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segunda-feira, 28 de julho de 2014

Ucrania-Putin: europeus continuam hesitantes em face do novo czar desafiador - Der Spiegel

THE WAKE-UP CALL

Europe Toughens Stance against Putin

It took the shooting down of a Boeing jet carrying almost 300 people before the EU agreed on the first true economic sanctions against Russia. The Americans want further action, but it is impossible to know if punitive measures can sway Vladimir Putin.

STOPPING PUTIN

The Time Has Come for Europe to Act

Vladimir Putin has ignored Western demands that he cease arming and supporting pro-Russian separatists in Ukraine. As such, he shares responsibility for the shooting down of MH17. It is now time for Europe to take tough action.

GPS: quer saber como tudo começou? - Adriane Brill Thum

Georreferenciamento/Geoposicionamento: um pouco da história


domingo, 27 de julho de 2014

Ainda os mitos do New Deal e do salvamento do capitalismo por Roosevelt - Thomas DiLorenzo

O New Deal ridicularizado (novamente)
Instituto Ludwig Von Mises Brasil, sexta-feira, 16 de maio de 2008





howcapitalism.gifCriadores de modelos macroeconômicos finalmente descobriram aquilo que Henry Hazlitt e John T. Flynn (entre outros) já sabiam desde os anos 1930: o New Deal de Franklin Delano Roosevelt (FDR) alongou e aprofundou a Grande Depressão. Não passa de mito a tese de que FDR "nos tirou da Depressão" e "salvou o capitalismo de si próprio", como tem sido ensinado a gerações de americanos (e, conseqüentemente, ao resto do mundo) em todas as instituições educacionais estatais.

