Primeiro um Breaking News Alert do The New York Times (Sat, March 20, 2010 -- 7:16 AM):
Pope Offers Apology for Sex Abuse Scandal
Confronting a sex abuse scandal spreading across Europe, Pope Benedict XVI on Saturday apologized directly and personally to victims and their families in Ireland, expressing "shame and remorse" and saying "your trust had been betrayed and your dignity has been violated."
His message, in a long-awaited, eight-page pastoral letter to Irish Catholics, seemed couched in strong and passionate language. But it did not refer directly to immediate
disciplinary action beyond sending a special apostolic delegation to investigate unspecified dioceses and religious congregations in Ireland. Moreover, it was, as the Vatican said it would be, focused particularly on the situation in Ireland, even as the crisis has widened elsewhere.
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Agora um comentário meu:
Talvez a Igreja Católica não tenha uma maior proporção de "desviantes", no conceito normal dessa expressão em termos socialmente reconhecidos (homossexuais, pedófilos, sexual harassers, etc), do que as sociedades nacionais, como um todo.
Talvez não, mas o problema está em que a Igreja Católica exige de seus "funcionários" uma conduta totalmente incompatível com a expressão normal e natural dos desejos e impulsos humanos, que são o apetite sexual, a necessidade de afeto, amor, carinho e até de dominação carnal, enfim, sentimentos que se expressam naturalmente nos seres humanos e que encontram acolhimento, canalização e satisfação nas instituições e condutas que existem à disposição das pessoas "normais", quais sejam: casamento, namoro, concubinato, convivência afetiva, e outras formas de relacionamento entre pessoas dos dois sexos oficialmente reconhecidos na espécie humana, o que inclui prostituição, adultério e outras formas especiais de intercâmbio carnal (como diria o Gilberto Freyre).
Pois bem, ao proibir aos seus membros não apenas esses intercâmbios, mas a sua mera expressão oral, ao exigir fidelidade total ao princípio do celibato e da abstinência sexual, a Igreja Católica está pedindo demais a seus "funcionários" e impondo-lhes uma restrição absoluta em termos de expressão natural de seus desejos e impulsos que acabam tendo manifestações "desviantes", clandestinas e até perversões, que além de serem "pecaminosas" pelos seus códigos de conduta, acabam sendo malignos e até cruéis (como a pedofilia, por exemplo).
Tudo isso, claro, em nome da preservação do seu poder: os "homens especiais" que se dedicam à Igreja Católica deveriam ser servos fiéis de sua missão evangelizadora, mas também um exército de burocratas engajados em aumentar o poder (espiritual e material) da Igreja sobre o mundo e sobre as pessoas. Ao tolher a seu pequeno exército de burocratas e soldados da fé a expressão livre de seus desejos naturais, a Igreja acaba forçando-os a práticas imorais ou até delituosas.
Que um padre da Igreja Católica se aventure ocasionalmente em amores clandestinos, com uma mulher, em uma relação livremente consentida, não existe problema algum, posto que em outras igrejas existe casamento e outras práticas. Ao proibir qualquer tipo de amor, a Igreja Católica "força" seus funcionários a praticar sexo com seres dominados (crianças) ou colegas, com ou sem consentimento explícito.
Finalmente, essas comissões de investigação para apurar "desvios de conduta" são uma grande hipocrisia e um travestimento do problema. Não se trata de resolver, e sim de impedir a divulgação e evitar "novos" problemas.
O problema só será resolvido (parcialmente, posto que "desviantes" sempre existem, em qualquer sociedade ou grupo social) quando a Igreaja Católica terminar com o dogma estúpido do celibato e da abstinência sexual, e passar a dispor de um exército de soldados e burocratas livres para expressar naturalmente seus desejos e impulsos. Isso tornará a instituição menos "eficiente" para seus fins próprios -- que são o monopólio da fé e a conduta individual de seus filiados, membros e seguidores, tornados servos obedientes de seus dogmas ancestrais -- mas ela será provavelmente menos propensa a produzir um número tão alto de desviantes ativos.
Paulo Roberto de Almeida (20.03.2010)
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
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3 comentários:
Se a Igreja possui "soldados e burocratas", ela é um Estado? Um Estado pleno? Tem direito a armas nuclares? Como se poderia entrar em guerra com ela? A "honestidade intelectual" baseada na integridade de consciência individual, como o sr. defende, não deve historicamente nada à Igreja? Ou tem realmente paternidade iluminista, caso em que nasceu meramente de um "impulso natural" com recusa de maiores responsabilidades?
Anônimo,
Eu nem deveria responder a um anônimo, pois isso me dá a incomoda sensação de falar com uma parede, portanto, let's rephrase.
Minha cara parede,
A Igreja é sim um Estado, formalmente e você deve saber disso. O Estado do Vaticano existe, com seus soldados e burocratas.
Mas eu não estava me referindo ao Estado do Vaticano situado naquele cantinho de Roma, e sim ao grande Estado que constitui a Igreja Catolica Apostolica Romana, que tem um papa como seu chefe material e supostamente espiritual tambem.
É um Estado pleno. Se tem direito a armas nucleares, você deve dirigir sua questão ao papa, no Vaticano, mas acredito que eles não respondam a anônimos, você deve compreender por que.
Eu não devo absolutamente coisa alguma à Igreja, posto que não me considero membro dessa comunidade.
O resto de sua questão é muito confusa e não pretendo perder tempo com ela.
Eu lhe recomendo escrever em claro, ou fazer o seu próprio blog para sua diversao ficar mais completa...
Paulo Roberto de Almeida
Grande falácia neste argumento:
Se o padre é proibido de fazer sexo, só poderá libertar-se da repressão atacando pessoas submissas.
Onde está o erro? Fácil. O Padre, ao decidir quebrar o voto de castidade, pode fazer sexo com quem quiser. Se escolhe uma moça da paróquia, a caixa do supermercado ou a vizinha, comete um erro.
Se escolhe os coroinhas, comete no mínimo três: Quebrou seu voto. Pedofilia e Homossexualismo.
Daí se pode concluir facilmente que os escândalos de pedofilia não são derivados do sacerdócio, mas da perversidade mental de certos indivíduos.
Do mesmo modo, um homem pode trair seu casamento com a vizinha ou com o filho da vizinha. Seria esta segunda opção fruto da repressão do casamento?
O homem é responsável por suas escolhas. Se quer quebrar o seu voto de castidade, é livre para fazê-lo. Responderá só a seu Deus. Se quiser quebrá-lo com coroinhas, comete crime. A escolha é dele, sua situação clerical é irrelevante no processo.
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