O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

O stalinismo redivivo: um Gulag virtual vai sendo montado no cerrado central... - Augusto Nunes

Agusto Nunes, Thu, 29 Aug 2013 02:01:33 +0000

Oficialmente, o diplomata Luiz Alberto Figueiredo deixou a chefia da representação brasileira na ONU para tornar-se ministro das Relações Exteriores e Antonio Patriota deixou o cargo de ministro das Relações Exteriores para chefiar a representação na ONU. Na prática, nada mudou. O chanceler era Marco Aurélio Garcia. E chanceler continua, berram os desdobramentos da operação que livrou o senador boliviano Roger Pinto Molina do cativeiro na embaixada em La Paz.
Disfarçado há mais de dez anos de “Assessor Especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais”, Garcia fazia e desfazia já nos tempos em que Celso Amorim caprichava na pose de chanceler. Com a transferência do Pintassilgo do Planalto para o Ministério da Defesa, a boca à espera de um dentista passou a reinar sem concorrentes no governo Dilma Rousseff. A presidente e seu conselheiro sonham com uma América bolivariana. E não admitem que algum subordinado ouse desafiar ou desobedecer companheiros de lutas revolucionárias.
Foi o que fez o diplomata Eduardo Saboia com Evo Morales ao libertar o senador enclausurado havia 455 dias na representação em La Paz. Por ter ouvido a voz da razão, o ministro conselheiro da embaixada na Bolívia será investigado por uma comissão de sindicância formada pela Controladoria Geral da União. Presidida por Dionísio Carvalho Barbosa, auditor da Receita Federal e assessor da CGU, a comissão seria completada pelos embaixadores Clemente de Lima Baena e Glivânia Maria de Oliveira.
Os dois recusaram a missão quando souberam das instruções do Planalto. “O Saboia deve ser moído”, revelou a esta coluna uma fonte com acesso ao gabinete presidencial. Para manter as aparências, Garcia ditou a declaração do novo ministro Luiz Alberto Figueiredo: “Houve uma recomendação da CGU, que é quem preside a comissão, de que seria melhor que eles não fossem os nomes escolhidos pelo Itamaraty porque eles, de alguma forma, tem alguma ligação com o tema. Nós escolhemos outros dois colegas e portanto não vai haver nenhum tipo de atraso na sindicância”.

Os substitutos são os diplomatas Rodrigo Amaral e Paulo Estivalet. Ambos terão de escolher entre a dignidade e a desonra.

=======
E a ofensiva já começou: a direita orquestrou tudo, obviamente...

Boletim diário da Conjuntura da Fundação Perseu Abramo, 28/08/2013:

Dilma condena ação de diplomata brasileiro e rejeita comparação de Embaixada com DOI-CODI:
A presidenta Dilma Rousseff fez duras críticas na terça-feira, 27, à ação do diplomata brasileiro Eduardo Saboia, que havia comparado a situação do senador boliviano Roger Pinto a de um prisioneiro do Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) na época da ditadura militar. Segundo Dilma, “é tão distante a embaixada brasileira lá em La Paz como é distante o céu do inferno”, citando sua própria experiência no presídio da ditadura militar. Ainda segundo Dilma, ao trazer Roger Pinto para o Brasil sem autorização do governo boliviano e sem o conhecimento do governo brasileiro, Saboia arriscou a vida do senador, além de cometer uma quebra de hierarquia inaceitável na diplomacia brasileira. O senador boliviano, proprietário de terras na fronteira do Acre, é considerado o porta-voz do agronegócio boliviano. Opositor ferrenho de Evo Morales, o senador acumula processos de desvio de verbas e corrupção quando governou a província de Pando, além de ser acusado de venda de terras públicas a estrangeiros e favorecimento de jogos ilegais. A acusação mais grave que paira sobre ele é a de participação no massacre de 13 indígenas na província de Pando em 2008.
Comentário: A ação de Saboia, possivelmente orquestrada com o ex-embaixador brasileiro na Bolívia, Marcel Biato, revela uma manobra “oposicionista” dentro do corpo do Estado Brasileiro, imediatamente apoiada pela direita nacional. As ligações de Pinto com agentes da inteligência norte-americana, denunciadas pela revista Carta Capital, revelam o papel do senador ruralista como representante dos interesses americanos para desestabilizar o governo Morales. Sua aceitação como asilado político foi um grave erro da diplomacia brasileira, pois desconsidera a soberania da justiça boliviana, que julga denuncias gravíssimas contra o senador. As justificativas para a arriscada fuga são ainda menos plausíveis de aceitação, dado que um homem com “saúde frágil” e claro risco de morte não poderia ser submetido a uma longa viagem de automóvel como ocorreu.