A descoberta de tal fato da parte dos macroeconomistas vem na forma de um artigo, de agosto de 2004, no Journal of Political Economy intitulado "New Deal Policies and the Persistence of the Great Depression:  A General Equilibrium Analysis", pelos economistas Harold L. Cole e Lee E. Ohanian, ambos da UCLA. E isso é de grande importância, dado que o JPE é tido como o periódico acadêmico mais importante do mundo econômico.
"O produto interno bruto real por adulto, que estava 39 por cento abaixo da média histórica no auge da Depressão em 1933, permaneceu 27 por cento abaixo dessa mesma média histórica em 1939", escrevem os autores. E "De maneira similar, as horas de trabalho na iniciativa privada estavam 27 por cento abaixo da média em 1933 e permaneceram 21 por cento abaixo da média em 1939".
Isso não deve ser nenhuma surpresa para qualquer um que tenha estudado a realidade da Grande Depressão, já que as estatísticas do U.S. Census Bureau mostram que a taxa oficial de desemprego ainda era de 17,2 por cento em 1939, não obstante os sete anos de "salvação econômica" implementados pela administração Roosevelt (a taxa de desemprego normal, antes da Depressão, era de aproximadamente 3 por cento). O PIB per capita era menor em 1939 do que em 1929 ($847 vs. $857), bem como os gastos pessoais em consumo ($67,6 bilhões vs. $78,9 bilhões), tudo de acordo com os dados do Census Bureau. O investimento privado líquido no período de 1930-1940 foi negativo, de -$3,1 bilhões.
Cole e Ohanian escrevem como se estivessem muito surpresos - até mesmo chocados - em descobrir esses fatos; não porque se sentissem enganados pelo Mito do New Deal, mas por causa de sua devoção irrestrita aos "modelos neoclássicos" em oposição ao mero estudo daquilo que verdadeiramente constitui a realidade econômica. Eles consideram "surpreendente" o fato de que a recuperação da Grande Depressão foi "muito fraca" (uma declaração dramaticamente suavizada). E por que é tão surpreendente? Porque "esses dados se contrastam fortemente com a teoria neoclássica . . ."
A teoria neoclássica sobre depressões pode muito bem ser pensada como uma teoria Frankenstein. De acordo com Cole e Ohanian, "Essa fraca recuperação é algo enigmática porque os grandes choques negativos que segundo alguns economistas causaram a recessão de 1929-1933 - incluindo os choques monetários, os choques de produtividade e os choques do sistema bancário - se tornaram positivos após 1933". Assim, de acordo com a teoria neoclássica, a economia durante uma depressão é como se fosse um Frankenstein debilitado, com os economistas atuando no papel dos cientistas loucos que aplicam choques na besta até que ela se torne um ser vivo novamente. Eles fazem isso com várias "injeções" de gastos governamentais e crédito fácil que supostamente irão provocar uma estrondosa recuperação (assim como a besta rejuvenescida urrou quando deixou o laboratório para ir aterrorizar os habitantes da cidade no filme "O Jovem Frankenstein", comédia de Mel Brooks.)
"A base monetária aumentou mais de 100 por cento entre 1933 e 1939", escrevem os autores, argumentando que tal "choque monetário" deveria ter devolvido a economia à sua normalidade. Eles invocam a autoridade de macroeconomistas famosos como Robert Lucas e Leonard Rapping, que certa vez proclamou que "choques monetários positivos deveriam ter produzido uma forte recuperação, e o emprego deveria ter retornado ao seu nível normal até 1936".
Mas como Murray Rothbard mostrou em sua obra America's Great Depression, foram as políticas de crédito fácil do início e meados dos anos 1920 que criaram todos os maus investimentos que provocaram a Grande Depressão. A única atitude correta teria sido permitir a liquidação de centenas de negócios sobrecapitalizados. Ao invés disso, o banco central (Federal Reserve) aumentou a base monetária em 100 por cento em um período de cinco anos, causando mais dos mesmos problemas de sobrecapitalização que foram justamente as causas do problema.
Para complementar tudo isso, praticamente cada uma das políticas do New Deal de FDR apenas piorou as coisas e prolongou ainda mais a Depressão. Os economistas austríacos já sabem disso há décadas, mas ao menos parece que os modeladores neoclássicos finalmente perceberam o óbvio - pelo menos é o que se espera.
Cole e Ohanian aparentemente emergiram daquele rarefeito mundo das modelagens macroeconômicas por um período suficiente para descobrir que o chamado Primeiro New Deal (1933-1934) foi um gigantesco esquema de cartel, pelo meio do qual o governo tentou impor uma cartelização dos preços e uma redução do nível de produção em centenas de indústrias e na agricultura. Obviamente isso já foi bem documentado no livro de John T. Flynn, The Roosevelt Myth, publicado inicialmente em 1948. Henry Hazlitt também já havia escrito sobre isso 15 anos antes. "As políticas de cartelização do New Deal são um fator chave por trás da fraca recuperação, sendo responsáveis por aproximadamente 60 por cento da diferença entre o nível de produção da época e a média histórica", escrevem os autores.
Que tenha demorado tanto para que o "mainstream" da economia neoclássica reconhecesse este fato é realmente assombroso. Por várias gerações seus próprios livros-textos vêm ensinando que cartéis "restringem a produção" para poder aumentar os preços. Também nunca foi nenhum segredo o fato de que a essência do Primeiro New Deal se baseava no uso dos poderes coercivos do governo para se elevar salários e preços através da cartelização de toda a economia.
FDR e seus conselheiros erroneamente acreditavam que a Depressão foi causada por uma queda nos preços; sendo assim, preços mais altos - sustentados por ameaças de violência, coerção e intimidação pelo estado - seriam a "solução". Além do mais, não é nenhum mistério que, se houver menos produção, será necessário um número menor de trabalhadores, o que, consequentemente, levará a uma alta do desemprego. Assim, a teoria econômica neoclássica padrão já deveria há muito ter percebido que o Primeiro New Deal nada mais foi do que um colossal esquema produtor de desemprego.
A triplicação de impostos feita por FDR, sua regulamentação dos negócios, e sua implacável propaganda anti-iniciativa privada também contribuíram para piorar a Grande Depressão, mas nada supera suas políticas trabalhistas, que provavelmente foram as mais danosas para as perspectivas de emprego dos trabalhadores americanos. Sob esse aspecto, a parte mais desapontadora do artigo de Cole e Ohanian é que eles sequer citam o trabalho pioneiro de Richard Vedder e Lowell Gallaway, Out of Work: Unemployment and Government in Twentieth Century America, publicado em 1993.
E é realmente vergonhoso que eles não mencionem esse renomado trabalho ao mesmo tempo em que usam essencialmente os mesmos argumentos de Vedder e Gallaway. Eles recitam muitos dos mesmos fatos sobre política trabalhista: leis do NIRA (National Industrial Recovery Act) que estabeleceram salários mínimos similares tanto para os trabalhadores pouco qualificados como para os de alta qualificação; os empregadores que receberam ordens de negociar coletivamente com os sindicatos, aos quais foram dados uma miríade de vantagens legislativas nos processos de acordos trabalhistas, todos reforçados pela recém criada NLRB (National Labor Relations Board). Todas estas políticas encareceram a mão-de-obra. Conseqüentemente, como a lei econômica da demanda já nos ensinou, o inevitável resultado só poderia ser o aumento do desemprego.
Entre 1936 e 1937, as atividades grevistas dobraram. Em 1936 ocorreram greves equivalentes a uma perda de 14 milhões de dias de trabalho, valor esse que apenas um ano depois dobrou para 28 milhões. E somente em 1937 os salários subiram quase 15 por cento. A diferença salarial entre trabalhadores sindicalizados e não-sindicalizados, que era de 5 por cento em 1933, foi para 23 por cento em 1940. A recém-criada Previdência Social, bem como outros impostos sobre a folha de pagamento criados para bancar o seguro-desemprego, encareceram ainda mais o custo de se empregar alguém. O que tudo isso mostra é que durante um período de fraca e declinante demanda por trabalho, as políticas do governo empurraram significativamente para o alto os custos da mão-de-obra, fazendo com que os empregadores a demandassem cada vez menos.
Vedder e Gallaway conduziram uma avaliação econométrica dessas custosas políticas trabalhistas e concluíram que grande parte do desemprego anormal ocorrido nessa década de 30 não teria ocorrido não fossem essas políticas governamentais. Eles estimaram que em 1940 a taxa de desemprego foi oito pontos percentuais mais alta do que teria sido caso não tivesse havido esse crescimento do sindicalismo, induzido pelas legislações criadas, e caso não houvesse esses custos trabalhistas recém ordenados pelo governo. Eles então concluem que "A Grande Depressão foi significativamente prolongada, tanto em sua duração como em sua magnitude, pelo impacto dos programas do New Deal" (pág. 141).
Cole e Ohanian chegaram exatamente às mesmas conclusões, mas expressaram-nas naquele linguajar tipicamente convoluto que sempre é utilizado nos "principais periódicos econômicos": "As políticas industriais e trabalhistas do New Deal não tiraram a economia da Depressão . . . . Ao contrário, as políticas coligadas de aumento do poder de barganha da mão-de-obra e da articulação de conluios com o pagamento de maiores salários impediram que houvesse uma recuperação normal, criando-se cismas e um ineficiente atrito entre os que estavam dentro dos sindicatos com os que estavam fora, o que levou a um aumento significativo dos salários e a uma restrição do emprego . . . .  o abandono dessas políticas coincidiu com a forte recuperação econômica da década de 1940".
Esta última conclusão - que o abandono das políticas de FDR "coincidiu" com a recuperação dos anos 40 - foi muito bem documentada por um outro autor que também foi ignorado por Cole e Ohanian: Robert Higgs. Em "Regime Uncertainty:  Why the Great Depression Lasted So Long and Why Prosperity Resumed after the War" (Independent Review, 1997), Higgs mostrou que foi a relativa esterilização das políticas do New Deal, junto com uma redução (em dólares absolutos) do orçamento federal de $98,4 bilhões em 1945 para $33 bilhões em 1948, que permitiu a recuperação econômica. A produção do setor privado aumentou quase um terço apenas no ano de 1946, o que fez com que o investimento do capital privado aumentasse pela primeira vez em dezoito anos.
Em resumo: foi o capitalismo que realmente encerrou a Grande Depressão, não a cartelização desmiolada promovida por FDR, seus aumentos salariais, sua sindicalização maciça, e suas políticas de expansão do assistencialismo. É bom ver que o Journal of Political Economy, a Universidade de Chicago e a UCLA estão finalmente abraçando a erudição libertária de Richard Vedder, Lowell Gallaway, Robert Higgs, Jim Powell (autor de FDR's Folly) e os predecessores destes, tais como Henry Hazlitt, John T. Flynn, Murray Rothbard,  F.A. Hayek, William H. Hutt, Benjamin Anderson, e outros associados à Escola Austríaca.
Antes tarde do que nunca.
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Venezuela-Espanha: mais um super-negocio chavista empantanado na corrupcao (El Pais)

