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terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Falecimento do Embaixador, ex-chanceler Luiz Felipe Lampreia - nota do CEBRI, memorias Paulo Roberto de Almeida

Homenagem ao ex-chanceler, embaixador Luiz Felipe Lampreia

Paulo Roberto de Almeida
Por ocasião de seu falecimento, em 2/02/2016

Nunca trabalhei sob a ordens diretas do Embaixador Lampreia, mas tive o prazer de desfrutar, usufruir, aprender e colaborar com ele, enquanto chefe de missão ou chanceler, nas inúmeras interfaces de trabalho que pude ter com ele, seja na Secretaria de Estado -- quando eu me ocupava de assuntos financeiros -- seja nos postos, notadamente em Paris e em Washington, quando ele passava rápida ou ocasionalmente, ou quando ele se delongava para os compromissos, multilaterais ou bilaterais, que estivessem na agenda de relações exteriores e de política internacional do Brasil.
Em todas essas ocasiões, pude avaliar seu conhecimento perfeito dos temas da agenda econômica, comercial ou financeira, dos quais eu me ocupava, e sobretudo seu senso de equilíbrio, seja em relação ao Gatt-OMC, organizações de Bretton Woods, Mercosul, negociações da Alca, acordos de investimento, e vários outros assuntos dos quais fui sucessivamente responsável e em relação aos quais cabia a ele tomar a decisão final, no âmbito do nosso ministério (e acima dele, na Presidência da República).
Nunca tive esse privilégio de trabalhar sob suas ordens diretas, mas tive a oportunidade de preparar “position papers”, ou notas de informação, e até mesmo discursos, quando ele tinha de ir ao Congresso, falar em uma ou outra das comissões de relações exteriores, ou quando tinha de falar em público, em algum encontro diplomático ou seminário acadêmico.
Lembro-me, especialmente (e devo ter o texto registrado como documento de trabalho em meu computador), de ter preparado, em 1993, subsídios para seu discurso de posse, quando o então senador Fernando Henrique Cardoso foi designado chanceler pelo presidente Itamar Franco, e ele assumiu a Secretaria Geral do Itamaraty, o mais alto posto, fora do cargo político de ministro de Estado (que ele também assumiu mais tarde), a que pode aspirar um diplomata. Foi o momento em que o Brasil distanciou-se do conceito bastante vago e pouco operacional de América Latina, para adotar a prioridade política da América do Sul, nosso ambiente de "manobras diplomáticas" naturais para a construção de um espaço econômico integrado no continente a partir do Mercosul (ainda não tinha sido lançada a Alca, mas o presidente Bush pai já tinha proposta a "Iniciativa para as Américas" e o Brasil tomou a iniciativa de reforçar os laços sub-regionais).
Anos mais tarde, lembro-me igualmente de tê-lo questionado sobre o "esquecimento relativo" da América do Sul (e isso foi antes da reunião de presidentes da região em 2000, a convite do presidente FHC), durante esses anos todos em que ele foi chanceler. Ele me respondeu evasivamente, mas era claro que trabalhar com os vizinhos, sobretudo num projeto de livre comércio, quando o Brasil estava claramente à frente de vários dos nossos vizinhos, seja industrialmente ou tecnologicamente, era bastante difícil, e Lampreia tinha plena consciência disso. Os projetos de acordos comerciais com os vizinhos do Grupo Andino (logo em seguida CAN) não avançavam como gostaríamos. 
Foi por isso, aliás, que o Brasil propôs a IIRSA, em 2000, Iniciativa de Integração Física da América do Sul, que depois foi sabotada deliberadamente pelos companheiros, quando eles assumiram o poder em 2003, ou pelo menos colocada em bases políticas antiamericanas, no experimento da CASA, que depois redundou (por manobras do caudilho Chávez) na Unasul bolivariana, dando um golpe nas pretensões e nos projetos do Brasil).
Lampreia provavelmente teria atuado de maneira muito diferente se tivesse, por um desses acasos da história, continuado à frente do Itamaraty. Por isso mesmo, sempre admirei seu senso de equilíbrio, seu jeito ponderado e cuidadoso de atuar nas diversas frentes de trabalho, a anos-luz de distância da pirotecnia e do histrionismo conduzido mais tarde pelos companheiros. 
Um último episódio de meu relacionamento com ele posso revelar aqui, pois ele foi um dos muitos colegas -- vários embaixadores experientes -- que “caíram como patinhos”, se ouso dizer, nas minhas memórias apócrifas do Barão do Rio Branco.
Corria o ano de 2011, e estavam sendo feito preparativos para comemorar dignamente os 100 anos de falecimento do nosso patrono maior da diplomacia, Juca Paranhos. Eu inventei um caderno desconhecido, “descoberto” por acaso nos arquivos históricos do Itamaraty do Rio de Janeiro, e me pus a escrever eu mesmo as "memórias" de Rio Branco, com sutilezas, subentendidos e alusões muito pertinentes ao ambiente da época, mas também com “mensagens” subreptícias dirigidas a nossa própria época, um pouco sobretudo (Argentina, obviamente, os militares também, e vários outros episódios muito conhecidos dos biógrafos e leitores, especialmente diplomatas). Comecei a publicar no meu blog, esses "episódios" da vida do Barão, que tinham permanecido na obscuridade durante cem anos, e, para minha surpresa, muita gente graúda se deixou convencer pela veracidade do caderno.  Descendentes do Barão vieram me interrogar onde estaria esse caderno até então desconhecido, e eu disse que tinha obtido uma cópia anos atrás no próprio arquivo, e mais não disse.
Lembro-me, então, que estando em Paris, para aulas na Sorbonne, em março ou abril de 2012, encontrei-me a seu pedido com Luiz Felipe Lampreia, que me confessou que foi um dos muitos que se deixou levar pela minha brincadeira com a história.
Nesse momento, tive de contar a verdade, pois o jornalista Merval Pereira pretendia publicar em sua coluna diversos dos meus "trechos das memórias do Barão", como se verdadeiros fossem. Para evitar um constrangimento ao jornalista, tive de confessar a tramoia. Mas, vários embaixadores se entusiasmaram com a minha “descoberta” -- Lampreia entre eles -- a ponto de me sugerir publicação completa, e não apenas em “pílulas” (que eu ia fabricando de acordo com a imaginação, e tentando adaptar o mais possível ¡a linguagem da época; o Embaixador Ricupero, aliás, me sugeriu várias expressões do Barão, como essa coisa de "suar dez lenços", para subir a serra até Petrópolis). 
Enfim, foi uma tarde algumas gargalhadas e uma conversa sumamente agradável num hotel de Saint Germain, que não sei se foi um dos que hospedaram D. Pedro II em seu exílio.
Devo tê-lo encontrado uma ou duas vezes mais, no Rio ou em Brasília, e trocamos diversas correspondências eletrônicas ao longo destes últimos anos, quando ele escrevia seus artigos e eu comentava, ou quando eu lhe mandava alguns materiais de minha lavra.
Ficou faltando, e aqui confesso minha frustração, uma resenha comparada, ou paralela, que eu pretendia faze de seu livro sobre o frustrado acordo de Teheran, com a Turquia, a propósito do programa nuclear iraniano, objeto igualmente de um livro do ex-chanceler Amorim (que conduziu uma política externa não consensual, objeto de diversas críticas tópicas, mas elegantes, de Lampreia). Ainda vou fazer, assim como escrever mais alguns textos com base em seus livros e artigos.
Um grande chanceler: expresso aqui meus mais profundos sentimentos e condolências a todos os seus familiares, que confesso ter conhecido muito pouco, e expresso aqui minha simpatia e elevada consideração a todos os seus muitos alunos, da ESPM-Rio, entre outros, e também a seus muitos admiradores, entre os quais eu me incluo, certamente.
Numa época, e que faltam estadistas ao Brasil (e como), Lampreia se colocava exatamente entre o reduzidíssimo número de personalidades que tinham perfeita consciência dos desafios colocados ao país, e que sabia o que, e como, precisávamos fazer para construir uma nação respeitada no ambiente internacional, sem essas demonstrações de amadorismo e de sectarismo dos últimos treze anos.
Minha homenagem, portanto, ao ex-chanceler Lampreia, um dos grandes dos últimos cem anos, com Rio Branco, Oswaldo Aranha, Silveirinha e Celso Lafer.

Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 2 de fevereiro de 2016

Nota de pesar sobre o falecimento do Embaixador Luiz Felipe Lampreia
 CEBRI, 2/02/2016

É com imenso pesar que o Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI) comunica, em 2 de fevereiro, a perda de um dos grandes nomes da diplomacia brasileira, Embaixador Luiz Felipe Lampreia, conselheiro fundador do CEBRI, ex-Presidente do Conselho Curador  e referência global em relações internacionais.

Lampreia foi um dos esteios do CEBRI desde a sua fundação. Graças a ele, o CEBRI consolidou-se como um respeitado centro de discussões sobre o posicionamento do Brasil no cenário internacional. “O Brasil perde uma referência em relações internacionais, e o CEBRI, um de seus mentores. Colaborador atuante, objetivo e pragmático, o Embaixador Lampreia era grande incentivador de uma postura ousada e atuante do CEBRI”, destaca o presidente Rafael Benke. “Cabe-nos agora trabalhar arduamente para continuar fazendo realidade esse desejo”, finaliza.

Com destacada atuação no tratamento de temas financeiros, econômicos e comerciais, o Embaixador Lampreia foi um ícone da diplomacia brasileira, dedicando-se às relações exteriores do país por três décadas. Foi um dos mais longevos ministros das Relações Exteriores, de 1995 a 2001, além de representante permanente do Brasil junto aos organismos internacionais sediados em Genebra, na Suíça. Mesmo aposentado, continuava atuante: mantinha um blog no GLOBO, escrevia artigos e participava de debates e entrevistas sobre política externa com frequência. Era presidente do Conselho de Relações Internacionais da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) e integrava o Conselho de várias empresas nacionais e multinacionais.

O CEBRI lamenta sua partida prematura, transmite sua solidariedade aos familiares, amigos e admiradores do Embaixador Lampreia, e coloca o e-mail à disposição para receber mensagens e depoimentos que serão encaminhados à família: institucional@cebri.org.br

O corpo do embaixador será velado no dia 04.02, quinta-feira, na Capela 3 do Memorial do Carmo.
Rua Monsenhor Manoel Gomes, 287 - Caju, Rio de Janeiro
11h- Velório
14h- Cremação

Rafael Benke
Presidente do Conselho Curador - Centro Brasileiro de Relações Internacionais

Uma nota do Itamaraty sobre o Holocausto em geral (deve ter muitos holocaustos por ai...)

Holocausto contra pigmeus, hotentotes, gente feia, contra quem afinal?
Não tinha reparado nessa nota do Itamaraty no dia 27 de janeiro de 2016, “Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto”. Transcrevo:

O Brasil une-se hoje, 27 de janeiro, às celebrações em todo o mundo da memória das vítimas do Holocausto, conforme decisão da Assembleia Geral das Nações Unidas. Nesta data, em 1945, tropas do Exército Vermelho libertaram o campo de extermínio de Auschwitz.
Ao recordar a memória dos milhões de vítimas inocentes da barbárie nazista e a atuação heroica daqueles que, como os brasileiros Aracy de Carvalho Guimarães Rosa e Luiz Martins de Souza Dantas, trabalharam em condições adversas e com alto risco pessoal para salvar vidas, o Governo brasileiro reafirma seu inabalável compromisso com os direitos humanos e com a eliminação de todas as formas de racismo e de discriminação.
No momento em que manifestações de intolerância se repetem com preocupante regularidade em várias partes do mundo, é fundamental manter viva a memória do Holocausto e educar as novas gerações, para evitar que voltem a ocorrer crimes contra a humanidade como os que marcaram aquele que é um dos períodos mais sombrios da história.

Hummm, deixa eu ver:
"Exército Vermelho"??!! Uai!
Quem é que fala uma coisa dessas? Só pode ser um daqueles anticomunistas furibundos, hidrófobos, que veem comunistas até nas dobras das calças do Lula. Ou então é um dos entusiastas das gloriosas Forças Armadas da (infelizmente) finada União Soviética, que libertaram a humanidade do monstro do nazi-fascismo, para quem as mesmas FFAA soviéticas que foram simplesmente guilhotinadas em 1937-38 pelo "marechal" Stalin, representaram e representarão sempre o Exército Vermelho.
Será que foi o Itamaraty que redigiu essa nota?
 
Mas, peraí: Holocausto contra quem?
O Hitler saiu matando gente por aí, indiscriminadamente, vítimas inocentes escolhidas a dedo, ou recolhidas ao acaso, assim como quem cata champignons na floresta?
"Crimes contra a humanidade"???
Foi toda a humanidade que Hitler visou?
O Holocausto era para extirpar feios, gordos, deformados, gente cheirando mal, enfim, quem não era do Partido Nazista?
 
