Admito que eles possam ser de esquerda, de direita, de qualquer tendência.
Mas que eles sejam defensores de criminosos comuns – mais do que isso, chefes de máfia – já é algo inadmissível, aliás totalmente inaceitável.
Que eles também se alinhem com a cegueira e com a burrice, aí já é questão de inconsciência coletiva.
Paulo Roberto de Almeida
Lulopetismo na SBPC:
Editorial | O Estado de S. Paulo, 28/07/2018
A ciência brasileira nada ganha com essa manifestação explícita de obscurantismo
A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) tem sido simpática a Lula da Silva, de modo que não surpreende o entusiasmado apoio manifestado ao ex-presidente e hoje presidiário no 70.º encontro anual daquela organização, aberto no domingo, dia 22, em Maceió. Pode-se apenas lamentar que uma das principais entidades dedicadas ao fomento da ciência no País continue a ser usada por alguns oportunistas para fins político-partidários, que nada têm a ver com pesquisa e inovação.
Pretende-se invocar a importante atuação da SBPC durante a ditadura, quando a entidade corajosamente franqueou suas mesas para discussões políticas, como argumento para justificar a necessidade de denunciar a “nova ditadura”, como se ouviu em um discurso no dia da abertura da mais recente reunião.
Por “nova ditadura” entende-se, é claro, o governo do presidente Michel Temer - que, na interpretação de muitos dos acadêmicos presentes ao encontro, simboliza, em conluio com um Congresso corrupto, um Judiciário manipulado e uma imprensa vendida, o “golpe” que, segundo eles, resultou no impeachment da presidente Dilma Rousseff e na prisão de Lula da Silva.
O padrão de denúncia desse “estado de exceção” foi observado na solene homenagem prestada ao físico José Leite Lopes (1918-2006), um dos mais importantes cientistas do País - preso pela ditadura militar, exilado e aposentado compulsoriamente. Na ocasião, foi lida uma mensagem do antropólogo José Sergio Leite Lopes, filho do cientista, na qual ele diz que o pai, “se estivesse aqui hoje, (...) protestaria de forma veemente e irreverente contra uma nova ditadura que se evidencia”, e “estaria clamando pela democracia plena, pela justiça social e por Lula livre”.
No mesmo evento, o ministro da Educação, Rossieli Soares da Silva, e outros representantes do governo federal foram vaiados por pesquisadores, além de estudantes e servidores públicos presentes, que gritaram “golpista” e o slogan “Lula livre”, revelando o já conhecido nível de indisposição dessa turma para o diálogo.
O deputado federal Celso Pansera (PT-RJ) - cuja única atuação conhecida na ciência foi ter sido escolhido como ministro dessa área no governo de Dilma Rousseff, quando ainda era do MDB, tendo como qualificação apenas o fato de ser dono do self-service “Barganha”, na Baixada Fluminense - também discursou na SBPC e, claro, terminou seu pronunciamento bradando “Lula livre”.
Não se sabe o que a prisão de Lula tem a ver com a ciência nacional, mas essa evidente mixórdia não pareceu importante para os proponentes de uma moção intitulada “Lula livre! Em defesa da democracia e do Brasil!”. O texto, aceito pela direção da SBPC, diz: “Em defesa da democracia, a SBPC se soma ao crescente clamor popular e a parte considerável do meio jurídico nacional e internacional para exigir o imediato cumprimento da Constituição Federal, garantindo assim a liberdade ao ex-presidente Lula”.
Nas assembleias da SBPC, conforme regulamento da entidade, moções são “manifestações destinadas ao público externo (...) envolvendo necessariamente temas de relevância para a Ciência e Tecnologia, Inovação e Educação, para o país ou para a solução de problemas de grande interesse regional, observados os objetivos da SBPC, estabelecidos no Estatuto”. Explica-se, ainda, que cabe à diretoria da SBPC “retirar as proposições que não se enquadrarem em nenhuma dessas categorias”. Portanto, é prova de aparelhamento da SBPC o fato de que uma moção que, em nome da entidade, demanda a liberdade de réu condenado repetidamente pela Justiça tenha sido considerada “de grande relevância” num encontro de cientistas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comentários são sempre bem-vindos, desde que se refiram ao objeto mesmo da postagem, de preferência identificados. Propagandas ou mensagens agressivas serão sumariamente eliminadas. Outras questões podem ser encaminhadas através de meu site (www.pralmeida.org). Formule seus comentários em linguagem concisa, objetiva, em um Português aceitável para os padrões da língua coloquial.
A confirmação manual dos comentários é necessária, tendo em vista o grande número de junks e spams recebidos.