Nada supreendente para quem conhece os companheiros daqui e de lá: eles se merecem...
El macrocontrato de Navantia en Venezuela tropieza por los avales
El contrato del siglo del sector naval, firmado en 2005 entre los astilleros españoles de Navantia y la Armada venezolana y rubricado a bombo y platillo por los Gobiernos de Chávez y Rodríguez Zapatero, ha entrado en un terreno pantanoso. La empresa pública tiene que recuperar los 312 millones de euros que entregó como garantía (fiel cumplimiento, anticipo, garantías técnicas…). No obstante, la polémica que envuelve al contrato puede complicar su devolución. Navantia rompió relaciones con su intercolutor en Venezuela, la firma Rebazve, tras ser denunciados por la Fiscalía Anticorrupción e imputados sus responsables (los ciudadanos venezolanos Pedro Enrique Malave Benavides y Juan Rafael Carballo López-Benavides) junto a los subagentes de estos en España (Javier Salas Collantes y Antonio Rodríguez-Andía) al considerar que las comisiones cobradas fueron exageradas y pueden ser constitutivas de varios delitos.
Los avales debían liberarse conforme se fueran alcanzando los hitos pactados y se fueran entregando los buques. Por eso, a estas alturas Navantia tendría que haber recibido 241,8 millones de euros, correspondientes a las fianzas de los cuatro patrulleros y a los tres de los cuatro buques de vigilancia. Fuentes de los astilleros públicos aseguran que hasta ahora solo han recibido una pequeña cantidad. El último buque se termina por contrato en los astilleros venezolanos Dianca y al mismo están ligados 39,3 millones, más un suplemento de otros 30,6 millones.
Fuentes de la empresa pública que preside José Manuel Revuelta han asegurado que están en contacto con la Administración venezolana y esperan empezar a recibir el dinero correspondiente al resto en avales antes de acabar el año. En todo caso, confían en que no existan problemas y reconocen que todavía queda más de un año para que se produzca la finalización del contrato.
Fuentes ligadas a Rebazve sostienen que la falta de interlocución eficaz con las autoridades venezolanas puede ser la causa del retraso. Por otra parte, estas fuentes presumen que, en caso de abrirse juicio oral contra los antiguos responsables de Navantia (el presidente y director comercial en el momento del contrato Juan Pedro Gómez Jaén y Jesús Arce, también imputados) bajo los postulados que defiende la fiscal (que la empresa habría pagado comisiones desorbitadas que habrían repercutido en el precio), no hay que descartar que las autoridades venezolanas se vean concernidas y decidan hacer indagaciones para examinar si Navantia cobró de más. En ese hipotético escenario, esas fuentes sostienen que podrían optar por la ejecución de las garantías contractuales.
El asunto se enconó tras decidir Navantia, que en principio había apoyado a sus representantes, romper con ellos y personarse como acusación particular en el caso de las comisiones cobradas en el citado contrato. Rebazve, que estaba ligada a los astilleros desde los tiempos de la antigua Bazán (su nombre es el acrónimo de Representantes de Bazán en Venezuela), intermedió entre la empresa española y el Ministerio de Defensa de Venezuela en los contratos, cuyo valor se elevó a 1.246 millones. La comisión recibida por el contrato fue del 3,5% (42 millones), de los que los subagentes españoles (Salas y Andía) se llevaron 12 millones (el 29,1% de lo cobrado por Rebazve) en concepto de asesoramiento, asistencia e intermediación en España a través de Camino Nuevo.
La ruptura se produjo el 26 de abril de 2013 tras haber sido imputados los responsables de Rebazve por la titular del juzgado número 8 de Madrid, Rosario Espinosa, a petición de la fiscal Pilar Melero Tejerina, de la Fiscalía Anticorrupción, ante la que habían declarado como testigos en dos ocasiones. La juez había imputado previamente a los subagentes españoles por tráfico de influencias, falsedad documental y delito fiscal. Posteriormente, añadió el de malversación de caudales públicos, y la amplió a los exdirectivos de Navantia. El delito fiscal fue retirado al comprobar que Salas y Andía habían hecho la declaración pertinente.
La intervención de la Fiscalía Anticorrupción se produjo después de que, a principios de 2010, la filial española del Deutsche Bank pusiera en conocimiento del Servicio de Prevención de Blanqueo de Capitales (Sepblanc) del Banco de España la existencia de unos movimientos importantes de fondos por si pudieran corresponder a un posible blanqueo de dinero. Dichos flujos se correspondían con los pagos fijados en el contrato de mediación de Rebazve con Navantia.
La acusación de que los imputados habían cobrado “cantidades inalcanzables en otros ámbitos, no determina su ilegalidad” para la Audiencia Provincial de Madrid, ante la que recurrieron, porque estaba estipulado en el contrato. La defensa sostuvo que los representantes de Rebazve tienen su domicilio en Venezuela y que “la gestión y desarrollo del contrato con Navantia les había aconsejado contar con unos agentes locales”, además de sostener que el porcentaje está en lo habitual en este tipo de intermediaciones.
La Audiencia de Madrid revocó varias imputaciones en enero de 2012, al tiempo que criticaba la ligereza del ministerio fiscal por no acreditar pruebas.

