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sexta-feira, 5 de maio de 2023

Questão da Ucrânia — A importância da Comunidade de Estados Independentes e de Minsk para a solução do conflito- Paulo Antônio Pereira Pinto (Mundorama)

 

Questão da Ucrânia — A importância da Comunidade de Estados Independentes e de Minsk para a solução do conflito

Paulo Antônio Pereira Pinto

Photo by Christian Lue on Unsplash

Rio de Janeiro, 2 de maio de 2023

“Nesse caso, a Rússia também não seria reconhecida como país independente”, comentou leitor da Folha de São Paulo, após notícia de que o Embaixador chinês em Paris, S.r. Shaye, ter afirmado que “a Ucrânia e os demais países que pertenceram à União Soviética não têm status efetivo sob o direito internacional, porque não há um acordo internacional que confirme seus status como nações soberanas”.

Não seria esta, obviamente, a premissa para a resolução do conflito em curso entre a Rússia e a Ucrânia: o não reconhecimento de ambas como países independentes.

Nem seria realista a expectativa de que guerras na Europa sejam resolvidas, atualmente, sempre, pelo “quarteto” EUA, Reino Unido, Alemanha e França. No caso da invasão russa a solução contemplada por tais atores habituais implicaria apenas a busca da vitória ucraniana. Tal solução, resta pouca dúvida, não levaria a paz duradoura.

Na perspectiva de que Rússia e Ucrânia existem como nações soberanas e que há que se buscar o diálogo para solução pacífica do conflito, este exercício de reflexão pretende sugerir que a questão ucraniana poderia ser considerada, em “arcabouço” de geometria mais ampla — deixada, a propósito, pela antiga União Soviética.

Penso na moldura da “Comunidade de Estados Independentes” — herdeira de países que formaram a URSS — estabelecida, em Minsk, capital da Belarus, em 8 de dezembro de 1991.

A partir do início daquele ano, a dissolução da União Soviética parecia algo inevitável e, na data citada no parágrafo anterior, líderes da Rússia, Belarus e Ucrânia se reuniram na reserva natural de Belovezhskaya Pushcha, 50 km ao norte da cidade de Brest, Belarus. Assim nasceu a ideia da Comunidade dos Estados Independentes, ao mesmo tempo em que foi anunciado que a nova confederação estaria “aberta a todas as repúblicas da União Soviética”.

O então Presidente da URSS, Michail Gorbachev, descreveu a reunião como algo “ilegal e perigoso” e “um golpe constitucional”. Mas prontamente ficou claro que pouco ou nada havia por fazer. Em 21 de dezembro, os líderes de onze das quinze ex-repúblicas soviéticas se reuniram em Almaty, Cazaquistão, e assinaram o tratado. Desta maneira, a CEI foi ratificada e a União Soviética oficialmente extinta.Em 25 de dezembro, Gorbachev renunciou como presidente de um país que já não existia “de facto”.

Os três estados bálticos (Estônia, Letônia e Lituânia) não assinaram o tratado, assim como a Geórgia — os quatro argumentaram que haviam sido incorporados à União Soviética à força. Os 11 participantes iniciais foram Armênia, Azerbaijão, Belarus, Cazaquistão, Quirguistão, Moldovia, Federação Russa,Tajiquistão, Turcomenistão, Uzbequistão e Ucrânia. Em dezembro de 1993, a Geórgia finalmente aderiu à CEI e em agosto de 2008 se retirou após a invasão russa de seu território.

Mesmo independentes, os 11 antigos membros da URSS decidiram manter vínculo entre si, com o objetivo de estabelecer sistema econômico e de defesa entre antigas repúblicas da União Soviética.

Apesar da forte influência da Federação Russa, os demais países que compõem a CEI mantêm formalmente uma autonomia, garantida pela descentralização política conseguida com a independência em relação à estrutura administrativa da antiga União Soviética.

Tendo como capital a cidade de Minsk, a CEI é estruturada administrativamente por dois conselhos, sendo um composto por chefes de governo e outro, por chefes de Estado.

Apesar da estrutura de seu funcionamento formal, entre seus membros existem inúmeras disputas entre os países da comunidade, além do não cumprimento de acordos firmados. Vale destacar as constantes tensões e conflitos entre membros da CEI ou mesmo no interior dos países, em decorrência de diferenças étnicas e regionais.

Tive oportunidade de visitar a sede da CEI, em Minsk, a título de cortesia, enquanto fui Embaixador na Belarus, entre 2015 e 2019, e verifiquei que se trata de organização “simbólica”, que funcionaria como uma espécie de “banco de reservas”, onde permanecem disponíveis acordos, mecanismos de negociação e projetos da antiga URSS, que poderiam ser “colocados em campo”, caso alguma proposta de integração ou de resolução de conflito fosse realmente almejada.

