financeira, que nos levou a esta crise toda. Modestamente, acho que uma das formas mais eficientes de capitalismo é a do Brasil. É um capitalismo que traz diretamente benefícios à população. Estamos longe do modelo europeu de desenvolvimento, mas estamos a caminho de alcançá-lo.
O sr. está feliz no cargo? É bom ser ministro da Fazenda neste momento?
É bom. E sabe por quê? Porque gosto de desafios. Eu não tenho me entediado no cargo. Os resultados são muito satisfatórios. A classe E diminuiu sensivelmente e estamos conseguindo dar emprego para todo mundo que quer emprego. Me dá uma grande satisfação ser ministro de uma economia que não está arrochando salário, não está desempregando gente, que paga dívida.
O que falta?
Muita coisa. Falta termos todo mundo na classe B, na classe A. Falta a renda per capita ser de US$ 40 mil, e não de US$ 12 mil. Não temos o padrão da população japonesa, da população americana. Mas a vida está melhorando.
Diante disso, a reeleição da presidenta Dilma está garantida?
Ninguém está pensando em eleição. Temos um ano de governo e temos de pensar em consolidar essa situação. Estamos na rota do desenvolvimento sustentável.

Colaborou: Luís Artur Nogueira

Pausa para... um dos irmaos Marx, este legítimo...

Blog do Além
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PÁ DE KARL
No começo, era tudo lindo. Eu deixava a barba crescer e logo a dele aparecia comprida também. Eu tuitava e, em seguida, ele dava um RT. Fazíamos tudo juntos, pensávamos parecido. Tinha gente que achava que eu me chamava Marx &, de tanto ouvir nossos nomes andarem juntos. Outros, que consideravam ossas ideias um tanto quanto nonsense, nos apelidaram de irmãos Marx. Qualquer coisa que um escrevia, mesmo que o outro nem tivesse dado palpite, ambos assinavam. Éramos assim tipo Lennon & McCartney. Aliás, seguindo nessa comparação, uma amiga dizia que o papel de Ringo cabia a Stalin, mas eu acho isso uma maldade com o Stalin.

Porém, em determinado momento, Marx me surpreendeu. Disse que se sufocado, que precisava de mais espaço para expressar suas ideias. Insinuou que fosse a hora de partir para uma carreira solo. E finalizou revelando que nossa produção, até então, muito panfletária.

Fiquei atônito, confuso. Não entendi que naquele momento estava se erguendo o muro de Berlim de nossa amizade. Como bom materialista, ainda teve coragem de me pedir uma grana emprestada, prometendo que, em alguns anos, aquilo viraria O Capital. Dei o dinheiro, não sou de perder uma oportunidade.

De Lennon & McCartney passamos a Roberto e Erasmo, comigo, obviamente, a fazer o papel de Tremendão e sem direito a receber homenagens do tipo: você meu amigo de fé meu irmão camarada. A partir daí, nossas carreiras se bifurcaram com visibilidades distintas.

Não sei se a intenção de Marx era a de me alienar da autoria do pensamento fundador da doutrina comunista. Se era esse o seu propósito, mais valia ele o ter deixado claro. O fato é que seu nome é o seu único sinônimo. Ninguém usa engelismo nem mesmo marxengelismo para se referir à concepção materialista e dialética da História. Para isso consagrou-se o termo marxismo. Fiquei relegado aos livros de história. Não figuro em bandeiras, flâmulas, camisetas e pôsteres. Enfim, não entrei para a cultura pop. Infelizmente, a ideia do comunismo virou propriedade privada de Marx.



Aurélio

SOBRE MIM
A revolução ainda se faz necessária. Não podemos confiar apenas na educação das novas gerações para que as mudanças essenciais aconteçam. Taí o Sertanejo Universitário para confirmar essa tese.
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Eu e o Paulo Skaf fazemos uma dura crítica ao modo de produção capitalista e na forma de como a sociedade se estruturou através desse modo. Buscamos organizar o proletariado como classe social capaz de reverter sua precária situação.
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RAP: Esgotar todos os recursos verbais antes que se consiga atingir um numero razoavel de mortos...