Intelectuais franceses: sempre tropecando na historia, e na economia -Mario Vargas Llosa

Vargas Llosa não se refere, entre outros, a François Furet, que no seu livro Le Passé d'une Illusion (fiz uma resenha e deve talvez ser encontrada neste blog) examina esses stalinistas tardios, mas é bastante crítico de Tony Judt, que partilhava, sim, de todos os vieses dos progressistas acadêmicos e mantinha um preconceito fundamental contra o capitalismo, que foi quem devolveu a riqueza aos europeus no pós-guerra.
Aliás, até hoje os franceses brigam contra a economia de mercado e continuam a afundar alegremente o seu país.
Grato ao Orlando Tambosi pela transcrição.
Paulo Roberto de Almeida 
Mario Vargas Llosa analisa o livro de Tony Judt, recentemente falecido, sobre o lamentável passado da intelectualidade francesa, particularmente identificada com posições de esquerda. Parece demonstrar certa nostalgia por essa cultura contaminada pelo totalitarismo marxista, e que estendeu sua influência negativa pela América Latina. Concordo que Judt deveria ter incluído Revel, o rebelde liberal, na obra Passado Imperfeito(também publicada no Brasil pela editora Nova Fronteira, tradução que li há alguns anos), mas, no geral, acho que sua crítica da intelectualidade do pós-guerra vai bem. Como também viveu em Paris duante anos, Vargas Llosa é ambíguo em relação à atmosfera criada por pensadores que, por seu encarniçamento ideológico, merecem esquecimento - Sartre na linha de frente. Quanto a Judt, que morreu em Nova York, li outros livros dele e acho que, no fundo, partilhava a lamntável doutrina politicamente correta - ausente, porém, na sua crítica aos franceses. Segue o texto publicado no El País pelo escritor peruano e Prêmio Nobel de Literatura:


Acaba de ser reeditado nos Estados Unidos um livro de Tony Judt que apareceu pela primeira vez em 1992 e que eu não conhecia: Past Imperfect: French Intellectuals, 1944-1956. Impressionou-me muito porque eu vivi na França por cerca de sete anos, em um período - 1959-1966 - ainda impregnado pela atmosfera e pelos preconceitos, acrobacias e desvarios ideológicos que o grande ensaísta britânico descreve em seu ensaio com tanta severidade e erudição.

O livro pretende responder a esta pergunta: por que, nos anos do pós-guerra europeu e até meados da década de setenta, os intelectuais franceses, de Louis Aragon a Sartre, de Emmanuel Mounier a Paul Éluard, de Julien Benda a Simone de Beauvoir, de Claude Bourdet a Jean-Marie Doménach, de Maurice Merleau-Ponty a Pierre Emmanuel etc., foram pró-soviéticos, marxistas e companheiros de viagem do comunismo? Por que escritores e pensadores europeus acabaram sendo os últimos a reconhecer a existência do Gulag, da brutal injustiça dos julgamentos stalinistas em Praga, Budapeste, Varsóvia e Moscou que mandaram revolucionários comprovados para o paredão? Houve exceções ilustres, com Albert Camus, Raymond Aron, François Mauriac e André Breton entre eles, mas foram escassas e pouco influentes em um meio cultural no qual as opiniões e os posicionamentos dos primeiros prevaleciam de maneira esmagadora.

Judt pinta um quadro de grande rigor e leveza do renascer da vida cultural na França após a libertação, uma época em que o debate político impregna todo o movimento filosófico, literário e artístico e permeia os meios acadêmicos, os cafés literários e revistas como Les Temps Modernes, Esprit, Les Lettres Françaises e Témoignage Chrétien, que passam de mão em mão e alcançam tiragens notáveis. Comunistas e socialistas, existencialistas e cristãos de esquerda, seus colaboradores divergem sobre muitas coisas, mas o denominador comum é um anti-americanismo sistemático, a convicção de que entre Washington e Moscou a primeira representa a incultura, a injustiça, o imperialismo e a exploração, e a última o progresso, a igualdade, o fim da luta de classes e a verdadeira fraternidade. Não chegam todos aos extremos de um Sartre, que, em 1954, após sua primeira viagem à União Soviética, afirma, sem o menor pudor: “O cidadão soviético é completamente livre para criticar o sistema”.

Nem sempre se trata de uma cegueira involuntária, derivada da ignorância ou da mera ingenuidade. Tony Judt mostra como ser um aliado dos comunistas era a melhor maneira de limpar um passado contaminado pela colaboração com o regime de Vichy. É o caso, por exemplo, do filósofo cristão Emmanuel Mounier e de alguns de seus colaboradores na Esprit, que, no início da ocupação, tinham sido seduzidos pela chamada experiência de nacionalismo cultural Uriage, patrocinado pelo governo, até que, advertidos de que era manipulada pelas forças nazistas da ocupação, se distanciaram. E eu me recordo que, no princípio dos anos setenta, diante de alguns manifestantes universitários que queriam impedi-lo de falar e citavam Sartre, André Malraux respondeu a eles: “Sartre? Eu o conheço. Fazia suas peças de teatro serem representadas em Paris, aprovadas pela censura alemã, enquanto a Gestapo me torturava”.

Tony Judt diz que, além da necessidade de fazer esquecer um passado politicamente impuro, por trás do esquerdismo dogmático desses intelectuais havia um complexo de inferioridade do meio cultural, pela facilidade com que a França se rendeu aos nazistas e aceitou o regime fantoche do Marechal Pétain, e foi libertada de maneira decisiva pelas forças aliadas lideradas pelos Estados Unidos e pela Grã-Bretanha. Ainda que tenha existido, sem dúvidas, uma resistência local e uma participação militar (gaullista e comunista) na luta contra o nazismo, a França jamais teria conquistado sozinha sua própria libertação. Isso, somado à substancial ajuda que recebia dos Estados Unidos para seus trabalhos de reconstrução, através do Plano Marshall, teria disseminado um ressentimento que pode explicar, segundo Judt, essa doença infantil do esquerdismo pró-stalinista que marcou sua vida intelectual entre 1945 e os anos sessenta.

