domingo, 27 de janeiro de 2013

Contas externas em perigo - Editorial Estadao

Cenário incerto para o balanço de pagamentos
Editorial O Estado de S.Paulo
Domingo, 26 de Janeiro de 2013

Entre 2011 e 2012, o déficit em contas correntes passou de US$ 52,4 bilhões para US$ 54,2 bilhões (de 2,12% para 2,40% do PIB) e o resultado global do balanço de pagamentos caiu de US$ 58,6 bilhões para US$ 18,9 bilhões. Em dezembro, o déficit corrente alcançou US$ 8,4 bilhões, acima das projeções privadas, de US$ 6,3 bilhões. Apesar da deterioração, não há ameaças de curto prazo às contas cambiais, a menos que não se confirmem as projeções do Banco Central (BC) para o ano.

O Brasil depende em grau elevado do investimento estrangeiro direto (IED), que atingiu US$ 66,6 bilhões, em 2011, e US$ 65,2 bilhões, em 2012 - e o BC prevê a repetição desse montante neste ano (US$ 65 bilhões).

Ao mesmo tempo, está em queda o superávit da balança comercial (diferença entre as exportações e as importações), de US$ 29,7 bilhões, em 2011, para US$ 19,4 bilhões, em 2012, e é estimado em apenas US$ 17 bilhões neste ano. Como proporção do PIB, o superávit diminuiu de 1,2% para 0,9% e cairá mais. Falta conhecer o impacto das importações de petróleo e derivados, inclusive gás natural, que, segundo o noticiário, não foi totalmente contabilizado em 2012.

A piora da balança comercial deve-se apenas em parte à perda de dinamismo global, pois falta competitividade aos produtos brasileiros, em especial aos manufaturados. É incerto o efeito das desonerações fiscais sobre a folha de pagamentos e da redução do custo da energia sobre as exportações. Neste mês, até o dia 18, houve déficit comercial de US$ 2,7 bilhões - valor alarmante, embora ainda não caracterize uma tendência.

O BC acredita que a situação das contas externas pouco mudará neste ano, mas as importações devem crescer mais do que as exportações (US$ 28 bilhões e US$ 25,5 bilhões, respectivamente). O déficit recorde na conta de viagens internacionais, de US$ 15,6 bilhões, em 2012, é projetado em US$ 16,3 bilhões, neste ano. A desvalorização do real ante o dólar pouco influenciou a disposição dos brasileiros de viajar para o exterior.

Entre os aspectos positivos de 2012, houve diminuição da remessa de lucros e dividendos e o ingresso de recursos em Bolsa atingiu US$ 3,3 bilhões em dezembro. As reservas internacionais cresceram de US$ 26,6 bilhões, em relação a 2011, alcançando US$ 378,6 bilhões. E o BC prevê mais US$ 5 bilhões neste ano.

As contas cambiais serão beneficiadas se a economia mundial se recuperar, mas, para financiar o déficit crescente em contas correntes, nada substitui a confiança do investidor na condução da política econômica.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentários são sempre bem-vindos, desde que se refiram ao objeto mesmo da postagem, de preferência identificados. Propagandas ou mensagens agressivas serão sumariamente eliminadas. Outras questões podem ser encaminhadas através de meu site (www.pralmeida.org). Formule seus comentários em linguagem concisa, objetiva, em um Português aceitável para os padrões da língua coloquial.
A confirmação manual dos comentários é necessária, tendo em vista o grande número de junks e spams recebidos.