Que coisa, gente!
Será que foi mesmo o Itamaraty que redigiu essa nota?
Um prêmio para quem descobrir quem foi...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 2 de fevereiro de 2016

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

The Great Destruction in Brazil: How to Downgrade an Entire Country in Less Than Four Years - Paulo Roberto de Almeida

Meu primeiro artigo publicado em 2016: como não poderia deixar de ser sobre a GRANDE DESTRUIÇÃO conduzida pelos companheiros CONTRA a economia brasileira e contra todo o povo brasileiro, inclusive, e principalmente, contra aqueles que eles pretendiam "incluir" num "grande mercado de massas". Terminaram provocando exatamente o contrário do que pretendiam: crescimento negativo na presente conjuntura, e perspectivas medíocres para os próximos anos, até onde a vista alcança, inflação alta, completa desorganização das contas públicas, aumento da dívida doméstica e da carga fiscal já exaurindo toda a população e sobretudo os empresários, além do descolamento do Brasil da economia mundial. Ou seja, eles produziram um total desastre, como NUNCA ANTES ocorreu no Brasil.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 1 de fevereiro de 2016

The Great Destruction in Brazil: How to downgrade an entire country in less than four years, by Paulo Roberto de Almeida


Although the recent degradation of the Brazilian economy was not the product of a single presidential term, it was during the first mandate of president Dilma Rousseff (2011-2014), and under her direct responsibility, together with that of her main economic advisors, that the Brazilian economy underwent a consistent, irrepressible and fatal descent into the abyss of its worst economic recession in 80 years, with a mega destruction of wealth never seen before in the economic history of Brazil. The definitive deformation of the economic situation took a little longer, but the essential and decisive strikes that were at the origin of Brazil’s loss of its investment grade status – announced first by Standard & Poor’s in September 2015, shortly thereafter by Fitch – were mainly inflicted during her first term in office. She deliberately planned and prepared the changes and completed them in less than four years.
The president and her economic team were the authors of a strange animal called the “New Economic Matrix”, conceived with the objective of sustaining an enlarged demand for consumption goods, as part of a promised “vast domestic mass market”. What it provoked, instead, was more inflation, less growth, worrying double deficits, a significant exchange devaluation, a total budget disorganization, together with an entire series of failed sectorial policies and an overall degradation of economic governance. The troublemakers blamed these consequences on an inexistent “international crisis,” but they were entirely made in Brazil.
To understand how this happened, and explain how Brazil underperformed in the context of the world economy, at a time when many emerging economies were growing twice or almost three times as fast as the advanced countries, we have to look at the larger picture, with a certain sense of the historical perspective, taking also into account the regional and international contexts, and the political and social implications of Brazil’s economic policies implemented in recent times. The solution of the current crisis, which is certainly the worst since the early 1990s, and probably since the 1930s, cannot be purely economic. Nor can it wait on the resolution of an alleged international crisis. Fundamental changes in Brazilian governance will be needed.

A brief economic history of a mounting disaster
Brazil has not experienced an equivalent economic disaster since the great crash of 1929 and the following recession of 1931 and 1932. Certainly, Brazil experienced many smaller crises, some provoked by external transactions disequilibrium and a rapid exchange deterioration, others by accelerating inflation and disorganization of the public accounts. Turbulence was recorded during the oil shocks of the seventies, and an humiliating penury of exchange followed the external debt default at the beginning of the eighties, as well as the moratorium unilaterally declared in 1987, creating a prolonged low growth period that was not surmounted before the hard renegotiation of the commercial and official debts during the first three years of the nineties. Successive adoption of six currencies attempted to ameliorate the dramatic acceleration of the inflation, until the Real Plan (1994) came to reintroduce a certain sense of rationality into a system of political and economic governance that had forced Brazil to seek rescue from the IMF three times between 1998 and 2002.
There were middle term adjustments in the Real Plan including first an exchange anchor system and then an inflation targeting system, together with the adoption of a floating exchange regime in1999 and a fiscal responsibility law in 2000 that prepared Brazil for a new phase of productivity gains and a competitive integration into the world economy. Energy shortages in 2001, and the final collapse of the convertibility scheme inaugurated in Argentina ten years earlier brought new turbulence to that picture. This was exacerbated by the presidential campaign of 2002, when the prospects for a victory of the PT’s candidate caused a decline in the exchange rate, and an increase in Brazil risk and in inflation. But after the election, the new socialist leader ignored his party’s rhetoric and preserved the same policies established by the previous economic team. As a result of these sensible policies a virtuous cycle of economic growth and external transactions improvements followed for the next five years starting in 2003.
 Those years, which saw a “Chinese bonanza” pushing commodity prices to historical peaks – soybean at 600 dollars a ton, iron ore at almost 200, and many others  –, were not exempt from policy retrocessions, such as the renewed growth of the state and the increase in the number of public officials (many, if not all, selected from party apparatchiks), both moves that interrupted a positive process of trimming the excessive state apparatus built up during the military regime. Lula, the effective president during both his and Dilma’s administrations, started a conscious and consistent program of rebuilding state power in Brazil, creating many new public agencies, squeezing the regulatory bodies that were implemented during Cardoso’s times and expanding a comprehensive program of social benefits – Bolsa Familia – that was created out of the many separate sectorial benefits that existed previously. The public legitimation for the later was “social inclusion”, but in fact the intention was to consolidate a vast electoral device in favor of his party. It worked: Lula was reelected once (2006), as the amended Constitution (by Cardoso, 1997) authorizes, and was able to elect (2010) and re-elect (2014) his right-hand assistant, Dilma Rousseff.
Although Lula’s years were characterized by overall positive results after a bad start – which was caused by market fears of an adventurous economic policy, in the hands of a formally socialist party – the fact is that there is a clear break of style and substance in economic policies from his first term in office to his second term. In his second term Dilma Rousseff emerged as the new powerful cabinet head following the demise (already for corruption scandals) of the “great vizier” of the first Lula government (José Dirceu), and acquiring even more power after the demise of the first Finance Minister (Palocci) – who acted totally in line with the previous economic policies –, she inaugurated the practice – supported by Lula – of having the public expenditures growing always ahead of the GDP’s growth rate, and even ahead of the inflation rate and of the tax receipts. Not surprisingly, annual budgets started to be voted and applied with a certain stress in the public accounts, which were conveniently disguised under questionable accounting practices, mixing some flows between the Treasury, the National Bank for Development (BNDES), and state companies and banks (like Petrobras, Banco do Brasil and Caixa Econômica Federal).
It was in the context of such practices that it became possible to give generous benefits to the assisted people of Bolsa Família – who knew “Chinese rates” in their income growth, in fact a mere subsidy for consumption – and rises in the minimum wage above the inflation rate and also incorporating a politically fixed “productivity growth”. Of course, many of those social policies materialized only because the fiscal charge was continuously expanding, from the 34% of the GDP to almost 38% (in fact, just 35.9% in nominal terms, but only due to a methodological correction in the national accounts); the heavier taxes penalized goods and services consumed by the middle classes as well as the productive activities of the business sector. In fact, expanding expenditures benefitted much more a small bunch of crony capitalists – who are the great financiers of PT and its apparatchiks – than the poor people of the Bolsa Família.
Lulanomics worked relatively well during the Chinese bonanza years, up to the American housing and financial crises, when some Keynesian measures were taken to contain the reduced external demand and the changes in the foreign credit supply. Other measures – almost all in the public sector – were introduced, supposedly for a transitional period, but maintained for a longer extension of time than required by the partial recovery of the world economy after 2010. Dilma’s presidency, starting in 2011, represented the exacerbation of the worst kind of policies of the old school of ECLA’s (the Economic Commission for Latin America of the UN) “developmentalism”:  sectorial subsidies and tax exemptions, State intervention in the micromanagement of investment policies in the case of SOEs, requirements of local content in contracts for all public companies, a “new automotive investment framework” in a clear disrespect for WTO rules, and many other commercial and trade policies devices, as if Brazil still had an “infant industry” to protect.
Adding to this confused set of improvised measures, there were political fixes and opportunistic manipulations of both interest rates and exchange rates, which resulted in increasing inflation, exaggerated devaluation and declining growth. At a certain moment Brazil had a totally contradictory picture of a declining unemployment rate and an increase in the insurance payments for the unemployed. More disturbing was the perspective of not having the national accounts properly reflecting the erosion of tax receipts, a true result of the fiscal falsification already in the run. When the terms of trade inverted the course, due to the lessening of China’s growth, the castle of cards start to crumble, although it was not immediately visible, precisely because of the hidden indicators in the public accounts. The downturn accelerated during the 2014 presidential campaign, and was finally revealed in the open just after the ballots confirmed Dilma’s victory for a slight margin of votes.

