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sábado, 27 de setembro de 2014

O Peron de botequim vai catequisar o mundo - Augusto Nunes

Augusto Nunes

26/09/2014
 às 0:22 \ Direto ao Ponto

Depois da eleição, Lula terá tempo para baixar na Síria e sossegar os companheiros degoladores com meia dúzia de conversas

No fim de 2008, depois de dar por inaugurado o Brasil Maravilha, o primeiro ex-operário promovido a presidente da República cismou que a ONU merecia um secretário-geral que, além de monoglota, nunca lera um livro nem sabia escrever. Nos dois anos seguintes, até que a ficha caísse, Lula caprichou no duplo papel: Conselheiro do Mundo e Solucionador de Conflitos Insolúveis.
O consultor planetário, por exemplo, tentou convencer o governo americano de que, vistos de perto, os aiatolás atômicos do Irã eram gente fina, que recorria a peraltices nucleares só para chamar a atenção dos adultos. O especialista em crises sem remédio abandonou de novo o local do emprego para baixar no Oriente Médio e ensinar que ódios seculares podem ser liquidados com uma semana de prosa & lábia.
Voto revoga prontuário, reiterou a campanha internacional. Lula bajulou genocidas africanos, perdoou dívidas bilionárias de tiranos caloteiros, ajoelhou-se no altar de Hugo Chávez, celebrou missas negras em companhia de assassinos psicopatas, rebaixou-se a amigo e irmão de abjeções como Muammar Khadafi, debochou dos presos políticos cubanos; fez o diabo. Mas a candidatura a comandante da ONU fez tanto sucesso quanto a ideia de instalar no governo paulista um poste disfarçado de Alexandre Padilha.
O padrinho pode ter sua segunda chance caso ajude a afilhada a provar que só a troca dos ataques aéreos por conversas civilizadas conseguirá encerrar o show de selvageria protagonizado pelo Estado Islâmico. Como constata o comentário de 1 minuto para o site de VEJA, não há no mundo alguém tão preparado quanto Lula para missões do gênero. A partir de novembro, ex-presidente estará liberado para sossegar os companheiros degoladores com meia dúzia de conversas.
Perdida a eleição, Lula não terá nada a perder além da cabeça.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Crimes ordinarios, e aliados mais que ordinarios - Reynaldo Rocha

REYNALDO ROCHA
Blog de Augusto Nunes, 16/01/2014

A barbárie a que assistimos estupefatos no feudo medieval da Famiglia Sarney é só parte da tragédia.
Muito já foi dito sobre as masmorras que Roseane Sarney ─ a rebenta que não admite ser interrompida quando fala e é aplaudida pelos “açeçores” quando ofende a inteligência do Brasil ─ entregou para ser administradas pelo sócio do próprio cunhado. Uma dolorosa repetição do que é feito há mais de 50 anos.

