O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

sábado, 11 de fevereiro de 2017

Reforma Protestante: junto com os "descobrimentos", o nascimento do mundo moderno

Lutero e o Brasil

Neste ano está sendo comemorado meio milênio da Reforma Protestante

Celso Ming

29 Janeiro 2017 | 05h00

Neste ano está sendo comemorado meio milênio da Reforma Protestante. Foi em 31 de outubro de 1517 que Martinho Lutero fixou suas 95 teses na porta da igreja do castelo de Wittenberg, nordeste da atual Alemanha, e colocou em marcha o movimento que se tornou muito maior do que ele imaginaria.  

Martinho Lutero

Lutero. Capitalismo tardio

Como o Brasil nasceu e foi criado simultaneamente com o desenvolvimento do protestantismo, cabe perguntar qual terá sido a influência da Reforma no desenvolvimento do País, de suas instituições e da economia.

É um equívoco afirmar que as consequências foram irrelevantes. Mas é preciso focar o tema de maneira correta. Enquanto os Estados Unidos se formaram no espírito da Reforma Protestante, o Brasil – e com ele toda a América Latina – formou-se no espírito da Contra-Reforma. As consequências da Reforma sobre a formação do Brasil têm portanto de ser procuradas pelo avesso.

A Companhia de Jesus, por exemplo, tornou-se a principal ordem religiosa que se encarregou de disseminar as conclusões do Concílio de Trento (1545 a 1563), que fundamentou a reação da Igreja. E foi com esse espírito que os jesuítas trazidos ao Brasil por Martim Afonso de Sousa, em 1531, e chefiados por Manoel da Nóbrega se atiraram à catequização dos indígenas. Desde o início, conseguiram eles algum sucesso na substituição das músicas e danças praticadas pelos índios por cantorias e procissões trazidas da Europa ou reinventadas aqui por Anchieta e Aspicuelta. Mas praticamente não obtiveram nenhum sucesso nas tentativas de erradicar duas práticas dos indígenas que os horrorizaram: a antropofagia e a naturalidade com que praticavam o sexo gay, o pecado nefando.

E foi essa última característica que levou os portugueses a chamar os índios brasileiros de bugres. O termo provém da designação dada à heresia que prosperou no século 13, na região depois conhecida como Bulgária. Além de professar dogmas inaceitáveis pela teologia católica, a seita, conhecida como heresia búlgara, defendia a prática homossexual – já eram moderninhos. E foi assim que os portugueses passaram a chamar os índios de “búlgaros”, termo que, por corruptela, derivou para “bugres”, que encontra paralelo também no francês “bougres”. Tachá-los de hereges serviu de justificativa para preá-los e escravizá-los. (Sobre o assunto bugre, ler Gilberto Freyre, em Casa Grande e Senzala, cap 2.)

A Contra-Reforma produziu alguma reforma na Igreja, como observa Jacques Barzun, mas contribuiu para enrijecer seus controles. Foi a responsável, também, pela disseminação da Inquisição no Brasil nos séculos 16 e 17 que prevaleceu sobretudo na Bahia e em Pernambuco, mais com objetivo de reprimir “cristãos novos” (judeus) do que para combater os protestantes, raros no Brasil.

A Reforma eliminou a suntuosidade das igrejas e do culto e aboliu as imagens dos santos. A Igreja respondeu com o oposto e ajudou a propagar o barroco. O barroco mineiro, nas suas três principais manifestações (arquitetura, escultura e música), foi um dos mais importantes movimentos culturais propiciados pela Contra-Reforma. Aleijadinho e a exuberante composição de música sacra em Minas são consequência disso. E aí, paradoxalmente, um dos compositores europeus que mais influenciaram a música brasileira, tanto a barroca quanto certos gêneros posteriores, foi Johann Sebastian Bach, um luterano. Não foram apenas as bachianas de Villa-Lobos que saíram daí, mas também o chorinho.

O capitalismo tardio do Brasil também deve ser visto pelo seu avesso, na medida em que nada tem com protestantismo. Deve-se ao sociólogo alemão Max Weber o entendimento de que o espírito capitalista no Ocidente está ligado à ética do trabalho e da criação de riquezas, professada pelos protestantes, especialmente pelos calvinistas.

