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quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Republica Mafiosa do Brasil (5): o Brasil está perdendo o sentido da indignação coletiva

Por vezes eu não acredito no que estou lendo, como notícia, e tenho certeza de que muita gente passa por cima dessas matérias que tratam de uma suposta "luta política" entre governo e oposição, como se fossem apenas casos menores e contravenções corriqueiras.
Não concordo, e por isso estou postando estas matérias do blog do jornalista Reinaldo Azevedo, com o destaque que elas merecem, sob a rubrica da República Mafiosa do Brasil.
São tantas as matérias sobre corrupção e bandidagem no Brasil que as pessoas têm a tendência a considerar tudo isso como um déjà vu all over again.
Não eu. Não considero que estejamos em face de fatos apenas corriqueiros, ou a mesma corrupção velha de sempre, ou seja, more of the same. Não, estamos em face de algo qualitativamente superior: um estado de fato em que um Estado, ou seja, instituições públicas, estão sendo contaminadas, possuídas, prostituídas pela mais alta bandidagem, e com isso eu não posso me conformar.
Como não tenho nenhum poder, não represento nenhuma força ou movimento, minha única reação é minha capacidade de indignação, passando em consequência a transmitir esse sentimento para um público mais amplo.
É a única arma que me resta...
Paulo Roberto de Almeida

Sigilo da filha de Serra também foi violado; ou as instituições e a sociedade civil reagem à altura, ou seremos todos reféns da bandidagem
Reinaldo Azevedo, 1.09.2010

Restasse alguma dúvida de que as violações de sigilo praticadas na Receita Federal tinham um objetivo político, agora não resta mais. Acabou a farsa! O posto da Receita de Mauá violou também o sigilo de Verônica, filha do candidato do PSDB à Presidência da República. Fim da linha!

É o estado brasileiro, convertido em estado policial, a serviço de uma candidatura à Presidência da República. O que é mais espantoso é que eles não precisavam de nada disso para ser competitivos. Mas são viciados no crime, como prova o mensalão, como prova o dossiê dos aloprados, como prova o dossiê feito contra FHC e Ruth Cardoso na Casa Civil, quando a titular era Dilma Rousseff.

Lula foi transformado na grande vítima da política brasileira quando Fernando Collor, hoje seu aliado, levou à TV o depoimento de Mirian Cordeiro, e a história de Lurian, sua filha, foi exposta à expiação pública. A indignação foi grande, e compreensível, porque sua vida privada foi devassada com o intuito unicamente eleitoral.

O caso agora é muito mais grave. Collor, vá lá, optou pela baixaria, mas estava fora do poder. Não é o caso do PT. Um ente do Estado brasileiro, a Receita Federal, foi posta a serviço de uma candidatura, evidenciando que eles só conhecem o caminho do vale-tudo.

Ou as instituições, a imprensa, os demais Poderes da República e as entidades da sociedade civil comprometidas com a defesa das liberdades públicas e individuais reagem à altura do agravo feito à Constituição, ou acabou: fica combinado que o partido que estiver no poder pode jogar no lixo as leis para lá se manter.

Lula é hoje a face popular e carismática da destruição do estado de direito.

Atenção
No caso do sigilo de Verônica, podem apostar, vão tentar demonstrar que havia um “motivo técnico” para o “acesso”. E, assim, tentarão manter no ar o clima de chantagem.

Estamos lidando com criminosos profissionais.

6 comentários:

José Marcos disse...