Ao Brasil cabe o espetáculo oferecido por Dilma e seus parceiros engajados no apoio a aliados e na perseguição a adversários. A tropa de choque inclui José Eduardo Cardozo e Maria do Rosário. De um lado, declarações absurdas. De outro, silêncio obsequioso.
Cardozo ouviu calado, e sem um mínimo de vergonha, as explicações sobre a raiz do problema do Maranhão: a riqueza do estado mais miserável da federação. Em meio à fala do ministro, assistiu a um chilique histérico da governadora, que nega estar no poder graças à família mafiosa. É governadora por ser Roseana, não Sarney. Ok.
Cardozo preferiu comparar o Maranhão a São Paulo e Santa Catarina. Não falou das cadeias do Rio Grande do Sul, onde Tarso Genro também ignora as pocilgas atulhadas de seres humanos. Os exemplos se restringem a estados governados pela oposição.
Onde estão os lulopetistas que SEMPRE acusam a direita raivosa de politizar qualquer discussão? Perdeu, cambada! Faz 50 anos que o “homem incomum” de Lula coleciona erros. O “maior ladrão do Brasil”, segundo o mesmo Lula, comanda e explora a capitania hereditária que é a verdadeira raiz do massacre.
A ministra Maria do Rosário, uma gaúcha sempre boquirrota, também perdeu a voz. Desde que creditou à oposição a onda de boatos sobre o fim do Bolsa-Família, Maria do Rosário tem economizado declarações. O Brasil agradece. Mas uma criança de 6 anos foi queimada viva. E a ministra dos Direitos Humanos continua muda.
Não se ouviu uma única palavra de apoio à mãe que perdeu a filha num atentado contra o mais básico dos direitos humanos: o direito à vida. A ministra que defende a cracolândia e os black blocs, enquanto ataca as Polícia Militar de São Paulo, agora prefere somente observar um bandido de 17 anos ─ o Porca Preta ─ queimar uma menina, Ana Clara, que ainda brincava com bonecas.
Seria por coisas assim que Dilma afirmou que para ganhar eleições “se faz o diabo”? Foi isso que levou Gilberto Carvalho a avisar que o bicho iria pegar?
O silêncio respeitoso e a blindagem do aliado-mor José Sarney configuram um exemplo de covardia, conivência e apoio eleitoral.
Dilma diz “acompanhar com atenção” a barbárie no Maranhão (expressão minha: Ela NUNCA diria algo nesta linha sobre o Maranhão. Disse sobre a desocupação de Pinheirinho em SP, onde a PM seguiu uma ordem judicial e NINGUÉM morreu ou ficou internando em hospitais!).
Também não tentou consolar a mãe de Ana Clara, que também luta para continuar vivendo. Seria uma afronta ao clã que venera. E evoca estados controlados por oposição onde crimes também aconteceram. NOTA: nenhum deles tem presídios administrados por sócios de cunhados, nem registrou decapitações de presos cujas cabeças serviram como bola num macabro jogo de futebol.
Que o povo maranhense saiba se livrar ─ ainda há tempo! ─ dos responsáveispor 50 anos de miséria, sordidez, covardia e cinismo. O restante do Brasil que avalie o que leva Cardozo a dizer asneiras, Rosário a se calar e Dilma a exaltar o aliado preferencial.

Que continuem aliados. Os brasileiros com vergonha na cara não podem esquecer Ana Clara, nem seus assassinos e cúmplices que se refestelam nos palácios.

