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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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sexta-feira, 21 de abril de 2017

Roberto Campos: Repetindo o obvio (9/01/2000)

Repetindo o óbvio (09/01/2000)

126417*Roberto de Oliveira Campos
 

Aceito o risco de parecer repetitivo. Diante das grandes questões que preocupam mais no nosso país, a originalidade do articulista fica em segundo lugar. Estamos atravessando dias pesados, um ambiente de insatisfações e sombras. Os mais jovens sentem-se angustiados diante das incertezas do futuro, da ameaça de desemprego, de falta de horizontes. Os mais velhos tentam lembrar-se daqueles períodos em que o Brasil não atravessava um estado de crise permanente. Salvo alguns breves anos do começo do Plano Real, parte da Era Kubitschek e o otimismo do "milagre econômico" do fim dos anos 60 - que, no entanto, foi tisnado pela situação política de exceção -, todo o resto de nossa História contemporânea é um confuso mosaico de problemas e condições institucionais instáveis.

Não chegamos felizmente ao extremo dos gulags, campos de extermínio, "limpezas étnicas" e coisas que tais. Nossos chamados "anos de chumbo", comparados às experiências de outras nações (e certamente aos "anos de aço" dos regimes comunistas), pareceriam antes de papel de cigarro metalizado. Se afundamos numa situação crítica injustificável, é por nossa própria culpa, por falta coletiva de bom senso e de responsabilidade.

O público exprime sua perplexidade naquela conhecida anedota de como Deus, tendo presenteado nossa geografia com uma abundância de vantagens materiais, colocou no Brasil, como contrapeso, um "povinho ruim". Essa autodepreciação está errada. O trabalhador brasileiro, ainda que subinstruído, é diligente e flexível, como as empresas estrangeiras são as primeiras a reconhecer. Os engenheiros e gerentes especializados têm em alguns casos nível bastante alto. Somos a oitava economia do mundo e temos conseguido adaptar-nos a mudanças tecnológicas complexas. Falta-nos reduzir os excessivos contrastes em matéria de educação, informação e saúde - demanda social justa, mas não um impedimento real ao nosso desenvolvimento tecnológico ou industrial.

A verdade é que nosso grave subdesenvolvimento não é só econômico ou tecnológico. É político. Somos um gigante preso por caguinchas dentro de estruturas disfuncionais. A máquina político-administrativa que rege hoje nossos destinos é uma fábrica de absurdas distorções cumulativas. O regime presidencialista e o voto puramente proporcional, cada um dos quais, já de si, dificilmente funcionam bem, transformam-se, quando combinados, numa crise quase ininterrupta. O presidencialismo americano, que nos serviu de modelo, é conjugado ao voto distrital, e a federação é autêntica, porque foram os Estados que a criaram, enquanto que no Brasil estes resultaram do desfazimento do império unitário.

Não é que os políticos só pensem em si ou sejam "corruptos" de nascença. Essa é uma visão popular deformada. A maioria é dedicada e séria. Mas o deputado, o senador, o prefeito, o governador e, obviamente, o presidente têm de ser eleitos, ponto de partida do qual não há escapatória. Nas eleições proporcionais de hoje, os deputados são obrigados a catar votos por todo o Estado, garimpando aqui e ali - um processo caro e tremendamente incerto, porque eleitor em geral não sabe como discriminar entre dezenas de representantes eleitos. Como é que o eleitor médio vai se lembrar de quem propôs medidas ou leis, para poder avaliar quem merece o seu voto? Um americano ou um inglês pode falar no "seu" deputado: sabe exatamente quem ele elegeu e tem como cobrar respostas ao representante do "seu" distrito. O alemão, com um sistema misto, tem o "seu" deputado distrital e também o da lista do seu partido. E, como o regime é parlamentarista, pode cobrar de ambos.