A pouca influência protestante no Brasil impediu durante muito tempo o florescimento do empreendedorismo. Chegou por aqui cerca de cem anos depois que os empresários ingleses e americanos produziram nas terras deles a Revolução Industrial.  

O primeiro grande empresário brasileiro foi Irineu Evangelista de Souza, o Visconde de Mauá (1813-1889). Só depois, com os imigrantes e seus descendentes, passaram a proliferar os Matarazzo, os Martinelli, os Calfat, os Feffer. Foi quando os sinais de riqueza passaram a ser associados mais à capacidade transformadora do que à exploração do próximo.

Assim, se a gênese do capitalismo brasileiro nada tem a ver com a ética protestante propriamente dita, seu retardamento, no entanto, parece diretamente ligado à influência hegemônica exercida pela Contra-Reforma.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Na pré-história do IPRI: atas da Funag - Luiz Antonio Gusmão

O analista de Relações Internacionais Luiz Antônio Gusmão, que trabalha na Funag, efetuou um levantamento das atas de reunião do Conselho Diretor da FUNAG que tratam da criação do IPRI:  

 1)  20 de julho de 1984, em que se aprova a proposta do Presidente da FUNAG para modificação do Estatuto da fundação, no sentido de criar o Instituto de Pesquisa de Relações internacionais;

  2) 28 de novembro de 1984, em que se comunica a aprovação das necessárias modificações do estatuto da Fundação em reunião do Conselho Superior, em agosto, e a preparação de uma Exposição de motivos ao Presidente da República; 

 3)  6 de maio de 1987, em que se informa da doação de uma casa na Vila Planalto para acomodar as primeiras instalações do IPRI. 

 Ele propõe que elas sejam reproduzidas, in totum ou parcialmente, na edição comemorativa dos trinta anos do IPRI, na seção de "Documentos", dos Cadernos de Política Exterior, publicação do IPRI, que estou dirigindo atualmente. 

 Sempre gostei de arqueologia política... 

 Paulo Roberto de Almeida 

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

O fracasso da politica externa lulopetista - Fabio Zanini (Contexto)

O livro ainda não está disponível, mas já estou encomendando...


EUFORIA E FRACASSO DO BRASIL GRANDE

política externa e multinacionais brasileiras da Era Lula

Autor: Fábio Zanini
São Paulo: Editora Contexto, 2017; R$ 39,00
  • ISBN 978-85-7244-988-5
  • Formato 16 x 23
  • Peso 0.500 kg
  • Acabamento Brochura
  • Páginas 224
  •  
  • Leia um trecho: 
  • http://editoracontexto.com.br/downloads/dl/file/id/1828/euforia_e_fracasso_do_brasil_grande_leia_um_trecho.pdf 
  •  
  • Na era Lula, quase 50 novas embaixadas foram abertas.
    O projeto de poder do presidente no exterior incluiu também empreendedores e aproveitadores na construção civil, no agronegócio e no setor petrolífero. Para tanto, o dinheiro público rolou solto: entre 2003 e 2015, o BNDES liberou US$ 14 bilhões para 575 projetos no exterior, em 11 países da África e América Latina.
    Uma década depois da eleição de Lula, as rachaduras causadas por essa euforia desmedida se tornaram evidentes.
    O financiamento público a obras de infraestrutura no exterior passou a ser investigado por integrar um esquema de tráfico de influência e pagamento de propina. E o Brasil ainda ganhou fama de imperialista. É essa história de euforia e fracasso que o experiente jornalista Fábio Zanini nos conta. 
  •  
  • Video com entrevista do autor: 
  • https://editoracontexto.com.br/euforia-e-fracasso-do-brasil-grande.html?euforia%20e%20fracasso  
  •  

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Brasil e Argentina na Grande Guerra - Olivier Compagnon (livro)

Acabo de comprar este livro em Buenos Aires, na edição em espanhol, sem saber (porque estava fora do Brasil até recentemente) que ele já tinha sido traduzido e publicado no Brasil mais de dois anos atrás. Seria o caso de convidar o autor para um debate em torno do Brasil na Grande Guerra, justamente.
Paulo Roberto de Almeida

