Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
quarta-feira, 21 de abril de 2010
2050) Politica externa brasileira: dando destaque a um comentário
terça-feira, 20 de abril de 2010
2047) Finacial Times criticizes Brazilian Foreign Policy
Brazil's cuddly ways are barrier to seat at the top table
By John Paul Rathbone
Financial Times, 20/04/2010
recebi um comentário de um leitor bem informado, cuja utilidade -- várias citações remetendo a outros materiais de relevo, por exemplo, ademais de comentários sempre bem ponderados -- merece destaque maior do que uma simples nota de rodapé, que costuma ficar escondida, ilhada, incógnita nas dobras de outro post.
Por isso cabe aqui transcrevê-la, in totum:
Paulo Araújo disse...
Bom artigo. Concordo bastante.
Que Lula é um narcisista, não discuto. Mas chama-lo de ingênuo ou bufão é um equívoco do analista.
A atual condução da política externa não tem nada de ingênua. Tem método, embora às vezes errático na condução, como no caso de Honduras e de Cuba. Se vão ou não atingir os seus alvos estratégicos, são outros quinhentos. Se perdem a eleição agora em 2010, então ciclo fecha e a análise do período poderá ser feita com base nos resultados. Se ganharem, acho que vão continuar insistindo com a novidade do Lula atuando mais à vontade na linha de frente internacional.
Na visita ao Irã, Lula terá que convencer os aitolás que o governo brasileiro tem, em relação ao programa nuclear, os mesmos interesses estratégicos que o Irã.
Para tornar-se respeitável aos aitolás, precisará convencê-los sobre a vitória de Dilma estar no papo. Essa é a única garantia de que não haveria mudança na política externa com as eleições. Estando em fim de mandato, não vejo o que mais Lula poderia oferecer como garantia, a não ser a continuidade do seu grupo no controle do poder de Estado.
Vai dar certo o “olho no olho”? O narcisismo de Lula, alimentado diuturnamente pelo puxa-saquismo dos áulicos, o leva a crer que suas chances no Irã são tão grandes quanto o ego dele.
Eu prefiro aguardar os fatos, observar com quem ele conversará além do Ahmadinejad, ouvir o que Lula e os donos da casa dirão e, principalmente, como agirão desde agora até a VIII Conferência do TNP em maio
A Conferencia Nuclear de Teerã, tida como preparatória para a VIII Conferência do TNP na ONU, aconteceu neste último fim de semana. No domingo, foi lida uma declaração tão irrealista quanto a de Lula (pediu o desarme nuclear imediato dos EUA) na Cúpula de Washington: “Um Oriente Médio livre de armas nucleares requer que o regime sionista se una ao TNP”. A declaração foi lida pelo ministro iraniano de relações exteriores Manouchehr Mottaki (18/04/2010)
http://www.almanar.com.lb/newssite/NewsDetails.aspx?id=134189&language=es
Na abertura da Conferência, Ahmadinejad pronunciou-se favorável à criação de “um grupo internacional independente que planeje e supervisione o desarme nuclear e impeça a proliferação”. Ahmadinejad defendeu que os EUA não fossem admitidos nesse “grupo internacional independente”.
http://www.almanar.com.lb/newssite/NewsDetails.aspx?id=133861&language=es
No mesmo domingo de encerramento da Conferência que exigiu a adesão de Israel ao TNP, o governo iraniano comemorou o “dia do exército” e expôs no desfile militar os mísseis capazes de transportar ogivas nucleares.
Durante o desfile, Ahmadinejad pronunciou um discurso no qual, mais uma vez, comparou Israel a um “micróbio corrupto”. Se ainda restava dúvida sobre o objetivo estratégico de varrer Israel do mapa, a metáfora do micróbio corrupto é prova mais que suficiente dessa intenção. Apesar de não ter dito textualmente, o que mais se deve fazer com o micróbio corrupto que ameaça a saúde das nações da região, a não ser exterminá-lo?
“O regime sionista está em vias de colapso", disse Ahmadinejad. "Este regime é o principal instigador da rebelião e conflito na região [...]. A principal razão para a insegurança na região nesses últimos 60 anos é esse micróbio corrupto. Seus aliados e criadores [refere-se à criação de Israel pela ONU em 1948] devem parar de apoiá-lo [Israel] e permitir que as nações da região e os palestinos resolvam as coisas com eles”.