NEM TUDO QUE RELUZ É OURO

Decerto que é necessário protestar contra a corrupção, protestar contra o aparelhamento do Estado por qualquer que seja o partido político, protestar contra a bandidagem, and so on and so forth. Não se pode, contudo, esquecer que, na história brasileira, "dossiês" nem sempre são o que aparentam ser, como o famoso "plano Cohen". O mais prudente seria aguardar o andamento das investigações, ao invés de alardear com antecedência que tudo é culpa do PT... Mancha-se a honra de cidadãos que, se for comprovado nada terem com o fato, ficam indelevelmente estigmatizados com a divulgação exacerbada do caso em pelo pleito eleitoral. A vantagem do blogue do PRA em relação ao do RA é que, aqui, pode-se expor opiniões contrárias, o que é virtualmente impossível no blogue do jornalista da Veja, devido a sua entranhada ojeriza pela... sociedade democraticamente aberta.

Paulo Roberto de Almeida disse...

José Marcos,
Em nenhum momento eu escrevi o nome de nenhum partido, embora pudesse tê-lo feito. Foi você quem o fez, o que é, aliás, altamente revelador do que você realmente pensa, mas não ousa dizer, nem expressar sua indignação.
Se você quiser escrever no blog do jornalista em questão, você tem todo o direito de fazê-lo, aliás deveria, se tiver algo de inteligente e de útil a dizer.
Creio que o jornalista em questão apenas corta mensagens ofensivas e aquelas manifestamente idiotas, um pouco diferente de mim, que por vezes permito até postagens idiotas de idiotas anônimos.
Quem tem coragem de assumir sua parte de responsabilidade pelo que vê de barbaridades políticas sendo cometidas e que assiste de atos criminosos sendo cometidas deve fazê-lo. Os frouxos, os covardes, os acomodados não o fazem, e com isso são coniventes com esse estado de coisas.
Eu realmente me surpreendo -- fico estarrecido, seria a palavra exata -- com a frouxidão moral que tomou conta do Brasil, com a simples indeferença em face de atos criminosos.
Como não pretendo ser tolerante, nem conivente, assumo a única atitude que me parece ser digna: divulgar fatos, elementos analíticos sobre FATOS, sobre crimes, sobre declarações.
E tomo partido, sim: pela verdade, pela transparência, pelo combate ao crime, às máfias políticas.
Eu pretendo viver num país melhor do que ele é hoje, manifestamente contaminado por gangues corruptas.
Cada um assume responsabilidade pelo que acredita, e pelo que luta.
Eu já escolhi o meu campo.
Você pode escolher o seu.
Paulo Roberto de Almeida

José Marcos disse...

PT

De fato, o senhor não mencionou uma única vez o PT. Eu, contudo, não me referia ao senhor, mas comentava o relato do jornalista da Veja. Utilizando uma ferramenta de busca do computador apenas nesta página eletrônica do primeiro dia de setembro, o nome do PT foi citado 26 vezes. Ao contrário do que o senhor imagina acerca do RA, ele é bastante intolerante a idéias contrárias. Certa ocasião, um comentarista um pouco mais conhecedor de economia do que ele, utilizou em sua análise um dos famosos brocardos latinos do economês: o ceteris paribus, citado em português. A reação do RA - que provavelmente nunca leu um único livro introdutório de economia em sua vida - foi hilária: soltou os cachorros contra o pobre comentarista que ousou usar a expressão "e tudo o mais constante". Cômico, mesmo, pois a crítica era unicamente direcionada ao uso da expressão, que ele considerava uma heresia. À propósito: eu também tomo partido. Tomo o partido do respeito à independência das instituições políticas e do respeito à pessoa humana. Ninguém pode ser condenado sem antes ser julgado. Infelizmente, no nosso país, a má imprensa costumeiramente condena antes mesmo de se apurar os fatos. Enfim, estamos progredindo. Não deixa de ser útil lembrar a lição que a imprensa suíça nos deu no caso daquela brasileira que se disse atacada por neonazistas...

Paulo Roberto de Almeida disse...