O ADEUS À EUROPA

por Maria Helena Rolim Capelato6 de agosto de 2014

primeira guerra_odette
Soldados da artilharia francesa. [Fotografia de autor desconhecido.]
No ano do centenário da Primeira Guerra Mundial, o historiador francês Olivier Compagnon propõe, no lançamento O adeus à Europa uma nova reflexão sobre a importância do conflito para a América Latina, tópico pouco explorado pela historiografia tradicional. Baseado em extensa pesquisa, incluindo fontes como romances, canções e manifestos da época, o professor da Universidade Sorbonne-Nouvelle demonstra como a Grande Guerra  impactou especialmente a vida política e cultural do Brasil e da Argentina.
A historiadora Maria Helena Rolim Capelato introduz, no prefácio de O adeus à Europa aqui reproduzido, os temas explorados no livro e destaca a importância de Compagnon para o desenvolvimento da historiografia latino-americana:
O adeus a Europa“Além de poético, o título deste livro indica a abrangência da pesquisa realizada pelo historiador francês Olivier Compagnon.* Transitando entre América Latina e Europa, o autor aborda um tema de especial relevância para a historiografia latino-americana, mas pouco estudado entre nós. Analisa o impacto da Primeira Guerra no Brasil e na Argentina e as transformações que ocorreram nesses países no entreguerras.
Optando pela história comparada, por si só de difícil abordagem, o autor ampliou seu voo de análise adentrando o campo da “história transnacional” e das “histórias conectadas”: dedicou-se ao estudo das relações econômicas, políticas, diplomáticas entre os dois países e a Europa e se empenhou na reconstituição de “redes de contato” entre intelectuais e produtores culturais brasileiros, argentinos e europeus ao longo de todo o período em foco.
Antes de apresentar os resultados de sua pesquisa, Olivier Compagnon se refere ao contexto que deu origem à Primeira Grande Guerra na Europa. Também menciona aspectos importantes do passado brasileiro e argentino que revelam momentos de rivalidades e cooperação mútua ocorridos a partir das independências nacionais. Essas referências históricas são importantes para que o leitor possa acompanhar as análises comparativas sobre os períodos subsequentes.
Valendo-se de fontes muito diversificadas, o autor reconstituiu os intensos debates que ocorreram nos dois países acerca da neutralidade ou adesão à guerra, mostrando os efeitos econômicos dessas decisões e também os transtornos provocados pela guerra no cotidiano das pessoas. São apresentadas ao leitor manifestações sobre a guerra expressas em canções, poemas, literatura de cordel, letras de tango, jogos de guerra para crianças, dados sobre as doações à Cruz Vermelha Francesa, pedidos de alistamento de voluntários que queriam “vencer o Kaiser” ou enfrentar o “perigo alemão”. Além dessas referências, são analisadas na obra a participação de grupos “neutralistas”, “pacifistas”, aliadófilos e germanófilos que entraram em conflito provocados pelas posições antagônicas.
Nas passagens em que analisa as condições que propiciaram a entrada do Brasil na guerra, o autor apresenta dados e fatos que elucidam a decisão de quebra da neutralidade, mostrando a seguir suas consequências. Também elucidativas são as análises referentes às propagandas de apoio à causa da Entente, que atestam a força dos imaginários sociais expressos a partir de visões dicotômicas do conflito. Em relação a este aspecto, são mencionados, como exemplo, mensagens que se referiam à França e à Inglaterra como defensoras do direito e da liberdade e à Alemanha como expressão da barbárie.
Com o desenrolar do conflito, segundo Olivier Compagnon, ocorreu uma paulatina rejeição a esse imaginário que resultou numa crise de identidade nacional no Brasil, na Argentina e em outros países latinoamericanos. A discussão deste tema é privilegiada pelo autor.
