sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Cronica sobre um leitor compulsivo: quem sera'? - Paulo Wangner de Miranda


Recebi, de um colega de "desprofissão" (como ele mesmo classifica sua atual atividade), Paulo Wangner de Miranda, uma saborosa crônica sobre um curioso personagem, que adquiriu o hábito de leitura desde bebezinho e depois saiu por aí, lendo nas horas mais impróprias, nas ocasiões mais inusitadas, causando até pequenos acidentes de trânsito e confusões variadas.
 Quem será?
Não pode ser este que aqui escreve, pois só aprendi a ler na tardia idade de sete anos, ainda que eu tenha procurado descontar o atraso desde então.  
 Ainda assim, essa crônica está extremamente saborosa, e por isso vai aqui publicada, sempre respeitando os direitos autorais de que a escreveu, em prosa decassílaba, se ouso dizer. 
Vocês vão reparar que tem algumas rimas espalhadas aqui e ali, o que recomenda leitura atenta.
Mas creio que só alguns leitores, habituados a escritos bizarros e de outras latitudes, entenderão certas alusões a situações e personagens...
Em todo caso, seja quem for o personagem em questão, posso dizer que gostei muito...
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Paulo Roberto de Almeida

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Dia desses vi no sítio virtual de um xará, e colega de desprofissão, uma confissão de amor pela leitura. Mais que amor, compulsão, sim senhor. Do tipo que faria questão de acompanhar o pai ao cartório para ler, em primeira mão o registro de seu nascimento.

E fazer observações, e ementas, sobre a grafia, soletrar e regras de acentuação ao pai e ao tabelião. E não contente com sua prodigalidade leitoral - de que a miopia de dois dígitos é prova - o danado pesquisa e ainda escreve sobre o que lê. O homem não é só o que lê. Pode escrevê!

Isso naturalmente não o impediu de nos devidos e indevidos tempos de flertar, olhar pras pernas e mesmo comer sopa de letras. Se o m andava de quatro pra ver se lhe escapava ao fino e permanente escrutínio, o o, ó, é que dava mais dó, pois com essa sua forma rotunda era vítima da cobiça mais profunda.

Eu mesmo, com todas as poucas letras de meus muitos textículos, não me vi 'neamoins' protegido de sua estranha sanha: numa volta de carro que fizemos, na encantadora cidade de Berna, que parece de fato hiberna, ele no volante, enquanto papeava, também furiosamente, papelava, folheando furibundo um jornal local. Em alemão, ou nalguma língua cantonal. E se jactava de já ter batido - de leve - o automóvel em faceiras traseiras em função daquela compulsão de besteiras.

Autuado pela infração todo texto legal leu até que o guarda, sem aguardar, escafedeu.

ab, Paulo

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