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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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quinta-feira, 14 de junho de 2012

O pensamento economico da presidente Dilma (discurso da propria)

Confesso que li, reli, e não entendi, exatamente, o que quis dizer a presidente.
Sei, claro, que se trata de uma "desenvolvimentista"  instintiva -- as aspas pelo fato de que ninguém tem o monopólio do desenvolvimento, como se apenas desenvolvimentistas fossem a favor e liberais contra -- e de uma keynesiana de verniz (pois não imagino alguém se debruçando com prazer naquele livro insosso que se chama "Teoria Geral, etc.", que não é bem teoria e muito menos geral).
Mas, não consigo extrair uma linha de pensamento claro do que vai escrito abaixo -- um discurso do qual selecionei só as partes que me interessam, que são as de política econômica -- e não sei se alguém consegue.
Claro, "a nível de"  simplificação, como diria alguém, se podem extrair algumas recomendações interessantes: somos contra a recessão, certo; somos contra a austeridade (aí depende; acho que ninguém deve gastar mais do que ganha, sob risco de se endividar); somos a favor do crescimento, certo; somos contra o desemprego, mais certo ainda; somos a favor de investimentos, todo mundo concorda.
As discordâncias começam por saber quem deve "estimular o consumo", com o dinheiro de quem, e como fazer se a produção, ou seja, a oferta não seguir o consumo. Inverte a equação?
Está certo que Keynes inverteu a lei de Say, que dizia que a oferta cria sua própria demanda. O economista inglês pretendia que a demanda cria sua própria oferta. Mas, e se por falta de condições objetivas, a demanda não conseguir criar a sua oferta?
E como fazer, segundo Keynes, para estimular a demanda, com qual dinheiro? O governo inventa dinheiro, cria dinheiro?
Pode até ser, mas se ele criar dinheiro a partir do nada, não vai haver produção para justificar a emissão desse dinheiro, e vai se criar uma tremenda pressão inflacionária em sua volta.
Seria isso a que a presidente se refere?
E ela acha que os europeus estão praticando austeridade e alimentando a recessão porque gostam de viver nessas condições austeras e recessivas?
Eles podem escolher entre crescer e não crescer, seria isso?
Seria uma boa aula de economia se eu conseguisse entender o que quis dizer a presidente. Quem conseguir entender, me avise...
Não é cachorro perdido, mas remunera-se bem...
Paulo Roberto de Almeida