No polo oposto, destaca-se a figura de Albert Camus. Nos anos cinquenta, não era necessária apenas lucidez para condenar os campos soviéticos de extermínio e os julgamentos duvidosos; também era preciso uma grande coragem para enfrentar uma opinião pública tendenciosa, a demonização de uma esquerda que tinha o controle da vida cultural e uma ruptura com seus antigos companheiros de resistência. Mas o autor de O Homem Revoltado não hesitou, afirmando, contra tudo e contra todos, que dissociar a moral da ideologia, como fazia Sartre, era abrir as portas da vida política ao crime e às piores injustiças. O tempo lhe deu razão e por isso as novas gerações continuam lendo suas obras, enquanto a maior parte dos que então eram os mestres da vida intelectual francesa foi engolida pelo esquecimento.

Um caso muito interessante, que Tony Judt analisa detalhadamente, é o de François Mauriac. Resistente desde o primeiro momento contra os nazistas e Vichy, suas credenciais democráticas eram impecáveis na época da libertação. Isso o permitiu enfrentar, com argumentos sólidos, a maré pró-stalinista e, sobretudo, como católico, os progressistas da Esprit e daTémoignage Chrétien, que em muitas ocasiões, como durante as polêmicas sobre o Gulag desatadas pelos testemunhos de Viktor Kravchenko e de David Rousset, serviram de meros porta-vozes das mentiras inventadas pelo Partido Comunista francês. Por outro lado, tanto em suas memórias quanto em seus ensaios e colunas jornalísticas, ele se adiantou a todos os seus colegas ao iniciar uma profunda autocrítica dos delírios de grandeza da cultura francesa, em uma época na qual – ainda que muitos poucos além dele tenham percebido na ocasião – ela entrava justamente em um declínio do qual até hoje não conseguiu sair. Nunca gostei dos romances de Mauriac e por isso descartei seus ensaios; mas este livro Past Imperfect de Judt me convenceu de que cometi um erro.

No entanto, nem tudo é convincente no livro. É imperdoável que, além de Camus, Aron e outros, a obra não faça menção a Jean-François Revel, que, desde o fim dos anos cinquenta, travava também uma batalha bastante intensa contra os símbolos do stalinismo. Ou que não ressalte suficientemente a denúncia do colonialismo e o apoio às lutas do Terceiro Mundo para se livrar das ditaduras e da exploração imperial, que foi um dos cavalos de batalha e talvez o aporte mais positivo de Sartre e de muitos de seus seguidores na época.

Por outro lado, ainda que a dura crítica de Tony Judt ao que chama de “anestesia moral coletiva” dos intelectuais franceses seja, feitos os cálculos, justa, ele omite algo que nós que de alguma maneira vivemos aqueles anos dificilmente poderemos esquecer: a vigência das ideias, a crença – por vezes exagerada – de que a cultura em geral, e a literatura em particular, desempenhariam um papel de primeiro plano na construção daquela futura sociedade na qual a liberdade e a justiça finalmente se uniriam de maneira indissolúvel. As polêmicas, as conferências, as mesas redondas no auditório lotado da Mutualité, o público ávido, principalmente de jovens, que acompanhava tudo aquilo com fervor e prolongava os debates nos bistrôs do Quartier Latin e de Saint Germain: impossível lembrar-se de tudo isso sem nostalgia. Mas é verdade que foi bastante efêmero, menos relevante do que acreditávamos, e que o que então nos pareciam ser os grandes anais da inteligência eram mais os estertores da figura do intelectual e os últimos instantes de uma cultura de ideias e palavras, não limitada aos seminários do meio acadêmico, mas sim derramada sobre os homens e as mulheres das ruas.

Banco dos Brics: brincando com o dinheiro dos contribuintes - Gustavo Franco

Nunca antes no país irresponsáveis totalitários foram tão irresponsáveis com o meu, com o seu, com o nosso dinheiro...
Paulo Roberto de Almeida 




Dida Sampaio/Estadão
Gustavo H.B. Franco - O Estado de S.Paulo
Seguindo-se à Copa do Mundo, em Fortaleza, o governo brasileiro resolveu comprometer até US$ 38 bilhões em uma iniciativa diplomática cujos supostos benefícios se parecem, na sua subjetividade, com os da própria Copa. Os custos, porém, são muito concretos: o equivalente a 114 estádios (ao custo unitário de US$ 0,33 bilhão), ou dois trens-bala, em dinheiro inexistente, o que indica algo entre a indiferença e o desprezo pelo contribuinte brasileiro. 
Presidentes se reúnem no Palácio do Itamaraty durante VI Cúpula dos BRICS
Presidentes se reúnem no Palácio do Itamaraty durante VI Cúpula dos BRICS
DIDA SAMPAIO/Estadão
Trata-se do banco do Brics, um banco de fomento, que receberia duas chamadas de capital, ambas de US$ 50 bilhões, a primeira já, e cabendo a cada sócio 20% da subscrição. O banco seria também o administrador de um fundo de liquidez de até US$ 100 bilhões dos quais caberia ao Brasil contribuir com o equivalente a 18% do total, tal como Rússia e Índia. Os porcentuais para a China e para a África do Sul seriam de 41% e 5%, respectivamente.

Tudo somado, US$ 38 bilhões, a maior parte a desembolsar depois de terminado o mandato de Dilma Rousseff.

Como é possível comprometer tanto dinheiro no final de uma administração em um projeto que reflete opções muito particulares e partidárias de política fiscal e de diplomacia econômica?

De onde saem os US$ 38 bilhões e em detrimento de que outras prioridades? Como será usado esse dinheiro?

Como não existem respostas para as primeiras duas perguntas (sobre as quais os órgãos de controle do setor público deveriam se debruçar), o texto que se segue trata apenas da última.