Dilma’s economic unraveling of Brazilian economy, or the Big Destruction
Again: the process of deformation of the Brazilian economy was not only the product of misguided economic policies during Dilma’s years. It is the result of many years of erroneous macroeconomic and sectorial policies during Lula’s presidency, which shaped the two main features of PT’s economic management: commoditization and deindustrialization. The economic consequences of Lula’s government were reflected first of all in the aggrandizement of the state, secondly in the over-stimulus of the demand side of the economy, combined to a total lack of care for its productive, for the infrastructure and against the basic requirements for a productivity growth, which would have required set of reforms – labor, taxation, social security, education, etc. – that were never undertaken by Lula or Dilma.
Commoditization and early deindustrialization are the two sides of the same coin: an over reliance on the high price peaks of exported Brazilian commodities, and a gradual loss of competitiveness of the domestic manufacturing basis. Over valuation of the Real – due to the huge inflow of dollars – and high prices in the domestic supply – taxed for an average rate of 40%, either in goods or in services – turned Brazil into a very expensive country, inducing the middle class to look to external markets to purchase many durable items: Miami became the new big shopping mall for the affluent and even the less fortunate consumers of the middle class. At a certain point in the American crisis, Brazilian buyers were acquiring plenty of Florida low-priced condos, and flooding Miami shopping malls, for as high as 4 or 5 billion dollars a year in their purchases.
The declining contribution of industry to national economic activity accelerated at a troubling pace in the final year of Lula’s presidency and during Dilma Rousseff’s entire first administration. The plunge in the trade surplus was catastrophic in the industrial section of the current transactions, although this situation did not create an immediate current account deficit because the floating exchange regime – albeit manipulated by the Central Bank with an eye in the inflation rate – intervened to rebalance the disequilibrium. But it became clear that the bad results reflected in the main economic indicators were not a mere side effect of an alleged “international crisis”, as proclaimed by the government, but a consequence of the bad policies entirely “made in Brazil”, by the government.
The deindustrialization was not due to Chinese competition – although that was always present even if limited by high tariffs and antidumping measures – but was totally due to over-taxation, overregulation, super-protection and cartelization, as well as the already mentioned state intervention at every level, in all sectors. Excessive expenditures, a chronic deficit in the social security system (especially in the public sector), too low savings and investments rates, a marginal (if not negative) labor productivity growth, and a really poor rate of technology innovation (due to low quality education at every level) complete the bleak picture of the current Brazilian panorama.
The dramatic, negative growth in 2015 (-3,8% of GDP), and the very bad prospects for 2016 and 2017, that is, from recession to depression, clearly point to the longest and the worst crisis in the Brazilian economic history since 1931. Over a five year period, we can estimate a loss, for the GDP, of about -10%, that is, Brazilians are becoming poor, and are due to stay in that condition for a while. Are there any prospects for an inversion of this vicious circle? Perhaps, depending on the posture to be taken by the politicians in the Congress: they have a rent-seeking behavior, but could help to invert Dilma’s Great Destruction if further deteriorations of Brazil’s risk assessments by rating agencies intervenes at any time. That will certainly happen when the domestic debt rise to new highs, that is, more than 70% of the GDP.
Those ratios of public debt do not seem to be very upsetting, taking into account the Maastricht criteria of national debt (60% of the GDP, also considering 170% for Greece and more than 270% for Japan), but the real question is not its absolute value, but its cost. Interest rates in the case of public debt in Brazil can be as high as 14% (half of that in real terms), a significant part of that being of a short term maturity; the already higher expenditure in the public budget is the service of the debt, as high as 7% to 8% of the GDP, which is a truly unsustainable charge. Of course, in the bonus side of the picture, Brazil possesses enormous natural resources, a largely renewable energy matrix (based mainly in water powered electricity), a very competitive agribusiness, no foreign conflicts to be dealt with, an active professional diplomacy and a well prepared state bureaucracy (especially federal prosecutors and investigators, who are dealing with the worst corruption case in the Brazilian history, with the Worker’s Party occupying the center stage of the crime scene, as its apparatchiks ransacked the state oil company, Petrobras, and probably many other state companies as well).

What’s to be done, after the economic and political deluge?
But, the big word, today, in Brazil, is uncertainty: we do not know what will be the value of the Real in dollars, tomorrow, the next week, or the next month; we do not know the depth of the deficits, the ceiling for the reference interest rates (today at more than 14%); how deep will go the unemployment; if the investments will continue to be completely paralyzed; and we do not even know if we’ll have this one or another government in a matter of weeks or months. Uncertainty, and insecurity, those are the words of the moment in Brazil. How can an entrepreneur make plans for a year, two years, or five years ahead? Economists were overtaken by the most pessimistic statistics in 2015. Even experienced political analysts do not try to even guess, or imagine, what the immediate political future could be at the beginning of 2016.
This complex set of problems requires, at the economic level, three sets of measures to be instituted simultaneously: (a) urgent measures that have to be adopted in terms of fiscal adjustment and budget balancing, followed by (b) medium term decisions that have to be taken to promote confidence building adjustments, facilitating the return of investments, and (c) the launching of a long term program of structural reforms in order to create a new institutional framework looking for the recovery of competitiveness of the Brazilian industry, and creating a solid basis for a productivity overhaul of the economy. At the political level it is almost impossible to foresee any stable governance in the months ahead. Reforms are also due at the sphere, but the political system is plagued by a myriad of small and opportunistic parties, and regional differing interests, all of which makes an impossible dream to have a stable governing coalition.
Political and economic crises are sustaining each other, and it is difficult to tell where is the Gordian knot. Who will deliver the decisive coup? No guesses for the moment…
Paulo Roberto de Almeida, Professor of Political Economy at the Master and Doctoral programs in Law of the University Center of Brasília (Uniceub); career diplomat (www.pralmeida.org; http://diplomatizzando.blogspot.com).
Como citar este artigo: Editoria Mundorama. "The Great Destruction in Brazil: How to downgrade an entire country in less than four years, by Paulo Roberto de Almeida". Mundorama - Revista de Divulgação Científica em Relações Internacionais, [acessado em 01/02/2016]. Disponível em: <http://www.mundorama.net/?p=18052>.