Discurso da Presidenta da República, Dilma Rousseff, durante cerimônia de assinatura do Termo de Compromisso para a elaboração do projeto executivo das obras de reformulação e modernização do Anel Rodoviário de Belo Horizonte
Belo Horizonte-MG, 12 de junho de 2012 
(...)
Então, eu fico muito feliz de estar aqui mais uma vez. Fico feliz também, porque nós estamos em um momento especial no Brasil. Nós estamos em um momento que antecede a semana, que antecede a Rio+20. A Rio+20 é uma conferência que tem uma extraordinária importância, principalmente, quando nós consideramos que ela trata de uma questão que para mim está na ordem do dia, que é a questão do desenvolvimento sustentável. A questão do desenvolvimento sustentável. Por que é uma questão que está na ordem do dia? Ao contrário do que muitas pessoas acham, que o fato que a crise econômica pode tirar a atenção das questões suscitadas pelo desenvolvimento sustentável, eu considero que pelo contrário. O tamanho e a dimensão dessa crise, ela tem de fazer com que os nossos olhos se dirijam para um conceito de desenvolvimento, em que os três eixos do desenvolvimento sejam integrados. Que eixos? O eixo de que é possível crescer economicamente. É possível ter um país se desenvolvendo economicamente. Para que ele se desenvolve economicamente que não seja para suas pessoas, ou seja, para a sua população? Então, que cresça e inclua essas pessoas, que inclua sua população, que seja um desenvolvimento do ponto vista social, um desenvolvimento com justiça. E que, ao mesmo tempo, respeite o meio ambiente. É esse o grande desafio dessa conferência Rio+20. E por que isso é atual? Porque nós vivemos hoje no mundo e que nós estamos vendo, e recentemente o último dado internacional, que chama atenção, é o fato de que mais um vez as autoridades da zona do euro respondem a uma crise que se aprofunda e que se torna uma crise quase crônica, respondem com 100 bilhões de euros de financiamento dos bancos. Mas é verdade que responde com isso. A pergunta é: Até quando esses 100 bilhões de euros? E vamos lembrar bem que, no final do ano passado, foram 1 trilhão de euros também para os bancos e que não resultou numa reciclagem da dívida.
Nós vivemos nesse mundo em que a crise do sistema bancário se sobrepõe à crise soberana dos países e, tudo indica que, se não forem tomadas medidas, e essas medidas não são dinheiro, essas medidas são mudar o padrão de crescimento e a visão que se tem dos processos de ajustamentos, o que nós temos grande, mas grande experiência. Nós ficamos 10 anos, vocês lembram bem, 10 anos com um rebatimento para mais cinco, uns 15 anos, nós ficamos num processo de crise de dívida, de inflação, de recessão, de desequilíbrio e de desemprego.
Nós sabemos que um país não sai da crise, pelo contrário, ele cria para ele mesmo uma armadilha. Cada vez que ele corta um gasto, que ele para de investir, ele provoca o que está produzindo a Europa. A Europa está numa profunda crise. Quem tem segurando os outros países – os Estados Unidos também não estão bem, todo mundo sabe disso, basta ler jornal, não recuperou como se esperava, quem está segurando isso são os países emergentes. Os países emergentes sofrendo as consequências disso. Houve uma retração brutal dos mercados.
Agora, nós temos de enfrentar mais uma vez essa crise com os nossos próprios recursos. Os nossos próprios recursos são os recursos que nós construímos ao ampliar o mercado interno deste país, que era um mercado interno, vamos lembrar bem, extremamente restrito. A partir do governo do presidente Lula, nós conseguimos ampliar o mercado interno. E praticamente, para a gente ter uma idéia da dimensão, transformamos em consumidores, em produtores, em trabalhadores, 40 milhões de brasileiros que foram elevados à condição de potencializar o nosso mercado interno. Além disso, os nossos próprios recursos significam que nós fizemos a nossa parte no dever de casa nosso. Nós temos, hoje, um volume de reservas que faz com que o Brasil tenha suas defesas no que se refere à volatilidade cambial e aos problemas de financiamento, que crises desse tipo, que ocorreram e que estão ocorrendo, que ocorreram com o Lehman Brothers e que estão ocorrendo nos mercados bancários europeus, que é uma chamada fuga para a segurança.
Hoje, há uma dúvida a respeito da situação da segurança dos investidores em certas economias, que faz com que esses investidores procurem, apesar da crise nos Estados Unidos, procurem se defender investindo em títulos do Tesouro americano. Isso leva a essa volatilidade que todo mundo está assistindo no cenário internacional. O interbancário europeu está praticamente fechado, têm problemas nos bancos, como nós vimos no caso dos bancos espanhóis e vários jornais internacionais, a crer neles, outros países se tornarão a bola da vez.
Enquanto isso, aqui no Brasil, nós somos um país que está caminhando para alterar as condições de investimento. Alterar as condições de investimento no Brasil significa o seguinte. Primeiro, tem de reduzir o custo de capital do país. Reduzir o custo de capital do país é reduzir juros. Não se faz isso por decreto, se faz isso perguntando: afinal de contas, qual é a nossa diferença que explica juros, que explica tecnicamente – eu não estou perguntando explicação política para isso, estou perguntando a explicação técnica – para diferenciais de juros que não se compadecem com a qualidade da nossa situação econômica. Por quê? Porque além de termos a inflação sob controle, somos um país que fez o seu dever de casa e tem as suas finanças públicas sob controle. Temos uma das menores relações dívida/PIB do país. Então, temos de reduzir o custo do capital.
Precisamos, sim, melhorar a produtividade do trabalho. Por isso, tivemos o cuidado de apostar num programa em parceria com as entidades empresariais, um programa que é de formação e capacitação profissional, que é o Pronatec. E aí eu agradeço à Confederação Nacional da Indústria, a CNI, o mineiro, inclusive, Robson Andrade. Agradeço também à FIESP, agradeço à FIEMG, agradeço à FIERGS, agradeço às federações, e os respectivos Serviços Nacionais da Indústria que são parceiros nossos nesse desafio.
Temos talvez um dos maiores – eu não vou dizer o maior, porque eu não sei o que os chineses estão fazendo –, mas temos um dos maiores programas de formação, no exterior, de jovens brasileiros, que é o Ciência sem Fronteiras. Colocamos nisso mais de R$ 3,5 bilhões para que cem mil brasileiros estudem no exterior, estudem ou façam pesquisa no exterior, façam estágios em empresas, e trazendo também professores e estudantes para cá.
Não estamos fazendo uma política de gasto fácil no Brasil. Nós estamos voltados para perseguir o investimento e iremos perseguir o investimento. Não é algo trivial. Aliás, tem várias pessoas que deram para me dar conselho, que não são responsáveis por nenhum investimento antes de 2003. Não são. Não são, porque este país não investia. Quando nós começamos a fazer o PAC, a dificuldade para fazer o PAC era enorme, porque não tinha projeto. E por que não tinha projeto? Porque não tinha consultoria, não tinha empresa de consultoria neste país. Quando a Petrobras começava a contratar, as empresas começavam a contratar, sabem o que acontecia? Congestionava o fornecimento de projeto no Brasil, porque elas tinham fechado e levaram um tempo para abrir e levaram um outro tempo para adquirir competência.
Além disso, este país teve de aprender a gastar outra vez. E não foi só o governo federal. Foram as prefeituras, foram os estados. Perguntar se ainda hoje já sabe gastar direitinho, eu diria assim: estamos numa fase de aprendizado bastante adiantado, mas precisamos ainda nos apurar muito, de reduzir os prazos, de melhor qualidade dos projetos.