A diplomacia estudantil, segundo Elio Gaspari

Elio Gaspari
 O Globo, 28.08.2013

A doutora Dilma tem dois chanceleres, um no Planalto e outro no Itamaraty. Apesar disso, restou ao Brasil uma diplomacia trapalhona, cenográfica e inepta. A desova do senador Roger Pinto no território brasileiro transformou uma conduta inamistosa do governo da Bolívia numa estudantada brasileira. Custou o lugar ao chanceler Antonio Patriota. Ele vai para Nova York, mas o comissário Luis Inácio Adams continua advogado-geral da União.
O doutor sustentou que, caso um médico cubano peça asilo territorial no Brasil, será devolvido a Cuba. Agradando ao aparelho dos irmãos Castro, ofendeu a História do país e o Direito.
No ano passado o Brasil meteu-se noutra estudantada, expulsou o Paraguai do Mercosul e agora corteja seu governo. É uma diplomacia de palavrório e negócios. Patriota foi um detalhe.
A ideia segundo a qual o encarregado de negócios do Brasil em La Paz contrabandeou o senador até a fronteira com o Brasil porque se apiedou de seu estado emocional é pueril. Se os embaixadores começassem a ser orientados pelos seus sentimentos, seria melhor fechar a Casa.
A boa norma determina que um governo dê o salvo-conduto a um asilado em algumas semanas. No exagero, alguns meses. O presidente Evo Morales não quis fazer isso. Direito dele.
O ex-presidente peruano Haya de la Torre ralou cinco anos numa sala da embaixada da Colômbia em Lima. O cardeal Jozef Mindszenty, outros quinze na embaixada dos Estados Unidos (que não são signatários das convenções de asilo diplomático) na Hungria.
Se alguém pensou que combinou a fuga com Evo Morales, fez papel de bobo e transformou o algoz em vítima. Transferiu o vexame para o diplomata Eduardo Saboia, deixando-o numa posição de franco-atirador.
Coisa parecida, fez no mundo dos negócios, quando transferiu para o embaixador do Brasil em Cingapura uma transação meio girafa que favorecia os interesses do empresário Eike Batista.
A maneira como a diplomacia de Lula e da doutora lidou com o instituto do asilo revela desrespeito histórico com um mecanismo que protegeu centenas de brasileiros perseguidos por motivos políticos. Ele ampara gregos e troianos.
Em 1964, brasileiros asilaram-se na embaixada boliviana. Anos depois oficiais golpistas bolivianos asilaram-se na embaixada brasileira e o governo esquerdista do general Juan José Torres deu-lhes salvo-condutos em 37 dias.
Carlos Lacerda asilou-se por alguns dias na embaixada de Cuba e João Goulart pediu asilo territorial ao Uruguai. Em poucos meses, o governo do marechal Castello Branco concedeu salvo-condutos a todos os asilados que estavam em embaixadas estrangeiras.
Já o do general Médici, vergonhosamente, fechou as portas de sua representação em Santiago nos dias seguintes ao golpe do general Pinochet e dezenas de brasileiros foram obrigados a buscar a proteção de outras bandeiras.
Contudo, nem mesmo Médici deportou estrangeiros para países onde poderiam ser constrangidos. Isso ocorreu durante a gestão do comissário Tarso Genro no Ministério da Justiça, com dois boxeadores cubanos que, posteriormente, voltaram a fugir da Ilha.
O direito de asilo é uma linda tradição. Não se deve avacalhá-lo.

Elio Gaspari é jornalista.

Brasil-Bolivia: Ex-chanceleres se dividem sobre a postura de Saboia

Ex-chanceleres se dividem sobre a postura de Saboia

ISABEL FLECK
DE SÃO PAULO
Folha de S.Paulo, 28/08/2013
Ato grave de insubordinação ou escolha louvável diante de uma "situação-limite"?
Mesmo diplomatas mais experientes e ex-chanceleres se dividem quanto à decisão do então encarregado de negócios da embaixada em La Paz, Eduardo Saboia, de trazer, à revelia de Brasília, o senador Roger Pinto, que estava asilado na representação para o país havia 15 meses.
Para Celso Lafer, chanceler por duas vezes --em 1992 e entre 2001 e 2002--, é preciso avaliar a ação de Saboia diante do que se havia instaurado na embaixada.
"O que ele sentiu é que cabia a ele assumir as responsabilidades, não se ver burocraticamente cumprindo ordens ou deixando de tomar uma atitude que, na sua avaliação, poderia ter consequências graves", opina.
Rubens Ricupero, que foi embaixador em Washington, considera que Saboia agiu "até de uma maneira nobre" e que há "valores que se sobrepõem à hierarquia funcional".
"É raro no Itamaraty funcionários que agem pela consciência", afirma Ricupero.
Para Rubens Barbosa, também ex-embaixador em Washington, foi uma atitude "insólita" pela quebra da hierarquia. "Foi uma atitude arriscada que deu certo."
O ex-chanceler Luiz Felipe Lampreia, porém, classifica o ato como "total insubordinação". "Se no Exército, no Itamaraty ou numa grande empresa cada um fizer o que tem vontade, vira uma bagunça."
Lampreia acredita que a decisão da presidente Dilma Rousseff de dispensar o chanceler Antonio Patriota após o episódio se justifica. "A presidente só vir a saber de uma situação grave como essa mais de 20 horas depois, há algo de errado aí."
=================

Membro de comissão criticada por Saboia desiste de investigá-lo

ISABEL FLECK
DE SÃO PAULO

O embaixador Clemente de Lima Baena Soares, chefe do Departamento da América do Sul do Itamaraty, desistiu de participar da comissão que investigará a conduta do colega Eduardo Saboia --responsável por trazer o senador boliviano Roger Pinto Molina ao Brasil sem aval do ministério.
O motivo alegado foi "ter interesse direto ou indireto" no tema. Soares fazia parte da comissão Brasil-Bolívia criada para discutir o caso do senador --grupo que teve seu trabalho criticado por Saboia.
Patriota se disse responsável pela saída de senador da Bolívia
Senador poderá ir ao Uruguai antes de obter refúgio no Brasil
Ex-chanceleres se dividem sobre a postura de Saboia

Em entrevista à Folha anteontem, o ex-encarregado de negócios da embaixada em La Paz disse que a negociação com a Bolívia, por meio da comissão, era um "faz de conta". "Tenho os e-mails das pessoas dizendo 'a gente sabe que é um faz de conta, eles fingem que negociam e a gente finge que acredita'", disse.
Procurado pela reportagem, Saboia não quis se pronunciar sobre a indicação de Soares para investigá-lo. A comissão de sindicância determinará sua punição.
A embaixadora Glivânia Maria de Oliveira, diretora do Departamento de Organismos Internacionais, também se recusou a investigar Saboia, mas suas razões não estavam claras até ontem. Ela e Soares tinham sido indicados pelo corregedor do ministério, Heraldo Póvoas de Arruda.
Horas depois de terem os nomes publicados no Diário Oficial, declararam-se "impedidos" de participar.
Segundo o Itamaraty, o corregedor nomeará uma nova comissão "tão logo possível". O assessor-especial da Controladoria-Geral da União Dionísio Carvalhedo Barbosa deve seguir presidindo o grupo.
=================
28/08/2013 - 03h20