jornal do brasil_primeira guerraNa introdução do livro fica explicitada a preocupação central da pesquisa: ela consiste em averiguar em que medida o conflito contribuiu para a renovação dos debates sobre a Europa como modelo para as Américas e em que medida o “suicídio da Europa” provocou questionamentos sobre a identidade nacional predominante na primeira metade do século XX na América Latina. O autor partiu da hipótese, consistentemente demonstrada, de que o conflito concorreu para a cristalização de um nacionalismo político e cultural específico, fruto das crises de identidade afloradas no subcontinente em decorrência da percepção dos “Horrores da Guerra” que ocorreu no âmago da Civilização Europeia.
O autor procura mostrar que novas formas identitárias foram sendo construídas a partir de uma crítica à cultura cosmopolita que orientara as elites latino-americanas desde o século XIX. Para fazer frente a essa perspectiva era preciso que ocorresse a emancipação do “modelo” europeu.
A análise sobre as transformações que ocorreram nos dois países em relação à imagem da Europa nesse contexto é surpreendente: o leitor acompanha, com perplexidade, a passagem radical do culto cego à Europa ao sentimento de desilusão profunda com relação ao “Velho Mundo”. O desmoronamento da imagem da “civilização europeia” que orientara a configuração da modernidade nos países da América Latina provocou, como mostra o autor, uma redefinição do sentido das nacionalidades no “Novo Mundo”. As referências a intelectuais que desenvolveram ideias sobre o declínio da Europa, sobretudo as que foram expressas na obra de Spengler sobre a Decadência do Ocidente, permitem aquilatar a grande repercussão dessas teses nos países latino-americanos.
O capítulo intitulado “Noturno europeu” interpreta a reação de intelectuais argentinos e brasileiros frente a uma Europa que fracassara. Ao discorrer sobre este tema, o autor chama a atenção para o contraste entre a decepção dos latino-americanos em relação à guerra que explicitou o fim da “civilização europeia” e a crença nas possibilidades positivas que esse declínio oferecia para o Novo Mundo: a América.
primeira guerra_daily mail
Tropas britânicas [Foto dos arquivos da AP; Hulton-Deutsch Collection; CORB; Alamy]
Ao término da leitura dessa obra tão instigante, constatamos que as preocupações de Olivier Compagnon em se distanciar das visões sobre a América Latina como um todo homogêneo e das concepções “essencialistas” sobre as identidades nacionais contribuíram para a realização de uma análise comparativa modelar. Além desse mérito, cabe salientar que o autor se preocupou em dar visibilidade à atuação de atores brasileiros e argentinos que, durante um período de transformações profundas resultantes do conflito mundial, conseguiram modificar a percepção que tinham sobre seu lugar no mundo. Essa mudança de perspectiva, como indica a análise, incentivou revisões profundas sobre as identidades nacionais por parte dos atores que se empenharam na construção de um “Novo Mundo” americano distante do modelo da civilização europeia que servira como guia para os construtores da modernidade latino-americana no período anterior.
Mas, como se constata a partir das indicações do autor, a busca de uma nacionalidade autêntica, original não significou a interrupção dos contatos com a Europa. Naquele passado, como nos dias de hoje, pessoas, ideias e mercadorias continuaram circulando entre os dois lados do Atlântico: a tradução deste livro constitui um exemplo muito positivo dessa possibilidade de trânsito.
* Não poderia deixar de mencionar, na apresentação deste livro, as contribuições do autor para o desenvolvimento da historiografia latino-americana na França. Professor e pesquisador do Institut des hautes études de l’Amérique latine (Université Sorbonne Nouvelle), suas pesquisas demonstram grande sensibilidade e competência na abordagem de temas relacionados à história da América Latina. Seus pares “americanos” reconhecem não apenas a qualidade de seus trabalhos, mas também seus esforços para o estabelecimento de “redes de contato” entre historiadores franceses e latino-americanos.”
Maria Helena Rolim Capelato é doutora em História Social pela Universidade de São Paulo e especialista na área de História da América. Atualmente é professora titular do Departamento de História da USP.