O Brasil participa de diversos bancos de desenvolvimento multilaterais, e em todos eles prevalece uma espécie de regra de ouro segundo a qual o capital colocado pelo Brasil precisa ser alocado em projetos de interesse do Brasil, sendo esta uma contabilidade que os funcionários brasileiros nessas instituições zelam para que seja cumprida à risca, ou com sobra. Já passamos da fase onde o País recebia mais do que aportava, como é típico dos países pobres, mas ainda não estamos na categoria dos ricos que conscientemente aceitam receber em empréstimos menos do que contribuem, e que se esmeram na definição das condições associadas ao uso dos recursos abrangendo impactos sociais e ambientais, e mesmo precauções contra a corrupção.

No caso em tela, onde o banco de desenvolvimento é formado por cinco países de renda média, a tendência será a formação de cinco balcões segregados, cada qual falando o próprio idioma e cuidando dos próprios negócios. O assunto fica mais politizado, mas não muito diferente, se o banco for operar em outros países, pois cada sócio vai criar a própria clientela, sabe-se lá com que critérios.

A prevalecer esta compartimentalização, o leitor estará correto em pensar que, para tratar do nosso pedaço, já temos o BNDES. Em vez de uma nova sede, bastava mais uma sala na Avenida Chile e um contrato de terceirização, com isso evitando boa parte dos custos administrativos e do aprendizado do novo veículo.

Entretanto, essa solução engenhosa e econômica resulta em criar um pequeno monstro: um canal de transferências regulares entre o Tesouro e o BNDES, que transitariam pelo novo banco só num relance contábil. Seria uma espécie de aprofundamento do modelo de "conta movimento" desenvolvida nos últimos anos, agora apensado a uma obrigação internacional. É mais um prego no caixão do equilíbrio fiscal, uma marca desse governo.

É verdade que os bancos de desenvolvimento podem ir além dos limites do próprio capital captando recursos em mercado a custos inferiores do que alguns de seus sócios seriam capazes de obter em captações individuais. Mas são poucos os que conseguem: o Banco Mundial, assim como a Corporação Andina de Fomento emitem instrumentos de dívida com muito sucesso há muitos anos, pois mantêm uma estrutura de capital conservadora e um histórico honrado de financiamentos a projetos com bons retornos e boas parcerias, inclusive com outros bancos de desenvolvimento.

Quanto tempo e quantos bilhões serão necessários até o banco do Brics chegar a esse amadurecimento? Com cinco sócios que pouco se conhecem, e com agendas tão diferentes, não seria mais plausível imaginar que a construção seja longa e dispendiosa, e talvez não chegue a lugar algum? E o risco de captura pelas agendas imperialistas de Rússia e China?

Outro assunto é o fundo para oferecer liquidez em bases temporárias a membros do grupo, ou a seus amigos. É fácil especular sobre esses assuntos quando todos estão com reservas sobrando, mas não vamos nos iludir que haja alguma ideia nova no arranjo. Desde a Conferência de Bretton Woods em 1944, quando o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI) foram criados, algumas das melhores cabeças desse planeta estão matutando sobre a organização de mecanismos estabilizadores para a economia global, e já há muita experiência acumulada, em várias direções, a partir da atuação do FMI.

O conceito básico aqui é simples: os empréstimos do FMI têm a natureza de um "redesconto bancário", ao passo que o fomento cabe ao Banco Mundial. A missão do FMI é ofertar reservas internacionais emprestadas por prazos curtos para países com dificuldades temporárias de balanço de pagamentos, a custos que não precisam ser especialmente punitivos, mas cujo uso deve ser caro a ponto de estimular o mutuário a não praticar as condutas que levam à necessidade de utilizar esses recursos. A missão do FMI é ajudar a restaurar o equilíbrio externo dos participantes da economia global, mas sem incentivar o desequilíbrio. A rede de proteção permite que o trapezista faça manobras mais ousadas, ou seja, cria um problema conceitual nada simples e para o qual não existe ainda uma bala de prata.

A ideia de um novo fundo para complementar a atuação e os recursos do FMI é bem vinda, mas ociosa, pois nada impede que cada um dos países do Brics participe dos pacotes de financiamento que o FMI organiza. Não há muita clareza sobre esse tópico, mas volta e meia aparece a ideia que o novo fundo poderia "competir" com o FMI e montar programas alternativos de apoio em "outras bases", o que apenas pode ser tomado como um bom roteiro para um romance de ficção científica, onde o contribuinte morre no fim.

Afastados esses delírios, fica a impressão de que, independentemente do que vai acontecer com o novo banco, a cooperação Sul-Sul teve aqui uma epifania, e quem pensava que a política externa era apenas uma diversão barata há de ter se surpreendido.

Nada é definitivo, felizmente, e se a hesitação em assinar cheques mostrar-se, uma vez mais, proporcional aos desentendimentos esperados entre os países do Brics, o desfecho provável desse minueto será alguma solução barata e que preserve os "ganhos conceituais", esta é a linguagem diplomática para as ideias que não voam.

Verdades que os totalitarios nao gostam de ouvir - Geraldo Samor (Veja Negócios)