No Brasil, cobrar o quê? De quem? Mal acaba de ser eleito por um partido, o deputado ou senador se sente à vontade para mudar de partido. Não existe sanção. A eleição presidencial então é sempre um trauma violento, agravado pela percepção de que o vencedor passará a controlar a máquina pública, os mecanismos de dar ou negar favores. Gerir a coisa pública é, entre nós, um contínuo varejo. Dá para estranhar que, desde o início da República, raros tenham sido os governos que não se envolveram em conflitos com o Congresso, com riscos de descontinuidade institucional? Contra um sistema tão ruim, tanto faz se os políticos são santos ou bandidos. Num ônibus sem freios, o perigo de desastre é o mesmo para todos. Há perto de três séculos e meio, Colbert, o famoso ministro protecionista da França monárquica, assim se lamentava na Carta de Luís XIV aos funcionários e ao povo de Marselha (26 de agosto de 1764):

"Como desde a morte de Henrique IV temos tido só exemplos de carências e necessidades, precisamos determinar como aconteceu que, durante tão longo tempo, não tenhamos tido, se não abundância, pelo menos uma renda toleravelmente satisfatória..." Colbert põe a culpa no sistema fiscal e afirma que piores do que os muitos corruptos foram aqueles altos funcionários "cuja incompetência prejudicou mais o Estado e o povo do que os roubos pessoais". Entre os vícios da burocracia fiscal da época, Colbert lista os seguintes: "Consumir com despesas correntes as receitas ordinárias e extraordinárias dos dois próximos anos..." e "negligenciar as receitas gerais ordinárias afazendadas, dedicando-se ativamente à busca de fontes de renda extraordinárias..."

Colbert se revelou um reformista e desenvolvimentista avant la lettre. Mas a França já estava politicamente entalada, e ele não conseguiu realizar sua "reforma fiscal". O mundo está cansado de esperar pelas "reformas" brasileiras. E de ouvir lamentações sobre a nossa pobreza. Há muito, exceto em regiões desérticas da África ou gravemente sobrepovoadas da Ásia, a pobreza deixou de ser uma fatalidade. É um acidente histórico de povos que preferem externalizar a culpa em vez de fabricar seu próprio destino.

Ricardo Velez-Rodriguez comenta seminario Roberto Campos

ROBERTO CAMPOS: O HOMEM QUE PENSOU O BRASIL

Palácio Itamaraty, Rio de Janeiro.

No Salão Nobre do Palácio  Itamaraty, no Rio de Janeiro, no dia 18 de abril, realizou-se o Seminário intitulado: "Roberto Campos: o homem que pensou o Brasil", organizado pelo Ministro Paulo Roberto de Almeida, diretor do Instituto de Pesquisa em Relações Internacionais (IPRI), vinculado à Fundação Alexandre de Gusmão, do Ministério das Relações Exteriores. Foi uma festa acadêmica em memória do grande estadista e pensador liberal, com motivo da comemoração do centenário do seu nascimento. O evento contou com o apoio das seguintes instituições: Instituto Millenium, CEBRI, Appris Editora e Academia Brasileira de Letras.


Do evento participou uma centena de pessoas. Quatro mesas-redondas foram desenvolvidas ao longo das sessões: 

Mesa 1 - O intelectual, com a participação de: Ernesto Lozardo (presidente do IPEA), Ney Prado (Academia Internacional de Direito e Economia), Ricardo Vélez Rodríguez (Centro de Pesquisas Estratégicas da UFJF e Faculdade Arthur Thomas, Londrina), Eduardo Viola (Universidade de Brasília) e Reginaldo Perez (Universidade Federal de Santa Maria).

Mesa 2 -  O Parlamentar, com a participação de: Merval Pereira (Academia Brasileira de Letras e Rede Globo), Antônio José Barbosa (Universidade de Brasília e consultor legislativo) e Paulo Kramer (Universidade de Brasília e assessor legislativo).