domingo, 5 de fevereiro de 2017

Democracia e política externa: o período lulopetista - Paulo Roberto de Almeida

De volta de viagem de férias, encontro me aguardando na caixa de correspondência dois exemplares deste livro, resultado do IV Simpósio Internacional de Ciências sociais, realizado na Universidade Federal de Goiás, em Goiania, de que participei em novembro de 2015, cujas intervenções foram finalmente publicadas no final de 2016:

A ficha de meu trabalho, já com os dados editoriais do livro está aqui:
“Democracia e Política Externa: considerações sobre o caso brasileiro”, in: Pedro Célio Borges et al. (org.), Democracia e ciências sociais : memória, políticas e desigualdades. Goiânia: Gráfica UFG, 2016, 285 p.; ISBN 978-85-495-0035-9; pp. 93-116. Relação de Originais n. 2892. Relação de Publicados n. 1247.

Por algum motivo que desconheço, no momento da impressão gráfica do livro, a composição editorial alterou a ordem da minha bibliografia, misturando títulos meus com os de outros autores.
O trabalho original está disponível na plataforma Academia.edu, neste link:
http://www.academia.edu/26619963/Democracia_e_Politica_Externa_consideracoes_sobre_o_caso_brasileiro_2015_

 A parte inicial do meu texto vai aqui reproduzida: 


Democracia e política externa: considerações conceituais preliminares
As relações entre a democracia e a política externa, tal como propostas como temática para esta mesa redonda, serão aqui considerada no sentido estrito dos conceitos expressos. Não se trata, portanto, de examinar, em geral, as conexões entre os regimes democráticos e as relações interestatais no sistema internacional, nem de saber como este funciona no plano de sua organização política em função de critérios mais ou menos democráticos, que são aqueles simbolizados pelo princípio da representação eleita, por debates de tipo parlamentar, pelo controle e pela responsabilização dos poderes, e pelos demais elementos inerentes a uma organização política de tipo democrático. Uma abordagem a esse nível de generalidade integraria, mais bem, estudos de sociologia das relações internacionais, tais como os propostos, por exemplo, por um especialista como Marcel Merle (1974; 1981; 1984).
O objetivo aqui é o de considerar como determinados países membros da comunidade internacional refletem, ou não, princípios ou valores democráticos em sua política externa, uma das mais importantes políticas públicas de qualquer Estado contemporâneo. Ao empreender este tipo de exercício, nas condições objetivas do Brasil atual, parece natural dedicar maior atenção ao caso do Brasil, tanto no plano histórico quanto no atual governo, com ênfase nas difíceis e ambíguas relações que o partido hegemônico na última década e meia, o Partido dos Trabalhadores (PT), mantém com o princípio democrático, a começar pelas relações entre Estado e partido, uma relação clássica no campo do marxismo, universo político e referência conceituais às quais o PT está ideologicamente associado, tal como expressamente reconhecido por alguns de seus dirigentes e por diversas de suas correntes internas (Almeida, 2003).
Uma consideração de ordem prática, vinculada tanto à temática proposta quanto à ênfase acima indicada, poderia ser formulada sob a forma de uma pergunta inicial: pode um país que se pretende democrático apoiar, em sua política externa, ditaduras reconhecidas? Registre-se que não se está falando, neste caso, de relações diplomáticas interestatais, que países de diferentes regimes políticos mantém entre si, desde que respeitados padrões mínimos de comportamento, que estão basicamente expressos na Convenção de Viena de 1961 sobre Relações Diplomáticas e, de modo mais amplo, na Carta ONU (1945). Trata-se, mais objetivamente, de apoio político deliberado, de suporte financeiro concreto – como, por exemplo, financiamentos concedidos por vias não transparentes e não controladas pelo parlamento nacional – e até de solidariedade moral, que um país que se pretende democrático pode vir a conceder a regimes políticos que nitidamente não se pautam pelos mesmos valores e princípios das democracias reconhecidas. O que impeliria a política externa de um país tido por democrático a emprestar esses tipos de apoios a ditaduras abertas, quando não tiranias consolidadas?
É o caso do Brasil atual, sem qualquer hipocrisia na afirmação: os governos do PT, desde o início de seu exercício legítimo à frente do Estado brasileiro, em 2003, apoiam ditaduras reconhecidas e parecem não ver nenhum problema nisso. Para ser mais concreto ainda: o governo do PT tem um caso de amor explícito com Cuba, derivado, provavelmente, de relações não reveladas e não sabidas pela maior parte dos cidadãos que se exercem como eleitores e participantes do sistema político, ou até mesmo dos próprios diplomatas, categoria da qual faz parte o autor deste texto. Esse governo, como já foi amplamente evidenciado pela crônica dos eventos correntes, também tem manifestas simpatias por outras ditaduras, mas o seu caso de amor com Cuba é mais longo, mais durável, mais consistente, simbolizado inclusive nos milhões de dólares transferidos para a mais longeva ditadura do continente e uma das mais antigas do planeta, só superada pela da família Kim, da infeliz Coreia do Norte. Uma associação de tal forma explícita, num contexto histórico caracterizado pela aparente ascensão e disseminação dos regimes democrático e pelo isolamento crescente dos regimes de força ou abertamente ditatoriais, deveria chamar a atenção dos cientistas políticos e dos analistas de relações internacionais; no entanto, essas simpatias não estão sendo suficientemente analisadas pelos especialistas que se ocupam dessa área no Brasil.
Antes, contudo, de nos ocuparmos do caso brasileiro, no contexto atual – ou seja, o dos governos petistas exercendo o poder político desde 2003 –, caberia efetuar considerações iniciais sobre a relação altamente ambígua entre a democracia e a política externa, em suas conexões nos planos metodológico e conceitual, temática de que se ocupará a seção seguinte; as seções subsequentes serão dedicadas a considerações do ponto de vista da prática, ou seja, ao exame dessas conexões a partir de exemplos retirados da experiência brasileira da última década e meia do reino companheiro.