Além disso, o governo federal tem uma preocupação muito grande com a parceria com os estados e municípios. E, por isso, estamos – eu, inclusive, convidei o governador –, estamos marcando uma reunião para sexta-feira, no sentido de fazer um processo muito similar ao que fizemos em 2009 com os governos, no que se refere a um programa exclusivamente de investimentos. Eu acredito que nós, no segundo semestre, a partir de agora, nós teremos um processo cada vez mais contínuo de crescimento dos investimentos do Brasil. Não acho que essa história que não é necessário consumir é verdade. Não concordo com isso. Não concordo com a história que não é preciso estimular o consumo. Acho que o estímulo ao consumo vai da característica intrínseca do nosso modelo, que é um modelo de desenvolvimento com inclusão social. Estranho seria se o modelo que tem de levar 16 milhões de brasileiros e de brasileiras a ter um padrão mínimo de consumo e renda não fizesse ampliação do consumo no país. Por quê? Porque nós temos ainda um consumo extremamente reprimido das classes populares desse país. É uma visão absolutamente equivocada achar que quem não tem uma melhoria de renda não quer comprar uma televisão, uma geladeira, um forno de microondas, uma máquina de lavar. Isso não tem nenhum problema. O Brasil comporta isso. Não temos um nível elevado de endividamento das famílias, não. É só pegar os padrões internacionais de endividamento e olhá-los. Além disso, eu considero que o Brasil tem esse grande potencial justamente por isso. Por ser uma economia emergente em transição, que não é uma transição rápida para uma economia que pode ser uma economia de classe média. Nós ainda não somos. Temos milhões de brasileiros sem casas. Temos milhões de brasileiros sem saneamento.
E aí eu acho interessantíssimo considerar que o gasto em financiamento de moradias é consumo. O gasto em financiamento de moradias – e aqui eu estou vendo o Paulo Safady, os R$ 120 bilhões que o governo coloca no Programa Minha Casa, Minha Vida não podem ser considerados custeio. Porque sem esses 120 bilhões não teria a explosão de criação de oportunidade, de investimento na construção civil que nós estamos tendo. Não que seja só isso. Não, o sistema brasileiro de poupança e empréstimo tem o seu papel. Agora, essa ação das inversões privadas na área da construção civil tem toda justificativa para ser tratada, do ponto de vista econômico e técnico, como investimento. Porque é investimento direto da construção civil. E melhor ainda, sem bolha, porque nós sabemos de onde vem o dinheiro. Ele não tem mercado secundário, não é especulativo. E entende que o endividamento das famílias do Brasil não suporta, principalmente nas classes de menor renda, não suporta preços de mercado puro e simples. Então, aos preços de mercado, se acrescenta subsídio direto do governo. O governo subsidia sim, se isso, em um certo momento do passado, foi visto como algo incorreto, eu quero ver hoje quem defenda que isso é incorreto. Quem defenda num país como o nosso que o acesso à casa própria de milhões de brasileiros que ganham até R$ 1.600,00, por exemplo, pode ser feita a preço de mercado. Sem subsidio. Não pode, não será e nunca aconteceu. Por isso, que esse programa é o sucesso que é. Tem problemas? Há têm. Nós sabemos que têm, mas são problemas nossos, ou seja, a gente tem muito orgulho dos problemas. Porque a gente resolve os problemas. Aliás, nós fizemos esse programa em parceria com os empresários.
Eu queria dizer para vocês que o Brasil tem forças internas para enfrentar essa crise. Ele é diferente dos outros países da Europa que não têm forças internas. O que nós temos? Nós temos, nós estamos muito bem fincados nos nossos próprios pés. Nós temos política econômica consistente. Nós não temos uma visão que acha que o ajuste é justificável e pode levar a que 54% da população de jovens de um país fique sem emprego. Nós nunca achamos isso. Nós temos uma política de defesa do emprego brasileiro, sim. E aí, eu quero aproveitar a oportunidade e dar uma informação para os senhores.
É muito dito que o conteúdo nacional, que nós exigimos que ocorra em vários segmentos da indústria, onde o Estado é o grande comprador e o grande demandador - com o dinheiro de quem? Do povo brasileiro - seja fornecido com produtos aqui do país. Gerados por empregos brasileiros com trabalho brasileiro. Tem muita gente que fala mal da política de conteúdo nacional. E diz o seguinte: a Petrobras tem investimentos atrasados, porque está produzindo sondas no Brasil. Ora, é verdade. Nós queremos produzir sondas no Brasil. Quando resolvemos que íamos produzir sondas no Brasil, você não faz assim e começa a produzir sonda. Vai ter de ter empresa que produza sonda, vai ter de ter estaleiro. Tinham desmantelado os estaleiros deste país. Eu sei porque eu, pessoalmente, fui mandada pelo presidente Lula para ir olhar o problema da produção de sondas no país.
Pois bem. Dizem que hoje a Petrobras está com a produção atrasada porque não deixou livre a importação de sondas. Tinha de importar do exterior. Há uma má informação aqui, que eu lamento muito a má informação. Mas eu queria dizer o seguinte para os senhores. Como nós não tínhamos os estaleiros nem as empresas prontas para produzir sonda – era uma política de incentivo –, nós dissemos assim: A partir de 2013 ou [20]15” – eu não lembro bem – as sondas serão aquelas produzidas no Brasil. Até lá vai ter de importar. Sabe quem é que atrasou a entrega de sondas? Vocês sabem? Foi alguma empresa nacional, por causa da política de conteúdo local? Não foi, não foi, não foi. O atraso na entrega de sondas é das sondas contratadas no exterior, que tem atraso de um ano, tem atraso de 18 meses e tem atraso de 24 meses dos fornecedores.
Então, vamos parar de atribuir a uma política correta do país, que é feita – vamos lembrar bem –, é feita pelos Estados Unidos, é feita pela França, que é uma política de fornecedores, de tratamento de fornecedores, exigindo participação nacional, e vamos entender que na área de fornecimento de equipamentos, não só na eventualidade futura nós podemos atrasar, como os fornecedores internacionais também atrasam. Pagam multa, é claro. Pagam multa, mas atrasam, que isso acontece.
(...)
Por que o governo federal fica preocupado com o investimento federal? É porque nós somos... nós não respeitamos o investimento privado? Pelo contrário: o que nós sabemos é que o investimento privado é pró-cíclico, ou seja, é mais factível de ser influenciado por uma conjuntura de insegurança. O Estado é menos pró-cíclico.
Então, eu conto com o prefeito Anastasia, aliás, com o prefeito Márcio e o governador Anastásia para que nós, juntos, façamos esses projetos e continuemos mantendo a taxa de investimento sempre em crescimento. O Brasil tem essa dificuldade? Tem. Uma das partes – isso eu sempre disse – é: câmbio, juros e impostos. Nós temos sempre de enfrentar esses três. Por quê? Eu diria assim, desamarrar esse nó é uma forma, também, de viabilizar o investimento público. O Brasil Maior – o ministro Fernando Pimentel está aqui – o Brasil Maior é um processo desse enfrentamento.
Agradeço a todos e também as sugestões, porque eu leio essas sugestões e fico muito feliz. Até porque, até outro dia o governo que fizesse investimento público era intervencionista. Agradeço a percepção de que é fundamental que o governo invista, quando temos de enfrentar o crescimento de um país da dimensão do Brasil.
Muito obrigada a todos.
Ouça a íntegra do discurso (33min58s) da Presidenta Dilma