Enquanto isso, num certo apartamento, cheio de livros...

Ainda estou tentando organizar minha biblioteca, em primeiro lugar, tirar os livros das caixas e colocá-los nas estantes (que sempre são insuficientes para o volume de livros).
O problema é que cada vez que tiro um livro para guardar, ponho-me a ler, novamente ou não...
Vai dar para terminar, em mais ou menos dois anos, e aí já será hora de pensar em nova mudança...
Paulo Roberto de Almeida

O segredo do sucesso da Alemanha: capitalismo, altos salarios, consenso social

Eu diria que tudo se resume, independentemente das formas que assume o capitalismo alemão, a uma condição fundamental: alta qualidade do capital humano, o que se traduz em alta produtividade, em qualquer esfera (até nas menos desejáveis, como se revelou durante o nazismo).
Paulo Roberto de Almeida

BBC31/01/2016 07h59 - Atualizado em 31/01/2016 07h59

O segredo que faz da Alemanha a economia mais sólida do mundo

Sistema que congrega capitalismo, altos salários e grande participação das forças de trabalho nos processos de decisão levou país a sair fortalecido de várias crises.

Milagre do pós-guerra, a "economia social de mercado" alemã parece ser inabalável: superou as explosões nos preços do petróleo nos anos 1970 e 1980, o impacto da reunificação nos 1990, a recessão mundial de 2008-2009 e está passando firme pela atual crise que atinge a zona do euro.
Hoje, o país é um dos três maiores exportadores globais, tem o crescimento per capita mais alto do mundo desenvolvido e um índice de desemprego de 6,9%, bem inferior à média da eurozona, de 11,7%.
Segundo o professor Reint Gropp, presidente do Instituto Hall para a Investigação Econômica (IWH), da Alemanha, o modelo germânico se diferencia de forma muito clara do anglo-saxão dos Estados Unidos e do Reino Unido.
Mas o que faz dele algo tão particular? Quais são os segredos de seu êxito?
"É um sistema baseado na cooperação e no consenso mais do que na competência, e que cobre toda a teia socioeconômica, desde o setor financeiro ao industrial e ao Estado", explicou Gropp à BBC Mundo, serviço em espanhol da BBC.
Cooperação e capitalismo
A chamada "economia social de mercado" teve sua origem na Alemanha Ocidental do pós-guerra, que estava sob o governo democrata-cristão do chanceler Konrad Adenauer, e se manteve, desde então, como uma espécie de política de Estado.
Sebastian Dullien, economista do Conselho Europeu de Relações Exteriores, concorda que o consenso e cooperação estão presentes em todos as camadas da economia.
"No centro estão os sindicatos e os patrões, que coordenam salário e produtividade com o objetivo obter um aumento real dos rendimentos dos funcionários, além de manter os postos de trabalho. A integração é tal que, por lei, os sindicatos estão representados no conselho de administração, participam das decisões estratégicas nas empresas", afirmou.
No sistema financeiro, as cooperativas e os poderosos bancos públicos se encarregam de fazer com que o crédito alcance a todos, não importa o tamanho da empresa ou o quão distante ela fica de um centro econômico.
Essa filosofia permite superar uma das limitações do sistema anglo-saxão, no qual as pequenas e médias empresas, diferentemente das multinacionais, não têm acesso ao mercado de capitais e muitas vezes enfrentam dificuldades para se financiar.
"Os bancos públicos têm regras claras. Por exemplo: para favorecer o desenvolvimento local, podem emprestar para empresas de sua área, mas não para as de outras regiões. O governo tem representantes nestes bancos, e eles são fundamentais na tomada de decisões. Um princípio que rege sua política de crédito é a manutenção do emprego", afirma Gropp.
'Mittelstand'
Esse modelo está enraizado na história germânica.
A unificação nacional de 1871, sob Bismark, reuniu 27 territórios governados em sua maioria pela realeza e que haviam crescido rapidamente e de forma autônoma durante a Revolução Industrial.
Dessa semente histórica surgem as Mittelstand (pequenas e médias empresas), que, segundo os especialistas, formam 95% da economia alemã.
Diferentemente do modelo anglo-saxão, centrado na maximização da rentabilidade para os acionistas (objetivo de curto prazo), as Mittelstand são estruturas familiares com planos a longo prazo, forte investimento na capacitação do pessoal, alto sentimento de responsabilidade social e forte regionalismo.
"A Alemanha é especialmente forte em empresas que têm umas 100 ou 200 pessoas. Com uma característica adicional: apesar de seu tamanho, muitas dessas firmas competem no mercado internacional e são exportadoras", explica Dullien.
Exportações
Como consequência, a Alemanha tem figurado entre os três principais exportadores mundiais nas últimas décadas, uma prova da eficácia desse sistema para competir mundialmente com produtos tecnologicamente complexos, feitos por uma força de trabalho altamente qualificada e bem paga.
Enquanto o comércio mundial dominado por multinacionais que representam cerca de 60% de toda a movimentação global, na Alemanha as Mittelstand são responsáveis por 68% das exportações.
O setor automotivo, de maquinário, de eletrônicos e medicamentos estão entre seus pontos fortes.
Mas isso não se deve somente às Mittelstand.
Das 2.000 empresas com maior rendimento em todo o mundo, 53 são alemãs, entre elas marcas de grande tradição, como Bayer, Volkswagen e Siemens.
A recuperação do doente
Sob o peso da reunificação, a Alemanha ganhou nos anos 1990 o apelido nada simpático de "doente da Europa".
Era consenso que um sistema com altos salários e forte participação sindical não poderia sobreviver em um mundo governado por um conceito novo, a "deslocalização".
Aproveitando-se de um mundo mais liberal e do fato de que as novas tecnologias das grandes empresas poderiam mudar de um país para outro em busca de maior rentabilidade, obtida com custos salariais menores, as empresas alemãs começaram a migrar pra outros pontos do mundo.
No entanto, no início deste século um governo social-democrata implementou uma série de reformas, classificadas por seus concorrentes de "neoliberais", para reativar a economia nacional.
O remédio funcionou – a economia voltou a crescer. Mas teve um preço: aumento da pobreza, do subemprego e do "miniemprego".
"O lado positivo é que o sistema mostrou um alto grau de adaptabilidade. Porém, as reformas da seguridade social e do mercado de trabalho aumentaram a pobreza e a desigualdade", avalia Sebastian Dullien.
A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, durante discurso sobre a crise de refugiados no Parlamento em Berlim nesta quinta-feira (24) (Foto: Hannibal Hanschke/Reuters)País liderado por Angela Merkel precisa rever algumas regras, diz especialista (Foto: Hannibal Hanschke/Reuters)
Futuro
Os desafios se acumulam. No curto prazo, os problemas na China afetam as exportações. No médio, a taxa de natalidade alemã não é suficiente para manter seu mercado de trabalho.
Mas não se trata unicamente de uma ameaça externa ou de uma bomba-relógio demográfica.
Um estudo do Instituto Hall mostra que, mesmo em uma economia social de mercado, a interdependência de bancos, empresas e governo pode possibilitar situações de interferência política.
De acordo com a pesquisa, os bancos do Estado emprestam consideravelmente mais durante os anos eleitorais.
"Isso requer um modelo de governo melhor, que impeça a interferência política. Acredito que o sistema precisa de mais liberalização, não é possível que um banco estatal de Frankfurt não possa emprestar para outra região", afirma Gropp, presidente do instituto.
"Estamos no meio de uma grande revolução tecnológica e a economia alemã não está respondendo como deveria porque tem uma estrutura rígida demais. O modelo foi excelente, mas é possível que seja anacrônico."
No entanto, pode ser que mais uma vez o sistema alemão lance mão de sua extraordinária flexibilidade para sustentar um modelo que procura aliar capitalismo, altos salários e plena participação da força de trabalho.