Mesa 3 - O Estadista e Modernizador, com a participação de: Gustavo Franco (ex-presidente do Banco Central), Roberto Castello Branco (Diretor da Fundação Getúlio Vargas e ex-diretor do Banco Central), Luiz Alberto Machado (Fundação Armando Alvares Penteado, São Paulo) e Rubens Freitas Novaes (economista).

Mesa 4 - O Diplomata,  com a participação da embaixadora Vitoria Alice Cleaver (presidente da ADB), Marcílio Marques Moreira (ex-ministro da Fazenda), Rogério de Souza Farias (gestor público do MPOG) e José Mário Pereira (Editora Tobooks, Rio de Janeiro). 

A Sessão de encerramento foi presidida por Paulo Roberto de Almeida (diretor do IPRI) e Marli Caetano (Editora Appris, Curitiba).

Na véspera, em animada sessão de autógrafos realizada na Livraria Argumento (Leblon), tinha sido lançada a obra em colaboração organizada por Paulo Roberto de Almeida com o título de: O homem que pensou o Brasil: trajetória intelectual de Roberto Campos (Curitiba: Appris Editora, 371 p.). Participaram desta obra, com ensaios sobre Roberto Campos, os seguintes autores: Paulo Roberto de Almeida ("Roberto Campos, o homem que pensou o Brasil" e "Roberto Campos: uma trajetória intelectual no século XX"), Antônio Paim ("A contribuição de Roberto Campos para a modernização do país"), Ives Gandra Martins ("Roberto Campos, o convívio com um estadista liberal"), Rogério de Souza Farias ("O iconoclasta planejador: Roberto Campos e a modernização do Itamaraty"), Ricardo Vélez Rodríguez ("O patrimonialismo na obra de Roberto Campos"), Reginaldo Teixeira Perez ("Racionalidade e autonomia em Roberto Campos"), Roberto Castello Branco ("Roberto Campos: um economista pró-desenvolvimento"), Rubem de Freitas Novaes ("Breve história da macroeconomia"), Carlos Henrique Cardim ("Roberto Campos na Universidade de Brasília: um passo para a abertura"), Antônio José Barbosa ("No Parlamento: lucidez e coerência") e Paulo Roberto Kramer ("Tanta lucidez assim é mitocídio: Raymond Aron e Roberto Campos como intelectuais públicos").
Capa da obra organizada por Paulo Roberto de Almeida

No dia do evento no Itamaraty, foi lançado, nas arcadas do belo Palácio, o livro organizado por Ives Gandra da Silva Martins e Paulo Rabello de Castro com o título: Lanterna na proa: Roberto Campos, ano 100 (São Luís: Resistência Cultural, 342 p.). Participaram desta obra, com breves artigos sobre o pensamento e a vida de Roberto Campos, os seguintes autores: Adolfo Sachsida, Agatha Justino, Alberto Venâncio Filho, Alex Catharino,André Burger, Aristóteles Drummond, Armínio Fraga Neto, Arnaldo Niskier,Arnoldo Wald, Augusto Cattoni,  Augusto Nardes, Bernardo Cabral, Bonifácio Andrada, Cândido Mendes, Carlos Alberto Teixeira de Oliveira,m Carlos Rodolpho Schneider, Cezar Roedel, Eduardo dos Santos, Ernane Galvêas, Ernesto Lozardo, Francisco Müssnich, Gastão Alves de Toledo, Gastão Reis Rodrigues Pereira, Gilberto Si9mões Pires,  Guilherme Afif Domingos, Gustavo Franco,  Gustavo Loyola, Irapuan Costa Junior, Ives Gandra da Silva Martins, João Guilherme Sabino Ometto, João Paulo dos Reis Velloso, José Gregori, José Luiz Alquéres, José Sarney,Lucas Berlanza, Luiz Jardim,Luiz Lemos Leite, Marcel Domingos Solimêo, Marcondes Gadelha, Marcos Cintra, Merval Pereira, Miro Teixeira, Ney Prado, Paulo Rabello de Castro, Paulo Roberto de Almeida, Percival Puggina,Rafael Jordão Vechiatti, Rafael Pavão, Reginaldo Teixeira Perez, Ricardo Vélez Rodríguez,  Roberto Fendt, Roberto Macedo, Roberto Teixeira da Costa, Rodrigo Constantino,  Rogério de Souza Farias, Rossini Corrêa, Rubens Barbosa, Rubens Penha Cysne, Sérgio Eduardo Moreira Lima, Sérgio Reze Thomás Tosta de Sá e Ubiratan Iorio.