Getulio Vargas, o maquiavelico - biografia de Lira Neto (Otavio Frias Filho)


GETÚLIO VARGAS

Maquiavelismo à brasileira

Reproduzido do suplemento “Ilustríssima” da Folha de S.Paulo, 10/6/2012
O primeiro volume da biografia do jornalista Lira Neto sobre Getúlio Vargas merece ser recebido com grande interesse. A publicação de Getúlio – Dos Anos de Formação à Conquista do Poder (1882-1930) [Companhia das Letras, 630 págs., R$ 52,50] dá início a uma série de três livros, a ser concluída em 2014, configurando a mais completa biografia sobre o maior líder político brasileiro.
A julgar pela primeira parte, o trabalho vem sendo executado com meticulosidade exaustiva. É gigantesca a massa de documentos oficiais, livros, artigos na imprensa, memórias e testemunhos que o autor e seus auxiliares dominaram para compor uma narrativa decerto prolixa, mas sempre legível e muitas vezes trepidante.
Todo biógrafo acredita que a vida sob seu exame é extraordinária. Mesmo assim, Lira Neto mantém isenção exemplar em meio às paixões que cercaram seu personagem e dividiram o país.
Não escreve para enaltecer ou para detratar, mas como repórter – atividade que exerceu em Fortaleza antes de se mudar para São Paulo, onde se converteu em biógrafo profissional na década passada, ao publicar uma sequência de livros sobre o escritor José de Alencar, o marechal-presidente Castello Branco, a cantora Maysa e o líder messiânico Padre Cícero.
Talvez se possa atribuir a essa disciplina de repórter a principal lacuna em livro tão bem elaborado. Ainda que este não seja um trabalho de história, falta-lhe ambição analítica, alcance de interpretação e densidade explicativa.
Enquanto a camada aparente dos acontecimentos é descrita com suntuosidade de minúcias (ficamos sabendo até a marca da limusine que conduziu o presidente Washington Luís ao sair deposto do Palácio), as relações de força subjacentes são pouco esboçadas. O autor dispensa, assim, muita possibilidade de articular a vida do biografado aos fatores impessoais que ajudaram a moldá-la.
Terá pesado, nessa escolha, o propósito de tornar a leitura atrativa para um público amplo, menos interessado em implicações sociológicas e controvérsias entre historiadores do que no drama pessoal de figura tão hipnótica.
Lira Neto adota a tendência de todo biógrafo contemporâneo à visada cinematográfica, rica em peripécias e lances de expressão imagética, como se concebida para dar base a um futuro roteiro de cinema ou televisão – talvez ambos. Parece ter resistido, porém, à tentação de fantasiar detalhes e turbinar diálogos, que surgem em profusão, mas sempre alicerçados em alguma fonte escrita.
Poder
Getúlio nasceu em São Borja, na fronteira com a Argentina, em 1882, filho de um potentado local. Foi promotor público, deputado, ministro da Fazenda de Washington Luís, governador do Rio Grande do Sul e candidato a presidente da República. Derrotado na eleição de 1930, fraudada como as anteriores, fez-se líder revolucionário e tomou o poder como chefe de um governo provisório.
Foi confirmado presidente pelo voto indireto em 1934. Esmagou uma insurreição liberal (1932), outra comunista (1935) e ainda outra fascista (1938), tornou-se ditador em 1937 com apoio dos militares e foi por eles deposto em 1945. Reconduzido ao cargo pelo voto popular em 1950, suicidou-se em meio à aguda crise política de agosto de 1954.
Contribuiu como ninguém para ampliar e modernizar o aparelho do Estado, impulsionar a industrialização, inaugurar direitos sociais e introduzir a política de massas no cenário brasileiro. Viveu sob a marca da ambivalência: conciliador e autoritário, modernizante e paternalista, conservador e progressista conforme a ocasião.
Distinguiu-se ainda por duas características incomuns. Exerceu uma ditadura feroz entre 1937 e 1945, mas nunca foi pessoalmente acusado de corrupção. Era um político astucioso e manipulador, que obviamente gostava do poder, mas ao exercê-lo parecia ter em mente objetivos nacionais que transcendiam a política miúda.
Formação
Este primeiro volume trata da parte menos conhecida da vida de Vargas, “dos anos de formação à conquista do poder”, conforme o subtítulo. É inevitável ler a obra como se fosse historiografia reversa ou premonitória, à procura de sinais que antecipem o Getúlio que viria depois e que permitam esclarecer retrospectivamente essa personalidade elusiva, apelidada de “Esfinge” por causa das intenções indecifráveis e do laconismo sorridente.
Como foi possível, por exemplo, que um político provinciano, oriundo de um Estado periférico, chegasse ao ápice nacional numa estrutura tão impermeável como a da política daquela época?
O panorama biográfico dessa fase inicial ressalta como o Rio Grande ganhou vulto econômico e militar a partir da década de 1910, credenciando-se a atuar como elemento de arbitragem quando as elites políticas centrais – paulista e mineira – entravam em desacerto.
Essa capacidade se potencializou a partir de 1923, depois que o acordo de Pedras Altas, orquestrado por Vargas, encerrou três décadas de confronto entre as duas facções que disputavam o poder no Estado sulino.
De um lado estavam os liberais, chamados de maragatos ou federalistas, ligados a uma linhagem de descentralização, parlamentarismo e livre-comércio que provinha dos tempos do Império. De outro estavam os republicanos, chamados de chimangos ou pica-paus, influenciados pela doutrina positivista e adeptos de uma concepção “científica” de governo autoritário. Grosso modo, aqueles prevaleciam na região fronteiriça; estes, na litorânea.
Embora os republicanos tenham controlado a política gaúcha na maior parte desse tempo, enfrentaram resistências intermitentes que deram origem a duas guerras civis, em 1893-95 e 1923.
Getúlio, que tinha parentes nos dois lados do conflito, cresceu em meio a essas dissensões, à sombra do governador republicano Borges de Medeiros, eleito cinco vezes para o cargo. Sua escola de conciliação mesclava movimentos de intimidação e apaziguamento.
O regime gaúcho não diferia do coronelismo político vigente no resto do país, mas tinha uma peculiaridade: suas facções se achavam imbuídas de colorido ideológico nítido e coerente. Como se expressassem, de forma concentrada, a oposição mais difusa entre liberalismo elitista e estatismo autoritário que seria o eixo da política nacional de 1930 a finais do século, com ecos que ainda ressoam.
Cálculo
Evidentemente, Vargas não era um político vulgar. Desde cedo, destacou-se pelo cálculo racional e pela metódica acumulação de poder. É notável o contraste com a turbulência impensada dos que o cercam, a começar dos irmãos, arruaceiros cujas trapalhadas criminais Getúlio tratou de abafar, nem sempre por meios legítimos.
Esse aspecto atávico, tribal, violento (seu pai lutara na Guerra do Paraguai, seu avô combatera na Revolução Farroupilha), estaria presente até o paroxismo de 1954, desencadeado pelo atentado contra Carlos Lacerda, canhestramente urdido nos subterrâneos do Palácio do Catete.
Relembramos ao longo do livro como foi lenta a erosão da República Velha, como demorou até que oligarcas dissidentes e líderes das revoltas tenentistas articulassem uma candidatura viável de oposição à Presidência, apoiada no desgaste crescente do governo central, sobretudo na opinião pública das grandes cidades. E ainda assim Getúlio perdeu.
Parece certo que o desfecho revolucionário teria sido evitado se Washington Luís fosse menos intransigente na imposição de seu sucessor e se não sobreviesse o assassinato –num crime passional – do candidato a vice na chapa de Getúlio, João Pessoa, estopim psicológico da deflagração. Mais certo ainda é que somente a crise econômica de 1929 foi capaz de esvair a sustentação social de um regime que já caducava.
É impressionante a cautela quase apática com que Vargas navegou pela vertiginosa sucessão de episódios. Hesita em aceitar a candidatura; candidato, tenta um acordo secreto com o governo central; derrotado, conforma-se. Quem organiza a insurreição é o círculo imediato de assessores, quase todos amigos de juventude – Lindolfo Collor, João Neves da Fontoura, Flores da Cunha e Oswaldo Aranha.
Até semanas antes de romper com a legalidade, a preocupação de Getúlio é evitar que seu controle da política estadual sofra retaliações do futuro presidente Júlio Prestes, que jamais tomaria posse.
Havia maquiavelismo nessa prudência, mas fica evidente que também houve muita sorte ou acaso – “fortuna” – nesse maquiavelismo. A posteriori, quando o encadeamento dos fatos já premiou o vencedor, a trajetória inteira tende a se apresentar como obra de arte política, sem deixar entrever o quanto terá havido de dúvida, imprevisto e balbúrdia.
Da mesma maneira, o que chamamos de “carisma” do líder – como definir ou identificar algo tão etéreo? – só cristaliza simbolicamente o êxito já consolidado.
Exceto quanto à revelação de alguns detalhes inéditos e episódios secundários, o livro de Lira Neto não parece trazer contribuição original ao relato de uma vida já tão esmiuçada e conhecida. Ainda assim é uma colossal reconstituição dessa existência única na história brasileira, expressa num andamento romanesco e palpitante.
Grande parte do mistério que emana do vulto de Getúlio Vargas se esvanece, mas perdura um resíduo irredutível, enigmático, desse homem sobre o qual se disse que podia “tirar as meias sem descalçar os sapatos” e que preconizava, estranhamente, que “na luta, vencer é adaptar-se”.
***
[Otavio Frias Filho é diretor de Redação da Folha de S.Paulo, escreveu Queda Livre (Companhia das Letras) eSeleção Natural (Publifolha)]