domingo, 31 de janeiro de 2016

Academicos estao sempre demonizando os mercados, ate inconscientemente

Leio um artigo jurídico sobre processos criminais no Brasil, de boa argumentação, mas logo no começo encontro esta afirmação:

"Embora vivamos numa sociedade em que o mercado produz constantes desigualdades econômicas, isso não deveria reproduzir-se no tratamento político-jurídico dos cidadãos."

Permito-me comentar este argumento em particular, num artigo que de resto me pareceu bom.
Creio que seu autor revela, até inconscientemente, suas "deformações de formação", ao afirmar que os mercados criam desigualdades, o que é uma bobagem reveladora da prevenção contra os mercados geralmente encontrada nos meios acadêmicos.
Minha pequena lição:
    Mercados são espaços absolutamente neutros, até intangíveis, para interações entre duas ou mais partes. Se as partes são diferentemente dotadas em informação, bens e outros ativos, o mercado não pode fazer nada para corrigir essa condição de origem, ele apenas oferece a oportunidade para um intercâmbio, que deve ser sempre voluntário. Se existem restrições, monopólios e outras condicionalidades, elas não foram criadas nem impostas pelos mercados, mas por regras de governos, ou de coalizões poderosas, mas cada um é livre para interagir e intercambiar conforme sua vontade.
    Acadêmicos em geral exibem uma prevenção contra os mercados por motivos errados e preconizam medidas para “equalizar as partes”, que só podem ser aplicadas pelos Estados, ou governos, e com isso começam as deformações, que geralmente criam mais desigualdades que se os mercados fossem deixados livres.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 31 de janeiro de 2016

Um manifesto contra a CPMF - Vittorio Medioli

Não só contra esse imposto extorsivo, contra o próprio ogro famélico que passa por Estado. A sociedade brasileira começou finalmente a perceber que seu problema está no Estado. 
Paulo Roberto de Almeida 


A qualidade dos impostos 

Vittorio Medioli

O Tempo, 31/01/16


O presidente dos Estados Unidos durante o período da Primeira Guerra Mundial, Prêmio Nobel da Paz, Thomas Woodrow Wilson, do Partido Democrático, marcou seu tempo com atitudes contraditórias em assuntos raciais, mas foi considerado o “pai do idealismo” político.

A ele se devem inovações especialmente na consolidação de direitos do cidadão, limitando abusos de poder do Estado.

Reitor de Princeton, berço que forneceu uma dezena de presidentes aos Estados Unidos, deixou uma frase lapidar: “A história da liberdade é a história da luta para limitar o poder do governo”. O governo é, por natureza, tirânico, seja de uma cor ou de outra, disposto a cuidar mais de seus interesses que da nação.

Trata-se de um organismo com estômago no lugar do cérebro e sem braços. Não constrói, não se esforça, se alimenta apenas do que consegue tirar da labuta dos outros. A condição parasitária do Estado precisa, evidentemente, de limitações para não resvalar em desgraças como o petrolão.

Deve-se constatar que, quando se arroga entrar em setores competitivos, fracassa, como no caso da Petrobras. Mesmo com um monopólio que a protege, os riscos de desmandos são imensos.

A lei sacra faz referência ao dízimo, mas a máquina do Estado cobra quatro dízimos do governado. O excesso faz, assim, do cidadão brasileiro um escravo moderno à mercê dos faraós que ocupam o poder, dito acintosamente “democrático”.

Açoitado, tratado como sonegador, privado do seu direito constitucional à boa-fé, o cidadão enfrenta limitações no Brasil que superam os limites de uma organização civilizada de direito. Acorrentados pela burocracia e asfixiados pelos tributos que alimentam um Estado perdulário e afamado, tirano e velhaco, o cidadão e as famílias sofrem privações ilegais.

Basta considerar a natureza regressiva da CPMF, esquecida pela chefe do Estado brasileiro, descrevendo-a como panaceia e ao par que será mais uma praga sobre a economia nacional e devastará milhares de empregos.

Evidentemente, Dilma não entendeu o significado antropofágico desse tributo, como não entendeu que, dando desconto na energia elétrica em 2013, um bem escasso, levaria o sistema ao colapso e a desgraçar várias estatais do setor.

Quem paga hoje tarifas elétricas extorsivas, o deve exatamente a essas escolhas.

A CPMF fará amargar privações de alimentos na mesa do trabalhador, perda nas empresas, que terão mais limitações à competitividade. Quem ganhará, como sempre, serão os banqueiros, que receberão uma contribuição sobre movimentações financeiras de difícil fiscalização no repasse ao erário.

A defesa canina de teses vencidas caracteriza a presidente em seus sofridos cinco anos de governo, contudo poderá IMPOR mais essa cobrança com o apoio de parlamentares domesticados.

Quem estava lá no Planalto, na semana passada, para dar força à CPMF, brilhando a óleo de carvalho, o presidente do Bradesco, patrão de Joaquim Levy. O “cara” que festeja o maior lucro de todos os tempos em 2015, o pior ano da história da economia nacional, marcado com 1,5 milhão de novos desempregados.

Thomas Woodrow entendeu que o governo tem tendência a exagerar, a ser um tirano. Deve ser vigiado com rigor e limitado para não ser uma força destruidora, como vem se revelando o governo brasileiro.

A perda de liberdade individual gerada por uma praga descabida vai da impossibilidade de comprar um sorvete até um remédio, de ir e vir, de prover por si, sem ajudas, o que faz falta.