José Marcos,
Você está se desviando do assunto e fugindo às suas responsabilidades.
O RA pode ser contundente, de forma indevida, e pode ser um supremo ignorante em economia, pode até ser um mau caráter. Nada disso tem algo a ver com o que estava sendo discutido aqui: corrupção, crimes, patifarias nas mais altas esferas do governo. Ponto. Apenas isto.
Não me interessa quem disse, ou que essa pessoa disse a respeito de qualquer outro problema.
Eu leio tudo o que posso da imprensa brasileira sempre que posso, e isso mesmo estando longe e tendo dificuldades de acesso.
E posso dizer que, salvo um ou outro editorial, NÃO VEJO na imprensa a reflexão sobre esses problemas que leio nos posts desse jornalista.
Se eu encontrasse material similar, tratando de problemas REAIS, esteja certo que eu também postaria aqui, pois esta é a única forma de debater problemas REAIS, numa imprensa manifestamente ruim, e com jornalistas medíocres e enviesados.
Portanto, NÃO MUDE DE ASSUNTO e não tergiverse: atenha-se ao que está em foco, do contrário vou deixar de publicá-lo.
O que está em foco é a corrupção oficial, tal como refletida em FATOS, relatados na imprensa, pelo menos naquele que ainda presta um serviço público.
Que a Justiça -- ineficiente, morosa, falha, quando não corrupta -- não condene ninguem antes de 25 anos passados, não impede que a NOSSA PERCEPÇÃO de corrupção, como pessoas inteligentes que somos, pode permitir abrir um debate sobre isso.
Eu estou apenas postando fatos e opiniões. Já tenho a minha formada, mas isso não impede que eu pretenda tornar os fatos ainda mais visíveis aos olhos dos que não lêem jornais.
Paulo Roberto de Almeida

José Marcos disse...

A PONTA DO ICEBERG

Meu caro professor, não fique nervoso. Eu não estou fugindo do assunto, eu estou recomendando prudência diante do que o RA escreve. A verdade pode ser muito mais complexa, ou muito mais simples, do que se divulga. Durante o Regime Militar, o presidente Geisel ficou extremamente irritado com a tortura e a morte de Manoel Fiel Filho e exonerou o comandante do Segundo Exército por causa disso. Se no meio militar era possível a tomada de atitudes independentes por parte de elementos do escalão inferior, o que não se dirá em um partido como o PT... Sempre que pode, RA procura fazer ligação entre qualquer irregularidade administrativa no Estado com o PT. Pode ser que ele tenha razão, ou não. A quebra do sigilo pode ter outras explicações, por isso avalio como prematuro tachar o Estado de mafioso sem que se tenha concluído a análise das evidências. Como disse no primeiro comentário, a história brasileira é pródiga em dossiês como o "plano Cohen". Não ponho a mão no fogo em tudo o que o RA diz, pois ele me parece ideologicamente motivado. Prefiro aguardar um pouco mais o decorrer das investigações.

Paulo Roberto de Almeida disse...

José Marcos,
Eu tenho muitas más qualidades, menos duas, em especial: hipocrisia e ingenuidade.
Quando um funcionário do Planalto diz que por pressões não reveladas ele desiste de prestar um depoimento sobre algo de seu conhecimento, quando um ADEVOGADO geral da DESUNIÃO ingressa com ação do interesse de um um partido, não da União, eu me permito não ser hipócrita e não ser ingênuo para tirar as conclusões que se impõem.
Você pode até achar que estou me antecipando as investigações, mas, neste caso, estou melhor que você que prefere "aguardar um pouco mais o decorrer das investigações".
Claro, você, eu e todo o povo brasileiro estamos aguardando um pouco mais, não apenas as investigações, mas as medidas cabíveis nos casos do Valdomiro Diniz, do mensalão, dos aloprados, do Lanzetta, da Receita.
Acredito que você deve se munir de um pouco mais de paciência.
Eu, como não sou hipócrita nem ingênuo, não preciso aguardar nem investigações, nem comentários de qualquer jornalista que seja, para tirar minhas conclusões.
Só precisei colocar dois neurônios para funcionar...
Paulo Roberto de Almeida