Gabolice, mentiras e fraudes repetidas na Copa dos companheiros - Augusto Nunes

Augusto Nunes
!6/01/2014

Em 30 de outubro de 2007, assim que a Fifa anunciou oficialmente a escolha do anfitrião da Copa de 2014, o presidente Lula resolveu animar a festança em Zurique com mais uma discurseira triunfalista. “Vocês verão coisas lindas da natureza e nossa capacidade de construir bons estádios”, vangloriou-se com sete anos de antecedência o camelô de bazófias e gabolices. “Os investimentos em infraestrutura deixarão um legado de melhoria nas condições de vida do nosso povo.Vamos fazer uma Copa para argentino nenhum botar defeito”.
A menos de um semestre do início da competição, muitas arenas padrão Fifa nem foram concluídas e já estão condenadas a agonizar como elefantes brancos no minuto seguinte ao último apito. Os monumentos à modernidade que fariam do País do Futebol um campeão da mobilidade urbana encalharam na garganta de Lula ou dormem na imaginação de Dilma Rousseff. O trem-bala e o terceiro aeroporto de São Paulo, por exemplo, jazem no cemitério das fantasias eleitoreiras que o padrinho criou e a afilhada não para de ampliar. E boa parte do mundaréu de obras prometidas pelos fundadores da potência emergente sucumbiu ao raquitismo congênito.
Nesta quarta-feira, um editorial da Folha reiterou que o “legado da Copa” é só a vigarice mais recente (e uma das mais perdulárias forjadas pelos vendedores de vento. Dos 56 projetos divulgados com pompas e fitas em 2010, sobraram 39. O volume de investimentos baixou de 15,4 bilhões para 7,9 bilhões. Conjugadas, a a falta de dinheiro e incompetência de sobra adiaram para quando Deus quiser novas linhas de metrô, monotrilhos, estradas, avenidas, trens metropolitanos, reparos nas malhas viárias, reformas em aeroportos ou corredores de ônibus, fora o resto. Como preveniu o comentário de 1 minuto para o site de VEJA, o legado da Copa pode acabar resumido à apresentadora Fernanda Lima, .
Não foi por falta de aviso que o fiasco se materializou. Em julho de 2010, por exemplo, um repórter quis saber de Jerôme Valcke como andavam os preparativos para a Copa do Brasil. “Falta tudo”, resumiu o secretário-geral da Fifa. “Tudo”, repetiu, com cara de quem acabou de descobrir que lidara havia três anos com tratantes e ineptos. Surpreendido pelo pontapé na canela, Lula tentou um carrinho por trás. ”Terminou uma Copa do Mundo na África do Sul agora e já começam aqueles a dizer: ‘Cadê os aeroportos brasileiros? Cadê os estádios brasileiros? Cadê os corredores de trem brasileiros? Cadê os metrôs brasileiros?’ Como se nós fôssemos um bando de idiotas que não soubéssemos fazer as coisas e não soubéssemos definir as nossas prioridades”.
O troco desmoralizante viria em março de 2012, quando Valcke afirmou que os organizadores da Copa mereciam um chute no traseiro: talvez assim começassem a trabalhar direito. O descompromisso do supercartola com as boas maneiras escancarou o descompromisso da turma no poder com a verdade ─ e comprovou que os governos lulopetistas não sabem mesmo “fazer as coisas”  nem “definir as nossas prioridades”. As perguntas desdenhadas pelo palanque ambulante na réplica a Valcke continuavam (e continuam) implorando por respostas. (Como imploram por investigações os incontáveis casos de polícia envolvendo negociatas bilionárias, contratos superfaturados e procissões de propinas).
Inauguradas no Dia da Criação, só escaparam do atraso irresponsável “as coisas lindas da natureza”. Mas o arquivamento dos projetos vinculados a três cartões postais do Rio sugere que não serão vistas tão facilmente as maravilhas evocadas por Lula na Suiça. O Corcovado está onde sempre esteve. Só que a modernização do trenzinho foi adiada para 2015. O tempo de espera na fila do bondinho do Pão de Açúcar não será inferior ao de viagens aéreas intercontinentais. E convém contemplar de longe a baía de Guanabara devastada pela poluição.

É compreensível que Lula, Dilma, Aldo Rebelo, Ricardo Teixeira e outros festeiros de 2007 não tenham dado as caras na cerimônia de entrega do troféu Bola de Ouro, em Paris, durante a qual a Fifa homenageou o anfitrião do próximo Mundial. A cinco meses do jogo de abertura, a turma do carnaval temporão em Zurique sabe o que é sabido até pela grama do Maracanã: a Copa que faria meia Argentina morrer de inveja pode matar de vergonha e indignação o Brasil que presta.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

STF cada vez melhor: ministro convicto de suas opinioes (mas estas sao temporarias...)