Leia a íntegra no link a seguir: 
http://www.academia.edu/26619963/Democracia_e_Politica_Externa_consideracoes_sobre_o_caso_brasileiro_2015_

A China, quem diria?, combate a corrupcao em tom mais vigoroso

Em 2001, o eterno candidato à presidência da República, chefe também eterno do PT, que ele trata como seu feudo particular, visitou a China, sendo recebido quase como chefe de Estado.
Na ocasião, o PT e o PCC (Partido Comunista da China), que domina o governo, o Estado, o país, a nação, toda a sociedade naquele imenso território asiático, assinaram um protocolo de cooperação, que sempre envolve a troca de informações e de experiências práticas em todos os terrenos da vida partidária, da administração pública, da governança.
Parece que o PT faltou às aulas de combate à corrupção, como evidenciado por esta matéria do Observatório da Política China sobre o endurecimento das penalidades contra delitos econômicos:
Paulo Roberto de Almeida

Fiscalía suprema china anuncia castigos más duros contra delitos económicos

05/02/2017
BEIJING, 5 feb (Xinhua) -- La Fiscalía Popular Suprema (FPS) de China se ha comprometido a imponer castigos más severos a los responsables de delitos económicos que afecten los intereses de grandes comunidades, entre ellos la absorción ilegal de depósitos públicos y la recolección fraudulenta de fondos.
BEIJING, 5 feb (Xinhua) -- La Fiscalía Popular Suprema (FPS) de China se ha comprometido a imponer castigos más severos a los responsables de delitos económicos que afecten los intereses de grandes comunidades, entre ellos la absorción ilegal de depósitos públicos y la recolección fraudulenta de fondos.
El ente acusador también urgió a las fiscalías locales a dar más prioridad a la prevención de los riesgos financieros, luchando contra delitos como el blanqueo de dinero y la banca clandestina, así como a tomar parte activa en el manejo de los riesgos financieros en Internet, de acuerdo con un comunicado de la FPS.
Igualmente, la fiscalía se comprometió a fortalecer la labor contra la manipulación y el tráfico de información privilegiada en los mercados de títulos y futuros, y también en la supervisión de los mercados inmobiliarios.
En los últimos años se han registrado en China varios casos de delitos financieros con amplio despliegue mediático, entre ellos las actividades ilegales de recolección de fondos de Ezubao y el caso de Xu Xiang, gerente general de una compañía de inversiones con sede en Shanghai, quien fue acusado por presuntamente haber manipulado el mercado de valores.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Os "bad hombres" mexicanos que Trump vai reprimir... no México!

Em 1912, o Big Stick Theodore Roosevelt (tio de FDR) mandou invadir Vera Cruz por motivos equivalentes (não semelhantes, sequer similares). O Brasil ficou dois anos representando os interesses americanos depois da ruptura de relações diplomáticas. Será que o Brasil vai exercer o mesmo papel depois que Mister Trump invadir novamente o México?
Porfírio Diaz tinha razão?
Paulo Roberto de Almeida 

O Estado de S. Paulo – Governo do México nega ameaça de Trump a ‘homens maus’

 

Chancelaria mexicana divulgou nota repudiando o que chamou de 'informações falsas' publicadas pela imprensa

 

CIDADE DO MÉXICO - O governo do México desmentiu nesta quarta-feira, 1º, reportagens sobre "humilhações e ameaças" do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao seu homólogo mexicano, Enrique Peña Nieto, supostamente feitas durante uma conversa telefônica.

 

A diretora de Comunicação da Secretaria de Relações Exteriores mexicana, Claudia Algorri, assegurou em um texto publicado no Twitter que as reportagens carecem de sustentação e que o tom das conversas entre os presidentes na sexta-feira, 27, foi "construtivo".

 

No documento, a funcionária assegurou que a informação publicada "está baseada em absolutas falsidades e com evidente má intenção".