Veja.com, 27/07/2014
 às 16:02 \ Mercado de ideias
Geraldo Samor

Santander: Verdades que não cabem num extrato

Doze anos depois da ‘carta’, um extrato assusta o PT
O episódio que começou com a singela opinião de um analista do banco Santander e terminou num pedido de desculpas, na vitimização do PT e na demissão de funcionários do banco mostra o crescente constrangimento do debate de ideias no Brasil, já tão pobre e imbecilizado.monkey-covering-eyes-224x300
Dizer que, se Dilma for reeleita, a Bolsa vai cair e o dólar vai subir é como “prever” que o rio corre para o mar, ou que o dia amanhecerá depois da noite.
Ao tentar envenenar a análise clara do Santander, o PT só prova que, além de ser mau gestor da economia, o partido está cada vez mais medroso, mais cheio de mimimi, e mais distante da democracia.
Senhoras e senhores, liberais e conservadores, petistas e tucanos: O dinheiro não aceita desaforo. O dinheiro não é “amigo” de uns, nem tem antipatia com outros. Ele não é um ente político nem partidário. Ele é um freelancer que só busca uma coisa: retorno sobre o investimento. Boa parte do PIB nacional já “votou” no PT em 2006 e até em 2010, uma época em que o partido deixou a economia em paz no seu tripé e foi cuidar dos programas sociais.
Mas, ensinam os livros de economia, os donos do dinheiro são sujeitos excêntricos: eles só acham possível obter retorno quando as regras são claras e estáveis, quando a inflação está baixa, e quando o País cresce. Infelizmente — para a Presidente Dilma, para o mercado e para o País — seu governo falhou nos três quesitos. Nada pessoal, Presidente.
O Santander está certo: se este governo que produz PIBinho atrás de PIBinho e que faz com que empresários represem investimentos for reeleito, as empresas brasileiras valerão menos, o dólar valerá mais, e a economia continuará crescendo pouco ou nada. Isto é uma realidade econômica, mas se você não entende o sentido da frase “não existe almoço grátis”, nem precisa continuar lendo.
Qualquer brasileiro pode se lixar para o valor das empresas, dar de ombros para o valor do dólar, e não se ligar na taxa de crescimento do Brasil — apesar das três coisas terem impacto na sua vida e na do seu vizinho — e pode votar na Presidente Dilma. É um direito dele, assim como deveria ser direito de um analista de banco…. analisar os incentivos dos agentes econômicos, como fizeram os funcionários do Santander.
É curioso que, na eleição de 2002, o então candidato Lula (então conhecido no mercado como Satã) entendeu a importância de se comunicar com o mercado (ainda conhecido no PT como Satã) em sua famosa “carta ao povo brasileiro” — mais conhecida, na piada que a história consagrou, como “carta ao banqueiro brasileiro”. Para quem não se lembra, era uma carta em que o PT jurava que ia honrar as dívidas e não bagunçar a economia que FHC havia acabado de consertar.
É isto mesmo, companheiros. Saboreiem a ironia: o partido que um dia teve a coragem de escrever uma carta pública, renunciando a 20 anos de nonsense econômico, hoje se faz de vítima histérica de uma opinião nada controversa escrita num reles extrato. Pior: não quer que sua política econômica passe pela análise de profissionais de uma empresa financeira que é paga para orientar seus correntistas.
Rui Falcão, presidente do PT, disse ao Estadão: “O que aconteceu é proibido, porque você não pode fazer manifestações que por qualquer razão interfiram na decisão de voto. E aquele tipo de afirmação pode sim interferir na decisão do voto.”
Levada ao limite, a tese de Falcão impediria o debate político, já que qualquer cidadão que emite uma opinião “interfere” na decisão de voto de alguém. Se fosse assim, só nos restaria sentar e assistir à propaganda eleitoral, aquele espaço onde existe tudo, menos verdade.
Os esforços do PT de se fazer de vítima do mercado nessa estória revelam a pobreza intelectual do partido, sua incapacidade de lidar com críticas e seu oportunismo em bancar a vítima. Nos EUA, quando os democratas estão na frente numa corrida eleitoral, os bancos frequentemente dizem que isso é má notícia para o mercado (“vendam suas ações”), pois democratas tendem a querer mais impostos e mais gastos. Apesar disso, não há registro do Partido Democrata ameaçar o JP Morgan ou a Goldman Sachs de “interferir no processo”.
Quanto ao Santander, que assumiu o “erro” e pediu desculpas, também aprendemos uma coisa: Nem o banco mais umbilicalmente conectado com o Governo — com exceção dos próprios bancos estatais — conseguiu controlar uma opinião que, de tão óbvia, passou desapercebida por qualquer controle interno.
A postura subalterna do Santander — noves fora a covardia inominável de demitir seu time de analistas — não é, entretanto, de se estranhar. O banco é como o capital: só quer saber de seu retorno. É um negócio amoral.
Já da política se espera muito mais — o livre debate de ideias — e é preocupante que os políticos não estejam à altura das expectativas.
No final das contas, o extrato do Santander só mostrou uma democracia com saldo negativo.
Por Geraldo Samor

Seria Israel um estado invasor, e portanto ilegítimo? - Rodrigo Constantino (Veja)

Seria Israel um país invasor e, portanto, ilegítimo?