Só não disse exatamente o que farão com o “micróbio corrupto”.
http://www.almanar.com.lb/newssite/NewsDetails.aspx?id=133891&language=en
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De minha parte concordo com o comentarista Paulo Araujo: não há nada de ingênuo ou desinformado nas posturas assumidas pelos responsáveis pela política externa. Eles estão aplicando exatamente aquilo que acreditam e pelo que lutam. Pode ser que a realidade seja um pouco mais teimosa em se dobrar às suas crenças e intenções, mas que eles tentam, isso tentam...
Paulo Roberto de Almeida
(Xian, 21.04.2010)
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Addendum em 22.04.2010:
Dando destaque ao destaque, e agregando comentário:
O que segue abaixo, já figura em anexo, como comentário a este post que já dava destaque a um comentário anterior, em outro post, do mesmo interlocutor, que volta a escrever o que segue:
Paulo Araujo escreveu o que segue:
Não li na imprensa brasileira uma linha que fosse sobre o a Conferência em Teerã e as declarações de Ahmadinejad sobre Israel. Em minha opinião, as editorias de internacional teriam que estar ligadíssimas nesse assunto. Sobretudo porque o chefe de Estado brasileiro tem visita oficial agendada para aquele país.
Essas declarações pedindo a destruição de Israel dão uma boa medida da encrenca na qual o nosso governo irresponsavelmente quer nos enfiar. Acho grave que a imprensa silencie sobre isso.
Pelo que pude depreender após a leitura das reportagens da agência Al Manar, a posição oficial do governo brasileiro sobre o desarmamento nuclear está afinadíssima com a do Irã. Apesar de embaladas com as “nobres mentiras” da paz mundial, elas não são ingênuas. Não descarto a unificação dos governos brasileiro e iraniano no confronto que certamente patrocinarão também na VIII Conferência (contra os países que “não têm autoridade moral”).
Isso é bom para o Brasil? Eu diria que é péssimo.
Por que o fiz ?(PRA):
Poderia dizer: porque assim o quis, mas digamos que é para arrancar do anonimato de uma nota de rodapé escondida -- ja que os comentários só abrem a pedido do leitor -- que traz mais substância a um tema relevante.
A imprensa brasileira, além de ter poucos correspondentes no exterior (cinco ou seis, na média, cobrindo, mal, regiões inteiras), se preocupa pouco com questões internacionais, o que é "normal" dentro de nosso universo caipira e introvertido. Mas essa conferência de Teeran deveria ter sido seguida com atenção, pois vai "preparar" a posição de alguns países que nitidamente vão querer "perturbar" a conferência de revisão do TNP, em maio.
O Brasil estará entre os "perturbadores"? Talvez não, mas certamente vai exigir, mais uma vez, cumprimento dos compromissos de desnuclearização dos nuclearmente armadas, desta de forma mais vocal, digamos assim. Vai se aliar ao Irã? Duvidoso que o faça, mas digamos que haverá pontos concordantes, ainda que o Irã prefira não comparecer.
Mais uma demonstração de soberania, independência, posições próprias, sempre em defesa de causas altamente relevantes para o interesse nacional...
Um comentário:
Caro Paulo
Sou antigo leitor e comentarista recente. Comento por motivação do que leio no blog, que tenho em grande consideração. Para mim, é um grande prazer interagir com o blog e o blogueiro, seja na caixa de comentários, seja nos destaques que você julga pertinente publicar.
Não li na imprensa brasileira uma linha que fosse sobre o a Conferência em Teerã e as declarações de Ahmadinejad sobre Israel. Em minha opinião, as editorias de internacional teriam que estar ligadíssimas nesse assunto. Sobretudo porque o chefe de Estado brasileiro tem visita oficial agendada para aquele país.
Essas declarações pedindo a destruição de Israel dão uma boa medida da encrenca na qual o nosso governo irresponsavelmente quer nos enfiar. Acho grave que a imprensa silencie sobre isso.
Pelo que pude depreender após a leitura das reportagens da agência Al Manar, a posição oficial do governo brasileiro sobre o desarmamento nuclear está afinadíssima com a do Irã. Apesar de embaladas com as “nobres mentiras” da paz mundial, elas não são ingênuas. Não descarto a unificação dos governos brasileiro e iraniano no confronto que certamente patrocinarão também na VIII Conferência (contra os países que “não têm autoridade moral”).
Isso é bom para o Brasil? Eu diria que é péssimo.
Abraços.
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