Capa da obra organizada por Ives Gandra da Silva Martins e Paulo Rabello de Castro.

quinta-feira, 20 de abril de 2017

Seminario Roberto Campos no Itamaraty do Rio, 18/04/2017

Itamaraty vive dia inteiro de homenagens ao diplomata liberal Roberto Campos

Seminário reuniu acadêmicos, ex-embaixadores e economistas para prestar tributo ao centenário liberal mato-grossense; o Boletim estava lá e conta como foi
(Foto: Reprodução: Instituto Millenium)
(Foto: Reprodução: Instituto Millenium)
O tradicional Salão Nobre do Palácio do Itamaraty, no Rio de Janeiro, viveu nesta terça-feira (18/04) uma manhã-tarde histórica. Das nove da manhã até pouco depois das seis horas da noite, o espaço foi frequentado por figuras de relevo do universo da diplomacia e da Economia que vieram prestar seu tributo a uma das mais expressivas personalidades brasileiras: o liberal Roberto Campos, que completaria 100 anos no dia anterior.
O seminário Roberto Campos: o homem que pensou o Brasil foi organizado pelo diplomata Paulo Roberto de Almeida e pela Fundação Alexandre de Gusmão, com parceiros como o Instituto Millenium. Bem ao lado da entrada do salão, havia um estande com vários livros disponíveis para compra. Além de alguns clássicos de Campos, como o próprio A Lanterna na Popa, duas obras em homenagem ao seu centenário: O Homem que pensou o Brasil: Trajetória intelectual de Roberto Campos, organizado pelo próprio Paulo Roberto com outros onze intelectuais e lançado pela Appris Editora, e Lanterna na Proa: Roberto Campos Ano 100, editado pela Livraria Resistência Cultural e organizado por Ives Gandra Martins e Paulo Rabello de Castro, com textos de 62 autores.
(Foto: Divulgação / Funag)
(Foto: Divulgação / Funag)
O seminário, de muitas maneiras, foi do jeito que Roberto Campos gostaria: repleto de piadas, referências divertidas às suas críticas mordazes à esquerda e até alguns princípios de discussão mais inflamada, ao estilo dos seus debates acalorados. O Boletim esteve presente e conta o que aconteceu em cada mesa do evento.
Mesa 1: O intelectual
Antes de os palestrantes se sentarem à mesa, aconteceu uma breve série de discursos de abertura. O destaque ficou para o próprio Paulo Roberto de Almeida, que contou uma divertida história. Durante a elaboração do livro que organizou, sua esposa lhe teria dito para escolher entre ela e Campos, tamanha a dedicação que estava investindo no projeto. “Felizmente, tudo se resolveu”, disse, entre risos. Almeida também disse que a intenção era que todos os palestrantes se “divertissem”, evocando o espírito bem humorado do próprio personagem homenageado.
Em seguida, teve início a mesa que tinha por tema sugerido a discussão sobre as concepções intelectuais de Roberto Campos. O primeiro a falar foi Ernesto Lozardo, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Ele contou como recuperou a famosa dissertação de mestrado de Campos em 1947 na universidade George Washington, uma raridade que o próprio economista havia perdido. Lozardo disse que Campos foi generoso com ele ao protege-lo do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social do regime militar) e salientou que acreditava na época em uma espécie de “socialismo cristão”, mas descobriu que o liberal mato-grossense é que tinha “a solução para o Brasil”. Anunciou ainda que está produzindo um livro sobre o pensamento econômico de Campos.