Embaixadores dos países membros da referida comunidade, acreditados em Minsk, apresentam credenciais também ao Diretor da CEI. A lista de participantes tem variado, com inclusão e separação de antigos membros da URSS, de acordo com dinâmica regional de aproximação ou distanciamento da Rússia.

De qualquer forma, existem adormecidos na CEI mecanismos de articulação que “eventualmente” poderiam ser acionados no que diz respeito à Questão da Ucrânia. Minsk, nesse contexto, tem sido escolhida, em consenso com países ocidentais, como local para acordos destinados a negociar disputas entre países membros da antiga União Soviética.

Em certa medida, sugestão de esforço no sentido de valorizar tal “organização semiadormecida” poderia servir de aceno ao Presidente Putin, em seus devaneios de ressuscitar um “projeto Eurasiano”, sob influência de Moscou, conforme será lembrado a seguir.

Ademais, cabe registrar que “acordos de Minsk” têm sido a norma para tentar resolver conflitos envolvendo antigos membros da União Soviética, entre estes a Rússia.

Há, no momento, dois “Minsk Groups”, associados a conflitos ocorridos depois da dissolução da União Soviética: o que foi dedicado ao conflito em Nagorno-Karabakh (NK), entre o Azerbaijão e a Armênia; e o facilitador do diálogo na questão da Ucrânia.

Em ambos, o nome desta capital consta como o local onde os encontros são ou deixam de ser realizados. Não há protagonismo bielorrusso na busca de solução dos problemas. O papel de facilitador nas negociações, no entanto, eleva o perfil diplomático da Belarus no cenário mundial. Este país, sabe-se, é objeto de sanções internacionais por seu sistema de governo autoritário, que o leva a ser conhecido como “A Última Ditadura da Europa”.

O primeiro Grupo de Minsk foi criado, em 1992, com vistas à conferência para negociação entre Baku, Azerbaijão, e Yerevan, Armênia. É presidido por representantes dos Estados Unidos, França e Federação Russa. Seus membros permanentes são: Belarus, Alemanha, Itália, Suécia, Finlândia e Turquia.

Na prática, seus “co-chairs” reúnem-se, periodicamente, em Viena, sede da Organização de Segurança e Cooperação da Europa, e visitam as capitais dos países que disputam o território de Nagorno-Karabakh.

Entre os empecilhos para a solução do conflito, por um lado, a Armênia não aceita a aplicação de resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que determinam sua retirada do território azeri. Por outro, Baku não permitiria o contato direto entre as partes em combate naquela área, pois — de acordo com seu entendimento — tal comunicação significaria o “reconhecimento de alguma legitimidade ao inimigo invasor”.

O cenário de congelamento permanente deste conflito muito prejudica projetos de integração da área antes ocupada pela URSS, nos moldes da União Econômica Euroasiática, ambicionada por Putin.

Desnecessário lembrar que a questão da Ucrânia é disputa mais próxima de Minsk, envolvendo populações etnicamente “russas”. Convencionou-se, também, atribuir o nome desta capital ao grupo que lhe busca solução.

A propósito, o que acontece no Cáucaso diz respeito a pessoas que, segundo visão “imperial” de Moscou, seriam bárbaros, a serem mantidos na esfera de influência da Federação Russa, como obstáculo de contenção de impérios vizinhos — como o fazia Roma antiga.

A nova visibilidade de Minsk

Quando cheguei a Minsk, em março de 2015, a Belarus ficara mais nítida no mapa da Europa Central, em virtude da crise ucraniana, iniciada um ano antes.

Sua posição estratégica crescera em importância, em área de turbulência política, enquanto permanecia o interesse pela adesão bielorrussa ao projeto “eurasiano”, ambicionado pelo Presidente Putin.

Em síntese, cabe lembrar que, enquanto “Bela” significa “Branco”, o nome do país não pode ser traduzido por “Rússia Branca”. O “Rus” não se refere à Rússia, mas descreve área da Europa Central, coberta por neve e povoada por eslavos, em oposição à Rustênia Negra, controlada por povos lituanos.

Outra possível origem do nome seria o fato de que aquele território não ter sido invadido pelos mongóis que, no século XIII, conquistaram grande parte da Europa. A área em questão, portanto, era considerada parte do “Rus Branco”. “Bel” ou “Biel” também significaria “livre”, num período em que a maior parte da Rússia se encontrava sob o jugo dos tártaros.

Cabe, portanto, notar que a Belarus é um país cujo nome sugere o passado de um povo que habitou “uma região europeia livre”.