 

"Durante a ligação, o presidente Peña Nieto foi claro e enfático em assinalar as diferenças de posições a respeito de algumas informações feitas pelo presidente Trump em público e que foram repetidas durante seu diálogo", escreveu a chefe da comunicação da chancelaria mexicana.

 

"O tom foi construtivo, se chegou a um acordo entre os presidentes de seguir trabalhando e foi assegurado que as equipes dos países se reúnam de maneira frequente para construir um acordo que seja positivo para o México e os Estados Unidos."

 

As reportagens, que foram publicadas em diversos veículos de imprensa norte-americanos, indicam que Trump ameaçou na conversa telefônica enviar soldados americanos para conter os "bad hombres" (homens maus), a menos que o Exército mexicano tome mais medidas para controlá-los. "Vamos construir o muro e vocês vão pagar, gostem ou não", teria falado o presidente dos Estados Unidos.

 

O porta-voz da Presidência do México, Eduardo Sánchez, também negou a ameaça de Trump a Peña Nieto. "Isto é absolutamente falso", afirmou, em entrevista ao canal mexicano Milenio Televisión.

 

De acordo com Sánchez, Peña Nieto sublinhou durante sua conversa com Trump que "a capacidade dos grupos de narcotraficantes em nosso país está alimentada pela introdução ilegal de armas e dinheiro vivo a partir dos Estados Unidos". / EFE

 

O Estado de S. Paulo – Trump diz a México que detenha seus ‘homens maus’

 

Segundo transcrições de telefonema a presidente mexicano, novo líder americano ameaça enviar Exército ao país vizinho para resolver situação; governo do México nega declarações       

 

WASHINGTON – Em um telefonema ao presidente do México, Enrique Peña Nieto, na sexta-feira, Donald Trump ameaçou enviar soldados americanos para conter os “bad hombres” (homens maus), a menos que o Exército mexicano tome mais medidas para controlá-los, revelou uma transcrição da conversa obtida pela agência Associated Press.

 

A jornalista mexicana Dolia Estevez, que vive em Washington e escreve para a revista Forbes, confirmou a ameaça em entrevista à âncora de um programa no México, Carmen Aristegui. Citando fontes confidenciais, Estevez disse que Trump humilhou Peña Nieto.

 

“Não preciso dos mexicanos. Não preciso do México”, disse Trump a Peña Nieto, segundo Estevez. “Nós vamos construir o muro e vocês pagarão por ele, queiram ou não queiram”, disse o americano, ainda de acordo com a jornalista mexicana.

 

As transcrições entregues à Associated Press por um funcionário com acesso ao material, não contêm a resposta de Peña Nieto às declarações de Trump. “Você tem um bando de homens maus aí. Você não está fazendo o suficiente para detê-los. Acho que seus soldados estão assustados. Nossos militares não, então eu poderia enviá-los aí para lidar com isso”, declarou Trump ao mexicano, segundo as transcrições.

 

O texto não deixa claro quem exatamente Trump considera “bad hombres” – se narcotraficantes, imigrantes ou ambos –, mas a conversa é um exemplo de como o novo presidente conduz sua diplomacia nos bastidores. As declarações de Trump também sugerem que ele está usando com os líderes mundiais o mesmo tom agressivo que usou durante os atos de campanha.

 

Segundo a AP, a Casa Branca não respondeu ao pedido de comentário. Já o Departamento de Relações Exteriores do México negou as ameaças, dizendo que a notícia tinha como base “absolutas falsidades”.

 

“As declarações não correspondem à realidade. O tom (do telefonema) foi construtivo e os dois presidentes concordaram em continuar trabalhando. As equipes continuarão se reunindo com frequência para chegar a um acordo que seja positivo para o México e os EUA”, disse a chancelaria mexicana em comunicado.

 

Tanto o governo mexicano quanto o americano divulgaram o telefonema, que ambos qualificaram de “amigável”, mas nenhum dos dois lados revelou sobre o que os dois presidentes conversaram. Peña Nieto cancelou uma visita que realizaria esta semana aos EUA em meio à polêmica sobre a construção do muro na fronteira com o México.

 

Trump já usou a expressão “bad hombres” antes. Em outubro, durante debate presidencial, ele prometeu livrar os EUA dos “barões das drogas” e dos “bad hombres”. / AP