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sexta-feira, 16 de abril de 2010

2023) Diplomacia do futebol e suas metáforas....

E o Irã, que posição ocuparia no jogo de futebol?

Brasil não teme ficar isolado, diz Amorim
TÂNIA MONTEIRO
Agência Estado, 15 de abril de 2010

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, declarou, após o final das reuniões do BRIC, que o Brasil não tem nenhuma preocupação em ficar isolado na defesa de que não sejam aplicadas sanções ao Irã por causa de seu projeto nuclear e usou uma comparação com o futebol para falar da situação brasileira.

"Antigamente no futebol tinha o ponta esquerda e ele ficava isolado porque ninguém jogava bola pra ele. O Brasil não tem esse problema. O Brasil joga no meio de campo e, portanto, recebe bola e passa bola", afirmou Amorim, insistindo que a imprensa é que tem preocupação com isolamento, não o governo. "Não temos essa preocupação. Isso é uma preocupação de vocês", disse o ministro.

Celso Amorim disse ainda que o Brasil está conversando com vários países sobre a questão do Irã e depois destes encontros, certamente, todos vão refletir sobre as conversas. "Todos compartilham a percepção sobre o valor de uma solução negociada e os inconvenientes que podem ter as sanções", declarou Amorim, acrescentando que cada país fala por si e o Brasil defende o diálogo e todas as conversas foram muito produtivas.

Comentários à matéria do Estado:

4 Alfredo Junior
16 de abril de 2010 | 7h 11Denunciar este comentário

Esse Celso Amorim é a pior desgraça do governo Lula. O panaca quer comparar um assunto tão sério com futebol. É um imbecil de carteirinha mesmo. Mas é bom que os brasileiros vejam bem quem é o pivô de todas as enrascadas em que se mete o presidente, para que depois saiba de quem cobrar. Maldita hora em que delegaram poder a um retardado mental.

3 Alberto Martinet
16 de abril de 2010 | 6h 22Denunciar este comentário

O Amorim idolatra de tal maneira o chefe que já está se deixando contaminar pelo vezo de arrematar seus pensamentos com metáforas futebolísticas. É muito rasteiro para quem ocupa hoje o lugar que já foi do Barão do Rio Branco.

5 comentários:

Anônimo disse...

O Seu Aimorim está absolutamente certo. Ninguém conta com a nossa astúcia para ludibriar a defesa adversária. Basta dar uma pedalada e jogar a bola no ponto futuro. Somos capazes até de furar a defesa de um time de futebol americano.

paulo araújo disse...

A diplomacia brasileira já se mostrou no passado bem mais hábil e inteligente quando reivindicou a posição brasileira na mediação de um antigo conflito nuclear. Seria melhor se os nossos atuais diplomatas falassem menos por metáforas futebolísticas e estudassem a história da época em que o Itamaraty na envergonhava o Barão de Rio Branco.

Um pouco da história da diplomacia dos “vira-latas”. E também uma pista que parece indicar que Obama, ao aceitar a ajuda brasileira (em se tratando dos aitolás da Pérsia, toda ajuda é bem-vinda), está adaptando a estratégia de Clinton no enfrentamento com o Irã

O Brasil já ocupou em situação semelhante a posição de mediador em conflitos regionais nucleares.

Vamos recordar à turma do “nunca antes” que em 1998 o Brasil foi bastante ativo nas tentativas de negociações dos conflitos entre Índia e Paquistão. O protagonismo brasileiro resultou de conversas de FHC com Clinton e do fato do Senado brasileiro na época sinalizar forte e positivamente a aprovação da ratificação do TNP, encaminhada ao Congresso em junho de 1997. Lula também nisso poderia imitar o que fez o governo antecessor, sinalizando ao mundo uma posição favorável à assinatura do Protocolo Adicional na ONU, durante a VIII Revisão do TNP de maio próximo.

Analisar e concluir se iniciativas brasileiras nessas negociações de1998 foram ou não positivas, fica a cargo dos leitores interessados em prosseguir a pesquisa. Cito a esclarecedora reportagem de Rui Nogueira, na FSP de 10 de junho de 1998

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft10069801.htm

“CORRIDA ARMAMENTISTA. Tratado de 91 com a Argentina será usado para tentar convencer Índia e Paquistão a cessar testes atômicos. Brasil exibe modelo para acordo nuclear.”

Na rivalidade nuclear entre indianos e paquistaneses, os países desenvolvidos e com arsenal atômico escolheram o subdesenvolvido Brasil para desempenhar uma dupla função: oferecer o acordo com a vizinha Argentina como modelo para negociar uma solução entre Índia e Paquistão e ASSUMIR PAPEL ATIVO nas negociações internacionais. [...]