Patriota se disse responsável pela saída de senador da Bolívia


FERNANDA ODILLA
DE BRASÍLIA
Tão logo soube que o senador boliviano Roger Pinto Molina entrara no Brasil, Dilma Rousseff quis saber quem fora o responsável pela operação que abriu uma crise no Ministério das Relações Exteriores e derrubou o chanceler Antonio Patriota.
Foi o chanceler quem disse à presidente, por telefone, que o boliviano havia entrado no país. A Folha apurou que Dilma e Patriota se falaram no sábado. O tom da conversa entre os dois teria sido tenso.
Senador poderá ir ao Uruguai antes de obter refúgio no Brasil
Ex-chanceleres se dividem sobre a postura de Saboia
Membro de comissão criticada por Saboia desiste de investigá-lo

Patriota estava no aeroporto de Guarulhos (SP), prestes a embarcar para a Finlândia, e, segundo relatos, parecia incomodado. Fez vários telefonemas e avisou que poderia ter de voltar para Brasília.
Uma das ligações foi para um funcionário do Itamaraty, que confirmou que o senador havia entrado no país após passar 455 dias na embaixada em La Paz.
Patriota teria demonstrado surpresa e apreensão com a notícia. Imediatamente pediu a um assessor para que o colocasse em contato com a presidente. A primeira tentativa, contudo, foi frustrada.
Ele telefonou então para o chanceler da Bolívia, David Choquehuanca, informando que acabara de saber da retirada do senador oposicionista.
Na conversa, teria dito que havia sido uma decisão de um funcionário da embaixada devido às condições de saúde do senador. Prometeu que providências seriam tomadas pelo governo brasileiro.
Em seguida, Patriota falou com Dilma. Apesar de afirmar que a condição de saúde do senador era séria, disse que a decisão não fora tomada em Brasília.
Dilma quis saber quem planejara a operação. Patriota apontou o encarregado de negócios, Eduardo Saboia, mas se responsabilizou pela retirada do oposicionista, uma vez que havia sido ele que indicara Saboia para o cargo.
Patriota voltou então à capital federal.
No dia seguinte, o Itamaraty divulgou nota citando Saboia e anunciando que uma investigação interna seria aberta para apurar o caso.
Na segunda-feira, Patriota deixou o cargo e foi indicado para representar o Brasil na ONU. O senado precisará sabatiná-lo.

This Day in History: "I Have a Dream" speech, by Martin Luther King

On This Day: August 28

Updated August 27, 2013, 2:28 PM

Go to Index »

On Aug. 28, 1963, 200,000 people participated in a peaceful civil rights rally in Washington, D.C., where Dr. Martin Luther King Jr. delivered his "I Have a Dream" speech in front of the Lincoln Memorial.

200,000 March for Civil Rights in Orderly Washington Rally; President Sees Gain for Negro



ACTION ASKED NOW

10 Leaders of Protest Urge Laws to End Racial Inequity

By E. W. KENSWORTHY
Special to THE NEW YORK TIMES

RELATED HEADLINES

President Meets March Leaders: Says Bipartisan Support Is Needed for Rights Bill

'I Have a Dream...': Peroration by Dr. King Sums Up a Day the Capital Will Remember

Congress Cordial but Not Swayed: Leaders of March Pay Calls of Courtesy at Capitol

Capital Is Occupied by a Gentle Army

OTHER HEADLINES

U.S. Presses U.N. to Condemn Syria on Israeli Deaths: Stevenson Deplores Killing of Youths -- Thant Assures Council on Cease-Fire

Kennedy Signs Bill Averting a Rail Strike: Precedent Is Set: Arbitration Imposed by Congress -- Vote in House 286-66

U.S. Spurns Denial of Diem on Crisis: Absolves the Army Again in Vietnam Pagoda Raids and Points Toward Nhu

8 Dead in Utah Mine; Fate of 15 Unknown

Lodi Killer Slain; 2d Man Gives Up: Ex-Convict Is Shot 7 Times in a Midtown Hotel

2 Girls Murdered in E. 88th St. Flat

Washington, Aug. 28 -- More than 200,000 Americans, most of them black but many of them white, demonstrated here today for a full and speedy program of civil rights and equal job opportunities.

It was the greatest assembly for a redress of grievances that this capital has ever seen.

One hundred years and 240 days after Abraham Lincoln enjoined the emancipated slaves to "abstain from all violence" and "labor faithfully for reasonable wages," this vast throng proclaimed in march and song and through the speeches of their leaders that they were still waiting for the freedom and the jobs.

Children Clap and Sing

There was no violence to mar the demonstration. In fact, at times there was an air of hootenanny about it as groups of schoolchildren clapped hands and swung into the familiar freedom songs.

But if the crowd was good-natured, the underlying tone was one of dead seriousness. The emphasis was on "freedom" and "now." At the same time the leaders emphasized, paradoxically but realistically, that the struggle was just beginning.

On Capitol Hill, opinion was divided about the impact of the demonstration in stimulating Congressional action on civil rights legislation. But at the White House, President Kennedy declared that the cause of 20,000,000 Negroes had been advanced by the march.

The march leaders went from the shadows of the Lincoln Memorial to the White House to meet with the President for 75 minutes. Afterward, Mr. Kennedy issued a 400-word statement praising the marchers for the "deep fervor and the quiet dignity" that had characterized the demonstration.

Says Nation Can Be Proud

The nation, the President said, "can properly be proud of the demonstration that has occurred here today."

The main target of the demonstration was Congress, where committees are now considering the Administration's civil rights bill.

At the Lincoln Memorial this afternoon, some speakers, knowing little of the way of Congress, assumed that the passage of a strengthened civil rights bill had been assured by the moving events of the day.

But from statements by Congressional leaders, after they had met with the march committee this morning, this did not seem certain at all. These statements came before the demonstration.

Senator Mike Mansfield, of Montang, the Senate Democratic leader, said he could not say whether the mass protest would speed the legislation, which faces a filibuster by Southerners.

Senator Everett McKinley Dirksen of Illinois, the Republican leader, said he thought the demonstration would be neither an advantage nor a disadvantage to the prospects for the civil rights bill.

