Revista Veja, 17/06/2015
O fracasso dos anos Dilma não resultou apenas em recessão; o aumento do endividamento do Estado inflou a despesa com juros e levará anos para ser revertido
A estagnação da economia, a inflação nas alturas e o aumento do desemprego são as faces mais visíveis dos desmandos na economia do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff. Outro indicador normalmente pouco observado, entretanto, traduz de maneira ainda mais veemente o custo dos equívocos acumulados. É a dívida pública, um dado essencial para auferir a sustentabilidade das contas do governo, especialmente quando se analisa a trajetória ao longo do tempo. No fim de 2010, a dívida bruta totalizava 2 trilhões de reais, equivalia a 51,8% do PIB e estava em queda. Desde então, entrou em via irrefreável de alta. Em março passado, atingiu o patamar de 62,4% do PIB (ou 3,5 trilhões de reais). Não era tão alta desde 2009, e deverá subir ainda mais, atingindo 66% no próximo ano, segundo projeção da agência de classificação de risco Moody"s. Isso porque o esforço fiscal engendrado pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, pode se mostrar insuficiente para estabilizar a dívida, dado o ambiente econômico adverso, de fraco crescimento e juros elevados. Não é por outro motivo que o Brasil esteve ameaçado seriamente de perder o grau de investimento, o selo que atesta a sua capacidade de pagar as dívidas. O perigo só foi afastado no curto prazo com o plano de Levy. Sem ele, é o abismo. Por isso, Dilma fez hibernar as suas crenças sobre qual deveria ser a política econômica.
A causa primordial do aumento no endividamento está no desarranjo das contas do governo, cujos gastos avançaram num ritmo bem superior ao das receitas. Para fechar a conta, só mesmo tomando dinheiro emprestado. O repasse de recursos subsidiados do Tesouro aos bancos estatais e a intervenção do governo no câmbio, por meio de compra de dólares e também de operações no mercado futuro, também contribuíram para engordar a dívida. Além disso, os gastos com juros subiram porque a inflação fugiu do controle, e o Banco Central, comandado por Alexandre Tombini, sinalizou que elevará a sua taxa básica, a Selic, ainda mais. De janeiro a abril, o gasto chegou a 146 bilhões de reais. "O único meio para reduzir os juros é aumentar o resultado primário do orçamento, de tal forma que sinalize uma trajetória cadente da relação entre a dívida e o PIB", diz Mansueto de Almeida, especialista em contas públicas. Em resumo, o ajuste precisa ser mais profundo.
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