Acre: o momento decisivo de Rio Branco - Rubens Ricupero


Vocação acreana para o Pacífico

O Acre tem um defensor de sua história e nem sabe disso. Atualmente, Rubens Ricupero é um dos estudiosos mais especializados nos embates e disputas no campo diplomático que resultaram no ...
O Acre tem um defensor de sua história e nem sabe disso. Atualmente, Rubens Ricupero é um dos estudiosos mais especializados nos embates e disputas no campo diplomático que resultaram no Tratado de Petrópolis.
E falar sobre isso é conhecer em detalhes as estratégias de José Maria da Silva Paranhos, o Barão de Rio Branco. Com intenso trabalho de pesquisa, Ricupero já pode ser considerado um biógrafo do Barão, com mais um livro que deve ser publicado em breve. Em “O Acre - Momento Decisivo de Rio Branco”, ainda sem editora, apresenta de maneira concisa um dos momentos mais importantes da diplomacia brasileira.
Diplomata de carreira, ministro dos governos Tancredo, Sarney e Itamar Franco, ele foi, durante 10 anos, secretário geral da Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio de Desenvolvimento), em Genebra. Hoje, é diretor da Faculdade de Economia e Relações Internacionais da FAAP e esteve no Acre a convite do prefeito de Rio Branco, Raimundo Angelim, para participar das atividades da Escola de Gestão do município.
Por que o Acre chama tanta atenção quando se estuda a diplomacia brasileira?
O Acre não possui uma questão de fronteiras como outras. Ele é um caso único e incomparável. Excepcional.
Por que?
Em todas as três Américas, o único episódio remotamente parecido é o do Texas, com a diferença que lá terminou com uma guerra em que o México acabou perdendo metade do território. E aqui, terminou com uma negociação que permitiu manter a paz. Outra diferença: o Acre era a única questão de fronteira do Brasil em que o Brasil admitia que a soberania era boliviana.
Tomamos o território por uma decisão diplomática?
Nos outros casos todos, o Brasil partiu do princípio de que o território era brasileiro. Aqui no Acre, não. Todos os ministros, do Império e da República, diziam que o Acre era boliviano. Essa diferença era fundamental. Outra diferença do caso daqui era que o Acre já estava povoado por brasileiros e era sede de uma das mais importantes atividades econômicas do século que era a extração e comercialização da borracha. Em todos os seringais, tinha-se investido 700 milhões de mil réis que eram equivalentes, na época, o equivalente a 43 milhões de libras esterlinas. Isso é mais de 20 vezes o que o Brasil vai pagar à Bolívia [2 milhões de libras esterlinas]. A Questão do Acre também se diferencia porque havia multiplicidade de países envolvidos: as pretensões do Peru não era poucas. Iam até Manaus. Outra coisa fundamental que diferencia o Acre: a opinião pública estava favorável à causa dos sublevados.
E o apoio do Amazonas nesse processo?
Pouca gente se dá conta disso. Houve participação do Pará também, mas o Amazonas teve participação importante. Isso não se gosta de dizer, mas as insurreições foram financiadas, armadas pelo Amazonas. Eles achavam que o Acre era parte do seu território. O Governo Federal reconhecia a soberania boliviana. Era contra essa ação do Amazonas que disfarçava o apoio por recear uma intervenção federal. Tudo isso junto, torna essa peça o maior desafio que o Rio Branco teve.
Se o Governo Federal reconhecia a soberania, por que o interesse diplomático?
A discussão não era sob argumentos geográficos. Barão do Rio Branco se torna ministro de Rodrigues Alves que tomou posse em 15 de novembro de 1902, quando a insurreição do Plácido de Castro estava em pleno vigor. A situação estava grave. O presidente da Bolívia, general José Manoel Pando, anunciou que iria marchar para o Acre. Nesse momento era que os bolivia-nos iriam reagir de fato.
Como o Barão de Rio Branco se diferenciou dos demais diplomatas que o antecederam?
Antes dele, os ministros não tinham querido nunca considerar que havia litígio entre Brasil e Bolívia. E isso enfraquecia a causa brasileira. Rio Branco não inventou a ideia de comprar o território ou dar de permuta uma parte do território brasileiro ou pagar os investidores do consórcio [Bolivian Sindicate, uma reunião de capitalistas com interesses econômicos na região que mais produzia borracha no país]. Essas ideias já tinham sido tentadas. Mas, o governo brasileiro não tinha uma estratégia. Se se não reconhecia o litígio, isso enfraquecia muito os argumentos do Brasil. A grande originalidade do Rio Branco foi declarar litigioso o território. E depois, é separar os adversá-rios. Ele exclui os peruanos da negociação. Ele neutraliza o Peru e os banqueiros do Rotchild. Com isso, a Bolívia estava isolada na negociação.
A estratégia dele foi provocar tensão para tentar uma reação da Bolívia?
Os bolivianos cometem dois erros capitais. O primeiro é a assinatura da concessão ao consórcio e o segundo é o anúncio de que vão mandar tropas. A diplomacia é um xadrez. Você move uma peça e o teu adversário outra. Os bolivianos tomaram a decisão infeliz de arrendar o território. Isso tira legitimidade da causa boliviana. Fica patente, por exemplo, que a Bolívia estaria disposta a deixar entrar na região uma ponta do imperialismo americano. Os países da região reagem e, no Brasil, isso galvaniza. E pressiona o Governo Federal a sair de sua paralisia.
Isso sem contar a decisão da Bolívia de radicalizar em plena negociação...
Aí complicou mais. Quando se inicia a negociação no Rio de Janeiro e chega a notícia de que o general Pando vai adiantar as tropas. Isso desencadeia uma reação forte do governo brasileiro que reforçou a presença militar na região. A Questão do Acre tem um caráter refundador da política externa.
Como assim?
A última fase diplomacia do Império levou o país a muitos conflitos, com intervenções no Uruguai, Argentina e, por último, o episódio do Paraguai. A República resolveu romper com essa tradição de conflito e queria cultivar o que os Positivistas chamavam de A Fraternidade das Pátrias Americanas. E o grande momento que essa fraternidade foi ameaçada foi na Questão do Acre. Das obras de Rio Branco, o Tratado de Petrópolis foi a mais importante.
Atualmente, o que as novas configurações na esfera econômica aqui no Acre exigem da diplomacia?
O Acre nasceu em função de uma conjuntura internacional. É, talvez, o estado brasileiro mais internacionalizado. A sua existência vem de um problema que é nacional. E o Acre, no futuro, vai ser marcado por essa vocação. Na medida em que os países do Pacífico se desenvolvem (e o Peru é um dos que mais cresce na região) e perdem o complexo de inferioridade que tinham, o Acre vai ter a vocação de desenvolver os laços com a costa do Pacífico. Cada vez mais o Acre precisa ser dotado de autorização para poder desenvolver uma negociação direta com as zonas limítrofes, seja na área da economia ou da Cultura.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