The human tide that swept over the Mall between the shrines of Washington and Lincoln fell back faster than it came on As soon as the ceremony broke up this afternoon, the exodus began. With astounding speed, the last buses and trains cleared the city by midevening.

At 9 P.M. the city was as calm as the waters of the Reflecting Pool between the two memorials.

At the Lincoln Memorial early in the afternoon, in the midst of a songfest before the addresses, Josephine Baker, the singer, who had flown from her home in Paris, said to the thousands stretching down both sides of the Reflecting Pool:

"You are on the eve of a complete victory. You can't go wrong. The world is behind you."

Miss Baker said, as if she saw a dream coming true before her eyes, that "this is the happiest day of my life."

But of all the 10 leaders of the march on Washington who followed her, only the Rev. Dr. Martin Luther King Jr., president of the Southern Christian Leadership Conference, saw that dream so hopefully.

The other leaders, except for the three clergymen among the 10, concentrated on the struggle ahead and spoke in tough, even harsh, language.

But paradoxically it was King--who had suffered perhaps most of all--who ignited the crowd with words that might have been written by the sad, brooding man enshrined within.

As he arose, a great roar welled up from the crowd. When he started to speak, a hush fell.

"Even though we face the difficulties of today and tomorrow, I still have a dream," he said.

"It is a dream that one day this nation will rise up and live out the true meaning of its creed: 'We hold these truths to be self-evident, that all men are created equal.'"

Dream of Brotherhood

"I have a dream..." The vast throng listening intently to him roared.

"...that one day on the red hills of Georgia, the sons of former slaves and the sons of former slave-owners will be able to sit together at the table of brotherhood.

"I have a dream..." The crowd roared.

"...that one day even the State of Mississippi, a state sweltering with the heat of injustice, sweltering with the heat of oppression, will be transformed into an oasis of freedom and justice.

"I have a dream..." The crowd roared.

"...that my four little children will one day live in a nation where they will not be judged by the color of their skin but by the content of their character.

"I have a dream..." The crowd roared.

"...that one day every valley shall be exalted, every hill and mountain shall be made low, the rough places will be made plain, and the crooked places will be made straight, and the glory of the Lord shall be revealed and all flesh shall see it together."

As Dr. King concluded with a quotation from a Negro hymn- "Free at last, free at last, thank God almighty"- the crowd, recognizing that he was finishing, roared once again and waved their signs and pennants.

But the civil rights leaders, who knew the strength of the forces arrayed against them from past battles, knew also that a hard struggle lay ahead. The tone of their speeches was frequently militant.

Roy Wilkins, executive secretary of the National Association for the Advancement of Colored People, made a plan that he and his colleagues thought the President's civil rights still did not go nearly far enough. He said:

"The President's proposals represent so moderate an approach that if any one is weakened or eliminated, the remainder will be little more than sugar water. Indeed, the package needs strengthening."

Harshest of all the speakers was John Lewis, chairman of the Student Nonviolent Coordinating Committee.

"My friends," he said, "Let us not forget that we are involved in a serious social revolution. But by and large American politics is dominated by politicians who build their career on immoral compromising and ally themselves with open forums of political, economic and social exploitation."

He concluded:

"They're talking about slowdown and stop. We will not stop.

"If we do not get meaningful legislation out of this Congress, the time will come when we will not confine our marching to Washington. We will march through the South, through the streets of Jackson, through the streets of Danville, through the streets of Cambridge, through the streets of Birmingham.

"But we will march with the spirit of love and the spirit of dignity that we have shown here today."

In the original text of the speech, distributed last night, Mr. Lewis said:

"We will not wait for the President, the Justice Department, nor the Congress, but we will take matters into our own hands and create a source of power, outside of any national structure, that could and would assure us a victory."

He also said in the original text that "we will march through the South, through the heart of Dixis, the way Sherman did."

It was understood that at least the last of these statements was changed as a result of a protest by the Most Rev. Patrick J. O'Boyle, Roman Catholic Archbishop of Washington, who refused to give the invocation if the offending words were spoken by Mr. Lewis.

The great day really began the night before. As a half moon rose over the lagoon by the Jefferson Memorial and the tall lighted shaft of the Washington Monument gleamed in the reflecting pool, a file of Negroes from out of town began climbing the steps of the Lincoln Memorial.

There, while the carpenters nailed the last planks on the television platforms for the next day the TV technicians called through the loudspeakers, "Final audio, one, two, three, four," a middle-aged Negro couple, the man's arm around the shoulders of his plump wife, stood and read with their lips:

"If we shall suppose that American slavery is one of the offenses which in the providence of God must needs come, but which having continued through His appointed time, He now wills to remove..."

The day dawned clear and cool. At 7 A.M. the town had a Sunday appearance, except for the shuttle buses drawn up in front of Union Station, waiting.

By 10 A. M. there were 40,000 on the slopes around the Washington Monument. An hour later the police estimated the crowd at 90,000. And still they poured in.

Because some things went wrong at the monument, everything was right. Most of the stage and screen celebrities from New York and Hollywood who were scheduled to begin entertaining the crowd at 10 did not arrive at the airport until 11:15.

As a result the whole affair at the monument grounds began to take on the spontaneity of a church picnic. Even before the entertainment was to begin, groups of high school students were singing with wonderful improvisations and hand-clapping all over the monument slope.

Civil rights demonstrators who had been released from jail in Danville, Va., were singing:

"Move on, move on. Till all the world is free."

And members of Local 144 of the Hotel and Allied Service Employes Union from New York City, an integrated local since 1950, were stomping:

"Oh, freedom, we shall not, we shall not be moved, Just like a tree that's planted by the water."

Then the pros took over, starting with the folk singers. The crowd joined in with them.

Joan Baez started things rolling with "the song" - "We Shall Overcome."

"Oh deep in my heart I do believe We shall overcome some day."

And Peter, Paul, and Mary sang "How many times must a man look up before he can see the sky."

And Odetta's great, full-throated voice carried almost to Capitol Hill: "If they ask you who you are, tell them you're a child of God."

