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quinta-feira, 8 de abril de 2010

2054) Celebrando o atraso - Paulo Freire nos EUA

Idiotas existem em todas as partes, como comprova a informação abaixo...

Universidade americana comemora 40 anos da tradução de Paulo Freire para o inglês

Seminário neste sábado reúne especialistas dos EUA
A Universidade de Northwestern, no estado norte-americano de Ilinois, realiza, no dia 10 de abril, seminário em comemoração aos 40 anos da tradução do livro "Pedagogia do Oprimido", de Paulo Freire, para o inglês.

O evento reunirá especialistas em educação e outras áreas, todos norte-americanos, para pensar a atualidade do pensamento de Freire e sua relação com teorias surgidas mais recentemente.

Mais informações sobre o seminário no endereço www.humanities.northwestern.edu

3 comentários:

José Marcos disse...

CELEBRANDO O ATRASO... ANTES TARDE DO QUE NUNCA.

Tive a oportunidade de assistir a uma palestra de Paulo Freire um pouco depois de seu retorno ao Brasil. Com sua voz mansa e pausada, Paulo Freire brindou a assistência com um convite para olharmos o mundo com uma visão mais crítica. Sugeriu que nos conscientizássemos mais da realidade em que estávamos inseridos. Lembro que, perto de onde morava, havia uma escola cujas paredes eram decoradas com imagens típicas dos países do extremo norte: ursos, neve etc. Não que isso fosse um mal em si, mas causava espanto perceber que não existia praticamente nenhuma escola da cidade que valorizasse os elementos típicos da terra: a beleza agreste do sertão nordestino. Uma educação que não desenvolve a auto-estima pelo lugar em que se vive certamente engendrará um povo alienado de sua cultura. Aos poucos, fomos conhecendo sua obra que, durante o regime militar, não podia ser publicada no país. Uma amiga, que cursava Pedagogia na Unicamp, elogiava as suas aulas e contava-nos como ele ministrava suas lições. Hoje, fico contente em saber que Paulo Freire tem tido cada vez mais espaço nos Estados Unidos. Os americanos me fazem recordar do Fausto de Goethe. Seduzidos pela magia mefistofélica da ciência, não percebem que, muitas vezes, causam sofrimento desnecessário aos povos que não comungam com os seus ideais. A doutrina Bush,por exemplo, foi um grande retrocesso no Direito Internacional. Quem dera que, com uma visão mais crítica da realidade, os cidadãos americanos consigam olhar o mundo com olhos mais atentos.

Rubens disse...

Caro José Marcos, se a doutrina Bush é prejudicial ao Direito Internacional, e o com certeza o é, o que dizer da Doutrina Mao Tse-Tung, que Paulo Freire tanto propagava? Não foi nem um pouco prejudicial a tudo aquilo o direito mais quer preservar?

O verdadeiro atraso é acreditar numa visão ingênua da história, dos norte-americanos malvados contra os oprimidos que serão salvos pela "visão crítica" de tipos como Paulo Freire.

Você usa uma linguagem terrivelmente dramática para descrever a situação atual no mundo. "Seduzidos pela magia mefistofélica da ciência, não percebem que, muitas vezes, causam sofrimento desnecessário aos povos que não comungam com os seus ideais."

Estude realmente o que pregava Paulo Freire, não apenas se valha do que uma amiga que foi aluna dele lhe contou e o que ele disse numa palestra. Estude o que ele de fato escreveu. E depois volte aqui e discorra sobre o que Paulo Freire, e não apenas os norte-americanos, esperava fazer com os "que não comungam com os seus ideais". Veja que tipo de "ciência" ele afirmava.

"Visão mais crítica da realidade"? Pergunte aos morreram na China comunista se a visão crítica que eles tinham foi respeitada. E o que Paulo Freira achava da educação na China.

José Marcos disse...

VISÃO CRÍTICA E AUTOCRÍTICA

Prezado Rubens,

Infelizmente só hoje, 17 de abril, li as observações que você fez ao que escrevi sobre Paulo Freire. Desculpe-me por ter tardado em lhe dar resposta. Durante a época em que freqüentei a universidade, não cheguei a ler a vasta bibliografia de Paulo Freire, embora tenha gostado do pouco que li. Conforme escrevi no comentário, desenvolvi o hábito de observar o mundo com visão crítica, compreendendo ser possível a construção de outra realidade. Não me poupo de autocrítica e, quando avalio que estou errado, procuro reajustar minhas ideias. Permita-me dar-lhe alguns pequenos conselhos:

I) Ao escrever, procure checar as informações que você divulga. Por exemplo, você afirmou que Paulo Freire propagava a doutrina Mao Tse-Tung. O que é, afinal, essa doutrina? Se consultarmos no Google “doutrina Bush” entre aspas, encontraremos 6.950 resultados (pesquisa realizada às 21h do dia 17 de abril). Caso façamos o mesmo para “doutrina Mao Tse-Tung” entre aspas, teremos somente 2 resultados. Se lermos a primeira página que aparece na pesquisa, observaremos que Mao Tse-Tung elaborou uma doutrina que funde nacionalismo com marxismo com ênfase numa hegemonia camponesa, em contraste com o que os bolcheviques defendiam acerca da importância do proletariado urbano na luta de classes. Pelo contexto do que você escreveu, acredito que o seu conceito de “doutrina Mao Tse-Tung” seja diferente do que se encontra nessa página eletrônica. Sendo assim, procure definir melhor as suas concepções para que tenhamos uma base comum e objetiva de discussão.

II) Como a bibliografia de Paulo Freire é muito grande, você bem que poderia me poupar de ler uma quantidade imensa de livros indicando-me em que obra ele nos informa sobre o que pretende fazer com aqueles que não compartilham de sua opinião. Peço-lhe, entretanto, a gentileza de indicar-me um trabalho do próprio Paulo Freire e não de um crítico dele. Infelizmente, há críticos que fazem críticas sem nunca lerem os autores que estão criticando. Isso me lembra a minha filha que diz que não gosta de tomate sem nunca ter comido um!

III) Sempre que possível, reveja o que você escreveu e verifique a coerência do seu texto. Você afirma textualmente: “Pergunte aos morreram (sic) na China comunista se a visão crítica que eles tinham foi respeitada”. Perceba que você foi um pouco infeliz naquilo que pretendia dizer, uma vez que é impossível questionar aqueles que já morreram. A menos, é claro, que você seja adepto de alguma corrente que acredita na existência de vida após a morte e creia na possibilidade de se realizar uma sessão mediúnica com o intuito de contactar os mortos. O único empecilho, neste caso, é que não sei falar mandarim.

IV) Brincadeiras à parte, não acredito que Paulo Freire tenha compactuado com os massacres perpetrados pelo regime de Mao Tse-Tung. Sei que ele tinha admiração pelas ideias esquerdistas. Durante um bom tempo, os regimes socialistas não divulgavam os expurgos que faziam na sociedade, o que contribuía para idealizar esses países. Após as denúncias dos crimes cometidos por Stalin, ocorreu uma profunda cisão na esquerda. Muitos passaram a defender a possibilidade de se construir um regime socialista de face mais humana, um socialismo que respeitasse os direitos humanos. Penso que Paulo Freire tenha se alinhado nesta direção, uma vez que ele propunha uma fusão da doutrina marxista com o cristianismo. Conforme escrevi, posso estar enganado porque não conheço a totalidade de sua obra. Caso você me fundamente que Paulo Freire defendia os massacres perpetrados pelos maoistas chineses, darei o braço a torcer.

Cordialmente,

José Marcos