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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

domingo, 18 de abril de 2010

2028) Paulo Freire - um pessimo pedagogo e a insistencia no atraso...

Dois comentaristas se deram ao trabalho de comentar um post meu sobre o arremedo de pedagogo e uma das muitas (estúpidas) unanimidades nacionais, que responde pelo nome do post:

quinta-feira, 8 de abril de 2010
2054) Celebrando o atraso - Paulo Freire nos EUA
Idiotas existem em todas as partes, como comprova a informação abaixo...

Universidade americana comemora 40 anos da tradução de Paulo Freire para o inglês

Um, o José Marcos veio em socorro do Paulo Freire, dizendo que teve, uma vez, a "oportunidade de assistir a uma palestra de Paulo Freire um pouco depois de seu retorno ao Brasil. Com sua voz mansa e pausada, Paulo Freire brindou a assistência com um convite para olharmos o mundo com uma visão mais crítica. Sugeriu que nos conscientizássemos mais da realidade em que estávamos inseridos."

Ela está contente que Paulo Freire faça sucesso nos EUA, afirmando a propósito dos americanos que: "Seduzidos pela magia mefistofélica da ciência, não percebem que, muitas vezes, causam sofrimento desnecessário aos povos que não comungam com os seus ideais."

Pois é, os americanos foram seduzidos por essa magia mefistofélica, menos aqueles, claro, que puderam ler Paulo Freire, e foram guiados pela luz da razão e pela promessa de libertação dos valores vis do capitalismo. Por isso que os americanos são tão atrasados, e os brasileiros, cuja educação é dominada de maneira intensiva e extensiva pelos ensinamentos de Paulo Freire, são tão avançados, progressistas, prósperos e cientificamente na vanguarda da humanidade.

Em seguida, o leitor Rubens perguntou, gentilmente, ao primeiro "se a doutrina Bush é prejudicial ao Direito Internacional, e o com certeza o é, o que dizer da Doutrina Mao Tse-Tung, que Paulo Freire tanto propagava? Não foi nem um pouco prejudicial a tudo aquilo o direito mais quer preservar?"
Rubens sabe bem as diferenças entre os EUA e a China de Mao, e por isso convida o primeiro comentarista a ser mais cauteloso:
""Visão mais crítica da realidade"? Pergunte aos morreram na China comunista se a visão crítica que eles tinham foi respeitada. E o que Paulo Freira achava da educação na China."

Voltou então o José Marcos com uma longa tergiversação formalística sobre o que tinha afirmado Rubens, colocando questões absolutamente superficiais, jamais tocando no âmago da questão.

Vou ajudá-lo na tarefa, resumindo o debate desta forma, ao risco de ser cruel com ambos, isto é, Paulo Freire e seu procurador voluntário José Marcos.

Paulo Freire, junto com outros representantes do marxismo universitário, é um dos muitos publicistas (avant la lettre, no seu caso) do "outro mundo possível". Existem, sim, muitos escritos nos quais ele celebra o sistema chinês -- provavelmente na ignorância completa do que se passava lá -- num momento em que a China era submetida, por aquele lunático econômico, a um dos maiores experimentos de engenharia social de que se tem notícia na história da humanidade.
Talvez o José Marcos não saiba, mas quando Paulo Freire escrevia suas maravilhas pedagógicas e celebrava os feitos do comunismo maoista, a China empreendia sob a liderança de Mao o "grande salto para a frente", que simplesmente resultou na morte -- por fome e outras endemias -- de aproximadamente 25 milhões de pessoas.
Pouco depois, a chamada Revolucao Cultural simplesmente destruiu o que tinha sobrado de universidade na China, mandando professores trabalhar no campo, em aldeias recuadas.

Mas, deixemos a tragédia maoista de lado, pois isso não nos concerne diretamente (embora os acadêmicos brasileiros escolham deliberadamente ignorar essas realidades) e voltemos para Paulo Freire.
Ele certamente foi uma pessoa bem intencionada, ainda que completamente equivocada. Ele queria o bem do povo, apenas que, como muitos outros marxistas vulgares, ele tinha uma visão deformada da realidade, que ele via sempre em preto e branco, conforme os ditames da luta de classes. Se era aristocrata, burguês, classe dominante, capitalismo, tudo isso era intrinsecamente perverso, maléfico para o povo. Se fosse do povo, das chamadas classes subalternas, dos oprimidos, então era literalmente bom, e deveria ser promovido.
O que faltava, ao povo, era uma consciência de classe, que era preciso promover, pela educação, para ele lutar pela sua libertação da opressão (capitalista, obviamente).
O mundo do socialismo -- chinês, ou outro -- era infinitamente superior ao mundo capitalista, odiado por qualquer marxista que se preze.
A educacao do povo deveria ser feita menos do be-a-bá tradicional, do tipo "Ivo viu a uva", e mais com as realidades simples do dia a dia: enxada, foice, martelo, sandálias, cabanas, em contraste com a opulência das elites. Tudo isso seria mudado um dia, se as pessoas do povo tomassem consciência de que eles eram pobres apenas porque os ricos os tinham explorado e roubado.

