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sábado, 20 de julho de 2013

Divida externa, periferia, dependencia, etc: falacias academicas - Paulo Roberto de Almeida

Preciso retomar a minha série das Falácias Acadêmicas (veja aqui), para explicar alguns processos reais, ou seja, da economia e das relações internacionais, cuja compreensão é embotada por todo um jargão vazio, disseminado nas academias brasileiras por professores incompetentes ou simplesmente ignorantes.
Vejamos o que acabo de receber como comentário, de um leitor deste blog:

Anônimo disse...
Almeida,
mas que argumentos sustentam sua opinião que a dívida não é mais um problema? O fato de termos reservas suficientes para pagá-la? As economias periféricas são altamente dependentes do mercado de ações para financiarem suas dívidas, grande parte do orçamento que poderia ser usado para reduzir as diferenças sociais (que eu não acredito que seja discriminar classe alguma) vão para fora do Brasil pagar algo que desconhecemos.
Acredito igualmente que a SOLUÇÃO para TODOS os problemas brasileiros devem ser MADE IN BRAZIL, mas como entender esses problemas sem inserir o país em um contexto histórico e econômico de dependência externa?
Cxxxx
Comento:

1) Dívida externa: Não se trata apenas do fato de ter acumulado reservas internacionais em volume suficiente para a liquidação de todas as obrigações externas do Brasil. Isso pode contar para minimizar o peso da dívida no conjunto dos passivos brasileiros.
Trata-se, basicamente, do fato de que o volume da dívida representa atualmente uma proporção mínima do valor agregado anualmente como riquezas pelo país, ou seja, tanto a relação dívida/PIB, que caiu bastante nos últimos dez anos, como a relação serviço da dívida/exportações brasileiras, ou seja, a quantidade de dólares suficientes para cobrir os juros da dívida em relação aos ganhos exteriores das vendas brasileiras em divisas. Trata-se de pura matemática elementar portanto.
Tem mais: a parte da dívida do governo no total da dívida externa é muito limitada, já que a maior parte é dívida comercial, ou seja, bancos e empresas que captam recursos lá fora e a quem cabe pagar. Ora, é sabido que as empresas do setor captam a juros extremamente reduzidos e "vendem" esse dinheiro no mercado interno a juros extremamente elevados. Cada vez que você compra a "dez vezes sem juros", você está dando um lucro extraordinário a esses gigolôs nacionais, que acumulam dinheiro de sobra para pagar os créditos externos.

2) Dependência: Esse é um conceito vazio, que só existe na boca de professores ignorantes, que não conseguem visualizar a realidade das relações econômicas internacionais. Economias "periféricas" (outra bobagem conceitual) não precisam ser dependentes de ações ou investimentos externos para financiarem suas "dívidas"; ninguém as obriga a se endividarem no exterior. É certo que países emergentes, não integrados na economia internacional, e insuficientemente capitalistas (como é o caso do Brasil), não produzem poupança suficiente para os investimentos produtivos. Mas isso não significa que necessitem se endividar externamente para realizar investimentos, se forem abertos e aceitarem investimentos diretos estrangeiros.
É apenas o nacionalismo econômico, essa doença nefasta (junto com o patriotismo ingênuo), que impede os países de se abrirem aos investimentos externos. Países esquizofrênicos, como o Brasil, amam o capital estrangeiro e detestam o capitalista estrangeiro: em consequência, em lugar de aceitarem investimentos externos, se endividam inutilmente.
Só existe dependência externa quando se é incapaz de resolver os problemas nacionais de maneira autônoma. O conceito, em si, é uma bobagem, mas governos irresponsáveis o transformam em realidade, ao fazer apelo ao dinheiro fácil do exterior, em lugar de criar as condições internas para aumentar a poupança e os investimentos nacionais, deixando, em primeiro lugar, de gastar no próprio Estado, para investir em saúde e educação.

3) Orçamento para redução das diferenças sociais: outro sinal de deficiência econômico. As desigualdades sociais devem ser reduzidas preferencialmente por ações de mercado -- ou seja, crescimento econômico, com transformação produtiva, que gera empregos mais bem remunerados -- e complementarmente por investimentos estatais em educação de base (primário, secundário, escolas técnicas, ponto), não com base em distributivismo político inconsequente, que só consegue criar uma nação de assistidos, como é o caso do curral eleitoral a que se dá o nome de Bolsa Família.

Infelizmente, o "debate" público sobre essas questões não deixa de refletir o estado de indigência intelectual a que se reduziu, hoje, boa parte dos cursos de humanidades nas faculdades brasileiras.
Paulo Roberto de Almeida

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