Augusto Nunes, 11/09/2013

Às vésperas da posse no Supremo Tribunal Federal, o ministro Luiz Roberto Barroso disse a dois amigos dos tempos de estudante que nada faria em favor dos condenados no julgamento do mensalão. A um deles, deputado federal e promotor público licenciado, explicou que rejeitaria o exame dos embargos infringentes para não adiar o desfecho de um processo que se arrasta com exasperante lentidão desde agosto de 2007. A outro, advogado criminalista, alegou que não se sentia à vontade para anular com seu voto as decisões de Ayres Britto, o ministro que lhe coube substituir.
“O país e o próprio Supremo estão fartos desse caso, é hora de virar a página”, argumentou Barroso na semana passada em mais um encontro com o amigo deputado. Nesta quarta-feira, o ministro repetiu a frase para, depois de uma ligeiríssima pausa, votar pela aceitação dos embargos infringentes, poupar os condenados de temporadas na cadeia e prorrogar por tempo indeterminado o epílogo do maior escândalo político-policial da história do Brasil. Figurões do governo federal e mensaleiros condecorados sempre acreditaram que o caçula do STF não deixaria de estender-lhes a mão. Nunca revelaram os motivos da previsão confirmada nesta tarde. Devem ser bastante sólidas.
A mudança de rota de Barroso reduziu a bancada contrária aos embargos infringentes a cinco ministros. Formado desde sempre por Joaquim Barbosa, Luiz Fux, Gilmar Mendes e Marco Aurélio, o grupo foi encorpado recentemente por Celso de Mello. Até dezembro passado, quando o STF anunciou as punições reservadas aos mensaleiros, o decano do STF defendia a aceitação dos embargos infringentes. Também em conversas com colegas de faculdade, Celso de Mello contou que as circunstâncias especialíssimas do caso do mensalão o haviam aconselhado a mudar de ideia.
Não se tratava de um processo qualquer, ponderou. Durante anos, o STF acumulara provas veementes de que lidava com o que o próprio Celso de Mello, em 22 de outubro de 2012, qualificou de “um dos episódios mais vergonhosos da história do nosso país”. Naquela sessão, depois de condenar José Dirceu por ter comandado o esquema criminoso, o ministro não escondeu a perplexidade com o atrevimento dos acusados:
“Em mais de 44 anos de atuação na área jurídica, nunca presenciei um caso em que o delito de formação de quadrilha se apresentasse tão nitidamente caracterizado. Formou-se na cúpula do poder, à margem da lei e ao arrepio do Direito, um estranho e pernicioso sodalício, constituído por dirigentes unidos por um comum desígnio, um vínculo associativo estável que buscava eficácia ao objetivo espúrio por eles estabelecidos: cometer crimes, qualquer tipo de crime, agindo nos subterrâneos do poder como conspiradores, para, assim, vulnerar, transgredir, lesionar a paz pública”.
Nas conversas com ex-colegas de turma, Celso de Mello observou que, aos olhos da sociedade, a aceitação dos embargos infringentes equivaleria à absolvição dos culpados. Como fora ele o autor dos votos condenatórios mais contundentes, seria difícil explicar duas decisões claramente conflitantes. É o que terá de fazer se, confirmando as suspeitas provocadas por observações favoráveis ao acolhimento dos recursos espertos, ajudar a livrar do merecidíssimo castigo quadrilheiros que enquadrou, em dezembro de 2012, amparado em justificativas que lavaram a alma do Brasil decente. Uma delas:
“Os elementos probatórios expõem aos olhos um grupo de delinquentes que degradou a atividade política. Não se está a incriminar a atividade política, mas a punir aqueles que não se mostraram capazes de exercer com honestidade e interesse público”.
Na prática, 11 fora-da-lei condenados por envolvimento na roubalheira colossal estão a um passo de escapar do acerto de contas com a Justiça. Já socorridos por Roberto Barroso, Rosa Weber, Teori Zavascki e Dias Toffoli, sabem que nunca lhes faltará o ombro companheiro de Ricardo Lewandowski, e contam com a solidariedade de Cármen Lúcia. Animados com os acenos de Celso de Mello, contemplam o decano com o deslumbramento de quem testemunha uma aparição de Nossa Senhora.
Se Carmen Lúcia e Celso de Mello virarem as costas ao Brasil decente, o julgamento vai recomeçar do zero, talvez com um relator menos obediente ao Código Penal e com um tribunal deformado pelo Planalto com a infiltração de gente de confiança. Nessa hipótese, os condenados de dezembro passado serão beneficiários da clemência cúmplice dos juízes, de mecanismos que reduzem penas, da prescrição de prazos e da infinita imaginação de chicaneiros juramentados. Alguns jamais saberão o que é dormir num catre. Outros se safarão depois de alguns meses de prisão provisória. E os deputados meliantes continuarão exercendo ao mandato, com direito ao tratamento de Vossa Excelência.

