2014:
uma ficção política
Paulo Roberto de Almeida
Em 2014 o Brasil chega a
novas eleições exausto de tanto discurso, de tantas palavras, tantas promessas.
Nunca falaram tanto, em doses tão concentradas, em tão poucos anos, dentro e
fora do governo.
As promessas de
continuar avançando, de fazer mais e melhor, de distribuir mais justiça, mais
igualdade, mais segurança redundaram no que se esperava: mais do mesmo, sem ao
menos o conforto de uma mudança de linguagem, de hábitos, de comportamentos
políticos, de práticas administrativas. A justiça continuou tão lenta quanto
sempre foi, com alguns escândalos, novos e velhos, emergindo aqui e ali. O
Executivo continuou inchado, inclusive porque era preciso contemplar a base congressual
com novos cargos e novos aportes financeiros. O Congresso, bem o Congresso não
precisou mudar em nada: apenas aprofundou suas práticas e costumes, o que
significa que continuou afundando nas práticas delituosas e nos costumes
imorais, com alguns novos personagens mas os mesmos hábitos de sempre, agora um
pouco mais indecentes, já que novamente sancionados pelo eleitorado.
O discurso político,
venha de onde vier, continuará permeado de mentiras e de demagogia, tanto mais
extensas quanto o eleitorado foi, continua sendo e promete permanecer leniente
com aqueles que o iludem. A mistificação política terá sido elevada à condição
de instrumento vital da governança, e toda atividade governativa será precedida
de um estudo de marketing político. Os administradores de imagem ganharão
precedência sobre os ministros setoriais, que terão de adaptar suas propostas e
programas ao governo “participativo” (que de participativo possui apenas a
propaganda governamental, assegurando que o povo está sendo consultado para
esta ou aquela medida).
Em 2014, teremos
aperfeiçoado novos métodos de extrair recursos sem dor dos
cidadãos-contribuintes. A Receita, escaldada por excesso de transparência,
conseguirá determinar os meios de alcançar a renda dos agentes econômicos antes
mesmo de qualquer fluxo de ativos e de qualquer iniciativa declaratória dos
produtores primários. Apenas por esse meio será possível atender a todos os
compromissos governamentais – com os pobres, de um lado, com os ricos, de
outro, estes bem mais exigentes como sempre ocorre – sem ter de negociar a
criação de novos impostos com o Congresso.
A imprensa não se terá
dobrado, mas terá sido domada, ou contornada: os meios de comunicação do
governo serão suficientes para levar sua mensagem aos eleitores-complacentes; o
restante se contentará com a internet, num processo entrópico e semicircular.
Muita energia será gasta com debates vazios, o que parece o ideal para uma
sociedade de baixa educação política. As escolas continuarão ruins, e as
universidades públicas também vão aprofundar seu processo de mediocrização e de
decadência. Nada mais será como antes, e tudo será bem pior do que antes. Não
importa quem entrou, não importa quem estará entrando novamente. Tudo é uma
questão de lógica elementar, dada a tendência.
Bem, tudo pode ser uma
ficção, ou não...
Shanghai, 2.10.2010.
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