Verifica-se, contudo, que, desde sua independência da extinta União Soviética, tem sido chamada de a “última ditadura na Europa”, em virtude de manter sistema de governo com fortes traços do antigo regime soviético.

O nome “Belarus” referia-se, então, a uma região específica do centro da Europa e, não, a uma nação, até o final do século XIX. A estruturação do território bielorrusso, nos moldes de um Estado moderno, ocorreu a partir de 1920, com sua inclusão na União Soviética.

Durante o período da República Socialista Soviética Bielorrussa, o país adquiriu estrutura de estado nacional. Suas instituições nacionais eram e continuam a ser fortemente moldadas pelas criadas na Rússia Soviética.

Daí, não causar surpresa que a moldura institucional hoje existente em Minsk sirva para manter a Belarus em área de influência russa.

Isto é, a forma de governança, com fortes traços autoritários herdados do período soviético, serve à formulação de políticas nacionais que, ainda hoje, com grande facilidade, se alinham com orientações ditadas por Moscou.

O projeto eurasiano de Putin

Verifica-se, a propósito, que, por trás da ofensiva da Rússia sobre a Ucrânia, há mais do que interesses geopolíticos e econômicos. O Presidente Vladimir Putin estaria defendendo, também, projeto de “neo euro-asianismo”, ideologia nacionalista nascida na década de 1920 e reescrita após o desmoronamento da União Soviética.

Fiel à tradição e aos valores cristãos ortodoxos, a doutrina reúne princípios e ideais distintos dos vigentes no chamado “mundo ocidental”.

No artigo “Um novo projeto de integração para a Eurásia; o futuro que nasce hoje”, publicado em 04.10.2011, Putin defende a criação de uma União Euroasiática — a partir da fusão de mecanismos de integração existentes e herdados da União Soviética (entre estes poderiam ser incluídos os disponíveis na CEI, citados acima) — idealizada como um dos polos de poder no mundo contemporâneo e ponte entre a Europa e a Ásia Oriental.

A teoria reafirma o que qualifica de “identidade russa”, nascida da fusão de povos eslavos e de origem turca. A Rússia seria um terceiro continente, situado entre a Europa e a Ásia. Antes de quase desaparecer no século XX, esta linha de pensamento se opunha, tanto ao Ocidente liberal, considerado decadente, quanto aos soviéticos, que baniram o cristianismo ortodoxo da Rússia, assim como seus valores tradicionais.

O presidente russo, então, adotou discurso que ressalta a ideia de “tradição”, cara à Igreja Ortodoxa russa, e recusando o multiculturalismo, o feminismo, a homossexualidade e o que chama de “valores não tradicionais” de origem ocidental.

A Rússia se define, segundo Putin, como “um modelo civilizacional”, contrastando-se com os EUA, que qualifica de poder “revisionista”, empenhado em desestabilizar o mundo promovendo mudanças de regime, especialmente no mundo árabe. O Kremlin também vê os EUA como uma fonte de instabilidade no antigo espaço soviético e culpa o Ocidente pela turbulência ucraniana.

O tratado para a criação da União Euroasiática, com sede em Moscou, foi assinado em novembro de 2011, pelos presidentes de Rússia, Belarus e Cazaquistão. O grupo deveria incluir Armênia, Quirguistão e Tajiquistão a partir de 2015.

Como se sabe, ao convencer o ex-presidente ucraniano Viktor Yanukovich a renunciar à ambição de um acordo de livre comércio com a União Europeia, em novembro de 2013 — evento que detonou o Movimento na Praça da Independência, em Kiev — Putin planejava a inclusão da Ucrânia no novo bloco.

Na prática, a União Euroasiática reconstituiria a maior parte do território da URSS, cujo esfacelamento é considerado por Putin como uma das maiores tragédias do século XX. O objetivo era manter a Ucrânia sob sua influência, fazendo-a participar de seu projeto, não admitindo sua “deriva” em direção ao Ocidente.

Minsk vem-se inserindo de modo muito mais profundo na órbita russa nos últimos anos. A aproximação de Moscou tem sido conveniente para o Presidente Lukashenko, na medida em que o ajuda a contrabalançar as pressões da União Europeia e dos EUA por maior abertura política no país. A Rússia também é crucial para a Belarus, em razão das deficiências energéticas que a obrigam a importar petróleo e gás natural do vizinho, a preços subsidiados.

