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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

2096) Um dialogo sobre a (nao) democracia no Brasil

Um leitor do meu blog, e espectador de uma de minhas palestras, escreveu-me o que segue:

Mensagem enviada pelo formulário de Contato do SITE

On Mar 23, 2010, at 12:05 AM, Jxxxxx (...) Rxxxxxx wrote:

Nome: Jxxxxx (...) Rxxxxxx
Cidade: Brasília
Estado: DF
Email: xxxxxxxxxxxxx@hotmail.com
Assunto: Opiniao

Mensagem: Estive presente em sua palestra na UnB, sou calouro de Xxxxxx e não me considerei apto para embarcar em um debate público com o senhor, por isso venho confrontar sua opinião através da internet!
Em primeiro lugar gostaria de dizer que concordo de sua constatação sobre a inexistência de uma direita clássica o Brasil, mas me atrevo a expandir esse horizonte dizendo que não há na política brasileira caráter ou fidelidade partidária suficiente para que exista qualquer orientação seja ela fascista, marxista, liberalista ou qualquer outra! Existem claro aqueles partidos extremo esquerdistas que são fiéis às suas crenças, entretanto tem uma representação tão ífia que pode ser desconsiderada!
Gostaria de expor minha opinião quanto a erosão da democracia. Para mim a democracia é erodida desde suas bases a não ser que ela seja direta, pois: a representatividade nunca é fiel! E a falta de uma educação cidadã torna impossível que as classes menos abastadas formem uma opinião consistente o suficiente para uma fiscalização pertinente!
Visto que é completamente inviável uma democracia direta nos dias atuais (a não ser em alguns cantões suíços) penso ser correto dizer que a democracia é uma forma de organização política fadada ao fracasso!
Obrigado pela atenção às minhas opiniões, gostei muito de sua palestra e reitero que não me considero ainda preparado para debater com o senhor de forma equivalente!

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Ele se referia a esta palestra, que foi transformada em artigo e publicada desta forma:
A coruja de Tocqueville: fatos e opiniões sobre o desmantelamento institucional do Brasil contemporâneo
Espaço Acadêmico (ano 9, n. 107, abril 2010, p. 143-148; ISSN: 1519-6186).

Minha resposta a ele, um tanto apressada, segue abaixo (sem acentos, como sempre escrevo na internet):

Meu caro Jxxxxxxx,
Grato pela sua mensagem e pela atencao a minha palestra (transformada em artigo e publicada na Espaco Academico).
Devo dizer que voce poderia, em qualquer hipotese, debater comigo na palestra, pois sempre seria uma questao intrigante, como essa que voce me colocou, o que teria beneficiado outras pessoas tambem interessadas no mesmo tema.
Concordo quase inteiramente com voce, com as seguintes ressalvas.
Direita classica, ideologica e consistente, tambem acho dificil de haver no Brasil.
Os liberais -- QUE NAO SAO DE DIREITA, DIGA-SE DE PASSAGEM, MAS REFORMISTAS -- tampouco terao muita chance nos anos, e talvez decadas, a frente.
Sobram os sociais democratas -- debeis em materia ideologica ou conceitual -- e os marxistas, de todos os matizes, que a despeito de serem tambem totalmente inconsistentes no plano da formulacao teorica, tem, sim, muito mais sucesso e atuacao efetiva do que todos os outros. Eu vejo toda a nebulosa estatista-socialista como de muito sucesso no Brasil, por mais que o pais e a economia sejam capitalistas, a extracao de recursos por parte do Estado faz parte dessa nebulosa, da qual participam tambem os social-democratas.
O Brasil, infelizmente (porque isso atrasa a prosperidade economica e o bem-estar dos mais pobres) nao é um pais capitalista progressista, e sim um pais estatizante-regressista, anti-reformista, corporativista e sindicalizado. Pagaremos um preco por isso, tenha certeza disso, como alias ja estamos pagando, sob a forma de menor crescimento, mais corrupcao, mais desperdicio de recursos, mais mediocridade geral do pais.
A democracia está sempre sob ataques num sistema como esse, e a democracia direta, como voce registra, é uma ilusao.
Mas, numa fase avancada da educacao geral da populacao, da educacao politica, é possivel sim pensar em democracia direta, quando toda a populacao estiver conectada pela internet.
Isso deve ocorrer antes nos paises escandinavos, em cidades-estados como Cingapura (em Hong Kong, se a China nao atrapalhar), na Coreia, no Japao e depois nos EUA (depois de varios paises europeus). Os EUA sao muito abertos a "imigracao selvagem" para se tornarem uma democracia aborrecida, mas funcional, como os escandinavos e semelhantes.
Nos, estamos a anos-luz dessa perspectiva, e arrastaremos durante decadas politicos mediocres e ladroes que vao continuar estatizando (e atrasando) o pais.
Infelizmente as coisas sao assim.
Um Brasil saudavel, democratico, progressista, talvez seja para os seus filhos ou netos, nao para nos...
O abraco do
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Paulo Roberto Almeida
Shanghai - China
(28.04.2010)

2 comentários:

Anônimo disse...

Ideias, de esquerda ou direita, são bonitas no seu Estado puro e teórico. E como brigamos seja gastando os nossos teclados ou tintas de caneta para defendê-la.

O mundo atual busca "bodes expiatórios" que dependem do cardápio com as opções dos cardápios.

O que intriga-me é a irracionalidade crescente nos argumentos da esquerda e da direita. Argumentos tão bem construídos que quase fazem-me acreditar que sejam verdade.

att

Paulo Henrique disse...

Caro PRA,
Poderia, por gentileza, se aprofundar um pouco mais sobre essa democracia aborrecida, mas funcional, mencionada no seu texto?
Confesso que fiquei meio no ar.

Os EUA sao muito abertos a "imigracao selvagem" para se tornarem uma democracia aborrecida, mas funcional, como os escandinavos e semelhantes.

Grato,

Paulo