Jackie Robinson told the crowd that "we cannot be turned back," and Norman Thomas, the venerable Socialist, said: "I'm glad I lived long enough to see this day."

The march to the Lincoln Memorial was supposed to start at 11:30, behind the leaders. But at 11:20 it set off spontaneously down Constitution Avenue behind the Kenilworth Knights, a local drum and bugle corps dazzling in yellow silk blazers, green trousers and green berets.

Apparently forgotten was the intention to make the march to the Lincoln Memorial a solemn tribute to Medgar W. Evers, N.A.A.C.P. official murdered in Jackson, Miss., last June 12, and others who had died for the cause of civil rights.

The leaders were lost, and they never did get to the head of the parade.

The leaders included also Walter P. Reuther, head of the United Automobile Workers; A. Philip Randolph, head of the American Negro Labor Council; the Rev. Dr. Eugene Carson Blake, vice chairman of the Commission on Religion and Race of the National Council of Churches; Mathew Ahmann, executive director of the National Catholic Conference for Interracial Justice; Rabbi Joachim Prinz, president of the American Jewish Congress; Whitney M. Young Jr., executive director of the National Urban League, and James Farmer, president of the Congress of Racial Equality.

All spoke at the memorial except Mr. Farmer, who is in jail in Louisiana following his arrest as a result of a civil rights demonstration. His speech was read by Floyd B. McKissick, CORE national chairman.

At the close of the ceremonies at the Lincoln Memorial, Bayard Rustin, the organizer of the march, asked Mr. Randolph, who conceived it , to lead the vast throng in a pledge.

Repeating after Mr. Randolph, the marchers pledged "complete personal commitment to the struggle for jobs and freedom for Americans" and "to carry the message of the march to my friends and neighbors back home and arouse them to an equal commitment and an equal effort."

Claudio Humberto: "política externa cabisbaixa e submissa"

PATRIOTA FEZ DO ASILO DE MOLINA UMA PRISÃO POLÍTICA
Coluna de Claudio Humberto, 27/08/2013
 
O ex-chanceler Antonio Patriota interrompeu só uma vez sua atitude omissa e acovardada, durante os 452 dias de asilo do senador Roger Pinto Molina. Ainda assim, para atormentar a vítima, em nome do “bolivarianismo”. Ele foi a La Paz tornar o asilo do perseguido do regime de Evo Morales uma “prisão política”, ordenando restrições a banho de sol, proibindo visitas e segregando-o a cubículo sem janela.

QUE VERGONHA
Segundo diplomatas, a estratégia de Patriota, para bajular o regime de Evo Morales, era vencer Molina pelo cansaço e fazê-lo se entregar.

CRUEL COVARDIA
A ordem cruel do gabinete de Patriota para tomar celular e computador de Molina jamais foi confirmada por escrito, como exigiram diplomatas.

INSISTÊNCIA 
Além das visitas pessoais ao Itamaraty, o diplomata Eduardo Sabóia enviou vários telegramas a Patriota pedindo a solução do caso Molina.

BONS PROFISSIONAIS
Como o pai, embaixador Gilberto Sabóia, o diplomata Eduardo Sabóia deixa admiradores por onde passa. Washington foi seu posto anterior.

COVARDIA E SUBMISSÃO MARCAM POLÍTICA EXTERNA
O ex-chanceler Antonio Patriota não recusava chance de mostrar como sua política externa era feita à sua imagem e semelhança: cabisbaixa e submissa diante da arrogância da Venezuela e das desfeitas da Argentina e do regime de Evo Morales. Em março, por exemplo, Evo criou um pretexto para inviabilizar o salvo-conduto ao senador Roger Molina, vetando na mesa de negociações o embaixador, Marcel Biato. Em vez de prestigiar o colega diplomata, Patriota cedeu ao cocaleiro.

PROCESSO NELE
O presidente da OAB-DF, Ibaneis Rocha, foi direto ao ponto: Patriota deveria ser processado por omissão, no caso do senador asilado.

Brasil: grande produtor agricola, obstaculizado por problemas "made in Brazil" - Marcos Sawaya Jank