A importância da CEI na questão da Ucrânia

No âmbito da Comunidade de Estados Independentes, foi assinado, em 15 de maio de 1992, a Organização do Tratado de Segurança Coletiva por Armênia, Cazaquistão, Quirguistão, Rússia, Tajiquistão e

Uzbequistão, na cidade de Tashkent. O Azerbaijão assinou o tratado em 24 de setembro de 1993, a Geórgia em 9 de dezembro de 1993 e a Belarus em 31 de dezembro de 1993. O tratado entrou em vigor em 20 de abril de 1994.[1]

A OTSC é uma organização observadora na Assembleia Geral das Nações Unidas. Sua fundação reafirmava o desejo dos Estados participantes em se abster do uso ou ameaça da força. Os signatários não poderiam aderir a outras alianças militares — como a OTAN — ou outros grupos de estados, enquanto a agressão contra um signatário seria percebida como uma agressão contra todos.

Para tanto, a OTSC organizou, regularmente, exercícios militares entre as nações membros. O de maior escala da foi o “Rubezh 2008”, que ocorreu na Armênia. Um total de 4 mil soldados dos sete países membros da OTSC realizaram treinamento conjunto.

Apesar de seus propósitos de segurança coletiva, verifica-se, contudo, que a OTSC, no âmbito da CEI pode apresentar, apenas, um “frozen conflict” — entre Armênia e Azerbaijão — e outro que talvez venha a congelar-se — entre a Rússia e a Ucrânia — no espaço pós-soviético. Dessa forma, fazem parte da agenda de preocupações dos chamados “Grupos de Minsk” iniciativas destinadas a “conviver” com estes problemas.

Conforme sugerido acima, no entanto, o “arcabouço” disponível na referida Comunidade, poderia sondar fórmulas para o debate de temas, como, por exemplo:

- Para que, com o compromisso de não adesão ucraniana à OTAN, as convenções “adormecidas” na CEI, pudessem levar a Rússia a retirar suas tropas das regiões da Ucrânia, Donbass e outras, que ocupara em 2022. Permaneceriam estas sob a soberania da Ucrânia, mas um grau mais elevado de autonomia lhes seria garantido?

- Poder-se-ia, também, considerar o congelamento da crise na Crimeia, anexada por Moscou em 2014. Ou seja, não haveria um reconhecimento internacional de que a região passe a fazer parte da Rússia. Seria possível, contudo, não haver um questionamento sobre o fato de que, na prática, a região está controlada e administrada por Moscou?

- Haveria espaço, em compromissos assumidos no âmbito da CEI, sobre Direitos Humanos, para discutir o tema do emprego do idioma russo, por aqueles que o tenham como parte de sua cultura original? Lembra-se que não apenas a Ucrânia é habitada por tais minorias.

- Seria garantida, ainda com maior ênfase, a segurança dos membros da CEI, contra eventuais ameaças de países ou alianças militares vizinhas?

Nesse sentido, seria necessário reanimar e fortalecer a Comunidade de Estados Independentes, com sede estabelecida em Minsk, a partir de 1991.

Não saberia indicar como tal sugestão poderia ser levada à consideração dos membros da CEI. Cabe, pelo menos, torcer para que mecanismos de negociação já existentes na OTSC, no âmbito da Comunidade de Estados Independentes, sejam acionados.

Passo inicial, sem dúvida, para ativar os mecanismos adormecidos na referida Comunidade, com sede em Minsk, seria “combinar com os bielorrussos”.

Notas

[1] O TSC foi criado para durar por um período de 5 anos a menos que fosse prorrogado. Em 2 de abril de 1999, apenas seis membros da OTSC assinaram um protocolo de renovação do tratado por um novo período de cinco anos, enquanto Azerbaijão, Geórgia e Uzbequistão se recusaram a assinar, e retiraram-se do tratado de uma vez; juntamente com Moldávia e Ucrânia, formaram um grupo não-alinhado, mais pró-Ocidente e pró-EUA conhecida como a Organização “GUAM” (Geórgia, Uzbequistão /Ucrânia, Azerbaijão, Moldávia). A organização foi nomeada OTSC em 7 de Outubro de 2002, em Tashkent. Durante 2005, os parceiros OTSC realizaram alguns exercícios militares comuns. Em 2005, o Uzbequistão se retirou do GUAM, e em 23 de junho de 2006, o Uzbequistão tornou-se um participante pleno do OTSC e seus membros foram formalmente ratificados por seus parlamentos em 28 de março de 2008. (Wikipédia)

Sobre o autor

Paulo Antônio Pereira Pinto: Embaixador aposentado.


quinta-feira, 9 de março de 2023

Book Review: O Brasil Contra a Democracia, de Roberto Simon - Mundorama

Introdução — Roundtable Book Review — “O Brasil contra a democracia”, de Roberto Simon

Carlo Patti

Fonte: .