China "socialista" cobra ambiente para investimentos do Brasil capitalista

Esta é sem dúvida inédita nos anais da história do capitalismo. A China está cobrando do Brasil um melhor ambiente de negócios para poder fazer investimentos capitalistas no país.
Parece que os socialistas somos nós...
Paulo Roberto de Almeida 

China cobra do governo melhora do ambiente de negócios no país

Carga tributária elevada e complexa dificulta a entrada e a ampliação dos investimentos chineses no Brasil

Simone Cavalcanti, de Pequim

Brasil Econômico, 13/06/2012



A subdiretora do Departamento de Américas do Ministério do Comércio chinês, Xu Yingzhen, fez duras críticas ao ambiente de negócios no Brasil e às investidas antidumping do governo brasileiro contra seu país. Para ela, muito embora esteja havendoumaperspectiva positiva a respeito de futuros investimentos e da instalação de empresas chinesas no país, a complexidade do sistema tributário e a elevada carga de impostos são problemas muito reportados ao governo local pelas companhias que buscam o solo verdeamarelo como mais um lugar de sua estratégia de internacionalização. Além disso, afirmou, o processo de obtenção de vistos de trabalho para chineses têm demorado muito, o afeta o funcionamento de muitas empresas.

“Esperamos que o ambiente de investimentos do Brasil seja mais transparente, estável e mais aberto”, disse. “Há o problema do sistema tributário complexo, pois muitas de nossas empresas enfrentam a questão de que em todos os estados a lei para os tributos é diferente e isso geralmente afeta a operação”, disse, ressaltando que as autoridades chinesas estão em negociação com o governo federal brasileiro, além dos governos estaduais para tentar solucionar esse tipo de dificuldade.

No entanto, mostrou-se otimista afirmando que os investimentos chineses devem seguir a tendência de alta pelos próximos anos. Não apenas porque seus parceiros tradicionais, como Estados Unidos e países da União Europeia, estão em dificuldades para reanimar sua atividade, mas porque as companhias chinesas estão vendo a economia brasileira com muita vitalidade e tem acreditado nos esforços do governo de que manterá um nível de crescimento mais alto que a média mundial.

Porém, a subdiretora afirmou que não poderia quantificar o volume a ser investido porque essa decisão cabe somente às empresas. Para ter uma ideia, em 2011, o investimento chinês na América Latina foi em torno de US$ 10 bilhões, o que equivaleu a 16,8% do total da China no mundo. “Sempre incentivamos que as empresas chinesas invistam no Brasil gerando emprego. Ao mesmo tempo, temos interesse que venham empresas brasileiras para China.”

Comércio
Xu Yingzhen mostrou-se insatisfeita também com o crescimento de ações antidumping do Brasil contra a China. Afirmou que o país fica apenas atrás da Argentina no número de casos dentro da América Latina. Nos últimos dois anos, o governo brasileiro de fato intensificou a defesa comercial cercando, inclusive, triangulações de produtos chineses que entravam ilegalmente pelo Uruguai. A elevação pode ser explicada porque, cada vez mais, as relações comerciais têm se intensificado. No ano passado, segundo ela, o volume de trocas entre seu país e a região cresceu 31,5%, chegando a US$ 241,5 bilhões e, em sua maior parte justamente para o Brasil e a Argentina.

A subdiretora fez questão de ressaltar o incômodo do governo chinês com relação às medidas protecionistas argentinas para barrar as importações. Assim como reclama o Brasil, a China também tem visto suas mercadorias paradas nos portos sem permissão para ingressar naquele mercado. “Temos recebido muitas queixas de prejuízos às empresas. Essas medidas aumentarama instabilidade dos negócios e cremos que violam as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC)”, afirmou.

A representante do governo chinês disse ainda que espera ver o compromisso assumido pelo então presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e pelo argentino Néstor Kirchner de reconhecer a China como economia de mercado, o que não ocorreu formalmente até hoje. 

Ninguem tem medo do ridiculo? - Rio+2.000? ($$$)

Confesso que eu tenho medo do ridículo, não por mim, mas pelo país, em face de tantos visitantes estrangeiros e de alguns (poucos) chefes de Estado, devidamente espoliados pela esperteza nacional.
Mais ridículo ainda seria pagar muito para obter muito pouco, uma simples declaração, que depois pode ser esquecida na gaveta...


