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terça-feira, 20 de junho de 2006
497) Ops, não falharemos da próxima vez...
Bem, o que escrevi acima é um chute, um monumental chute, mas ele tem alguma verossimilhança.
Pelo menos é o que eu interpreto da trajetória dessa revista que, criada pelo Secretário Geral das Relações Exteriores do Brasil, Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, tem como vocação veicular as vozes autorizadas da diplomacia sul-americana, a começar pelos próprios representantes oficiais das chancelarias locais.
De fato, desde seu aparecimento, mais de um ano atrás, a revista tem limitado-se a publicar artigos de personalidades da e sobre a América do Sul, com destaque para seus porta-vozes oficiais, presidentes, chanceleres, augustos funcionários. Tudo isso dá uma tremenda sensação de "langue de bois", isto é, chapa branca, mas pelo menos se sabe o que as chancelarias têm a dizer, ou pelo menos o que elas querem que a gente acredite que elas pensam que nós acreditamos...(difícil de entender?; never mind...).
Mas, não é que no número 4 da DEP, correspondendo aos meses de abril a junho de 2006, a revista ousou ir além da "langue de bois"? Sim, ela publicou material "oposicionista".
Assim pelo menos interpreto a publicação de dois artigos que destoam do tom comedido e oficioso (para não dizer oficial) dos demais.
Vejamos: ao lado de artigos do chanceler argentino Jorge Taiana (sobre os "Objetivos e desafios da política exterior argentina"), do presidente Evo Morales (sobre a "Bolívia, fator de integração", sem sic), de Michelle Bachelet (sobre o "Programa de Governo, 2016-2010", do Chile) e, entre outros, do vice-presidente da República Bolivariana da Venezuela, José Vicente Rangel ("Há um outro mundo, e está neste"), comparecem dois artigos que poderiam ser classificados de "oposicionistas", ou pelo menos como contestadores.
O primeiro vem assinado por Germán Umaña Mendoza, professor associado da Universidade Nacional da Colômbia, e tem como título "A armadilha do bilateralismo".
O segundo foi assinado por ninguém menos que Ollanta Humala, o candidato presidencial derrotado por Alan Garcia, nas recentes eleições presidenciais do Peru, e tem como título "A Grande Transformação" (e trata-se, mais exatamente, de seu programa de governo, extremamente detalhado e bastante transparente por sinal).
O primeiro artigo é uma crítica ao bilateralismo nas relações comerciais e constitui uma bem fundamentada argumentação acadêmica sobre os malefícios da aceitação inquestionada dos princípios de política comercial dos países desenvolvidos, em especial dos EUA, pelos países em desenvolvimento. Uma seção do artigo tem como título "Colômbia: um mau exemplo para os países em desenvolvimento".
Considerando-se, agora, que Alvaro Uribe foi reconduzido com uma vitória aplastante à presidência da Colômbia e que Alan Garcia ganhou as eleições no Peru, o mínimo que se pode esperar de uma revista governista como a DEP é que ela traga, em seu próximo número artigos que reflitam essa nova realidade sul-americana.
Os artigos "oposicionistas" do número 4 podem não representar um "faux-pas", uma vez que a revista é livre para publicar todas as correntes de opinião, mas considerando-se que em sua trajetória até o momento ela foi relativamente governista em suas manifestações, espera-se o restabelecimento da balança.
Veremos, pois, em mais ou menos três meses...
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