A partir de hoje, a Revista Mundorama apresenta aos seus leitores uma série de aprofundadas resenhas acadêmicas sobre o último livro de Roberto Simon, “O Brasil contra a democracia: a ditadura o golpe no Chile e a Guerra Fria na América do Sul”, publicado em 2021 pela Companhia das Letras. O volume representa uma obra fundamental no processo de revisão e de maior compreensão da política externa brasileira durante a fase mais dura do regime militar.

De maneira específica, Simon trata do posicionamento brasileiro em relação ao governo de Salvador Allende no Chile de 1970 até o golpe que derrubou o presidente socialista. Paralelamente, o livro revela o grau de envolvimento do estado brasileiro no golpe de estado de 1973, assim como as relações entre o regime liderado pelo general Augusto Pinochet e o governo de Brasília nos primeiros anos de existência da ditadura chilena.

Todos os autores das resenhas, importantes especialistas da área de história das relações internacionais ou da política externa brasileira, destacam a importância da pesquisa de Roberto Simon e o impacto dela para uma nova interpretação do papel do Brasil no sistema internacional da época e daquela que a pesquisadora britânica Tanya Harmer batizou de “Guerra Fria interamericana”.

Os ensaios apresentam diferentes perspectivas sobre aspectos diversos do livro. Para Sebastián Hurtado-Torres, renomado especialista sobre a história internacional do Chile durante a Guerra Fria e professor da Universidad de San Sebastián, o livro permite uma maior compreensão da autonomia brasileira na atuação da própria política externa em relação a Washington.

Vitor Sion, doutorando em Relações Internacionais pelo programa San Tiago Dantas, enfatiza a importância da obra para o desenvolvimento de uma teoria de promoção autoritária.

Rogério de Souza Farias, docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da Universidade de Brasília, realiza uma análise meticulosa do trabalho de Simon, apontando os grandes méritos da pesquisa, mas também alguns limites metodológicos na interpretação das fontes efetuada pelo autor.

Para Alessandra Castilho, doutora em Relações Internacionais pela Universidade de São Paulo, Simon é capaz de preencher importantes e “incômodas” lacunas da história diplomática brasileira.

Finalmente, Paulo Roberto de Almeida, diplomata de carreira e pesquisador associado ao Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, sublinha a relevância do livro por jogar luz sobre um dos mais significativos episódios de ingerência brasileira na política interna de outro país latinoamericano.

A série é eventualmente enriquecida pela resposta que Roberto Simon apresenta aos vários autores das resenhas, permitindo um proveitoso diálogo científico.

Sobre o autor

Carlo Patti: Professor Adjunto do Curso de Relações Internacionais e Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal de Goiás.

Revista Mundorama

By Mundorama

Artigos e notícias publicadas na Revista Mundorama, Divulgação Científica em Relações Internacionais 

segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Mudanças na linha editorial e na publicação de Mundorama - Editoria

Mudanças na linha editorial e na publicação de Mundorama

 POR EDITORIA MUNDORAMA

O projeto Mundorama passou por importantes modificações ao longo das últimas semanas. Gostaríamos de levar aos nossos leitores as informações relativas à nova fase que se abre para a nossa Revista.

A primeira e mais importante mudança é na Editoria. A Revista passou a ser editada por Paulo Menechelli Filho, doutorando em Relações Internacionais na Universidade de Brasília e secretário do Centro de Estudos Globais, laboratório do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da Universidade. Paulo assume a Revista para implantar novos projetos e revitalizar a sua linha editorial, para o que conta com o apoio entusiasmado de toda a equipe do Centro.

A segunda mudança é a transferência da Revista para a plataforma Medium, que publica centenas de revistas online em vários países, versando sobre os mais diferentes temas. A plataforma é aberta e conferirá mais visibilidade e agilidade à Revista. Portanto, o novo acesso para Mundorama se faz em http://www.medium.com/mundorama . O endereço http://www.mundorama.net dirigirá os nossos leitores para o novo endereço.

O site antigo da Revista, em que é publicada essa última nota, permanecerá disponível para acesso a artigos e outros materiais publicados ao longo dos treze primeiros anos de Mundorama. O acesso a esse site se faz no endereço http://www.mundoramanet.wordpress.com.

A Revista Mundorama foi concebida inicialmente como atividade do projeto integrado de pesquisa Parcerias Estratégicas do Brasil: as experiências em curso e a construção do conceito (desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Brasília e de diversas outras instituições brasileiras e estrangeiras entre 2007 e 2012), e apoiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq. Em 2019 a Revista foi incorporada às atividades permanentes do Centro de Estudos Globais da Universidade de Brasília.

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Como sempre fui um grande colaborador de Mundorama, vou verificar as novas bases do periódico.