Entendendo a queda de preço das commodities

21 de agosto de 2013 | 2h 11
Marcos Sawaya Jank * - O Estado de S.Paulo
Fala-se cada vez mais do impacto da desaceleração do crescimento da China e de outros países emergentes sobre o valor das exportações brasileiras de commodities. O fim do atual ciclo de alta de preços vem novamente acompanhado da surrada ladainha sobre uma suposta inadequação da nossa pauta de exportações, excessivamente dependente de commodities sensíveis à queda dos preços.
Em primeiro lugar, é fundamental separar as diferenças entre commodities agropecuárias, minerais e energéticas. No caso das energéticas, tivemos uma alta dos preços reais da ordem de 1.000% ao longo dos últimos 60 anos, puxada pela crescente escassez de petróleo barato. Nos minerais e metais, a alta foi da ordem de 100% no mesmo período, porém mais concentrada na última década por causa do forte consumo desses produtos no mundo em desenvolvimento.
Já no agronegócio, os últimos 60 anos foram marcados por uma redução de preços reais da ordem de 25%, chegando a mais de 50% de queda na virada do século. Portanto, ao contrário das commodities energéticas e minerais, na última década os produtos agropecuários apenas recuperaram parte da queda de preços reais ocorrida no século 20. Essa queda secular derivou basicamente da incorporação de novas tecnologias no campo por meio do modelo capital-intensivo de produção nascido nos EUA (genética, mecanização, irrigação, etc.), posteriormente reproduzido nas "revoluções verdes" da Ásia e na conquista dos Cerrados brasileiros.
Em segundo lugar, é fundamental separar movimentos estruturais e conjunturais. Conjunturalmente, os preços das commodities podem cair em 2013/14 por motivos semelhantes aos que ocorreram em 2008/09. Naquele momento, a queda momentânea de preços foi provocada pela crise financeira nos países desenvolvidos; neste, as quedas decorrem da desaceleração das economias em desenvolvimento combinada com supersafras em alguns países-chave, como EUA e Brasil.
Estruturalmente, no médio e no longo prazos, que é o que realmente interessa, a conversa é outra. As commodities energéticas e minerais podem, de fato, viver uma queda mais duradoura após os picos de preços da última década. Alguns fatores que motivariam essa queda são o surgimento de novas tecnologias para a produção de energia - como o gás de xisto nos EUA - e o redirecionamento da China para investimentos em consumo, em detrimento dos investimentos em infraestrutura.
Já no caso das commodities agropecuárias, uma análise mais minuciosa mostra que os preços continuarão elevados no médio e no longo prazos, em função de mudanças estruturais na demanda dos países em desenvolvimento que tendem a superar sua capacidade de oferta. Três fatores explicam essa tendência: 1) o forte crescimento da população mundial, que vai passar de 7 para 9,6 bilhões de pessoas entre hoje e 2050, de acordo com as ultimas revisões da ONU; 2) a migração do campo para a cidade, da ordem da 1,6 bilhão de pessoas no mesmo período, sendo que a maioria deixa a agricultura de subsistência para entrar no mercado de consumo; 3) o aumento da renda per capita nos países em desenvolvimento, ainda bastante elevado, apesar da desaceleração econômica. Por exemplo, no caso da China a constatação é matemática: 7,5% de crescimento sobre um PIB de US$ 9 trilhões este ano representa um valor 37% maior que 14% de crescimento sobre o PIB de US$ 3,5 trilhões de 2007.
Portanto, crescimento populacional, urbanização acelerada e aumento da renda per capita, combinados com as crescentes restrições de terra e água do planeta, são mudanças estruturais que beneficiarão o Brasil. Para ilustrar o potencial basta verificar que o consumo per capita de carne bovina na China é apenas 10% do observado no Brasil; de leite, 16%; de frango, 20%; e de açúcar, 21%.
Outro movimento importante é a mudança dos hábitos alimentares na direção do maior consumo de proteínas animais. Porém, em função das barreiras tarifárias e não tarifárias que dificultam nossas exportações para a Europa, os EUA e as grandes economias emergentes, infelizmente ainda não conseguimos aproveitar amplamente essa oportunidade. A China, por exemplo, vem abrindo cada vez mais o seu mercado para soja e milho, principais componentes das rações animais, mas mantém proteções cirúrgicas para carnes e lácteos. Em 2050 a produção chinesa vai representar apenas 38% do consumo doméstico de soja e 71% do de milho, movimento que tem impulsionado fortemente nossas exportações de grãos. Mas em aves e suínos a China aparentemente fará de tudo para manter sua autossuficiência alimentar.
É por isso que o agronegócio brasileiro, um dos únicos setores globais da economia brasileira, paga caro pela ausência de acordos comerciais do País com os grandes importadores. Nos últimos dez anos nossa política comercial ficou engessada pelos sucessivos impasses do Mercosul. Ficamos à margem e vamos sofrer importantes "desvios de comércio" com a consolidação de duas grandes alianças comerciais: a Parceria Transatlântica entre EUA e União Europeia (TTIP) e a Parceria Trans-Pacífico, entre EUA, Canadá, México, Peru, Chile e pelo menos seis países da Ásia e da Oceania (TPP).
Em suma, ao contrário de energia e minerais, a eventual queda de preços das commodities agropecuárias seria apenas um movimento conjuntural. Estruturalmente, o apetite global por produtos alimentares vai continuar mostrando muito vigor e beneficiando o Brasil. Mas nossos maiores desafios estão aqui dentro: redução de custos (já que não somos mais um país de custo baixo na agricultura), investimentos em logística, agilidade nas políticas de defesa sanitária e negociação de acordos comerciais com os grandes importadores mundiais de commodities.
*Marcos Sawaya Jank é sócio-diretor da Plataforma Agro (www.plataformaagro.com.br) e foi presidente da Unica. E-mail: marcos@jank.com.br

Direita tucana escapou com o senador boliviano, segundo grao-petista; ou, a inevitavel vileza moral dos companheiros...

Claro, no universo mental dos homúnculos totalitários que sustentam ditaduras que consideram de esquerda, não poderia haver outra explicação para a "fuga" do senador boliviano. Tudo foi um complô da direita para retirar um criminoso comum do alcance da boa justiça do Estado plurinacional bolivariano.
Como disse o Secretário de Estado sobre os ataques a gás na Síria, trata-se de uma obscenidade moral apenas compatível com o pensamento desses briosos defensores de regimes totalitários. Não lhes parece haver nenhum laivo de sentimento cristão, ou de simples solidariedade humana no gesto do diplomata brasileiro: só pode ter sido um golpe da direita.
Deixo vocês com a matéria publicada no jornal pessoal do assim chamado chefe da quadrilha...
Paulo Roberto de Almeida

Líder do governo classifica de ‘absurda’ fuga de boliviano com apoio da ultradireita