Doze anos depois do 11 de Setembro de 2001, alvejado por palavrórios do pelotão da toga, o Estado Democrático de Direito ainda em construção está ameaçado por profundas rachaduras. Dois juízes podem salvá-lo da implosão.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Eduardo Saboia: um heroi fora dos quadrinhos - Celso Arnaldo

Blog de Augusto Nunes, 27/08/2013

Subscrevo sem ressalvas o texto de Celso Arnaldo Araújo. O que Eduardo Saboia fez no caso do senador Roger Pinto Molina sempre será mais relevante do que o que disse ou dirá. (AN)

Não há heróis sempiternos (é a primeira vez que uso a palavra, sabia que esse dia chegaria…), com exceção de meu pai, e apenas no âmbito de minha existência. Só há heróis de ocasião. Como Eduardo Saboia.
Também não gostei do day after do Saboia ─ a ameaça valente de usar o que sabe contra o Itamaraty não soou bem.
Mas, como diria o Marcelo Rezende, pensa no seguinte: o moço tinha 23 anos de Itamaraty, carreira impoluta e ascensional (se bem que Bolívia é queda…), folha impecável de serviços. Naquele instante, ele, como ministro-conselheiro e encarregado de negócios, era o mais alto funcionário da Embaixada, na ausência forçada de um embaixador titular.
Marcel Fortuna Biato fora enviado há dois meses, sumariamente, para um degelo na Suécia, por pressão de Evo Morales – justamente por causa do prolongado abrigo ao senador.
Saboia fazia as vezes de embaixador, até a chegada do substituto enquadrado. Ninguém mais, naquele momento, para repartir com ele o interminável pepino de 452 dias como carcereiro.
Ao entrar no carro da embaixada, com Roger Molina no banco de trás, e pedir ao motorista que só parasse quando chegasse a Corumbá, Saboia sabia que ali se encerrava sua carreira diplomática. O que fazia ali não era mais diplomacia – mas, a seu ver, a reparação definitiva de uma situação humana insustentável, para ele e para o senador.
Esforçara-se muito para fazer o mesmo – imagine – até com os vagabundos presos em Oruro por causa da morte do garoto boliviano.
Veja só. Por causa desse ato de coragem – quantos de nós o fariam, tendo tudo a perder? – Saboia tornou-se, instantaneamente, um exilado em seu próprio país. Sua mulher é oficial de chancelaria da Embaixada, seus três filhos estudam em colégios de La Paz. Mas Saboia evidentemente não pode retornar à Bolívia sem ser preso – ou até justiçado.
Ficará ele aqui, no limbo absoluto, de carreira e família, enquanto o senador Roger refaz sua vida ─ e até que eles lá em cima se entendam, com Morales como o mediador irremediável da situação.

Pensando bem: Saboia foi herói, sim, conquanto não haja heróis permanentes fora dos quadrinhos.

sábado, 20 de julho de 2013

Hotel Brasil, La Paz, e a declaracao do Mercosul sobre asilo diplomatico - Fernando Tibúrcio Peña (Blog Augusto Nunes)

De vez em quando, a solidariedade tropeça nas contradições, como lembra o advogado do Senador boliviano "hospedado" na embaixada do Brasil em La Paz:

Blog de Augusto Nunes, 19/07/2013

Advogado do senador boliviano Roger Pinto Molina, enclausurado na embaixada brasileira em La Paz desde 28 de maio de 2012, Fernando Tibúrcio enviou à coluna uma carta que escancara a arrogância afrontosa do tiranete Evo Morales. Enquanto exige que as nações possam conceder asilo a quem desejarem, o Lhama-de-Franja (com o apoio dos comparsas) continua impedindo que o parlamentar oposicionista viaje para o Brasil, que o contemplou com o status de asilado.
Integrante da Associação Bolivariana Cucaracha (ABC), o governo lulopetista faz o que determinam os mandamentos da entidade. Um deles avisa que só merece ser tratado como perseguido político quem contraria os interesses dos Estados Unidos e seus aliados. Figuram nessa categoria, por exemplo, Julian Assange e Edward Snowden. Políticos que se opõem aos estadistas de hospício agrupados na ABC nunca são perseguidos. Não passam de inimigos da pátria que viraram criminosos comuns. Nada merecem além de cadeia.
Leia o que escreveu Fernando Tibúrcio e os documentos que complementam o texto. São peças com vaga assegurada no acervo do museu que mostrará o que foi a política externa da cafajestagem:
Caro Augusto Nunes,
Quem lhe escreve é o advogado do senador boliviano Roger Pinto Molina, asilado há treze meses na Embaixada do Brasil em La Paz. Excelente a cobertura que VEJA e seus colunistas vêm dando ao tema.
No último domingo, o articulista Mac Margolis, do Estadão, revelou o paradoxo que existia em Evo Morales apoiar o asilo a Julian Assange e negar a concessão de um salvo-conduto ao senador Roger Pinto Molina, algo que o meu amigo Tuto Quiroga, ex-presidente da Bolívia, qualifica de “dupla moral”. Hoje foi a vez da BBC e do El País falarem de paradoxos. É paradoxo que não acaba mais.
Na sexta-feira, na reunião de cúpula do Mercosul, em Montevidéu, os mandatários ali presentes aprovaram uma declaração que, em seu ponto 9, fala o seguinte:
“Las Presidentas de la República Argentina, Cristina Fernández de Kirchner, y de la República Federativa del Brasil, Dilma Rousseff, el Presidente del Estado Plurinacional de Bolivia, Evo Morales, el Presidente de la República Oriental del Uruguay, José Mujica Cordano, y el Presidente de la República Bolivariana de Venezuela, Nicolás Maduro Moros, reunidos en Montevideo, el día 12 de julio de 2013, en ocasión de la XLV Reunión Ordinaria del Consejo del Mercado Común:
9. Repudiaron las acciones que puedan menoscabar la potestad de los Estados de conceder e implementar de forma plena el Derecho de Asilo, y en ese sentido rechazar todo intento de presión, hostigamiento o criminalización de un Estado o de terceros sobre la decisión soberana de cualquier nación de conceder asilo.”
O problema é que essa bem-vinda declaração foi feita pensando em Edward Snowden. Ninguém se lembrou, ou era incômodo lembrar-se, de Roger Pinto Molina.
Também no domingo Cláudio Humberto publicou uma notícia bombástica. Evo teria mandado revistar o avião da Força Aérea Brasileira que levou o então e agora ministro da Defesa Celso Amorim à Bolívia no fim do ano passado, à procura do senador Roger Pinto. Ou seja, Evo teria usado o mesmo condenável expediente que o embaixador espanhol em Viena tentou usar contra ele. Essa história eu já tinha ouvido de uma fonte respeitável na Bolívia (uma fonte, no jargão jornalístico, tipo 1). Tal fonte não tinha a certeza se a busca no avião da FAB fora mesmo a mando de Evo e também se o objetivo era pegar no pulo o senador. Mas considerava as duas premissas possíveis.
Na terça o Ministério da Defesa confirmou, em nota, que a inspeção de fato aconteceu, mas que teria sido em 2011, antes do senador Roger Pinto Molina buscar proteção na Embaixada do Brasil em La Paz. Escrevi no mesmo dia uma “nota da nota”, comentando as explicações do ministro Amorim, que tenta, dentre outras coisas, explicar por que mesmo em 2011 era possível que as autoridades bolivianas já estivessem à caça do senador (sem contar o fato de que, mais tarde, o próprio ministro reconheceu que outras inspeções ocorreram).
Gostaria que você tomasse conhecimento do teor do habeas corpus extraterritorial que impetrei em favor do senador e que tem como precedente uma decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos em favor de Lakhdar Boumediene, um ex-prisioneiro de Guantánamo (veja aqui a petição inicial). O habeas corpus deve ser julgado agora no mês de agosto pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal.
A título de curiosidade, comento que a arrogância boliviana – ou melhor, bolivariana – foi tal que acabou virando assunto de família. Minhas filhas, estudantes de direito da UnB e também estupefatas com o que está acontecendo com o senador – mais do que eu, já que elas têm ainda aquela energia da juventude – decidiram em sinal de protesto (protestar está na moda!) enviar em 17 de junho uma carta ao presidente Jimmy Carter. É preciso ressaltar que Jimmy Carter foi convidado por Evo Morales para mediar a questão do acesso ao mar da Bolívia. A carta não obteve resposta e aí está outra contradição. Carter, um notório defensor dos direitos humanos, fez também vista grossa a um notório caso de violação de direitos humanos. Um abraço.
Fernando Tibúrcio Peña