Paulo Roberto de Almeida

terça-feira, 24 de dezembro de 2019

O Panorama visto em Mundorama - Livro em Kindle de Paulo Roberto de Almeida

O panorama visto em Mundorama: Ensaios irreverentes e não autorizados 

(Portuguese Edition) eBook Kindle



Coletânea de todos os artigos publicados pelo autor na revista digital Mundorama, onde são publicadas contribuições breves versando sobre os temas da agenda internacional contemporânea, e para a qual ofereci colaborações desde janeiro de 2007. A obra divide as dezenas de artigos nas seguintes categorias: 1. Política externa brasileira e diplomacia companheira; 2. Economia política internacional; 3. Globalização, Embromação; 4. Política internacional, Questões estratégicas; 5. Ideias, cultura, livros; 6. O Brasil e o mundo, de um século a outro; 7. Miscelânea de artigos dos anos 2015 a 2017.



Al enfrentarme a su concepción... quise utilizar la historia... para reflexionar sobre la perversión de la gran utopía del siglo XX, ese proceso en el que muchos invirtieron sus esperanzas y tantos hemos perdido sueños, años y hasta sangre y vida. (...) En ese dilatado proceso, me resultó imprescindible... el conocimiento, las experiencias y las investigaciones previas... y hasta las incertidumbres sobre una historia las más de las veces sepultada o pervertida por los líderes que durante... años fueron los dueños del poder y, por supuesto, de la Historia.

Leonardo Padura
El Hombre que Amaba los Perros

 (Barcelona: Tusquets, 2009), p. 763-764.


Índice 
Apresentação
O mundo visto no diorama de Mundorama

Primeira Parte
Política externa brasileira e diplomacia companheira
1. Fim das utopias na Casa de Rio Branco?
2. A política externa companheira e a diplomacia partidária
3. Continuidade e mudança na política externa brasileira 
4. A diplomacia brasileira numa nova conjuntura política
5. O Brasil e a integração regional, da Alalc à Unasul: algum progresso?

Segunda Parte
Economia política internacional
6. Mudanças na economia mundial: perspectiva histórica de longo prazo
7. Os Brics na nova conjuntura de crise econômica mundial
8. A Guerra Fria Econômica: um cenário de transição?
9. Desafios da economia brasileira na interdependência global
10. A agenda econômica internacional: o cenário atual
11. Como o Brasil se insere no cenário mundial, agora e no futuro próximo?
12. Como e qual seria uma (ou a) agenda ideal para o Brasil?
13. O que o Brasil deveria fazer para maximizar a “sua” agenda?

Terceira Parte
Globalização, Embromação
14. A globalização e o direito comercial: uma longa evolução
15. Fluxos financeiros internacionais: é racional a proposta de taxação?
16. Fórum Econômico e Fórum Social: dois mundos contraditórios
17. Fórum Social Mundial: uma década de embromação
18. Triste Fim de Policarpo Social Mundial
19. A falência da assistência oficial ao desenvolvimento

Quarta Parte
Política internacional, Questões estratégicas
20. A guerra de 1914-18 e o Brasil: impactos imediatos, efeitos permanentes
21. O mundo sem o Onze de Setembro: explorando hipóteses
22. Wikileaks: verso e reverso
23. Wikileaks-Brasil: qual o impacto real da revelação dos documentos?
24. Digressões contrarianistas sobre o desarmamento nuclear
25. Um congresso de Viena para o século 21?
26. As ilusões perdidas do século 21

Quinta Parte
Ideias, cultura, livros
27. A ideia do interesse nacional: onde estamos?
28. Imperfeições dos mercados ou “perfeições” dos governos
29. Miséria do Capital no século 21
30. Reformando o sistema monetário internacional
31. As quatro liberdades e um projeto para o Brasil
32. Algumas recomendações de leituras
33. Estratégia diplomática: relendo Sun Tzu para fins menos belicosos
34. Memória e diplomacia: o verso e o reverso
35. Da democracia à ditadura: uma gradação cheia de rupturas

Sexta Parte
O Brasil e o mundo, de um século a outro
36. A diplomacia dos antigos comparada à dos modernos
37. A ordem econômica mundial, do século 19 à Segunda Guerra
38. The world economy, from belle Époque to Bretton Woods
39. Relações Brasil-EUA no início do século 21: desencontros
40. A falácia dos modelos de desenvolvimento: enterrando um mito sociológico
41. O TransPacific Partnership e seu impacto sobre o Mercosul
42. Quais são as grandes ameaças ao Brasil?
43. Desafios externos ao Brasil no futuro próximo