Correio do Brasil, Redação, 27/8/2013 13:44
Brasília - Líder do governo na Câmara, o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), classificou de “absurda” a decisão do diplomata Eduardo Paes Saboia, encarregado de negócios do Brasil na Bolívia (o equivalente a embaixador interino), de retirar o ex-senador boliviano Roger Pinto Molina da representação brasileira, onde estava asilado há mais de um ano, e trazê-lo ao Brasil sem o salvo-conduto do governo boliviano. Para Chinaglia, em discurso proferido na manhã desta terça-feira, em Plenário, depois do episódio, a situação do então ministro de Relações Exteriores Antonio Patriota, exonerado na véspera pela presidenta Dilma Rousseff, ficou insustentável. Outros parlamentares veem a ingerência de setores da ultradireita na ação do diplomata brasileiro em La Paz.
– Não podemos conviver com uma situação dessas, em que o encarregado de negócios toma uma decisão sem ter nenhum tipo de respaldo – frisou Chinaglia.
Ele acrescentou que a saída do parlamentar boliviano sem um acordo diplomático entre os dois países é “inexplicável”:
– Houve quebra de hierarquia. Imagine se nas relações internacionais cada, nem digo o encarregado de negócios, mas se cada embaixador começar a tomar decisões de acordo com seu critério e não segundo a política de Estado. É absolutamente absurda uma situação dessas.
Na sexta-feira, o parlamentar boliviano, que ficou abrigado na embaixada brasileira em La Paz por 15 meses, deixou o local com a ajuda do diplomara Eduardo Saboia sem o salvo-conduto do governo de Evo Morales. O boliviano chegou no sábado ao Brasil por Corumbá (MS), depois de uma viagem de carro de mais de 20h, onde se encontrou com o presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Ricardo Ferraço (PMDB-ES). Nesta segunda-feira, o Itamaraty instaurou uma comissão de sindicância para apurar responsabilidades sobre a retirada do senador Roger Pinto Molina da Embaixada do Brasil. O embaixador da Bolívia no Brasil, Jerjes Justiniano Talavera, pediu explicações ao Ministério das Relações Exteriores sobre o episódio.
Bico tucano
A fuga do senador boliviano que custou o cargo ao ministro das Relações Exteriores não foi obra individual de um destemido diplomada brasileiro, mas uma ação organizada pela direita com apoio de setores conservadores do Itamaraty, que mantêm estreitos laços em questões políticas e econômicas, como o boicote aos governos socialistas e a defesa intransigente do agronegócio. A avaliação é do deputado Cláudio Puty (PT-PA), que participou de uma missão oficial à Bolívia, em março, onde conheceu os três principais personagens envolvidos na trama: o então embaixador do Brasil na Bolívia, Marcel Biato, que patrocinou a aceitação brasileira ao pedido de asilo político do senador, o diplomata brasileiro Eduardo Sabóia, que afirma ter organizado sozinho a fuga do político, e o próprio senador oposicionista Roger Pinto, que viveu 545 dias na embaixada brasileira na Bolívia.
– Esta foi uma ação sem precedente na história da diplomacia brasileira. Como pode um diplomata patrocinar a fuga de um criminoso comum, à revelia do governo brasileiro, escondido do governo boliviano e com o apoio explícito da direita brasileira, que já o aguardava na fronteira do país? – questiona Puty.
Para ele, é inadmissível que o Brasil, que não aceitou o pedido de asilo político do ex-agente da CIA, Edward Snowden, corra o risco de colocar em xeque as relações com um país amigo para ajudar um criminoso comum como Roger Pinto.
– Pelo que consta, o Brasil não reconhece a Bolívia como um governo de exceção. Portanto, essa ação foi um atentado à soberania boliviana que precisa ser punida exemplarmente – acrescentou.
Missão oficial
O deputado foi à Bolívia acompanhado de outros quatro colegas que, como ele, atuavam na CPI do Trabalho Escravo. Em visita à embaixada brasileira em La Paz, se surpreenderam com a presença de Roger Pinto.
– Ele usava a embaixada como escritório particular para fazer oposição ao governo de Evo Morales. Recebia colegas do partido e concedia entrevista livremente – relembra.
Puty ficou muito impressionado também com a postura de Biato e Sabóia que, a despeito das excelentes relações bilaterais entre Brasil e Bolívia, tratavam aquele país com total desrespeito.
– Eles falavam sobre a Bolívia, os bolivianos e o Evo com tanto preconceito que o jantar de recepção à nossa delegação terminou em bate-boca – recorda ele, ressaltando a cumplicidade ideológica entre diplomatas e senador.
Para o deputado, a aceitação do pedido de asilo político, patrocinada por Biato, foi um erro que, desde então, tem gerado desconforto na relação Brasil e Bolívia. Pressionado, o Brasil decidiu transferir Biato para a Suécia, em junho passado. Saboia, então, passou a responder como embaixador em exercício.
Agronegócio
Proprietário de terras na fronteira com o Acre, Roger Pinto é o principal porta-voz do agronegócio no país. Governou o departamento de Pando, quando acumulou processos por desvios de verba, favorecimento a jogos ilegais e venda de terra pública para estrangeiros. Depois, elegeu-se senador pela Convergência Nacional e passou a líder um bloco de partidos conservadores no parlamento. Desde que ingressou na carreira política, teve um aumento 290% em seu patrimônio avaliado, hoje, em US$ 1 milhão. Condenado por dano econômico ao país mais pobre da América do Sul, pediu asilo político ao Brasil, em maio de 2011. Em junho, teve a solicitação acatada pelo Itamaraty e se dirigiu à embaixada brasileira em La Paz, onde permaneceu por 545 dias, até a fuga para o Brasil.
De acordo com o portal do Governo da Bolívia, além da condenação, o senador responde a quatro processos por corrupção, além de outros dez por crimes comuns: calúnia, difamação e desacato à autoridade. O governo boliviano garantiu que o episódio não irá afetar as relações da Bolívia com o Brasil, mas o Ministério Público do país já estuda pedir a extradição de Roger Pinto.
Roger Pinto deixou La Paz em carro oficial da embaixada brasileira, na companhia de Saboia. Atravessou a Bolívia e despistou a imigração até cruzar a fronteira. Em Corumbá (MS), foi recebido pelo presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Ricardo Ferraço (PMDB-ES), que o acompanhou até Brasília, de avião.
À imprensa, Saboia afirmou ter tramado sozinho a operação, motivado por questões humanitárias, já que o senador sofre de problemas renais e apresentava quadro de depressão, devido à privação de liberdade e ao afastamento da família, que vive no Brasil.
O Ministério das Relações Exteriores brasileiro demonstrou surpresa, prometeu apurar o caso e convocou Sabóia para prestar esclarecimentos nesta segunda-feira. Em nota divulgada no domingo, afirmou que abrirá inquérito e tomará as medidas administrativas e disciplinares cabíveis.No lugar de Patriota, assume Luiz Alberto Figueiredo Machado. Diplomata de carreira, ele foi o negociador-chefe da Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, e atuava com representante do Brasil na ONU.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

A frase da semana: "eu nao tenho vocacao para agente penitenciario"

No Gulag diplomático:

'Eu não tenho vocação para agente penitenciário', afirma Eduardo Saboia

Diplomata que trouxe senador boliviano ao Brasil diz que político vivia praticamente em cárcere privado na missão