Rodrigo Constantino  VEJA, 27/07/2014 

A primeira acusação que alguns fazem a Israel diz respeito ao próprio direito de a nação judaica existir. Judeus vivem naquela região há milênios. Os judeus europeus começaram a se mudar para onde hoje é Israel em números significativos desde 1880. Quem aceita a Austrália, para dar um exemplo, como sendo legitimamente uma nação, não pode questionar a legitimidade da presença judaica onde hoje é Israel. Várias nações surgiram por decisões políticas e diplomáticas, mas Israel parece ser a única julgada como não merecedora do direito de existir.
As terras adquiridas no Oriente Médio pelos judeus não foram fruto de colonização, mas sim compradas, muitas vezes de especuladores árabes que viviam no Líbano. Eram terras pobres, e os compradores eram refugiados de regimes opressivos que procuravam uma nova vida num lugar em que seus ancestrais viveram e foram expulsos.
A Judeia mudou de nome para Palestina no começo da era pós-Cristo, quando os judeus foram expulsos pelos romanos. Mas a região nunca deixou de contar com numeroso contingente judaico. Muitos viviam pacificamente com árabes, até que Maomé desferiu atrocidades contra seu novo inimigo, chegando a massacrar homens, mulheres e crianças judias. Suas ordens eram claras: “Jamais podem existir duas religiões na Arábia”. Ainda assim, Tel Aviv foi uma cidade predominantemente judaica desde a sua fundação em 1909. O argumento de que o Estado de Israel é colonizador na origem e não tem sequer o direito à existência é injusto e falso.
A Palestina sempre foi dividida em várias partes territoriais, sendo que a maior delas era governada de Damasco por um paxá. Mas não se pode dizer que os palestinos habitavam uma “nação” da Palestina antes da criação de Israel. A edição de 1911 da Encyclopaedia Britannicadescreveu a população da Palestina como compreendendo grupos “étnicos” muito diferentes, falando não menos do que 50 línguas.
Eram vastas milhas sem habitação alguma, e tribos de beduínos espalhadas pelo território. Nunca houve uma união em forma de nação, formando uma Palestina. Os judeus ocuparam, legal e pacificamente, uma pequena parcela desse vasto território, transformada em nação por medidas de segurança após a Segunda Guerra, quando ficou evidente a insustentabilidade de convivência mútua entre judeus e muçulmanos, cujos líderes haviam apoiado abertamente o nazismo de Hitler.
Já na Primeira Guerra, os árabes muçulmanos lutaram, em sua maioria, ao lado dos imperialistas otomanos, e mesmo derrotados, ficaram com cerca de 80% do território. O primeiro Estado estabelecido na Palestina foi um emirado, chamado Transjordânia, exclusivamente árabe. Mas havia clara oposição à formação de um Estado judaico, e os líderes árabes começaram a exigir a eliminação de qualquer presença judaica na Palestina.
Muitos gritavam que “a religião de Maomé nasceu com a espada”. Os ocidentais, em especial os britânicos, acreditaram que a centralização do poder nas mãos de um religioso ou político facilitaria o controle da região. Husseini foi escolhido, mas se tratava de um antissemita virulento, com declarado ódio aos judeus. O líder dos palestinos aproximou-se de Hitler, e insistiu que sua “solução final” chegasse à Palestina, liquidando os judeus do mapa. Em 1929, ocorreu o massacre de Hebron, quando 60 judeus foram mortos e o restante foi expulso da cidade.
Em 1937, a divisão em dois Estados foi proposta, e os judeus aceitaram de imediato, enquanto os árabes rejeitaram, alegando que a Palestina fosse toda colocada sob o controle árabe, com os judeus sendo transferidos para outro país. Durante o Holocausto, a suástica tornou-se um símbolo bem recebido entre muitos palestinos, e a SS deu tanto apoio financeiro como logístico aos pogroms antissemitas na Palestina.
Em 1944, uma unidade de comando árabe-alemã sob as ordens de Husseini foi lançada na Palestina num esforço para envenenar os poços de Tel Aviv. Mesmo estando novamente do lado perdedor da guerra, várias vantagens foram oferecidas aos palestinos após a queda de Hitler. Mas não era suficiente. Os judeus tinham de sumir dali, e a criação de Israel, para proteção dos judeus, nunca foi aceita.
Várias nações muçulmanas, lideradas pelo Egito, atacaram Israel, tendo como alvos civis inocentes. Suas bases militares eram deliberadamente cercadas por escudos civis, para qualquer reação de Israel causar danos a inocentes, afetando sua imagem frente à opinião pública. Apenas a perfídia impede alguém de notar a diferença moral entre alvejar expressamente civis e atingir acidentalmente civis, defendendo-se.
Em 1967, uma nova guerra contra os judeus teve início, pelas claras iniciativas de Nasser. Os exércitos árabes estavam aglomerados ao longo da fronteira de Israel, prontos para atacar. Os planos de guerra egípcios incluíam o massacre da população civil de Tel Aviv. Israel derrotou seus inimigos na Guerra dos Seis Dias, com um número de baixas civis árabes menor que em qualquer guerra comparável.
Em outubro de 1973, o Egito e a Síria desfecharam ataques-surpresa contra Israel no Yom Kippur, o dia mais sagrado do ano judaico. Israel tem armas nucleares desde os anos de 1960, mas jamais as usou, mesmo nessa guerra absurda. Ainda assim acusam de genocida aquele que se defendia de forma moderada dos inimigos fanáticos.
Israel simplesmente não podia existir. O terrorismo seria adotado como prática comum para esse objetivo final: exterminar o povo judeu. Nada além disso seria aceito pelos líderes palestinos, cuja existência do inimigo externo serve como escusa para o totalitarismo interno. O falecido terrorista Yasser Arafat não negou tal objetivo, ao declarar que a OLP planejava “eliminar o Estado de Israel e estabelecer um Estado puramente palestino”.
O sobrinho de Husseini, acusado de desviar milhões de dólares da OLP, continuou, afirmando que tornaria “a vida impossível para os judeus através de guerra psicológica e explosão populacional”. Enquanto a mulher e filha de Arafat viviam confortavelmente na França, filhos de palestinos, alguns com apenas 13 anos, eram mandados pelo líder como bombas humanas para o assassinato de crianças, mulheres e idosos judeus.
Até mesmo um deficiente físico foi jogado no mar em um seqüestro de um navio pelos terroristas palestinos. Suas ações incluem bombas em sinagogas, discotecas, jardim-de-infância, aviões e shopping centers. Ainda assim, a ONU recebia Arafat como um respeitado líder. O método estava funcionando, e os ataques terroristas se intensificavam. Hoje, a OLP é vista como “moderada” e o grupo terrorista Hamas é o radical que muitos querem na mesa de negociação. O vetor resultante caminha na direção do radicalismo.
O duplo padrão do julgamento internacional deixa evidente o viés antissemita. A ocupação da Palestina pela Jordânia e pelo Egito jamais foi condenada pela ONU, nem foi alvo de preocupação dos grupos de direitos humanos. O fato de os próprios árabes e muçulmanos serem os maiores assassinos dos palestinos nunca foi duramente criticado. São sempre dois pesos e duas medidas. Israel é sempre o culpado.
O Tibete foi ocupado pela China comunista, teve boa parte de seu povo dizimada sem qualquer motivo, mas a “ocupação” de Israel na Palestina merece infinitamente mais atenção da mídia, e a ONU jamais condenou a China por isso. Se Israel consegue matar um terrorista palestino em um ataque cirúrgico, é acusado de “terrorismo de Estado”. Até mesmo um muro construído por Israel foi condenado, e comparado ao Muro de Berlim, ignorando a obviedade de que um tenta impedir a entrada de terroristas, e o outro a saída do próprio povo escravo.
Não adianta: qualquer ação que Israel tome para combater o terrorismo será vista como condenável. É a sua própria existência que não aceitam.
Rodrigo Constantino