Segurança coletiva

Maria Luiza Viotti
O Globo - 16/02/2012
A defesa do diálogo e da solução pacífica de controvérsias é uma das tradições - no discurso e na prática - da política externa brasileira. Para o Brasil, o uso da força pela comunidade internacional deve ser sempre o último recurso, depois de esgotadas todas as possibilidades da diplomacia e de uma solução negociada. Ações militares implicam elevados custos em vidas humanas, além de outras graves consequências, políticas e econômicas.
Temos insistido em que a ONU priorize ações preventivas e esforços de mediação. Aplaudimos a iniciativa do secretário-geral Ban Ki-moon de estabelecer 2012 como o ano da prevenção.
Como afirmou a presidente Dilma Rousseff em seu discurso na abertura da Assembleia Geral, "o mundo sofre, hoje, as dolorosas consequências de intervenções que agravaram os conflitos, possibilitando a infiltração do terrorismo onde ele não existia, inaugurando novos ciclos de violência, multiplicando os números de vítimas civis. Muito se fala sobre a responsabilidade de proteger, pouco se fala sobre a responsabilidade ao proteger. São conceitos que precisam amadurecer juntos".
O conceito da "responsabilidade de proteger" acaba de completar dez anos desde sua primeira formulação. Foi desenvolvido com o propósito legítimo de evitar que populações sejam vítimas de genocídio, limpeza étnica, crimes de guerra e contra a humanidade.
A recente intervenção armada na Líbia, com a justificativa de proteção de civis, demonstrou a necessidade de aperfeiçoá-lo. Causaram preocupação a extensão da força empregada, a incapacidade de se combinar e calibrar a ação militar com a diplomacia, a interpretação questionável do mandato conferido pelo Conselho de Segurança e a falta de acompanhamento pelo próprio Conselho das ações empreendidas em nome de todos os membros da ONU. Invocou-se a "responsabilidade de proteger", mas faltou "responsabilidade ao proteger".
O Brasil apresentou, em novembro, ao Conselho de Segurança, o conceito de "responsabilidade ao proteger" com os seguintes elementos: a valorização da prevenção e dos meios pacíficos de solução de controvérsias; a excepcionalidade do emprego de meios coercitivos, especialmente o uso da força; a obrigação de que a ação militar não cause danos maiores do que aqueles que tenciona evitar; a observância rigorosa dos mandatos; a importância da proporcionalidade e de limites para o emprego da força, nas circunstâncias excepcionais em que for necessário contemplar o seu uso; e a necessidade de monitoramento e avaliação da implementação das resoluções.
A proposta brasileira tem recebido apoio de muitos países, ONGs e acadêmicos. A missão do Brasil junto à ONU já realizou um amplo debate com embaixadores de 25 países de todas as regiões do mundo e estudiosos do tema. A percepção compartilhada pela grande maioria foi a de que a iniciativa brasileira deu início a uma discussão que se tornou crucial após o episódio da Líbia. Em seminário recente organizado pela Stanley Foundation, com as principais autoridades mundiais no assunto, a iniciativa brasileira foi um dos elementos centrais dos debates, tendo sido bem acolhida e objeto de menção muito positiva por parte do secretário-geral da ONU.
Encorajado pela receptividade ao conceito da "responsabilidade ao proteger", o Brasil deverá organizar um debate na ONU a ser presidido pelo ministro Antonio de Aguiar Patriota.
O apelo político à prevenção, à moderação e à ação criteriosa no exercício da segurança coletiva, por meio da "responsabilidade ao proteger", segue a tradição da diplomacia brasileira. Temos credibilidade para promover esse debate na ONU porque nosso discurso em favor da paz é amparado por atuação que vai além da retórica e valoriza, na prática, a diplomacia e o diálogo. Pretendemos, de forma franca e construtiva, levar adiante esse debate indispensável, com o objetivo de contribuir para o aperfeiçoamento da ação da ONU e para sua maior eficácia na promoção da paz e da segurança internacionais.