27 de agosto de 2013 | 2h 02
Lisandra Paraguassu - O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA - O diplomata Eduardo Saboia, responsável por tirar de La Paz o senador boliviano Roger Pinto Molina, revelou ao Estado estar contrariado com a reação do Itamaraty a sua decisão e sentia que era vítima de um jogo de "faz de conta" entre autoridades brasileiras e bolivianas. Na sua avaliação, o senador estava em cárcere privado na embaixada "Eu não tenho vocação para agente penitenciário", disse. A seguir, trechos da entrevista.
A decisão de tirar o senador de La Paz foi sua?
EDUARDO SABOIA - A decisão foi minha. Havia uma situação de violação de direitos humanos. A situação foi se deteriorando, ele falava em suicídio, pedia para que o tirassem dali. Na quinta-feira, o advogado dele foi lá conversar comigo. Na sexta-feira, levou um laudo mostrando que ele podia se suicidar. Podia ser manipulação, mas não tinha como saber. Eu decidi que tinha de fazer alguma coisa.
O seu nome foi colocado na nota divulgada pelo ministério o responsabilizando, ainda que indiretamente, pelo caso. 
EDUARDO SABOIA - Eu não gostei. Foi um prejulgamento. Por isso, tomei a liberdade de me defender.
Espera alguma punição ? 
EDUARDO SABOIA - Entrego a Deus. Recebi muito apoio de colegas.
A viagem foi muito difícil? 
EDUARDO SABOIA - Foi difícil, mas o pior está sendo agora. Claro, teve estresse, foi difícil, mas o que me dói mais é sofrer essa crítica do Itamaraty. Eu não quero afrontar ninguém. Pode não ter sido a melhor solução, mas fiz o que entendi que precisava fazer.
Por que o senhor decidiu tirar o senador de La Paz?
EDUARDO SABOIA - Quando o advogado me levou o laudo, eu decidi que íamos resolver. Ele foi no carro ao meu lado. Não teve viagem em porta-malas, não teve nada. Ele estava no carro. Passamos por seis controles e deu tudo certo. Quando chegamos ao Brasil, avisei o embaixador Marcel Biato e ele avisou o ministro Patriota. Não avisei antes porque não podia.
O que o levou a tomar a decisão na sexta-feira? 
EDUARDO SABOIA - Foi aumentando o desespero. Eu tinha, de um lado, um advogado no Brasil dizendo que o governo brasileiro é irresponsável, entrando com um habeas corpus no STF. Depois, o advogado dele aqui na Bolívia, pressionando porque ele estava doente. E eu tinha outros assuntos para tratar, a mudança do embaixador, a situação dos corintianos, estava chegando no limite. Quem está no campo de batalha precisa tomar decisões.
Dizia-se em Brasília que as negociações continuavam. 
EDUARDO SABOIA - Era um faz de conta. Não dá. Você via as negativas públicas do salvo-conduto. Ouvi de pessoas do Itamaraty, eu tenho os e-mails do pessoal dizendo: "Eles fingem que negociam e a gente finge que acredita". Era melhor, então, cancelar o asilo.
A situação era muito ruim? 
EDUARDO SABOIA - Era um desgaste, um risco não só para ele, mas para a embaixada. Você não sabe o ambiente que é ter um preso do seu lado. Eu me sentia um agente do DOI-Codi. Estava demais, muita pressão. Eu não tenho vocação para agente penitenciário.

Eduardo Saboia: um heroi fora dos quadrinhos - Celso Arnaldo

Blog de Augusto Nunes, 27/08/2013

Subscrevo sem ressalvas o texto de Celso Arnaldo Araújo. O que Eduardo Saboia fez no caso do senador Roger Pinto Molina sempre será mais relevante do que o que disse ou dirá. (AN)

Não há heróis sempiternos (é a primeira vez que uso a palavra, sabia que esse dia chegaria…), com exceção de meu pai, e apenas no âmbito de minha existência. Só há heróis de ocasião. Como Eduardo Saboia.
Também não gostei do day after do Saboia ─ a ameaça valente de usar o que sabe contra o Itamaraty não soou bem.
Mas, como diria o Marcelo Rezende, pensa no seguinte: o moço tinha 23 anos de Itamaraty, carreira impoluta e ascensional (se bem que Bolívia é queda…), folha impecável de serviços. Naquele instante, ele, como ministro-conselheiro e encarregado de negócios, era o mais alto funcionário da Embaixada, na ausência forçada de um embaixador titular.
Marcel Fortuna Biato fora enviado há dois meses, sumariamente, para um degelo na Suécia, por pressão de Evo Morales – justamente por causa do prolongado abrigo ao senador.
Saboia fazia as vezes de embaixador, até a chegada do substituto enquadrado. Ninguém mais, naquele momento, para repartir com ele o interminável pepino de 452 dias como carcereiro.
Ao entrar no carro da embaixada, com Roger Molina no banco de trás, e pedir ao motorista que só parasse quando chegasse a Corumbá, Saboia sabia que ali se encerrava sua carreira diplomática. O que fazia ali não era mais diplomacia – mas, a seu ver, a reparação definitiva de uma situação humana insustentável, para ele e para o senador.
Esforçara-se muito para fazer o mesmo – imagine – até com os vagabundos presos em Oruro por causa da morte do garoto boliviano.
Veja só. Por causa desse ato de coragem – quantos de nós o fariam, tendo tudo a perder? – Saboia tornou-se, instantaneamente, um exilado em seu próprio país. Sua mulher é oficial de chancelaria da Embaixada, seus três filhos estudam em colégios de La Paz. Mas Saboia evidentemente não pode retornar à Bolívia sem ser preso – ou até justiçado.
Ficará ele aqui, no limbo absoluto, de carreira e família, enquanto o senador Roger refaz sua vida ─ e até que eles lá em cima se entendam, com Morales como o mediador irremediável da situação.

Pensando bem: Saboia foi herói, sim, conquanto não haja heróis permanentes fora dos quadrinhos.