Sétima Parte
Miscelânea de artigos dos anos 2015 a 2017
44. O pensamento estratégico de Francisco Adolfo de Varnhagen
45. A posição bizarra do Brasil na economia mundial
46. O Mercosul aos 25 anos: minibiografia não autorizada
47. Do lulopetismo diplomático a uma política externa profissional
48. Política externa e política econômica no Brasil pós-PT
49. Um século de mudanças na vida do Brasil e do mundo, nos anos 6...
50. Populismo econômico e ‘destruição destrutiva’ na América Latina
51. China’s pivot, Brazil’s stance: a personal view
52. O que esperar de 2017: economia e política internacional
53. Roberto Campos, 100 anos: atualidade de suas ideias
54. RBPI: itinerário de uma revista essencial
55. Uma visão crítica da política externa brasileira: a da SAE-SG/PR


Apêndices
Relação cronológica dos ensaios publicados em Mundorama
Relação dos artigos publicados anteriormente em RelNet
Livros publicados pelo autor
Nota sobre o autor 

Detalhes do produto

  • Tamanho do arquivo: 5725 KB
  • Quantidade de dispositivos em que é possível ler este eBook ao mesmo tempo: Ilimitado
  • Editora: Edição de autor; Edição: 3 (21 de dezembro de 2019)
  • Data da publicação: 21 de dezembro de 2019
  • Vendido por: Amazon Digital Services LLC
  • Idioma: Portuguese
  • ASIN: B082ZNHCCJ
  • Dicas de vocabulário: Não habilitado
  • Empréstimo: Habilitado
  • Configuração de fonte: Habilitado 