Entendimento do Itamaraty é de que da Rio+20 deve sair apenas uma declaração conjunta (leia mais)

Redes Sofitel e Othon podem proibir check in até de chefes de Estado se o Itamaraty não confirmar os pagamentos das reservas pela Terramar Viagens e Turismo. Por Leandro Mazzini  (leia mais)

Historiadores exageram nas analogias - Niall Ferguson e Nouriel Roubini

Mesmo historiadores sensíveis, como Niall Ferguson, e economistas sensatos, como Nouriel Roubini (mas ele já cometeu algumas impropriedades, ao acreditar que Marx estava certo ao prever as crises capitalistas), podem se deixar fascinar por falsas analogias da história.
Todos, na verdade, são tentados a comparar a crise atual com a de 1929, que por sua vez deslanchou a crise bancária de 1931 e precipitou o mundo na grande depressão dos anos 1930.
Os dois autores deste artigo, aliás interessante, acreditam que a atual crise bancária europeia poderia levar para a ruptura da democracia na região, o que não só é totalmente falso, como francamente ridículo.
Enfim, eles têm direito de fazerem as analogias que desejam, mas existem regras para isso, e devemos comparar o que é comparável.
Ora, a Europa atual, e o capitalismo de nossos dias, assim como o papel dos Estados, e dos bancos centrais, são totalmente diferentes do que tínhamos nos anos 1920 e 30.
Em todo caso, vale a leitura, se deixarmos de lado esses alertas totalmente desprovidos de fundamento.
Paulo Roberto de Almeida 


 

The Perils of Ignoring HistoryThis Time, Europe Really Is on the Brink

FROM DER SPIEGEL
  • The article you are reading originally appeared in German in issue 24/2012 (June 11, 2012) of DER SPIEGEL.

People line up outside the Postscheckamt in Berlin to withdraw their deposits in July 1931. The 1931 European banking crisis contributed directly to the breakdown of democracy.Zoom
DPA
People line up outside the Postscheckamt in Berlin to withdraw their deposits in July 1931. The 1931 European banking crisis contributed directly to the breakdown of democracy.
The European Union was created to avoid repeating the disasters of the 1930s, but Germany, of all countries, has failed to learn from history. As the euro crisis escalates, Berlin should remember how the banking crisis of 1931 contributed to the breakdown of democracy across Europe. Action is urgently needed to stop history from repeating itself.
Is it one minute to midnight in Europe?
The failure of German public opinion to grasp the dire state of affairs in Europe today is inviting a repeat of precisely the crisis of the mid 20th century that European integration was designed to avoid.
With every increase in the probability of a disorderly Greek exit from the monetary union, the pressure on the Spanish banks increases and with it the danger of a Mediterranean-wide bank run so big that it would overwhelm the European Central Bank. Already there has been a substantial re-nationalization of the European financial system. This centrifugal process could easily continue to the point of complete disintegration.
We find it extraordinary that it should be Germany, of all countries, that is failing to learn from history. Fixated on the non-threat of inflation, today's Germans appear to attach more importance to the year 1923 (the year of hyperinflation) than to the year 1933 (the year democracy died). They would do well to remember how a European banking crisis two years before 1933 contributed directly to the breakdown of democracy not just in their own country but right across the European continent.
Astonishingly few Europeans (including bankers) seem to remember what happened in May 1931 when Creditanstalt, the biggest Austrian bank, had to be bailed out by a government that was itself on the brink of insolvency. The ensuing European bank crisis, which saw the failure of two of Germany's biggest banks, ushered in the second half of the Great Depression. If the first half had been dominated by the American stock market crash, the second was all about European banks going bust.
What happened next? The banking crisis was followed by President Hoover's one-year moratorium on payment of World War I war debts and reparations. Nearly all sovereign borrowers subsequently defaulted on all or part of their external debts, beginning with Germany. Unemployment in Europe reached an agonizing peak in 1932: In July of that year, 49 per cent of German trade union members were out of work.
The political consequences are well known. But the Nazis were only the worst of a large number of extremist movements to benefit politically from the crisis. "Anti-system" parties in Germany -- including Communists as well as fascists -- had won 13 percent of votes in 1928. By November 1932, they won nearly 60 percent. The far right also fared well in Austria, Belgium, Czechoslovakia, Hungary and Romania. Communists gained in Bulgaria, France and Greece.
The result was the death of democracy in much of Europe. While 24 European regimes had been democratic in 1920, the number was down to 11 in 1939. Even bankers know what happened that year.
Those of us who repeatedly warned in the 1990s that the experiment of monetary union would end badly would be gloating now -- if we were not so troubled by the prospect of history repeating itself.
Losing Faith
What is the situation today? Europe's periphery is in depression. According to the IMF, gross domestic product will contract this year by 4.7 percent in Greece and 3.3 percent in Portugal. Unemployment is 24 percent in Spain, 22 percent in Greece and 15 percent in Portugal. Public debt already exceeds 100 percent of GDP in Greece, Ireland, Italy and Portugal. These countries, along with Spain, are now effectively shut out of the bond market.
Now comes the banking crisis. We have warned for more than three years that continental Europe needed to clean up its banks' woeful balance sheets. Next to nothing was done. In the meanwhile, a silent run on the banks of the euro zone periphery has been underway for two years now: cross-border, interbank and wholesale funding has rolled off and been substituted with ECB financing; and "smart money" -- large uninsured deposits of high net worth individuals -- has quietly exited Greek and other "Club Med" banks.
But now the public is finally losing faith and the silent run may spread to smaller insured deposits. Indeed, if Greece were to exit, a deposit freeze would occur and euro deposits would be converted into new drachmas: so a euro in a Greek bank really is not equivalent to a euro in a German bank. Greeks have withdrawn more than €700 million ($875 million) from their banks in the past month.
More worryingly, there was also a surge of withdrawals from some Spanish banks last month. On a recent visit to Barcelona, one of us was repeatedly asked if it was safe to leave money in a Spanish bank. This kind of process is potentially explosive. What today is a leisurely "bank jog" could easily become a sprint for the exits. Indeed, a full run on other PIIGS banks would be impossible to avoid in the event of a Greek exit. Rational people would ask: Who is next?
In the meantime, the credit crunch in the euro-zone banks on the periphery remains severe as banks -- unable to achieve the new 9 percent capital targets by raising private capital -- are selling assets and contracting credit, thus making the euro-zone recession more severe. Fragmentation and balkanization of banking in the euro zone, together with domestication of public debt, is now well underway.
The process of political fragmentation is also speeding up. In the last Greek elections, seven in 10 voters cast their ballots for smaller parties opposed to the austerity program imposed on Greece in return for two EU-led bailouts. Established parties are also losing out to splinter parties in Italy, where the comedian Beppe Grillo's Five Star Movement has just won control of the city of Parma, and in Germany, where a maverick party called the Pirates is all the rage. Less frivolous populists now have substantial support in France, the Netherlands and Norway. This trend is ominous.
Reducing Moral Hazard
The way out of this crisis seems clear.
First, there needs to be a program of direct recapitalization -- via preferred non-voting shares -- of euro-zone banks both in the periphery and the core by the European Financial Stability Facility (EFSF) and its successor the European Stability Mechanism (ESM). The model should be the US's successful Troubled Asset Relief Program (TARP).
The current approach of recapping the banks by the sovereigns borrowing from domestic bond markets -- and/or the EFSF -- has been a disaster in Ireland and Greece. It has led to a surge of public debt and made the sovereign even more insolvent while making banks more risky as an increasing amount of the debt is in their hands.
Direct capital injections would bypass the sovereign and avoid the surge in public debt. In practice, the euro-zone taxpayer would become a shareholder in euro-zone banks and the current balkanization of banking would be partially reversed. This might also help overcome the political resistance to cross-border mergers and acquisitions in coddled domestic banking systems.
Of course, over time, sound banks that restore capital through earnings would be able to buy back the public preferred shares. So this partial nationalization would be temporary.
Second, to avoid a run on euro-zone banks -- a certainty in the case of a "Grexit" and likely in any case -- a EU-wide system of deposit insurance needs to be created.
To reduce moral hazard (and the equity and credit risk undertaken by euro-zone taxpayers through the recap and the deposit insurance scheme), several additional measures should also be implemented:
  • The deposit insurance scheme has to be funded by appropriate bank levies: This could be a financial transaction tax or, better, a levy on all bank liabilities -- both deposits and other debt claims.
  • To limit the potential losses for euro-zone taxpayers, there needs to be a bank resolution scheme in which unsecured creditors of banks -- both junior and senior -- would take a hit before taxpayer money is used to cover bank losses.
  • Measures to limit the size of banks to avoid the too-big-to-fail problem need to be undertaken. In the case of Bankia, the merger of seven smaller caixas merely created a bank that was too big to fail.
  • We also favor an EU-wide system of supervision and regulation. If the euro-zone taxpayer backstops the capital and deposits of euro-zone banks, then supervision and regulation cannot remain at the national level, where political distortions lead to less than optimal oversight of banks.
True, European-wide deposit insurance will not work if there is a continued risk of a country leaving the euro zone. Guaranteeing deposits in euros would be very expensive as the exiting country would need to convert all euro claims into a new national currency, which would swiftly depreciate against the euro. On the other side, if the deposit insurance holds only if a country doesn't exit, it will be incapable of stopping a bank run. So more needs to be done to reduce the probability of euro zone exits.
Part 2: No Alternative to Debt Mutualization
Specifically, three actions are needed:

