Fronteiras em tempos de web
Carlos Brickmann
Especial - Observatório da Imprensa - Circo da Notícia, 6 de janeiro de 2014
Não foi preciso esperar nem um dia. Já no primeiro horário como ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini - aquele que se notabilizou como algoz de pessoas idosas quando esteve na Previdência - já disse a que veio: sua tarefa é controlar a imprensa. O "controle social da mídia", ou "regulação econômica da mídia", nome de fantasia adotado por Sua Excelência para a censura, será amplamente debatido no Congresso, por iniciativa do Governo. Já se entende, portanto, a montagem do Ministério: valeu tudo para conseguir maioria, fosse ao custo que fosse, e silenciar os críticos do Governo.
Berzoini diz que o debate começará sobre as concessões públicas - TV e rádio, portanto. Diz também que não há intenção de regulamentar o conteúdo - mas deixa claro, "inicialmente". Mais tarde, talvez.
A história de que não se pretende "inicialmente" cuidar da regulação do conteúdo vai até a página 2. Aí já começa a "regionalização de conteúdos". Ótimo: nada melhor do que estimular a produção radiofônica e televisiva em todo o país. Só que a grande produção exige grandes estruturas, que existem nos grandes centros. Uma câmera na mão e uma ideia na cabeça é uma frase belíssima. Mas implementá-la é outra coisa.
Depois vem a proibição de monopólios e oligopólios na comunicação. Que coisa mais liberal!
Mas avancemos: os empresários regionais do setor querem afiliar-se à Globo, Bandeirantes, SBT e Record porque gostam de transmitir coisas dos outros, ou porque é vantajoso?
Retransmitir o Fantástico dá X de audiência. Qual programa produzido localmente terá essa força? Este colunista cresceu tendo, em sua cidade, uma das emissoras mais antigas do país: a pioneira Rádio Clube Hertz, de Franca. Mas a grande audiência da cidade ia para a Rádio Nacional do Rio, que transmitia programação mais ampla e variada (e isso mesmo tendo de ouvi-la em ondas curtas, com som pior que o de sertanejos universitários).
E,finalmente, os limites geográficos de atuação. É engraçado, em tempos de Internet, falar em limites geográficos. Nos Estados Unidos, há algum tempo havia limites geográficos (talvez continuem existindo). Mas qual o limite geográfico de uma emissora retransmitida via Internet e que chega, com som e imagem locais, à Austrália, Patagônia e Polo Norte?
É difícil que essas restrições funcionem sem uma ditadura feroz, que ninguém no momento tem condições de implantar. Mas o simples fato de se pensar nisso mostra que o Governo gostaria mesmo é de não ter de enfrentar as malditas notícias em que nem sempre aparece bem.
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