O BRASIL GANHOU ESSA PROJEÇÃO POR TER RATIFICADO PRATICAMENTE TODOS OS TRATADOS DE CONTROLE DE PROGRAMAS DE PESQUISA NUCLEAR PARA FINS PACÍFICOS E BÉLICOS.

A proposta de usar o acordo nuclear Brasil-Argentina como modelo de negociação foi feita pela Cnen (Comissão Nacional de Energia Nuclear), em Brasília, e levada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso ao governo norte-americano. OS EUA ENCAMINHARAM A PROPOSTA À AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), que reuniu segunda-feira, em Viena, a sua junta de governadores (órgão executivo).

O diretor-geral da AIEA, Mohamed al Baraddai, telefonou ontem para a Cnen e disse que a junta de governadores acatou a proposta brasileira como forma de estimular Índia e Paquistão a negociarem SEM A INTERFERÊNCIA DAS POTÊNCIAS que reclamam dos testes e AMEAÇAM COM SANÇÕES, mas têm armas nucleares - situação classificada pelo governo indiano de "hipócrita". [...]

Foi esse papel de bom moço na questão nuclear, que o Brasil vem desempenhando desde o governo Sarney (85-89), quando começou a ser desmontada a rivalidade nuclear com a Argentina, que levou agora o G-8 (grupo dos sete países mais ricos e Rússia) e a AIEA a empurrar o Itamaraty para o cenário da negociação internacional. Um papel que o governo brasileiro aceita de bom grado. [...]

Até chegar ao TNP, o Brasil assinou o acordo com a Argentina, o Tlatelolco (não-proliferação entre países latino-americanos), o Quatripartite (com a AIEA), o com o chamado "Clube de Londres" (que autoriza o país a ser supridor de materiais nucleares) e o MTCR (Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis).

A postura contra a pesquisa nuclear para fins bélicos foi reforçada no governo FHC com a decisão de assinar o TNP, o tratado que enfrentava a oposição mais organizada entre setores das Forças Armadas e da diplomacia. Esses setores consideram o TNP discriminatório -não acaba com o arsenal nuclear existente. [grifos meus]

Glaucia disse...

Deixo de lado a questão nuclear pelo momento (acredito tratar-se de um dos temas no qual a necessidade de ceder espaço discursivo a uma certa esquerda do Partido cria problemas demais).

Observo apenas que as metáforas futebolísticas não têm nada de errado em si. São de certa forma o equivalente da política internacional das metáforas do Armínio Fraga com o preço do Xuxu: popularizam questões complexas e podem muito bem estar certas.

A escandalização de quem presume que a metáfora, para ser apropriada deveria citar algum episódio da Guerra do Peloponeso - quem sabe o exílio de Odisseu ou o Deserto do Sinai -, denota sim uma certa aversão ao popular.

Não deixa de ser curioso que essa escandalização venha acompanhada de termos como "pivô" e "rasteira".

Abraços sempre fiscalizadores!

Glaucia

Anônimo disse...

"...Só falta combinar com os 'joão'...!"
Garrincha Copa da Suécia 1958

Vale!

Paulo Roberto de Almeida disse...

Glaucia,
Agradeço a fiscalização, sempre bem vinda, pois isto me obriga a ser:
a) preciso
b) objetivo
c) levemente irônico (justamente para provocar reações como as suas, sempre bem informadas).

Confesso que não partilho essa ideia de que a questão nuclear atende a "certa esquerda do Partido". Nacionalistas obtusos, militares saudosistas e patrioteiros perfeitamente direitistas, além dos ufanistas idiotas de sempre, também partilham dessa idéia de jumento de que o Brasil fez mal em aceder ao nefando TNP e deixar-se embalar pelo canto de sereia dos nucleares hipócritas.

Creio que você é muito jovem para se referir ao xuxu vinculado ao Armínio Fraga: a expressão vem da época do todo poderoso ministro Delfim Netto, como czar da economia brasileira, manipulando índices de preços dessa forma assim ridícula. Armínio estava ironizando, como eu também faço aqui. Mas este é um problema geracional, provavelmente.

A diplomacia do futebol, como todas as metáforas em geral, visa substituir imagens rasteiras (e aqui rasteira quer dizer baixa mesmo) por argumentos bem pensados.
Quando alguém não tem algo de inteligente a dizer, costuma soltar uma metáfora, e o interlocutor que interprete como quiser.
Trata-se de um recurso pobre, para não dizer indigente...
Paulo Roberto de Almeida