Ney Prado, presidente da Academia Internacional de Direito e Economia, ocupou quase todo o seu discurso lendo as duras críticas de Roberto Campos à Constituição de 1988, arrancando risos dos presentes. Em seguida, o professor Ricardo Vélez Rodríguez, docente da Faculdade Arthur Thomas, de Londrina, e autor de obras lançadas pelo Instituto Liberal, pesquisador do patrimonialismo brasileiro, comparou Campos aos liberais doutrinários franceses, com “coragem de chutar o pau da barraca” e um crítico radical das instituições, ao mesmo tempo em que crente nelas e na possibilidade de melhorá-las.
Reginaldo Perez, cientista político e professor na UFSM do Rio Grande do Sul, defendeu uma tese acadêmica sobre o pensamento político de Campos, e discursou sobre seu perfil de modernizador. Definiu-o como um dos maiores, “se não o maior”, pensadores brasileiros do século XX, e frisou: “ele era brasileiro e pensou o Brasil. O nome deste senhor não é Bob Fields, é Roberto Campos”. A mesa terminou com Eduardo Viola, professor da UnB, que ressaltou a evolução de Campos para um pensamento cada vez mais liberal e fez observações com um tom crítico à sua defesa da ideia de que o regime militar apresentava um “autoritarismo consentido”, o que, a seu ver, o afastaria da dimensão política do liberalismo, mas frisou que, em todas as suas fases, Campos defendeu com afinco o alinhamento do Brasil “à ordem liberal ocidental, dirigida pelos Estados Unidos”.
Mesa 2: O parlamentar
Como político, Roberto Campos foi senador e deputado federal. O jornalista Merval Pereira, membro da Academia Brasileira de Letras, definiu sua atuação no Congresso como Campos mesmo a sintetizava: “uma sucessão de derrotas”. Contou algumas curiosidades daquele tempo e ressaltou o pragmatismo do mato-grossense, que “respeitava intelectualmente Fernando Henrique Cardoso” e elogiou o líder chinês Deng Xiaoping pelas reformas mais pró-mercado que realizava, ainda que sob comando de um Partido Comunista.
O professor da UnB e consultor legislativo Antônio José Barbosa foi bastante aplaudido em um longo comentário em que abordou a missão do historiador, que comparou à de um detetive, e descreveu os grandes discursos de Campos como momentos memoráveis que nenhum parlamentar queria perder. No primeiro deles, “fez um inventário de sua vida e pediu para não ser interrompido, o que era anti-regimental. Mesmo assim, todos obedeceram”. Já o também professor da UnB e assessor legislativo, Paulo Kramer, fez uma comparação entre Campos e o francês Raymond Aron, e definiu Roberto como um pensador “dionisíaco” pelo seu espírito divertido. O clima esquentou quando um diplomata na plateia defendeu medidas do governo lulopetista na área da Educação e Kramer elevou a voz para contradizê-lo.
Mesa 4 (Foto: Fabio Rossi / Agência O Globo)
Mesa 3 (Foto: Fabio Rossi / Agência O Globo)
Mesa 3: O estadista e modernizador
Nesta mesa, após um intervalo para o almoço, grandes nomes da Economia se reuniram para destacar a importância de Campos em suas formações. A mesa foi logo aberta pelo ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco, conhecido pela sua importância no Plano Real. Franco fez uma crítica velada ao governo Dilma e disse que as críticas de Roberto Campos a Fernando Henrique ajudaram a ala mais liberal do ministério, da qual ele fazia parte, a tornar o Plano Real um sucesso.
Roberto Castello Branco, diretor da FGV-RJ e ex-diretor do Banco Central, afirmou que “o momento atual evidencia a atualidade e correção das ideias que Campos defendia”. Em discurso bastante focado na atualidade, ele atacou o Estado intervencionista e sua associação com os “capitalistas contra o capitalismo”, e se pôs a um interessante exercício: refutar todos os ataques sutis a Campos que encontrou em textos jornalísticos na semana.