Retirar do cidadão brasileiro 40% de suas rendas num país com salário mínimo de US$ 215 e uma renda per capita de US$ 6.000 é absurdo. O Estado gasta para si mais que qualquer outro congênere do planeta sem retornar uma assistência minimamente decente. Ao mesmo tempo convive com gastos escabrosos, intoleráveis para uma democracia que pretenda o progresso.

A palavra “imposto” retrata uma ação unilateral, IMPOR. Uma coerção num país em via de desenvolvimento, com mais de 25 milhões de pessoas abaixo da linha da dignidade. A CPMF se abaterá cruelmente sobre os mais fracos com o encarecimento dos alimentos e dos produtos básicos.

Essa preocupação não passa na consciência dos governantes, que não explicam como será distribuída ainda essa arrecadação nem dizem que quem pagará é quem menos tem condição para tanto.

A qualidade desse tributo é péssima, a qualidade do tributo passa longe da preocupação do Estado. Provoca, assim, agressões à economia popular, aos mais fracos, a quem trabalha, não distingue absolutamente nada. A CPMF é um delírio de quem está gravemente ofuscado. Pior ainda, não cortou suas gorduras, não podou seus exageros.

Tributo de qualidade é aquele que se vincula ao desenvolvimento, a fazer crescer a economia que emprega e arrecada. Só com essa preocupação se poderá civilizar plenamente e engrandecer uma nação.


sábado, 30 de janeiro de 2016

Impeachment e Estado de Direito - Percival Puggina e comentaristas

Transcrevo artigo e comentários a partir do blog do meu colega de resistência democrática, gaúcho, Percival Puggina, como sempre lúcido, claro e objetivo.
Concordo inteiramente: um governo com 10% de aprovação num sistema parlamentarista já teria caído há muito tempo.
Num sistema presidencialista, só cai se cometeu crimes.
Mas, no Brasil, nem isso: enquanto ele tiver dinheiro para comprar parlamentares, e capacidade de subverter a corte suprema com seus servidores amestrados, ele não cai, mesmo se 90% da população quer o fim de um governo comprometido com corrupção, roubalheiras, fraudes e mentiras, ademais de ter provocado a maior recessão -- caminhando para uma depressão -- de toda a história do Brasil.
O Brasil é diferente? Certamente: na desfaçatez dos políticos, na conivência dos magistrados.
Assino embaixo, como sempre:
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 29/01/2016

IMPEACHMENT, DEMOCRACIA E ESTADO DE DIREITO

por Percival Puggina. Artigo publicado em
 Se o que se quer, na política, é promover o bem comum, as divergências terão como foco principal o conceito de bem comum, seu conteúdo e o modo de produzi-lo em cada momento histórico. No entanto, se o objetivo é apenas alcançar o poder, ou mantê-lo, então a honestidade intelectual se torna um transtorno e o senso moral deve ser apartado, assim como se retira o incômodo ferrão em picada de marimbondo. Sob tais padrões, a estratégia, a propaganda e a arte do convencimento são concebidas e mobilizadas apenas pelo desejo de convencer e vencer, aferindo-se a qualidade dos meios pela eficácia em relação aos fins desejados e não por sua relação com a verdade e o bem.
Digo isso porque a defesa do governo na questão do impeachment tem-se valido de todos os meios possíveis de enganação. Não estou recusando aos governistas o direito de escudar o governo. O que estou afirmando é que quase todos os seus argumentos, a partir do mais constantemente repetido, são concebidos para iludir. Repetem, insistentemente, que: 1) o impeachment fere a democracia; 2) impeachment é golpe. Ora, não é possível que experientes jornalistas e doutos congressistas dardejem fogo dos olhos em frêmitos de indignação afirmando que impeachment fere a democracia. A democracia, a soberania popular, senhores, é ferida quando quem governa só tem apoio de 10% da população!
Talvez se inquiete o leitor: "Nesse caso, todo governo que perde o apoio da maioria da população deveria cair?". A resposta a essa pergunta é afirmativa em praticamente todos os países parlamentaristas (cerca de 95% das democracias estáveis). No presidencialismo, eu afirmo, sem pestanejar: nas atuais condições, um governo de democratas deveria renunciar. E mais, há algo muito errado num sistema político em que governos rejeitados são mantidos por força da Constituição.
O que sustenta esse governo no poder, então, não é a "democracia", obviamente, mas a regra do jogo político, o Estado de Direito como o temos. Há em nossa Constituição uma norma que determina em quais situações e mediante quais procedimentos, quem preside a república pode ser afastado do cargo. E a perda da aceitação social não está entre elas.
Entendido isso, fica mais fácil compreender o quanto é falso chamar de golpe o pedido de impeachment da presidente Dilma. Essa demanda nacional, nascida nas ruas, sem partido nem patrocínio, sem tanques nem canhões, deu causa a três dezenas de requerimentos, Brasil afora. Como o processo de impeachment é jurídico e político, as motivações políticas dispensam apresentação. Estão nas vozes das ruas. As motivações jurídicas, por seu turno, foram avalizadas unanimemente pelo TCU e são de perfeito conhecimento público.
Golpe, portanto, de um lado, é usar o que pertence ao Estado para subornar votos no Congresso, como vem fazendo o governo de modo a evitar que o impeachment prospere. E, de outro, é golpe fazer do STF, com o mesmo fim, um puxadinho do partido governista.
Em resumo: quem atenta contra a democracia é o governo quando insiste em ancorar-se no poder, enterrando o futuro do país contra a vontade nacional; e é ele quem novamente golpeia as instituições quando se defende com os meios que para tanto vem empregando.
________________________________
* Percival Puggina (71), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil, integrante do grupo Pensar+.

Comentários

Ismael de Oliveira Façanha .

O único impedimento eficaz para por termo ao mandato de Dilma Roussef, "impeachment", é o TEMPO, mais precisamente, 31 de dezembro de 2018. Infelizmente.

Antonio de Brito Carvalho .

Senhor PUGGINA, excelente artigo, com a sabedoria que lhe é peculiar. PARABÉNS!

maria-maria .

Um risco real é a banalização do escândalo,que apresenta, a cada dia, uma nova roubalheira ,dificultando que se acompanhem os fatos delituosos cometidos no âmbito dos podres poderes com o aval do que deveria ser a oposição, estivéssemos vivendo numa democracia.

Claudio .

Argumentação perfeita, politicos honestos pegariam seu chapéu e iriam embora. Tanto pelo apoio ínfimo como pelas mentiras deslavadas que estão tendo que ser usadas para justificar o estelionato eleitoral. Logo, golpistas são eles, da quadrilha.

Carlos Edison Domingues .