Estou simplificando um pouco, mas essa era a mensagem de Paulo Freira, um marxismo de botequim extremamente vulgar, para não dizer idiota, assim como são idiotas, ingênuos ou ignorantes aqueles que acham que sua mensagem tenha algo a ver com a atualidade e as necessidades de paises, ricos ou pobres.

O que essas pessoas não percebem é que o "paulofreirismo", dominante nos cursos de pedagogia do Brasil desde o final dos anos 1960 pelo menos, vem sendo praticado nos estabelecimentos de ensino de uma forma ou de outra, com os resultados que se conhecem: o Brasil é um dos últimos lugares em TODOS os exames comparativos de avaliação escolar que se possa fazer pelo mundo afora.

Se os leitores, especialmente o José Marcos, não conhece essa realidade, eu o convido a entrar na pagina da OCDE (www.oecd.org) e buscar por PISA: Program of International Student Assessment, e ver ali o lugar do Brasil nas três áreas selecionadas para avaliação: língua nacional, ciências básicas, matemáticas elementares. O Brasil consegue concentrar seus alunos nas seções inferiores, no que constitui uma tragédia nacional.

Não tenho nenhuma hesitação em atribuir a Paulo Freire uma grande, uma ENORME responsabilidade por essa tragédia.

Paulo Roberto de Almeida
(Dunhuang, China, 18.04.2010)

2 comentários:

Anônimo disse...

Vamos encher os bogós de couro!
A frase que inicia meus apontamentos foi proferida pelo célebre Guimarães Rosa, na voz de um dos personagens do clássico “Grande Sertão Veredas” e remete ao que poderíamos chamar de uma valorosa reação diante de fatos que nos são apresentados ou narrados.
Não se trata de “bater e assoprar” ou vice-versa, mas o que posso fazer, se percebo, que algumas observações sobre Paulo Freire podem ser reavaliadas?(não pretendo aqui carregar a mítica concepção de que mudarei concepções, apenas entro no campo salutar dos embates, mesmo sendo um D.Quixote a lutar contra os moinhos de vento).
O “marxismo de botequim” aventado em seu artigo, escrito em Dunhuang, (com sua famosa caverna 17 ou caverna da biblioteca, que escapara ilesa das incursões destrutivas dos templos em 1966) não é de fato, a mola-propulsora dos ideais de Freire, senão vejamos:
Nossa educação “bancária” voltada exclusivamente para o cerne “conteúdista” pode funcionar bem para uma parcela pequena da população, mas não funciona para crianças e jovens que estão afastados do refúgio estrutural familiar ou do estado, lançados a esmo num lodaçal pútrido de esquecimento e da falta de amparo. É neste contexto que vamos analisar a obra “Paulofreiriana”
Quando em seu artigo é feito o seguinte comentário: “ A educação do povo deveria ser feita menos do be-a-bá tradicional, do tipo "Ivo viu a uva", e mais com as realidades simples do dia a dia: enxada, foice, martelo, sandálias, cabanas, em contraste com a opulência das lites,” fico sem entender, pois era exatamente o que Freire pregava,(ressalvando apenas que, se mostrava necessário dar ao lavrador a consciência do “por quê” e da importância de se estar com tais instrumentos de labuta). Suas palavras se assemelham muito com as que estão no prefacio do livro de Freire “A pedagogia do oprimido”. Cujo prefácio Escrito pelo professor Ernani Maria Fiori:”A codificação e a descodificação permitem ao alfabetizando integrar a significação das respectivas palavras geradoras em seu contexto existencial – ele a redescobre num mundo expressado em seu comportamento. Conscientiza a palavra como significação que se constitui em sua intenção significante, coincidente com intenções de outros que significam o mesmo mundo. Este – o mundo – é o lugar do encontro de cada um consigo mesmo e os demais.”

Ademais, não me estenderei mais, por saber que o seu tempo e o meu são igualmente escassos, porém, suas palavras ao dizer: “Não tenho nenhuma hesitação em atribuir a Paulo Freire uma grande, uma ENORME responsabilidade por essa tragédia”, não deveriam ser tão duras endereçadas a alguém que por 70 dias foi preso acusado de traidor em 1964, e que posteriormente foi convidado a ser professor em Harvard, além de levar sua idéia de alfabetização para alguns países africanos.

Sem querer bater e assoprar voltarei agora a ler mais alguns de seus inteligentes artigos.

Os bogós estão enchidos .

Iolivan Fernandes de Araújo

Paulo Roberto de Almeida disse...

Iolivan,
Nao misture as coisas.
Paulo Freire poderia ter sido ministro da educação em qualquer governo do Brasil, ser incensado por regimes de orientação diversa, receber prêmios e distinções, nunca ter sido preso e exilado, e suas lições "pedagógicas" continuariam sendo idiotas e nocivas ao processo educacional brasileiro.

Esa coisa de "conscientização", "contexto existencial", isso é bobagem de acadêmico deslumbrado.
Criança precisa ser simplesmente ensinada no Portugues elementar, nas ciências básicas e nas matématicas fundamentais, ponto. O resto é em acréscimo, inclusive os floreios sobre a existência contextualizada.
A educação no Brasil é essa coisa horrorosa em grande medida graças a idiotas como Paulo Freire.
Paulo Roberto de Almeida