O momento atual evidencia a atualidade e correção das ideias que Campos defendia

O economista e professor Luiz Alberto Machado afirmou que a fase intervencionista de Roberto Campos sempre foi marcada pelo esforço por redesenhar rumos e estruturas, nunca tornar o Estado empresário, e disse que o fio condutor da sua atuação sempre foi a meritocracia. Finalmente, o economista Rubens Novaes, que já escreveu artigos para o Instituto Liberal, disse que Campos e Milton Friedman foram seus dois gurus, e que o mato-grossense foi “o melhor dos nossos frasistas”, pondo-se a recitar algumas sentenças do homenageado.
A mesa terminou com algumas trocas interessantes de comentários. Em clima fraterno, Castello Branco e Gustavo Franco divergiram sobre a comparação entre o PAEG (plano econômico de Roberto Campos no primeiro governo militar) e o Plano Real. Franco disse que o Plano Real foi superior, ainda que talvez por certa “razão paternal”, e afirmou que pensadores como Roberto Campos deixaram o caminho aberto para as reformas que ele e seus colegas implementaram. O organizador Paulo Roberto de Almeida aproveitou para citar artigo que publicou no site Spotniks, Dez grandes derrotados da nossa história, em que apontou Gustavo Franco como herdeiro intelectual de Campos.
Mesa 4: O diplomata
A última mesa do dia abordou a atuação diplomática de Roberto Campos. Primeiro falaram dois embaixadores que trabalharam com ele: Vitoria Alice Cleaver, presidente da ADB, e Marcilio Marques Moreira, ex-ministro da Fazenda no governo Collor. A embaixadora ressaltou a difícil relação entre Campos e o presidente Geisel, e definiu-o como “tímido, discreto, mas ativo, erudito e arguto”. Já o embaixador preferiu fazer menção honrosa à equipe que cercou Campos em suas tarefas, apontando-o como um competente “aliciador de talentos, inclusive sem discriminação ideológica”.
Em seguida, a palavra ficou com Rogério de Souza Farias, gestor público do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, que fez uma apresentação em Power Point com dados numéricos da atividade de Campos como diplomata em comparação com outras personalidades que ocuparam as mesmas funções desde a proclamação da República. O último palestrante foi José Mario Pereira, editor da Topbooks que publicou A Lanterna na Popa. José Mario leu um depoimento sobre sua convivência com o “doutor Roberto”, revelando gratidão por ter sido escolhido entre várias outras editoras e trazendo relatos engraçados.
O seminário terminou com um autêntico “puxão de orelha”. É que o embaixador Jerônimo Moscardo, convidado por Paulo Roberto de Almeida para dizer ao seu lado as palavras finais, foi entusiasticamente aplaudido ao dizer que, quando se fala em PAEG e Plano Real, os nomes dos ex-presidentes Castelo Branco e Itamar Franco precisam ser mencionados, porque foram as autoridades que permitiram a realização desses planos, e eles não tinham sido mencionados em destaque nenhuma vez durante todo o dia.
Errata (atualizado em 20/04, às 12h20): o embaixador que fez o discurso de encerramento ao lado de Paulo Roberto de Almeida foi Jerônimo Moscardo, vice-presidente da Funag, e não Sérgio Moreira Lima, o presidente, que esteve viajando.
Além de alguns clássicos de Campos, como "A Lanterna na Popa" (Topbooks), duas obras em homenagem ao seu centenário estiveram disponíveis no seminário: "O Homem que pensou o Brasil: Trajetória intelectual de Roberto Campos", organizado por Paulo Roberto com outros onze intelectuais e lançado pela Appris Editora, e "Lanterna na Proa: Roberto Campos Ano 100", editado pela Livraria Resistência Cultural e organizado por Ives Gandra Martins e Paulo Rabello de Castro, com textos de 62 autores.