sábado, 19 de janeiro de 2013

Ouro, essa reliquia barbara, e o apreco dos alemaes por ela...

A história não está toda contada e não está bem contada. O autor não diz, ou ignora o fato de, que imensos saldos superavitários obtidos pela RFA no comércio com os EUA não foram convertidos de dólares em ouro, em meados dos anos 1960 porque os EUA já não dispunham de recursos suficientes em ouro para honrar os compromissos assumidos em Bretton Woods. Assim, centenas de milhões de dólares detidos notadamente pelo Japão e pela Alemanha não puderam ser convertidos em ouro, já que os americanos "recomendavam" a esses países -- não por acaso os que tinham tropas de ocupação americanas -- guardassem seus dólares, para eles "as good as gold", ou seja, tão bons quanto o ouro. A consequência foi a que ambos tomaram um calote monumental, no momento da desvinculação unilateral dos EUA do padrão ouro-dólar em 1971 e da queda significativa do valor da moeda americana (e da subida consequente do valor do ouro) logo em seguida. Tudo bem, os dois países eram ricos o suficiente para acomodar esse calote, mas ele foi realmente enorme.
Paulo Roberto de Almeida

Deutsche Welle, 17/01/2013
Até 2020, metade dos estoques alemães do metal deverá estar armazenada em Frankfurt. Alemanha possui a segunda maior reserva de ouro do mundo, atrás apenas dos EUA.
O Banco Central da Alemanha (Bundesbank) vai transportar para o país boa parte das reservas de ouro depositadas no exterior. A meta é que, até 2020, metade do ouro alemão esteja armazenada no Bundesbank, anunciou Carl-Ludwig Thiele, membro do conselho da instituição nesta quarta-feira (16/01), em Frankfurt.
A Alemanha possui a segunda maior reserva de ouro do mundo, atrás somente dos Estados Unidos. Nos últimos meses houve um debate interno sobre a segurança das reservas de ouro alemãs depositadas no exterior.
Ao todo, o país tem 3.391 toneladas de ouro, no valor de 137,51 bilhões de euros. A maior parte, 1.536 toneladas, está depositada no Fed, o Banco Central dos EUA. Outras 445 toneladas estão armazenadas no Bank of England, em Londres. Em Paris repousam mais 374 toneladas de ouro. Somente 31% das reservas alemãs de ouro, ou 1.036 toneladas, estão em Frankfurt.
Nos próximos anos, a Alemanha pretende buscar 300 toneladas de ouro dos EUA e tudo o que possui na França, ou seja, 374 toneladas. O valor total é de 27 bilhões de euros, segundo Thiele.
O motivo para o Banco Central Alemão manter parte das reservas no exterior é ter a possibilidade de, no caso de uma crise monetária, converter rapidamente o ouro em dólares, a moeda mais importante do mundo.
A recuperação total do metal armazenado na França explica-se, portanto, pelo fato de o país usar hoje a mesma moeda que a Alemanha. Ou seja, caso necessário, não seria possível trocar o ouro retido em Paris por uma moeda internacional. Thiele justificou a recuperação de parte do ouro dos EUA dizendo que há espaço sobrando nos cofres alemães.
Questão de confiança
No segundo semestre de 2012, um debate aberto sobre a segurança do ouro alemão no exterior ganhou força no país. Há alguns meses, o Tribunal de Contas da Alemanha (Bundesrechnungshof) criticou em um relatório o fato de as reservas de ouro armazenadas no exterior nunca terem sido inspecionadas em sua "composição física" e autenticidade.
Alguns políticos afirmaram que o Bundesbank havia aberto mão do controle sobre o metal precioso. Thiele ressaltou, porém, que a decisão de recuperar parte do ouro do país foi tomada de maneira independente.
Razões históricas
O patrimônio alemão em ouro foi adquirido principalmente nas décadas de 1950 e 1960. Na época do sistema monetário de Bretton Woods, que valeu de 1944 a 1971, os EUA trocavam cada onça de ouro pelo valor fixo de 35 dólares.
Nos anos do seu milagre econômico, alguns anos após a Segunda Guerra Mundial, a Alemanha conseguiu elevados superavits comerciais, e o Bundesbank trocava marcos alemães por dólares continuamente. Os estoques acumulados da moeda norte-americana eram, então, trocados por ouro nos EUA.
Após a troca, o ouro ficava depositado no Fed em Nova York, ou seja, nunca esteve na Alemanha. Algo parecido ocorreu durante a União Europeia de Pagamentos, que existiu de 1950 a 1958. O ouro alemão ficou, assim, nos cofres de Londres e Paris.
Na época da Guerra Fria, 98% das reservas de ouro da então Alemanha Ocidental estavam no exterior por motivos de segurança. Com a queda do Muro de Berlim e a reunificação do país, os temores de um ataque externo deixaram de existir. A partir de 2000, a Alemanha começou a transportar para o país parte de suas reservas.
LPF/dpa/afp
Revisão: Alexandre Schossler

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