Apresentação
O mundo visto no diorama de Mundorama

Diorama, segundo as definições e as representações costumeiras, é um modelo, que pode ser construído tanto em miniatura quanto em tamanho natural, representando, num formato tridimensional, algum evento, indivíduos ou integrantes do mundo natural, ou ainda, alguma configuração marcante de uma determinada sociedade, do presente ou do passado, que possua relevância suficiente para justificar sua reprodução de forma realista daquilo que se pretenda oferecer aos visitantes como comemoração histórica, ou antropológica, ou qualquer outra, geralmente fazendo parte de um museu ou construção especialmente construída para tal finalidade. Não chegam ao realismo extremo de certas figurações típicas da história patriótica americana – quando se reencenam, com atores do presente em trajes de época, batalhas ou cenas da formação progressiva do país – mas constituem, ainda assim, representações atrativas, pois se destinam justamente a finalidades didáticas, para o público leigo e infanto-juvenil.
Alguns dioramas são extremamente sofisticados: sempre me lembro do realismo com o qual se recriou a batalha de Waterloo, na cidade belga desse nome, com todos os exércitos alinhados para a derradeira derrota de Napoleão. Os militares apreciam esses figurações, e lhes emprestam o maior realismo possível. Vem-me à mente, igualmente, o excelente Liberty Memorial da Primeira Guerra Mundial, em Kansas City, com um imenso painel relatando a entrada dos Estados Unidos na guerra, em 1917. Combinando diversas técnicas, é um dos mais completos que me foi dado visitar em torno da Grande Guerra, igualando, provavelmente, o Memorial de Péronne, na França.
Pois bem, o veículo virtual com o qual tenho o privilégio de colaborar, o boletim eletrônico Mundorama, dirigido pelo ativíssimo professor Antonio Carlos Lessa, é uma espécie de diorama sobre o mundo contemporâneo (e do passado também). Trata-se, antes de tudo, de um empreendimento extremamente didático, ainda que bastante leve e diversificado, embora não tridimensional, mas suficientemente rico para atrair todos aqueles – estudantes, pesquisadores, curiosos, “livre atiradores”, como eu – que se interessam muito, pouco, ou mesmo muito pouco, pelas relações internacionais e pela inserção mundial do Brasil. Segundo sua definição editorial, “Mundorama é uma abordagem ágil sobre os temas da agenda internacional e da política externa brasileira” e nele “são publicadas contribuições breves versando sobre os temas da agenda internacional contemporânea.” 
Desde que comecei a colaborar, primeiro esporadicamente, agora de forma mais regular, com o boletim, confesso que não tenho sido muito breve, ou sintético. Como poderão constatar os que percorrerem estas páginas, mais uma compilação de meus escritos de uma década inteira, algumas dessas contribuições se estendem por mais de dez páginas, o que destoa das recomendações dos organizadores quanto ao caráter leve dos textos ali recolhidos. Devo, entretanto, à generosidade do professor Lessa o bom acolhimento que tenho encontrado para meus textos de certo modo prolixos, tortuosos, por vezes torturados, em torno de todos os problemas – nacionais ou internacionais – que clamam pela minha atenção na leitura diária de um volume razoável de periódicos e de boletins virtuais. Meus agradecimentos renovados pela compreensão e tolerância.
Não estão aqui compilados todas as contribuições publicadas nas “páginas” de Mundorama, inclusive porque várias delas foram reproduzidas no boletim irmão, um tanto mais formal – quase de terno e gravata – que é o Meridiano 47, já objeto de uma anterior compilação minha, igualmente disponível: Paralelos com o Meridiano 47: Ensaios Longitudinais e de Ampla Latitude (Hartford: Edição do Autor, 2015), livro digital montado a partir de uma seleção de minhas colaborações a esse boletim (e disponível neste link: https://www.academia.edu/11981135/28_Paralelos_com_o_Meridiano_47_ensaios_2015_). Vou ainda aperfeiçoá-lo, graficamente, visualmente, e colocá-lo em minha página. 
Em todo caso, a lista das contribuições até agora oferecidas estão listadas no Apêndice, que também relaciona meus escritos no boletim predecessor de Mundorama, em sua primeira encarnação, as Colunas do RelNet, uma iniciativa pioneira dessa tribo de desbravadores do atual IRel-UnB, com a qual colaboro sempre quando me chamam, mas sempre como livre atirador, jamais como representante de qualquer entidade ou escola de pensamento. Ser livre significa escolher em total autonomia todos e cada um dos temas que são aqui submetidos ao meu  bisturi analítico: jamais recebi qualquer encomenda dos editores, ou de quem quer que seja, para tratar deste ou daquele assunto. 
Minto: nos anos comemorativos, tanto o professor Lessa quanto os editores ou responsáveis pelo IBRI e pela RBPI, me sugeriam algum escrito recapitulativo, isto é, de cunho histórico, o que eu teria feito voluntariamente de igual modo. Salvo essas poucas “encomendas”, todos os demais temas figuram nos meus cadernos de notas como sendo o resultado de leituras, reflexões, pesquisas e debates, que são mais raros, estes últimos, na medida em que eu prefiro o labor solitário, geralmente com o concurso dos livros e das revistas, em frente à tela de um computador, na consulta virtual de todas as fontes disponíveis, sempre na companhia intelectualmente estimulante de Carmen Lícia, que costuma ter meus péssimos hábitos de leituras e trabalhos noctívagos. 
Não creio que eu necessite apresentar qualquer um dos textos aqui reproduzidos, pois acredito que eles falam por eles mesmos. A despeito de algum overlapping entre Mundorama e Meridiano 47, evitei as repetições entre os dois volume de compilações, com uma única exceção, o texto 6: “Mudanças na economia mundial: perspectiva histórica de longo prazo”, uma vez que penso que ele oferece uma boa introdução à problemática que vai discutida na seção dedicada à economia política internacional, como já tinha sido o caso no volume anterior. Aproveitei, tanto quanto possível, as belas imagens que decoravam a edição original de cada um dos escritos em Mundorama, ao qual os curiosos podem recorrer, para uma formatação mais agradável, ou conferir o texto de fato publicado (http://mundorama.net/?s=Paulo+Roberto+de+Almeida).
Este volume está destinado a crescer em tamanho em futuras edições – ainda que não pretenda imitar os verdadeiros dioramas em seu formato tridimensional –, à medida em que novos escritos vierem completar os temas aqui tratados, geralmente de forma mais rápida que os trabalhos mais “pesados”. Mas, como os congêneres de museus, ele se pretende igualmente didático em espírito e em intenção, tanto quanto sintético de realidades sempre complexas e multifacetadas das relações internacionais e da inserção do Brasil nos seus vários ambientes. Não preciso, em absoluto, oferecer qualquer tipo de “disclaimer” quanto ao fato, deveras conhecido de todos que acompanham meus trabalhos, que as ideias e posições aqui expostas correspondem inteiramente ao meu próprio pensamento, não refletindo de nenhuma forma, posturas e políticas de qualquer corporação com a qual eu possa estar envolvido ou servindo. 
Ser livre atirador significa assumir inteira responsabilidade pelas tomadas de posição, pelas críticas mais amenas ou mais acerbas que possam estar aqui contidas, como aliás sempre foi minha postura ao longo de minha trajetória intelectual. Simples curiosos, alunos de áreas que são as de minhas leituras e pesquisas, colegas de profissão ou de academia, podem ter certeza de que todas as ideias aqui defendidas são sempre expostas com o mesmo ardor e convicção que desde anos animam os meus estudos.
Vale!

Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 21 de abril de 2015; Edição ampliada: Brasília, 2 de dezembro de 2015
3ª. Edição com acréscimo de uma 7ª Parte: Brasília, 22 de dezembro de 2019