  • Fiscal austerity policies should not be excessively front-loaded while structural reforms that accelerate productivity growth should be sped up.
  • Economic growth needs to be jump-started in the euro zone. Without growth, the social and political backlash against austerity will be overwhelming. Repaying debt cannot be sustainable without growth.
  • The policies to achieve this include further monetary easing by the ECB, a weaker euro, some fiscal stimulus in the core, more bottleneck-reducing and supply-stimulating infrastructure spending in the periphery (preferably with some kind of "golden rule" for public investment), and wage increases above productivity in the core to boost income and consumption.

Finally, given the unsustainably high public debts and borrowing costs of certain member states, we see no alternative to some kind of debt mutualization.
There are currently a number of different proposals for euro bonds. Among them, the German Council of Economic Experts' proposal for a European Redemption Fund (ERF) is to be preferred -- not because it is the optimal one but rather because it is the only one that can assuage German concerns about taking on too much credit risk.
The ERF is a temporary program that does not lead to permanent euro bonds. It is supported by appropriate collateral and seniority for the fund and has strong conditionality. The main risk is that any proposal that is acceptable to Germany would imply such a loss of national fiscal policy sovereignty that it would be unacceptable to the euro-zone periphery, particularly Italy and Spain.
Giving up some sovereignty is inevitable. However, becoming subject to a "neo-colonial" submission of one's fiscal policy to Germany -- as a senior periphery leader put it to us at a recent meeting of the Nicolas Berggruen Institute (NBI) in Rome -- is not acceptable.
Not Optional
Until recently, the German position has been relentlessly negative on all such proposals. German officials have repeatedly opposed the direct recapitalization of troubled banks. Chancellor Merkel has consistently ruled out euro bonds. Some German spokesmen have made it sound as if they actually want a Greek exit from the euro zone. Others have been over-eager to impose the same fiscal regime on Spain as has already been imposed on Portugal.
We understand German concerns about moral hazard. Putting German taxpayers' money on the line will be hard to justify if meaningful reforms do not materialize on the periphery. But such reforms are bound to take time. Structural reform of the German labor market was hardly an overnight success. By contrast, the European banking crisis is a financial hazard that could escalate in a matter of days.
We have tried to come up with proposals that address German anxieties. But we want to emphasize that action is urgently needed. Germans must understand that bank recapitalization, European deposit insurance and debt mutualization are not optional. They are essential steps to avoid an irreversible disintegration of Europe's monetary union. If Germans are still not convinced, they must understand that the costs of a breakup of the euro zone would be astronomically high -- for themselves as much as for anyone.
After all, Germany's current prosperity is in large measure a consequence of monetary union. The euro has given German exporters a far more competitive exchange rate than the old deutsche mark would have. And the rest of the euro zone remains the destination for 42 percent of German exports. Plunging half of that market into a new Depression can hardly be good for Germany.
Ultimately, as Chancellor Merkel herself acknowledged last week, monetary union always implied further integration into a fiscal and political union.
But before Europe gets anywhere near taking this historical step, it must first of all show that it has learned the lessons of the past. The EU was created to avoid repeating the disasters of the 1930s. It is time Europe's leaders -- and especially Germany's -- understood how perilously close they are to doing just that.