Três perguntas irrespondíveis, três certezas inquestionáveis
Paulo Roberto de Almeida
[Objetivo: reflexão própria; finalidade: sugerir contestações]
Três perguntas irrespondíveis:
1) O que poderia levar juízes, inclusive da mais alta corte do país, de ordinário até razoáveis (mas alguns deslizando para terrenos desconhecidos), decidir pelo apoio ativo a salafrários reconhecidos, defendendo a sua impunidade, ou dificultando por todos os meios sua condenação efetiva, contra todas as evidências disponíveis?
2) O que pode levar um ex-chanceler, que sempre alegou defender a soberania do país, decidir apelar para cortes estrangeiras, regionais ou multilaterais, ao denunciar as cortes nacionais como dominadas pela política, e passando a solicitar, portanto, a interferência de entidades estrangeiras em nossos assuntos internos, com o mesmo objetivo que aquele de alguns dos juízes referidos na primeira pergunta?
3) O que pode levar universitários supostamente alfabetizados, portanto bem informados, decidir defender a tese de que o impeachment foi “golpe” e que os julgamentos em diversas instâncias, com várias oportunidades de defesa, foram nada mais do que ações políticas de agentes públicos empenhados em impedir a volta ao cenário nacional do maior bandido da história nacional?
Três certezas inquestionáveis
1) A tática de separar os brasileiros em “nós” e “eles”, em opor as “elites” e o “povo”, foi amplamente bem sucedida e deu os resultados esperados, uma vez que o Brasil efetivamente consagrou, até consolidou, uma divisão aparentemente sólida entre, de um lado, a “massa do povo”, no discurso dos promotores dessa tática sem emprego, sem renda e sem educação, e sem chances de ascensão social, e de outro, uma elite aparentemente indiferente aos mecanismos de ascensão social, que de fato passam por uma escola pública de alta qualidade e por um ambiente favorável aos negócios privados e ao empreendedorismo, o que aliás os adeptos da tática nunca se empenharam em promover.
2) A mensagem de que é o Estado o responsável principal pela correção das principais distorções sociais, e que é ele quem vai distribuir recursos, benesses, direitos sociais também se consagrou em diversos meios sociais, inclusive nos mais improváveis já que até mesmo membros das chamadas “elites produtivas”, entre eles empresários capitalistas vivem circulando por Brasília solicitando “políticas setoriais” para qualquer coisas, como se elas fossem a solução para todos os problemas.
3) A classe política brasileira, do mais humilde vereador de província ao mais nobre senador da república, sem esquecer todos os demais executivos nos três níveis da federação, tornou-se uma classe em si e para si, unicamente comprometida com o seu sucesso (sobretudo financeiro), com a sua sobrevivência continuada, com a preservação de seus privilégios, com a defesa de seus interesses individuais, e coletivos, enquanto classe que atua na promoção e defesa recíproca desses interesses classistas.
Considero as perguntas acima não passíveis de respostas racionais, e as certezas avançadas como dotadas de inegável realidade, mas estou aberto a questionamentos céticos e a contestações lógicas e empíricas. Gostaria de estar errado...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 7 de abril de 2018
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