Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
sábado, 26 de setembro de 2009
1394) Comunismo religioso: a fé é a última que morre...
À ESPERA DE UM MILAGRE
Da esquerda para a direita (com todo o respeito): Ivan Pinheiro, Heloísa Helena, José Maria, Renato Rabelo e Rui Costa Pimenta. O personagem deitado na cama, para quem não sabe, é Marx
O título é meu, claro. Eu também acho que esse pessoal é inofensivo, contrariamente aos que acreditam que eles pretendem implantar o comunismo no Brasil.
Para que?, pergunto eu: eles sobrevivem muito melhor com o capitalismo, pois todos eles estão empregados, ganhando dinheiro do Estado, de empresas, de capitalistas e banqueiros, enfim, gozando do que existe de melhor no capitalismo, coisas que eles nunca teriam se o Brasil fosse socialista ou comunista.
A única coisa que eles conseguem é atrasar um pouco mais o Brasil, pois com todas essas mordomias e transferências de rendas, os capitalistas não conseguem investir pesadamente no crescimento e na criação de empregos.
Mas, para que?, eles já conseguiram os seus empregos e as suas rendas...
Brasil
O socialismo não morreu (para eles)
Para um bloco de partidos nanicos de esquerda, o marxismo
está mais vivo do que nunca e o capitalismo caminha inexoravelmente
para seu fim. Eles são inofensivos, apesar desse delírio
Veja, 30 de setembro de 2009
Um fantasma ronda a América Latina: o fantasma do comunismo. Pelo menos é o que acreditam os militantes de um punhado de partidos nanicos de esquerda que ainda sobrevivem na política brasileira. Para esse pessoal, não há nada mais importante do que impedir que as ideias de Karl Marx sejam devoradas pelo fungo e pelo bolor. Os esquerdistas radicais formam um grupo tão curioso quanto inofensivo. A grande aspiração dessa turma é assistir ao dia em que o socialismo, finalmente, vai se tornar o sistema econômico e político dominante no planeta. E esse dia estaria mais próximo, com o capitalismo perto de seus estertores, como demonstraria a crise financeira do ano passado. Apesar de animados, os nossos marxistas não pretendem se esforçar para acelerar a Grande Revolução Vermelha. Acham que basta sentar e esperar, visto que a marcha da história se encarrega de fazer o trabalho pesado.
O PSOL (Partido Socialismo e Liberdade), que integra esse bloco, é provavelmente a única agremiação marxista do mundo fundada depois da virada do século. Sua maior estrela é a ex-senadora Heloísa Helena. Com pouco mais de cinco anos de existência, o partido é um balaio de gatos. Abriga socialistas, trotskistas-cristãos, trabalhistas e até brizolistas. Com tantas correntes, é difícil afinar um discurso homogêneo, mas a maioria dos militantes concorda em um ponto: é preciso implantar um regime socialista no Brasil quanto antes. "Achamos que não há condições de fazer isso agora, mas um bom jeito de começar a transição socialista seria reestatizar a Vale do Rio Doce e expulsar o capital privado da Petrobras", diz o secretário de mobilização do PSOL, Roberto Robaina, reproduzindo um pensamento que, infelizmente, ronda o Palácio do Planalto.
Uma das agremiações mais barulhentas é o PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado). Seu líder, José Maria de Almeida, foi candidato duas vezes a presidente da República. Em 1998, teve 0,30% dos votos. Em 2002, alcançou 0,47%. Zé Maria não se preocupa com essa falta de mais-valia nas urnas: "O importante é a revolução. Ela está chegando, e nós estamos preparados. Haverá uma insurreição do povo. Vamos derrubar o governo e mudar o regime". Uma revolução no Brasil? "É isso mesmo. Nos últimos anos houve conflagrações no Equador, na Argentina e na Bolívia. Eles só continuam capitalistas porque quando o povo foi para as ruas não havia partidos capazes de guiar a transição para o socialismo. Esse será o nosso papel quando a hora chegar", acrescenta um Zé Maria animadíssimo.
A foice e o martelo também continuam em riste nas mãos da velha guarda do PCB (Partido Comunista Brasileiro). "Nunca fez tanto sentido ser comunista quanto agora", garante o secretário-geral da legenda, Ivan Pinheiro. Pare ele, a crise econômica dos últimos doze meses é a senha para a ressurreição do modo de vida soviético. "O capitalismo não vai dar conta dessa crise. Digo mais: haverá uma próxima crise, muito maior. Quando isso acontecer, os trabalhadores do mundo todo vão perder seus empregos e terão de voltar a se organizar para lutar. Isso vai acontecer antes do que se imagina", entusiasma-se Ivan, o Terrível.
O giro da roda da história (eles não julgam que seria para trás) é questão prioritária também nas plenárias do PCdoB (Partido Comunista do Brasil). Renato Rabelo, seu presidente, está convicto de que a queda do Muro de Berlim, em 1989, não representou o fim do marxismo: "Quando a União Soviética desabou, houve quem achasse que o socialismo tinha morrido. Que nada! Só alguém sem visão histórica nenhuma pode pensar assim". Para Rabelo, a aventura socialista mal começou: "O capitalismo levou 300 anos para superar o feudalismo. O marxismo tem pouco mais de 100 anos de existência. Ou seja, podemos precisar de mais 200 anos para tornar o mundo comunista". Nem o senador Eduardo Suplicy aguentaria mais dois séculos desse debate.
Essa confraria esquerdista se completa com uma obscura organização chamada PCO (Partido da Causa Operária). Como se fossem soldados da Coreia do Norte, seus militantes dificilmente saem em público, não dão bom-dia aos vizinhos e soltam a voz ao cantar a Internacional. Sua única face conhecida é o comissário-geral Rui Costa Pimenta, que em todas as eleições aparece na TV repetindo o slogan: "Quem bate cartão não vota em patrão". Uma rima, não uma solução, para continuar no pão com macarrão.
As ideias disparatadas desses partidecos dão certo colorido à democracia brasileira, nada mais. Ao sonharem com o pesadelo da restauração socialista, seus militantes conseguem apenas criar para si próprios uma imagem folclórica. Perderiam menos tempo se dessem ouvidos ao próprio Marx, objeto de sua devoção, que dizia que alguns fatos históricos podem acontecer duas vezes: na primeira, desenrolam-se como tragédia; na segunda, como farsa. O socialismo não voltará à vida. Está morto e enterrado, juntamente com milhões de cidadãos que, ao longo de setenta anos, pereceram sob sua mão de ferro. Ele só sobrevive como alucinação.
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