PUGGINA . A fragilidade de nossa democracia está, exatamente, no Legislativo. Este Poder é o prolongamento de um povo que, na sua maioria, é indiferente aos acontecimentos. O Banco Central perde R$90 bilhões para conter o dolar. o governo promete R$ 83 bilhões "para reativar a economia" (Jornal do Comércio 29/31 janeiro) mas o sucesso de todo este emprendimento depende de R$15 bilhões arrancadoxs da sociedade através da C.P.M.F, É estarrecedora a insanidade do Executivo e a tolerância do Legislativo. Carlos Edison Domingues

Genaro Faria .

Voltei. Escaldado de tanto ver triunfar a fraude, o assalto ao patrimônio público, o estelionato, enfim, o projeto de poder dessa organização criminosa camuflada de partido político, até esta semana eu receei que os golpistas resistiriam. Mas agora eu estou convencido de que não haverá retorno e não tem como o bando de Lula escapar. Faltava um símbolo, algo visualizável, tangível como o Fiat Elba de Collor. O Apê do Guarujá e o sítio de Atibaia surgiram para preencher essa lacuna. A casa caiu. Além disso, a operação Triplo X atingiu o sistema nervoso, a ponta do novelo do laranjal do PT e seu esquema milionário de corrupção institucionalizada e internacional. A partir de então as penas e línguas alugadas da mídia camarada não vão poder esconder o elefante na sala de jantar e tentar nos desinformar. E o megalômano "dono da enchente" vai se afogar nela. Que a nossa juventude e as pessoas humildes, que são as maiores vítimas dessa quadrilha, não fiquem conformadas diante da calamidade desse "partido dos trabalhadores" e saiam às ruas para protestar e cobrar respeito à nação.

Luiz Felipe Salomão .

Artigo irretocável. Parabéns Professor!

Francisco .

Simplesmente brilhante Mestre!

Odilon Rocha .

Caro Professor Não é pessimismo, não! A Lava-Jato está cumprindo muito bem o seu papel, andando a passos largos e tal e montando teias que deixariam muita aranha com inveja. Temos ainda toda uma cúpula criminosa para prender. Quem diria que um dia eu estaria escrevendo isso sobre o governo do meu país! Ao mesmo tempo, pressinto que estão nos enrolando 'bonitinho' até 2018.

Gustavo Pereira dos Santos .

Há muito tempo ficou claro que o objetivo do atual governo é enterrar o País para consolidar um Estado Totalitário. A criação do Conselhão teve a missão de desviar o foco da deterioração em 2016, para tornar-se o vilão da tragédia. E, assim, eles vão empurrando com a barriga até 2018. O Olavo de Carvalho foi muito feliz na caracterização da situação atual num video antigo: https://www.youtube.com/watch?v=PuCks1Hi8f0

Ismael de Oliveira Façanha .

Dezoito estados dos EEUU, possuem em suas constituições o instituto o "RECALL"; o último caso, muito conhecido, foi o que ensejou a eleição de Arnold Schwarzenegger para o governo da Califórnia, na vaga de um governador afastado pelos eleitores, de forma pura e simples. O parlamentarismo é causa perdida; o RECALL tem chances.

Genaro Faria .

Rebater o argumento dos governistas, que se resume a um só, qual seja, o de que a lei fundamental do país, quem sabe por um cochilo do legislador constituinte, insculpiu o dispositivo do impeachment não como salvaguarda da soberania popular, mas como uma afronta ao preâmbulo que a proclama como um postulado do estado de direito, cá entre nós, é fazer como o cordeiro acusado pelo lobo de sujar, a jusante, a água que o canídeo bebia a montante. Os primeiros a saber que a tese defendida por eles não passa nem pelo crivo de um aluno do curso fundamental, o antigo primário, são seus próprios defensores. Não passa de uma anedota sem graça, sem pé nem cabeça, que afronta o mais meridiano raciocínio. Em suma, é um argumento de quem não outro argumento senão mentir descaradamente, na suposição de que sua repetição à exaustão acabe pelo menos confundindo a sociedade. É chamar urubu de meu louro até o compre, enganado pelo vendedor de que o psitacídeo é muito novo e, por isso, ainda não aprendeu a falar. Mas não podemos deixar de reconhecer que o golpe já apresentou resultados altamente positivo para os vigaristas. Milhões acreditaram que Lula fosse um estadista, Dilma fosse uma super gerente e que o PT é o partido que defende os pobres da exclusão social que lhe impuseram os ricos. Por que a Constituição não poderia ser revogada pelo emprego desse mesmo método? E lançada no rol dos culpados pela incitação à prática de um ilícito institucional? Para tanto, o que não falta são penas alugadas e papel, que aceita tudo.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Capitulo em novo livro publicado: Presidencialismo no Brasil

Tenho um capítulo neste livro, que foi recentemente publicado pelo Senado Federal:

João Paulo Peixoto (org.), Presidencialismo no Brasil: história, organização e funcionamento (Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2015, 304 p.; ISBN: 978-85-7018-674-4)

Sumário:

Introdução - Antonio Paim
1. Presidencialismo no Brasil: dos militares ao PT – João Paulo Peixoto
2. O presidencialismo de coalizão e o Legislativo– Antônio Carlos Pojo do Rego
3. Governança presidencial e desenvolvimento: o poder dos presidentes – Antônio Lassance
4. Liderança presidencial no Brasil e nos Estados Unidos – Ted Goertzel e Guy Burton
5. A diplomacia presidencial brasileira em perspectiva histórica - Paulo Roberto de Almeida
6. A estrutura organizacional da Presidência da República no Brasil: agenda de pesquisa, marco institucional e reformas recentes (1995-2011) – Lúcio R. Rennó
7. A diplomacia presidencial brasileira e as mudanças em curso nas relações internacionais – Eiiti Sato
Biografia dos autores

Globalizacao: atualmente e cem anos atras - M. Bordo, B. Eichengreen, D. Irwin (NBER, 1999)

Um paper de 1999, mas ainda muito interessante, para demonstrar que existem coisas novas e boas, mas, como se diz, as boas não são novas, e as novas podem não ser boas...
Vale ler...
Paulo Roberto de Almeida

Is Globalization Today Really Different than Globalization a Hunderd Years Ago?

Michael D. Bordo, Barry Eichengreen, Douglas A. Irwin

NBER Working Paper No. 7195
Issued in June 1999
NBER Program(s):   DAE   IFM   ITI 
This paper pursues the comparison of economic integration today and pre 1914 for trade as well as finance, primarily for the United States but also with reference to the wider world. We establish the outlines of international integration a century ago and analyze the institutional and informational impediments that prevented the late nineteenth century world from achieving the same degree of integration as today. We conclude that the world today is different: commercial and financial integration before World War I was more limited. Given that integration today is even more pervasive than a hundred years ago, it is surprising that trade tensions and financial instability have not been worse in recent years. In the conclusion we point to the institutional innovations that have taken place in the past century as an explanation. This in turn suggests the way forward for national governments and multilaterals.